segunda-feira, 31 de maio de 2010

" Ou Não? "

Ilustração Cau Gomez
Caetano Veloso*
Mesmo que tenha sido uma confusão nascida da ignorância de alguns humoristas, é uma honra para mim ter herdado o bordão “ou não” de Walter Franco. Há quem diga que mereço, não a proximidade de Walter, mas as sugestões pejorativas do bordão. Muita gente vê indefinição suspeita no que para mim é independência política. Em tempos de eleição essas reduções tornam-se mais grosseiras. Pois bem: vou pensar em voz alta. Não me importo com Dilma ou Serra. Sou Marina de todo o coração. Se tiver de escolher entre os outros dois, acho que prefiro Dilma, já que, como eu disse na entrevista ao “Estadão” (que ficou famosa por causa da palavra “analfabeto”), Serra está à esquerda da política econômica de Lula (a matéria no Globo com Serra dizendo a Miriam Leitão que “o Banco Central não é a Santa Sé” — com aquelas fotos apavorantes — poderia ser criticada pela “Caros amigos” como alarmismo suspeito, imposto pelo poder dos rentistas). Ou seja, eu prefiriria Dilma porque ela defende a independência do Banco Central.
Aconselho a leitura de “Aqui ninguém é branco”, de Liv Sovik. É a mais complexa e corajosa reflexão sobre raça no Brasil dentre as que vêm do lado dos racialistas. Mas meu comentário, dirigido a Felipe Hirsch, contrastando o racismo popular com o racismo de elite, eu o reenviaria a Sovik. Acabo de chegar da inauguração do Centro Cultural Waly Salomão, em Vigário Geral: grupos de garotas locais, pretas, mulatas e brancas, chegavam bem arrumadas e tomadinhas-banho, sorrindo entre si. Liv diz, com ironia, que “têm razão os que contrastam os EUA com o Brasil, valorizando o quadro brasileiro: para os brancos, especialmente, ele é muito melhor”. Nem uma gota de ironia em minha recomendação do livro. Leiam e verão que ela vai muito além dessa canelada.
Tenho 67 anos. Cresci, amadureci e envelheci ao som da “Aquarela do Brasil”, o nosso hino nacional oficioso, em cujo segundo verso o país é chamado de “mulato inzoneiro”. Nunca vi ninguém estranhar o uso da palavra “mulato” para definir o país. Mas nada me dizia que não houvesse brancos no Brasil. Meu pai era mulato. Minha mãe é branca. Sendo ela de extração mais humilde, era ela quem usava a expressão popular “eles que são brancos, que se entendam”, quando se alegrava por não ter de entrar em certas disputas. Mesmo que fossem entre meu pai e Luís de Gaspar, um preto retinto que era amigo dele. Gaspar era o português que tinha uma loja de ferragens onde Luís trabalhava. Depois Luís abriu a sua própria. Todos diziam “segunda é dia de branco” — quer dizer: dia de trabalharmos para os patrões. Isso independentemente da cor de quem dizia — e mesmo da dos patrões. A ideia arraigada de que somos um país mulato não nos impedia de distinguir explicitamente entre brancos e pretos, ou mulatos, caboclos, sararás. E sempre foi evidente que “branco” indicava vantagens estéticas, econômicas e sociais.
Liv vai além do habitual: fala da invisibilidade do branco e analisa a mídia. Tudo bem que ela comente textos da “Veja”, mas por que nem ela comenta textos em que Paulo Francis, o mais adorado e imitado jornalista brasileiro, louvava a retomada do projeto de eugenia por trabalhos como “A curva do sino”, que diz provar ser a inteligência média dos estudantes negros americanos inferior à dos brancos? Exibir simpatia por coisas assim era reação aos movimentos negros. Esses movimentos eram necessariamente racialistas. Passou a haver, então, uma reação antirracialista, como, por exemplo, a de Antonio Risério, e uma reação racialista, como a de Francis. A menina que disse a Liv, em Salvador, “aqui ninguém é branco” tem posição próxima à minha, que é próxima à de Risério e avessa à de Francis.
O presidente Lula ensaiou o anúncio de uma negociação de peso com o Irã. Vejo Lula como um grande personagem épico. Ele pode ser atraído pelas baixezas do populismo. Mas, até aqui, tem pesado mais sua vocação para representar o que o Brasil tem de original. Parte da sua euforia — que pode ser intragável — é reconhecimento disso. É narcisismo salutar, abençoada vaidade histórica. A tentativa de costurar um papo entre os aiatolás e a capitalistada tem, por mais que a analogia com Chamberlain (lembrada por Diogo Mainardi) proceda, mais peso do que todas as outras bolas na trave que ele e Amorim deram antes.
Sou anticarlista, não fundaria a Embrafilme, não julgo Pinochet pelo que ele deu de útil ao Chile. “The Economist”, falando do óleo no Golfo do México, diz que “o congresso americano deve endurecer a vigilância e aumentar as penas para os faltosos. Mas, infelizmente, não haverá nenhum esforço para dar conta dos maléficos efeitos colaterais do petróleo. Pois vazamentos estão longe de ser o efeito mais deletério da dependência do petróleo de que sofrem os EUA: aquecimento global e financiamento de déspotas estrangeiros vêm no topo da lista”. Essas são palavras editoriais de uma revista liberal inglesa. É por coisas assim que os princípios liberais resistem mais em mim do que a hipótese comunista. O que se sobrepõe a ambas as visões é o sebastianismo de Agostinho da Silva. Este era claramente antiliberal em economia, mas tinha horror a regimes de força. Muitas das suas tiradas são espetaculares. A minha preferida é: “Portugal já civilizou Ásia, África e América — falta civilizar Europa”. Gosto porque falamos português. O mundo lusófono tem sido, há já séculos demais, um ridículo histórico. A mera existência do Brasil parece dizer “chega!”.
*Artigo publicado originalmente no jornal O Globo em 30/05/2010

sábado, 29 de maio de 2010

Corredor da Vitória - O Reino de Shangrilá

Jolivaldo Freitas*
Mais de 99 por cento da Bahia não sabe que existe uma praia chamada Shangrilá, em Salvador, e que nem está no mapa, nem no roteiro turístico e nem em nada. A não ser na cabeça dos maconheiros e dos pescadores que a frequentaram nos anos 60 e 70.
Todo mundo sabe da praia da Ribeira, Porto da Barra, Itapuã e até as do Litoral Norte, que já nem pertencem à capital, mas ignoram a lúdica e única praia da cidade que está localizada numa falésia.
Para quem não sabe e nem tem mesmo a obrigação de saber, justamente por não ser tão importante assim ou algo que vá impedir a hora do Harmagedon, a praia fica no logradouro com o metro mais caro da cidade. Está abaixo do Corredor da Vitória, onde hoje estão os mais caros apartamentos e os mais altos edifícios da moderna metrópole.
O Corredor da Vitória foi para onde, no período colonial e principalmente no limiar do século XX, os grandes fazendeiros de cana-de-açúcar, que não queriam passar a vida eternamente de forma bucólica, decidiram montar seus casarões. No final do século vieram os comerciantes franceses, italianos, ingleses e outros alienígenas e montaram casarões coloniais, fugindo das ruas irregulares do centro da cidade.
Ainda restam alguns casarões de importância histórica, mas a maioria absoluta, mesmo se tratando de um importante acervo, um patrimônio histórico, foi destruída pela sanha dos construtores.
Um exemplo recente é o do casarão neocolonial, parecendo daqueles americanos do filme E o Vento Levou, que pertencia ao reputado jornalista Jorge Calmon, que, segundo dizem as más-línguas, foi vendido para uma construtora com a garantia de que a casa seria preservada e o prédio construído na parte de trás. Ainda, segundo dizem por aí, a construtora derrubou o casarão nas madrugadas de um final de semana, decidindo pagar a multa pela nefasta ação, coisa que seria pouco em relação ao faturamento com o projeto. Foi-se a memória, ficaram os granitos da fachada do arranha-céu.
O Corredor da Vitória, que ganhou seu nome de batismo durante o período da guerra da Independência da Bahia – por onde as forças nativas marcharam quando da vitória contra o Exército Português de Madeira de Mello –, sempre foi o sonho de consumo da classe mais abastada da cidade, por sua posição privilegiada.
Fácil acesso às praias da área sul da cidade e próximo ao Centro Histórico. Também com uma paisagem privilegiada, debruçado sobre a Baía de Todos os Santos e com vista para a Ilha de Itaparica, Ilha de Maré, Madre de Deus e subúrbio ferroviário. Uma dádiva.
Abaixo, um imenso paredão de pedras de fogo e vegetação rasteira, com águas límpidas que dá até para ver os cardumes passando. Hoje o acesso para as praias abaixo das escarpas é fácil. Os prédios milionários fizeram piers e montaram chariots que descem sobre trilhos.
Antigamente ninguém tinha coragem de descer. Para chegar lá era preciso vir de barco, saindo do Solar do Unhão, na zona do Comércio ou do Porto da Barra.
Nos anos 60, quando a repressão aos hippies era imensa e fumar maconha dava com a polícia batendo de cassetete de borracha ou “fanta” (cassetete de madeira de lei) no lombo, os chincheiros encontraram o lugar perfeito e foram para lá se juntar a grupos de artistas que já frequentavam o lugar pela sensação de estar fora do burburinho da cidade.
A lenda urbana reza que quem batizou a área de Shangrilá foi o compositor baiano Caetano Veloso.
Carlito Mau Mau, Zé Diabo e Arquimedes Maluco frequentavam a área, descendo pela rua e se arranhando todo nas pedras e nos feixes de tiriricas. Naquele dia Mau Mau levava em sua bolsa de couro curtida e pintada com o símbolo de Paz e Amor um novo tipo de cogumelo que um argentino mais doido ainda tinha dado de presente no Porto da Barra, para fazer chá. Fizeram e provaram. Tirando umas luzes piscantes, uma sensação de dormência na língua e uma comichão que não parava nas pernas, nada demais aconteceu.
Os três moravam no Edifício Apolo XXVIII (o nome em homenagem aos foguetes norte-americanos), na época o maior da cidade com 28 andares, cheio de problemas como elevador que não funcionava e o cara tinha de subir a pé até o último andar para chegar em casa; faltando água, luz cortada e limpeza zero. Saíram do Sahngrilá e decidiram subir a montanha de escadas para apreciar a paisagem do telhado do Apolo.
Talvez pelo esforço, foram chegando e recebendo a rebordosa. O chá começava a fazer seu efeito. O sol, na ótica de Mau Mau, estava parecendo se dissolver como tinta a óleo: escorrendo no horizonte após a Ilha.
Zé Diabo viu passar uma revoada de araras e Arquimedes Maluco decidiu voar atrás. Jogou-se. Deu sorte de cair sobre uma plataforma poucos metros abaixo e ficou lá com o braço quebrado. Pelo susto o efeito passou em todos. Os moradores chamaram os Bombeiros.
Os soldados subiram todos os andares, cheios de equipamentos, retiraram o maluco do local de risco e foram descendo com os três. Os moradores tinham se alinhado nas escadas. Cada degrau um morador.
Os três drogados descendo e levando cascudos, piparotes, piabas, telefone sem fio, cusparadas, chutes, beliscões, ofensas e dedadas no toba, e os bombeiros fazendo de conta que não estavam vendo. Chegaram roxos até o andar onde moravam.
Por coincidência, depois disso nunca mais o Shangrilá voltou a ser frequentado. A loucura deles chamara a atenção da imprensa e a polícia passou a dar batidas e colocar para correr qualquer um que não fosse morador da área.
Hoje, os três, pessoas bem situadas na sociedade baiana, garantem que não lembram da história. Juram por Senhor do Bonfim que não foi com eles.
E ninguém, no edifício, se lembra do caso. A praia de Shangrilá não é mais a mesma. Está cercada de edifícios cujos apartamentos valem milhões de dólares.
Originalmente publicado no blog Jeito Baiano
*Jolivaldo Freitas – Jornalista e escritor

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Prêmio Fieb de Economia para Vera Spínola - Trajetória da indústria na Bahia: (des)encontro entre as cadeias petroquímica e automotiva

José de Freitas Mascarenhas*
A análise dos desafios criados pela demanda do complexo Ford Nordeste aos transformadores de plástico da Bahia rendeu à economista Vera Spínola o Prêmio FIEB de Economia 2009.
Criado em 2001, o Prêmio Fieb de Economia reúne trabalhos inéditos que versam sobre temas como política industrial, meio ambiente, comércio exterior, infraestrutura, inovação e assuntos fiscai e tributários.
Os trabalhos inscritos na quinta edição do Prêmio, avaliados com pequena diferença de pontuação, foram considerados de bom nível pela comissão julgadora. A monografia
(Vera Spínola com o editor do blog, Osvaldo Campos, na Fieb, na premiação dia 27/05 - Foto Ricardo Kawabe)
vencedora é , portanto representativa dos objetivos do prêmio.
Com mestrado em Economia e doutorado em Administração pela Ufba, Vera Spínola partiu da seguinte indagação: se existem na Bahia os segmentos automotivo, petroquímico e um certo conglomerado de indústrias, de que forma eles interagem?
Na área petroquímica, observa, o esforço individual das empresas transformadoras de plástico não tem sido suficiente para implulsionar um processo virtuoso de desenvolvimento local, devido à existência de um mercado considerado assimétrico, com limitados ofertantes de matéria prima.
No caso do complexo automotivo de Camaçarí, a autora analisa as relações que este mantém com a cadeia petroquímica e com a indústria manufatureira de plásticos. Mesmo considerando a crescente utilização do plástico no automóvel e a proximidade do Polo de Camaçarí, constatou que a organização do complexo em consórcio modular, com fornecedores próprios - denominados sistemistas, por sua vez também com fornecedores cativos - , limita a possibilidade de se criarem vínculos com a indústria local.
Os incentivos fiscais, notadamente do Bahiaplast, foram importantes para atrair transformadores de plástico, mas em geral produtores de bens com baixo valor agregado, incapazes de atender adequadamente a uma demanda exigente como a da montadora. A autora concorda com o uso de mecanismos fiscais para atração de investimentos, pois provavelmente sem eles só haveria indústria relevante no Sudeste, mas afirma que o ponto chave de uma política bem sucedida no longo prazo seria a sua orientação para a inovação. Só a inovação, diz, é capaz de contribuir para a formação de links entre setores, com externalidades positivas para a economia.
O Prêmio Fieb de Economia, ocorre a cada dois anos e tem como finalidade estimular a elaboração de estudos que ajudem a compreender o desenvolvimento da economia baiana. Estamos certos de que o presente estudo contribuirá para enriquecer o conhecimento sobre o processo recente de industrialização do estado. Cumpre registrar os agradecimentos à comissão julgadora do Prêmio - composta por Fernando Pedrão, Amilcar Baiardi e Francisco Teixeira -, cuja dedicação foi importante para o sucesso deta iniciativa
*José de Freitas Mascarenhas, Engenheiro e Diretor da Odebrecht, é Presidente da FIEB

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Metrópolis e Cibernética

Ilustração Aziz
LOURENÇO MUELLER*
Num sistema econômico excludente ampliando progressivamente os índices de pobreza, convive-se hoje com um fenômeno típico da pós-modernidade, a chamada era digital, causado pela emergência das novas tecnologias da informação e comunicação (TIC), que excluem mais as pessoas, seja pela pobreza, seja pela resistência à mudança na aceitação dessa nova ordem e no aprendizado de procedimentos que permitam o acesso e contato a ambientes virtuais de conhecimento, ao ciberespaço.
As TIC permitem uma gama diferenciada de aplicações ao urbanismo e destaco duas: a reconquista do espaço urbano ‘perdido’ pelo habitante somada à inclusão digital das populações metropolitanas. Na verdade, a mudança produzida por essas novas práticas implica em mudança na própria natureza do espaço, que não é mais apenas físico, mas virtual, cibernético: um ciberespaço. A socialização do conhecimento pode ser feita em comunidades que podem ser cooptadas também “virtualmente”.
Victor Hugo e Henri Lefebvre, em distintas épocas, também pensaram a cidade como um texto. Seria uma questão dimensional? Se a cidade é um texto, a metrópole pode ser um hipertexto, que, em informática é um protocolo de recuperação de dados via computador que permite aos usuários fazer ligações entre informações através de uma variedade de vias e conexões. Os usuários podem organizar aleatoriamente a informação de um modo que esteja de acordo com as suas próprias necessidades. Se cada cidade já é ou está sendo transformada num banco de dados e sua acessibilidade feita através de um site de busca próprio, é lícito supor-se que quase tudo que é real possa ser feito ao nível digital.
A partir das TIC pode-se mapear e armazenar o conhecimento disseminado em bairros e outros assentamentos dispersos na região, utilizando história oral e outros registros narrativos, iconográficos, uma herança que não deixa marcas e permanece inédita no limbo de uma ecologia cognitiva desconhecida, mas geradora de uma cultura local pertinente e imaginária, cuja referência dota os habitantes de uma identidade que valeria a pena ser reconhecida, armazenada, datada, disseminada e discutida, como é o caso das festas de largo ou algumas práticas do cotidiano que estão a desaparecer.
Qualquer comunidade pode-se colocar diante de telão conectado à Internet e mediado por internautas inteligentes, treinados para a comunicação coletiva e a dinâmica de grupos. Criam-se ambientes e esses mediadores de rede mobilizam pessoas para investigarem juntos os assuntos de seu interesse ao mesmo tempo em que socializam esses assuntos entre os participantes. O deslumbramento de ‘navegar’ coletivamente pode superar todas as restrições, socializando as vantagens auferidas pelos poucos que têm acesso à rede apenas em suas máquinas solitárias.
Na diversidade das cidades está o gérmen de sua própria regeneração. Salvador pode ser considerada uma cidade decadente em muitos aspectos, mas é uma cidade viva, de extrema diversidade cultural, e possui a centelha de que fala Peter Hall, para reacender o seu fogo morto. A lógica do ciberespaço constitui-se num desafio que deve ser aceito pelos urbanistas.
Ermínia Maricato identifica o urbanismo se preparando para enfrentar novos paradigmas e pergunta se esses novos tempos vão repetir o processo de submissão à dominação econômica, política e ideológica inspirada em modelos de além-mar ou se esta nova matriz vai ser gerada pela práxis urbana.
Há 60 anos um grupo de intelectuais criou um movimento que é uma proposta de cidade que se autoproduz a partir dos seus habitantes, vivenciando a valorização do lúdico. A animação do espaço urbano impregnava esse movimento, conhecido como ‘situacionismo’, que inseria a arte nas cidades. Hoje, essa ‘construção de situações’ poderia se configurar em programas de computação capazes de gerar ciber-ambientes, espaços apropriados à vivência digital e real.
*Lourenço Mueller é arquiteto e urbanista

terça-feira, 25 de maio de 2010

Calçada Legal

Calçada legal no Largo de São Francisco - Pelourinho/Salvador
Almir Ferreira Santos*
Com grande atraso foi lançado pela Prefeitura de Salvador o projeto “Calçada Legal”, que compreende a restauração dos passeios públicos de Salvador. Os serviços serão executados pela Superintendência de Conservação e Obras Públicas -Sucop e a Companhia de Desenvolvimento Urbano de Salvador - Desal, órgãos municipais, cujo início deverá ocorrer imediatamente.
A primeira etapa inclui a Praça Castro Alves, Largo Dois de Julho e Comércio nas imediações do Mercado Modelo. Em seguida, o projeto contemplará a Orla, Avenida Sete e Carlos Gomes.
Paralelamente a Superintendência de Controle e Ordenamento do Uso do Solo do Município - SUCOM vai verificar o estado de conservação de passeios particulares e advertir comerciantes e proprietários de casas sobre a necessidade de recuperar as calçadas dos seus imóveis.
Nesse sentido, a Sucom notificará os responsáveis sobre a necessidade de restauração, estipulando prazo para a execução do serviço, com base na Lei n° 5.503/99 que responsabiliza os ocupantes de imóveis urbanos a conservar os passeios de suas residências e estabelecimentos limpos e em perfeito estado.
De fato, de um modo geral, as calçadas da cidade estão em estado precário, uma vez que a prefeitura nunca acionou a referida lei em vigor há mais de 10 anos.
Os proprietários de imóveis, quando muito, reparam suas calçadas sem nenhum cuidado e no caso de pedras portuguesas o fazem diferente dos desenhos originais ou com argamassa de cimento. O que a Prefeitura fará nesses casos?
Cabe ainda à Prefeitura nivelar os meio-fios e adequar os rebaixamentos das entradas de garagens e estacionamentos.
* Almir Ferreira Santos, Engenheiro Civil e Especialista em Transportes Urbanos. Participou da elaboração do PELTBAHIA, programa pioneiro no Brasil em Planejamento da Logística de Transportes com visão multimodal e horizonte de 20 anos.

domingo, 23 de maio de 2010

De Salvador para o Mundo: Nizan Guanais

NIZAN GUANAES* - Direto de Nova York
"O mundo está faminto pelo Brasil; o país tem de aproveitar a porta de oportunidades que se abre."

Minha companhia, o Grupo ABC, assim como inúmeras outras empresas brasileiras, tem sido influenciada pelo pensamento gerencial de Beto Sicupira e Jorge Gerdau. Amplamente influenciado pela dupla, procurei o professor Vincente Falconi, do INDG.
O professor Falconi, que dispensa apresentação, há dois anos nos ajuda a dar disciplina e método a nossa criatividade. Não é uma tarefa fácil. O Brasil tem uma arraigada e antiquada crença de que criatividade e disciplina são incompatíveis. Evidentemente que isso não é verdade. O que Falconi prega é que os líderes da organização escrevam seu conhecimento, suas metas e transformem em rito as práticas que fizeram a organização bem-sucedida, assim como mantenham registro de experiências penosas da companhia. De forma que, através dessa caixa-preta, se busque entender as razões do problema e que processos devem ser modificados para que ele não ocorra novamente.
Aos inimigos da disciplina e amigos do talento caótico, diz Falconi, de forma magistral, que se Mozart não tivesse colocado toda a sua intuição, talento e geniosidade em partituras, toda a sua criatividade teria sido perdida. Ler o que professor Falconi escreve ou fala é mais gostoso do que praticar o que ele defende. Convencer criativos a segui-lo (entre os quais me incluo) é uma tarefa heroica. Mas, depois de convencidos, o resultado é espetacular. As pessoas percebem que não basta só fazer benfeito. É preciso fazer bem o que precisa ser feito de um jeito direito.
É esse Brasil sofisticado do professor Falconi, de Gerdau, de Norberto Odebrecht que pretendo representar. Amo samba, caipirinha, futebol, mas o Brasil é muito mais do que isso. Depois de se firmar como mercado emergente, o Brasil precisa se firmar como cultura emergente. Um país que não tem medo do mundo. Que, sem soberba ou subserviência, tem hospitais do nível do Albert Einstein e do Sírio Libanês. Meus amigos, quem é do país de Machado de Assis tem motivos para viver de cabeça erguida. Isso não tem nada a ver com oba- -oba. O Brasil ainda tem problemas desafiadores para resolver. Afinal, tudo no Brasil é gigante pela própria natureza, mas é justamente construindo a marca Brasil no mundo que vamos dar mais um salto. E o Brasil faz benfeito. E tem áreas de excelência em muitas áreas.
O que fica a dever o Itaú Unibanco aos grandes bancos do mundo? É como parte deste Brasil destemido e internacional que passo uma parte significativa do meu ano em Nova York. É daqui que escrevo, no meio de uma semana particularmente intensa para o Brasil, já que foi a semana do "Homem do Ano", na qual Henrique Meirelles, presidente do BC, foi agraciado. Graças à força do Brasil, a Câmara Brasil-Estados Unidos é um fórum que ganhou muito mais força, além do trabalho insaciável do conselheiro Sergio Millerman e seus colegas.
O mundo está faminto por informações sobre o Brasil. E temos de aproveitar essa oportunidade. Porque ela não é uma janela, ela é uma porta. Uma porta que se abre não só por causa da Copa do Mundo ou dos Jogos Olímpicos. Mas por um conjunto de conquistas das quais a Copa e os Jogos Olímpicos são um "tipping point". E acredito que um país que tem o fabuloso Alessandro Teixeira à frente da Apex e empreendedores como Zeco Auriemo, Duda Sirotsky, João Apolinário, Flavio Rocha e Marcos Molina tem tudo para ser o principal país do Bric. Aquele que está na frente não apenas no B da sigla, mas no H da história.
Direto de Nova York,
Nizan Guanaes.
*NIZAN GUANAES. Nasceu em Salvador, Bahia. É publicitário e presidente do Grupo ABC. Criou o portal IG e a agência AFRICA.

A Cidade Eterna e a Roma Negra

Praça da Sé em Salvador (requalificada na gestão do Prefeito Antônio Imbassay-1996-2004)
Luiz Mott
Paris é maravilhosa. Veneza e Amsterdã inesquecíveis. Rio de Janeiro e Salvador, encantadoras. Roma não tem comparação: é inigualável! Suas setes suaves colinas fazem o décor. O caudaloso Rio Tibre serpenteia a Cidade Eterna. O clima, a luminosidade, a vegetação fazem de Roma sucursal do paraíso. Seu passado fantástico mistura quase três mil anos de lendas, mitos, profecias e uma história prodigiosa. Não existe lugar no mundo que abrigue tantos e tão gigantescos obeliscos, quase todos trazidos do Egito no tempo dos Césares! E as colunas da altura de um prédio de dez andares, com baixos relevos que contam os prodígios da civilização romana. O deslumbrante Pantheon está entre as maravilhas da arquitetura mundial. E as basílicas e palácios, com mármores multicoloridos, tudo cortado e polido à mão! As fontes romanas são um capítulo à parte: além da Fontana de Trevi, a mais bela do mundo, a capital do Lácio oferece mais de uma centena de pequenas fontes com deliciosa água potável e gelada, espalhadas por toda a cidade, algumas comágua corrente desde o tempo de Júlio Cezar.
Roma moderna não deixa nada a desejar às mais civilizadas capitais do primeiro mundo: destaco apenas o transporte coletivo. Por 30 euros, aproximadamente R$ 80 compra-se um vale-transporte que dá direito a viajar livremente por um mês, subindo e descendo de qualquer ônibus, metrô, bonde, troleibus. Transporte limpo, rápido , com horário certo de sair e de chegar, motoristas gentis, com um detalhe: confiança total no passageiro, pois só de caju em caju aparece fiscal sorridente para conferir o vale-transporte dos passageiros.
E a nossa "Roma Negra"? Como andam nossos ônibus? Com um salário mínimo quase dez vezes menor que na Itália e a tarifa do transporte público a R$ 2,30, os soteropolitanos, sobretudo os assalariados, adorariam gastar apenas R$ 80 por mês para usar ilimitadamente nossas marinetes... E quão delicioso seria encontrar meia dúzia de fontes com água potável nas principais praças e lugares de maior aglomeração de salvador! Vai aí , prefeito, uma sugestão.
* Luiz Mott é professor titular de Antropologia da Ufba

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Portos: mudanças para não afundar

Marco Martins, ao lado do Ministro dos Transportes, o baiano Paulo Ségio Passos e o Secretário Estadual de Portos, Roberto Benjamin, em reunião neste ano na Associação Comercial da Bahia
Marco Aurélio Martins*
A Bahia está refém de um modelo ultrapassado de organização dos seus portos públicos. Não se trata de uma crítica à Codeba, seus funcionários ou executivos, mas a um processo decisório que impede o crescimento portuário e atrasa o desenvolvimento do Estado. Temos localização geográfica privilegiada e economia apta para sermos um centro com portos regionais pujantes: Salvador, para contêiner (e cruzeiros marítimos*), Aratu para cargas líquidas, gasosas e sólidas, com potencial para novos berços especializados em contêineres; Ilhéus, importante na exportação de celulose, e o Porto Sul que será voltado para minérios, tornando-se um pólo de logística e um centro de atração de cargas do oeste baiano e de outros estados.
A estadualização (ou municipalização*) e/ou a privatização de suas áreas é algo prioritário e que, independentemente de partido político, deve se tornar realidade. Precisamos de instalações portuárias compatíveis com a maior costa litorânea brasileira, de uma baía que requer baixos investimentos para isso e de uma economia que tem independência para definir o seu futuro.
Se nada for feito imediatamente, corremos o risco de assistir a um volume maior de cargas da região industrial de Camaçari, indo para o Porto de Suape, em Pernambuco ou à transferência dos empreendimentos para regiões com logística mais competitiva.
Somos favoráveis à privatização dos portos, tendo o Estado como árbitro, mediador e indicador do planejamento estratégico de desenvolvimento para os próximos 25 anos, período mínimo de arrendamento. A idéia pode parecer radical, mas já demos tempo suficiente à SEP (Secretaria Especial de Portos) e à ANTAQ (Agência Nacional de Transportes Aquaviários) para decidirem por soluções que melhor atendam o interesse federal. Agora, a palavra tem que ser da Bahia, representada pela sociedade civil, empresários, governos estadual e municipal, para que em um prazo mínimo se promovam ações comprometidas apenas com o interesse do nosso desenvolvimento.
Não dá mais para esperar.
*Presidente do Conselho Diretor da USUPORT

quinta-feira, 20 de maio de 2010

O Urbanismo Humanizante

ANILTON SANTOS SILVA*
É uma concepção de urbanismo bastante debatida e pouco utilizada, não com esse conceito que estou introduzindo, mas decorrente da ideia de devolver a cidade a seus habitantes. O urbanismo humanizante tem como foco uma relação harmônica e integrada entre a cidade e seus habitantes, o que passa necessariamente pelo combate à exclusão social urbana e políticas públicas eficientes, envolvendo saneamento básico, transporte público coletivo (com a redução do veículo individual que beneficia menos de 30% da população urbana), segurança, saúde, educação, preservação ambiental, enfim tudo que é fundamental para uma vida digna na cidade.Nesse sentido, por que se pretende gastar bilhões no projeto Salvador Capital Mundial e não se resolve a questão da macrodrenagem da cidade? É curioso que quando se levantam as questões urbanas, o seu foco principal passa ao largo, ou não é claramente expresso. Por exemplo: por que o capital exerce tanto poder, determinando o ritmo e a estruturação da cidade? Por que não se expõe claramente a raiz dos problemas urbanos? Marx dizia que iremos sempre conviver com o dilema de educar os educadores e pensadores. Talvez, a falta dessa prática, ao lado do poder grandioso e estratégico que o capital exerce sobre a cidade, esteja na raiz da questão urbana. Quando irão reconhecer que a luta pelo direito universal à cidade é uma luta, sobretudo, contra o capital? Afinal quem elege os gestores públicos, não é o capital?O direito de transformar a cidade é um direito legítimo de todos seus cidadãos. Entretanto, assistimos em Salvador a um conjunto de intervenções propostas que envolve desapropriações de milhões de metros quadrados, das áreas mais valorizadas da cidade, ignorando a participação da sociedade organizada nessa decisão. Portanto, trata-se de uma usurpação do direito universal à cidade.Há um sentimento de impotência. Dificilmente teremos a capacidade de transformar a nossa cidade em mais humana, pautada pelo urbanismo humanizante, ela vista enquanto uma casa coletiva, cabendo aos seus habitantes (a coletividade) o direito de transformá-la e adequar sua expansão aos recursos tecnológicos, que toda grande cidade requer.
Assim, é imperativo fortalecer AS VOZES DA CIDADE, que se manifestam enquanto movimento livre que emerge da sociedade organizada. Se todos os movimentos não crescerem numa onda tsunami, os cidadãos soteropolitanos serão mais uma vez ignorados e avassalados, como já aconteceu com o Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano. Tenho a impressão que a cidade está fragilizada em termos de uma representação independente, apartidária e sem comprometimento com o capital. Um coração infartado que pede socorro e o que encontra em sua defesa ainda é muito pouco.
Tudo isso tem uma lógica: a maioria dos movimentos sociais da cidade, de esquerda (ainda existe isso?), sempre combateu a estrutura de poder, e com o poder conquistado calou sua voz. Aparentemente não tiveram o que combater ou foram cooptados pela estrutura de poder.
Acontece que a cidadania não tem partido, só uma ideologia – a defesa do cidadão e do direito universal à cidade. O momento é delicado e não podemos assistir imobilizados a esse avassalamento urbano. É preciso reconhecer que a defesa da cidade é uma responsabilidade de seus habitantes.
Afinal, a quem pertence esta cidade? Ao capital imobiliário? Ao morador que constrói seu imóvel na forma que sua renda permite? Ao invasor, que ocupa ilegalmente o espaço que lhe é possível? Na verdade, a cidade pertence a todos seus moradores.Tudo isso me faz lembrar uma antiga história de um pastor luterano que disse:– Vi os judeus serem dizimados e nada fiz; percebo diariamente discriminações de grupos “minoritários” e nada faço. Assim, quando uma dessas mazelas se voltar contra mim, ninguém, absolutamente ninguém, nada fará por mim.
As desapropriações previstas no projeto Salvador Capital Mundial já foram lançadas e irão atingir muita gente. Pensando nisso, e na fábula de Esopo, que citei no último artigo(**), volto a perguntar: quem será o rato que a montanha da cidade pariu?
*Anilton Santos Silva – Arquiteto/urbanista, demógrafo e consultor

terça-feira, 18 de maio de 2010

Mobilidade Urbana - A novela do Metrô de Salvador







Osvado Campos Magalhães*

O editor do Caderno Cidades do Jornal A Tarde, Edson Rodrigues chama a atenção para a parte ética da questão.

Citou que o projeto teve início ainda na década de oitenta, na gestão de Mário Kertezs, com a ideia dos " Bondes Modernos", que deixou estruturas abandonadas pela cidade.

O projeto foi deixado de lado pelo prefeito Fernando José (eleito com o apoio de Kertezs e Pedro Irujo) e, somente voltaria a ser pensado na gestão do prefeito Antônio Imbassay. Foi então criada uma Secretaria Extraórdinária, com a função específica de implantar o Sistema de Transporte Público, com as duas linhas de Metrô. A linha I com cerca de 12 km, ligando a Estação da Lapa até o Porto Seco Pirajá, foi licitada e teve suas obras iniciadas pelo Consórcio METROSAL, composta pelas empresas Camargo Correa, Andrade Guiterrez e Siemens. ( A empresa que apresentou a melhor proposta , a italiana Imppreglio, foi desclassificada sob a alegação de que o projeto ambientalmente agressivo-sic.)

Com a eleição do presidente Lula em 2001, as obras foram paralisadas, consequencia de denúncias por parte do PT de corrupção e superfaturamento.

As obras, depois de dois anos de paralizações só foram retomadas em 2004, ano de eleições municipais, quando o candidato do PT Nelson Pellegrino se comprometeu publicamente com a retomada das obras.
Depois da desativação dos canteiros, o Consórcio Metrosal exigiu um aditivo ao contrato, face as custos decorrentes da paralização.
Com a eleição do candidato João Henrique à época no PDT, a Secretaria de Infraestrutura, passa a ser liderada pelo ex-deputado Nestor Duarte Neto, então no PSDB, ficando encarregado de coordenar as ações visando a conclusão das obras do Metrô.
Inexplicavelmente, o Prefeito João Henrique Carneiro resolveu alterar o projeto básico do Metrô, decidindo conjuntamente com a SETIN/CTS e o Consórcio Metrosal pela construção do trecho elevado na avenida Bonocô.
Construído o elevado, após algumas paralisações por falta de recursos, as obras são novamente objeto de auditoria por parte do TCU e novamente suspensas.
O Governo do Estado da Bahia, co-responsável pelo empreendimento, adquire as seis primeiras composições do metrõ, que são entregues em dezembro de 2008.

Com a reeleição de João Henrique, agora no PMDB e aliado ao Ministro Gedell Vieira Lima, as obras são retomadas, com a previsão de inauguração do trecho Lapa Rotula do Abacaxí em setembro de 2010.
Durante os últimos anos, o SETEPS passa a desenvolver uma proposta de implantação de um novo sistema de transportes urbanos em Salvador, o Bus Rapit Transit, conhecido pela sigla BRT. Modelo exitoso de transporte urbano desenvolvido pelo arquiteto Jaime Lerner na década de 70 em Curitiba. O BRT foi também implementado com sucesso em Bogota e na cidade do México e, mais recentemente, com alguns percalços, em Santiago do Chile.
Com a decisão da FIFA em escolher Salvador como uma das sedes da Copa de 2014, e, constanto como uma das exigências do caderno de Encargos da Copa 2014 a implantação de um sistema de transporte de alta capacidade entre o aeroporto e a arena esportiva, decidiu a Prefeitura de Salvador pela alteração do projeto de transporte de massa, que previa a linha II entre a Rotula do Abacaxí e o Aeroporto, pelo novo modelo proposto pelo SETEPS. O Governo da Bahia, parte interviniente do processo, pois terá que assumir o financiamento junto ao BNDES ainda resiste à ideia.
Aguarda-se a decisão final sobre o assunto e se espera que não vença o lobby do SETEPS
* Osvaldo Campos Magalhães é Engenheiro( Ufba/79) com especialização em Transportes e Mestre em Admistração(Ufba/95). É o editor deste blog

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Seminário sobre Mobilidade Urbana em Salvador

Osvaldo Campos Magalhães *
De acordo com o especialista em Mobilidade Urbana, Nazareno Alffonso, coordenador do Forum Nacional da Reforma Urbana, a população precisa perceber que os investimentos públicos em transporte estão revertendo em seu benefício. Neste aspecto, segundo o especialista, faz-se imprescindível a finalizaçào do projeto original do Metrô de Salvador, que previa a Linha I ligando a Estação da Lapa ao Bairro de Cajazeiras, com estações no Campo da Pólvora, Brotas, Rótula do Abacaxi , Retiro e Porto Seco Pirajá. Obras iniciadas há 10 anos, com diversas estrutruras já prontas e grande trecho desativado entre a Rótula do Abacaxí e Cajazeiras. Milhões de reais foram investidos nas obras que se encontram abandonadas entre o Retiro e a Brasilgás.
No projeto original, a Linha II do Metrô previa a ligação da Estaçào ferroviária da Calçada com a Estação de integração Rodoviária de Mussurunga e daí a Lauro de Freiras passando pelo aeroporto internacional de Salvador.
Além de paralizar as obras, a prefeitura ainda vem manifestando a intenção de alterar completamente o projeto original, implantando um sistema de vias exclusivas para ônibus a Bus Rapid Transit - BRT, num claro benefício às empresas de transporte de ônibus representadas pelo SETEPS que doôu o projeto do BRT à PMS.
Além de não ter a mesma capacidade operacional do Metrô, o BRT vai na contramão da questão ambiental, sendo importante emissor de gás carbônico na atmosfera.
O seminário de Mobilidade Urbana em Salvador foi realizado pelo jornal A Tarde no final de abril e contou com especialistas e representantes dos governos municipal e estadual, IAB, Clube de Engenharia, Seteps e do jornal A Tarde.
* Engenheiro e Mestre em Administração, é especialista em transportes e editor deste blog que Pensa Salvador do Futuro.

domingo, 16 de maio de 2010

Esperando o Bonde

Paulo Ormindo Azevedo*
Morávamos na Barra Avenida e poucas famílias tinham carro na época. A maioria dos seus moradores era de classe média, mas havia também alguns ricos e muitos modestos, que viviam em uma das “avenidas” da cidade. Nós, estudantes, nos encontrávamos no ponto de bonde e entabulávamos conversas que eram interrompidas abruptamente num ponto, com a famosa frase de Ibraim Sued: depois eu conto...
Éramos todos moleques, independente da origem, no bom sentido da palavra, que pongávamos e nos divertíamos no bonde. Havia filhos de comerciantes prósperos, funcionários públicos, mecânicos, operários e até de banqueiro. Não chegava a ser uma democracia socioracial, mas sem dúvida o bonde socializava. Os abrigos da Sé e do Campo Grande, que reuniam uma multidão de estudantes da rede pública e privada era uma festa ao meio-dia e no final da tarde, com muita conversa, olhares e namoricos.
No começo dos anos 60 os bondes foram abolidos a pretexto de atrapalhar o trânsito para dar passagem a milhares de carros produzidos no País. A popularidade do carro privado deveria resolver tudo. Desde então deixamos de ter políticas de transportes público. Foi preciso a FIFA dizer que sem transporte de massa não haveria Copa em Salvador.
Surge assim o Projeto Rede Integrada de Transporte (RIT), gentilmente presenteado à prefeitura pelo Sindicato das Empresas de Transportes de Passageiros de Salvador (SETEPS), que na primeira etapa deve ligar o aeroporto ao Shopping Iguatemi, correndo pelo canteiro central da Av. Paralela. As etapas seguintes, bem mais complicadas, não tem prazo nem orçamento. As construtoras e os donos de ônibus tem pressa de cobrar a fatura de R$ 570 milhões prometidos pelo BNDES.
Criou-se , porém uma polêmica sobre a motorização do sistema. O SETEPS defende um sistema conhecido pelo nome cifrado de BRT (Bus Rapid Transit). Por outro lado, o governo do Estado, que tem a chave do cofre federal advoga a adoção do VLT (Veículo Leve Sobre trilhos). A decisão, que deveria ser técnica, está dependendo da sucessão senatorial.
O BRT, como o nome indica, é um sistema de “busus” moderninhos trafegando em via segregada, como em Curitiba. O VLT é um bonde articulado muito comum na Europa trafegando no meio das ruas, nos trilhos do antigo bonde, que nunca desapareceram completamente. Tem a vantagem de não poluir e ter uma manutenção baixa. Mas o adjetivo “leve” expressa bem que não é um transporte de massa. È o bonde moderno. Ambos podem servir como redes alimentadoras, transversais , do sistema de metrô, como nas cidades do México, Londres e Nova York.
O vetor de expansão mais forte de Salvador é o norte. Já transbordou para Lauro e Freitas e está chegando a Abrantes em Camaçari. Nem BRT nem VLT darão conta da demanda de deslocamentos humanos na Região Metropolitana de salvador (RMS) nos próximos dez anos, quando a região terá seis milhões de habitantes. A RMS tem duplicado de população a cada 20 anos e terá 12 milhões em 2014. As duas alternativas são um paliativo caro e não uma solução.
Por que não se faz logo um metrô estruturante dessa expansão na Paralela, prevendo sua extensão até Camaçari? Um metrô de superfície, sem desapropriações, nem galerias subterrâneas, como o da Paralela, não custaria muito mais que um VLT ou BRT. Os vagões estão aí, parados enferrujando e pagando pedágio. O metrô-tobogã da Bonocô até chegar a Cajazeiras, para que seja viável, demorará mais dez anos.
Com essa solução dispensaríamos a abertura da Via Atlântica e Linha Viva, que provocarão grandes impactos sociais e ambientais e um montão de desapropriações. E o pior, não resolverá nada, pois induzem a população a comprar mais carros. Remos que deixar de pensar pequeno.
Lembro-me agora das propagandas nos bondes, como a do Rum Creosotado do elixir de Nogueira e uma que dizia: “Neste mundo todos são passageiros, menos o cobrador e o motorneiro”. Desconfio que esses também são passageiros do bonde da história. A conversa está muito boa , mas vocês me dêem licença, porque um bonde ou um ônibus está chegando...atrasado. depois eu conto...
* Arquiteto, professor titutar da UFBA

Os galpões do Porto de Salvador

Estação Docas - Belém do Pará
Dimitri Ganzelevitch*
Esporadicamente as sucessivas administrações municipais propôem um novo projeto para os antigos galpões do Porto de Salvador. Cada um mais exdrúxulo que os anteriores. Um inventou, logo após os ataques ao World Trade Center, construir duas torres. Não faltaram piadas contra tal proposta. Outro imaginou um shopping center, que é, como todos sabem, a solução a qualquer problema urbano e social. Mas não vamos listar as divagações de nossos edis e seus comparsas. O mais estranho é que todos conhecem perfeitamente as felizes iniciativas de Lisboa, Barcelona, Buenso Aires e até Belém de Pará (foto abaixo), mas ninguem quer aproveitar a experiência alheia.
Nunca entendí o porque desta obsessiva necessidade de destruir em vez de adaptar. Neste milênio que começa a tomar consciência das mazelas da sociedade de consumo exarcebado, passou da hora de pensarmos sete vezes antes de derrubar e implodir. Temos oito imensos armazéns construídos na primeira metade do século passado para reforçar a economia do Estado, já que, naqueles tempos tudo dependia de navegação. Quem consagrar algumas horas a esta parte de Salvador vai se surpreender com o tamanho e a elegância despojada destes galpões. Sim , porque beleza também reside na simplicidade. Querem reabilitar o Comércio? Então comecem pela recuperação e adaptação destes imóveis. Quem for passear por esta parte da Cidade Baixa advinhará novas energias pulsando, sempre por iniciativa privada - Cais Dourado, Museu du ritmo, amanhã Trapiche Barnabé, etc. - apesar de a prefeitura afogar boas intenções em burocracias mil, levando até um ano para licenciar a mais simples reforma.
O que fazer com os galpões? A lista é longa. Desde salas para ensaios de bandas - comtratamento acustico adequado - a teatros, cinemas galerias, salões para grandes exposições, conjunto de lofts, restaurantes e pizzarias, sem esquecer um projeto paisagístico para recolocar o verde tão ausente das decisões urbanisticas de nossos municípios. Já imaginaram sentar com um bom espumante numa esplanada virada para o poente no Réveillon, olhando para a baía e assistir a belos fogos de artifício?
* Dimitri Ganzelevitch é Marchant e presidente da Associação Cultural Viva Salvador

sábado, 15 de maio de 2010

Pelo Pelourinho (Ó Paí Ó)


Márcio Meireles*
Caro Caetano,
Motivado pelo seu artigo do domingo passado, resolvi escrever esta carta, para esclarecer algumas coisas.
Você fala de mim como artista, criador do Bando de Teatro Olodum (que gerou Lázaro Ramos e Virgínia Rodrigues) e da peça “Ó paí, ó!” (depois filme e série televisiva). E também como gestor, Secretário de Cultura do Estado da Bahia, “responsável pelo destino do Pelourinho”.
Não sou responsável pelo destino do Pelourinho porque ninguém é responsável pelo destino de nada. O destino é um conjunto de acontecimentos que parecem prévia e inexoravelmente traçados. Mas, de fato, são construídos e podem ser alterados por circunstâncias históricas, sociais, emocionais, econômicas, políticas... Vejo-me apenas como parte deste elenco que constrói e modifica os acontecimentos.
Também, ao contrário do que você afirma, nas peças da “Trilogia do Pelô” — especialmente “Ó paí, ó!” e “Bai bai Pelô”, que criei e te emocionaram e nos aproximaram — não havia ódio. Havia indignação por ver um poder truculento promover uma limpeza étnica e social, expulsando os antigos moradores do Pelourinho e entregando as casas, que eles mantiveram de pé, a novos ocupantes.
Diferente do exemplo da Lapa, no Rio, onde o poder público fez sua parte, e a iniciativa privada e a sociedade, as delas, aqui, o governo fez tudo, como um pai/padrasto, “com dinheiro numa mão e o chicote na outra”. Tentando ser o condutor do destino.
Mas o “destino” às vezes não obedece a seus condutores, e o tempo dá respostas. A reforma não deu certo. A pintura das casas, que lembrava Santo Amaro em festa e te encantou, não era feita pelos moradores, nem pela prefeitura.
O Pelourinho foi reformado, ou seja, ganhou nova forma. Não foi revitalizado, não retomou sua capacidade vital, não se pensou em sustentabilidade.
Não é possível revitalizar um território urbano sem a força de seus moradores, sem ações articuladas dos três entes federados. Não é possível tratar o Pelourinho como uma área isolada, um (im)possível parque temático. A maioria das soluções está no entorno para onde foram muitas das famílias retiradas da área, ocupantes agora de outras ruínas ou marquises, sobrevivendo do possível.
Criamos o Escritório de Referência do Centro Antigo de Salvador para articular o Plano de Revitalização do Centro Antigo. Em parceria com a Unesco, ele foi concluído e será apresentado no dia 2 de junho, com a entrega do Palácio Rio Branco restaurado. Ampliamos a área expositiva dos museus do lugar, triplicando a frequência e diversificamos a programação artística dos largos; temos tido, como você já comprovou, um público significativo.
Caetano, meu amigo, o Bando precisou de dois anos para fazer sua primeira temporada no Rio, quatro para entregar ao mundo uma Virgínia Rodrigues, oito para um Lázaro Ramos, 17 para “Ó paí, ó!” virar filme, 18 anos para a série. Os processos culturais sustentáveis levam um tempo, mas, desde o seu início, o Bando sempre teve a vitalidade necessária para ser agora o que é. Talvez um anticarlismo.
Sem ódio. Só um caminho em outra direção. Um outro ponto de vista. Outra prática.
Não deixe sua visão, tão preciosa sempre ao Brasil, ser nublada por questões partidárias. Não abandonamos o Centro Antigo de Salvador. Ele estava abandonado. O crack é uma realidade trágica. A segunda pior renda per capita das capitais brasileiras, o quarto pior ensino público, o abismo social, a fragilidade de nossas instituições não foram criados nos últimos três anos e meio. Não era possível.
Ó paí, velho: quem criou um espetáculo e um grupo capazes de te emocionar poderia abandonar o sujeito da peça?
*Márcio Meirelles é secretário de Cultura do Estado da Bahia.
Carta publicada no jornal O Globoe, em 14/05/2010

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Sistema Cicloviário em Salvador, Já!

ALBENÍSIO FONSECA*
Em meio à crise de mobilidade urbana gerada pelo excessivo número de automóveis, reduzida expansão de vias, insuficiência e má qualidade do transporte coletivo, e diante da exclusão de parcela significativa de pessoas de baixa renda, sem disponibilidade para pagar a tarifa de ônibus, é urgente a implantação de um sistema cicloviário em Salvador e macrorregião.
Governo e prefeitura dispõem de projetos nesse sentido, mas não demonstram, ainda, a vontade política necessária para contemplar 47% da população que andam a pé ou 7% de bicicleta, pelo menos meio quilômetro diariamente, conforme pesquisa da Associação Nacional de Transportes Públicos.
A infraestrutura necessária à implantação de um sistema cicloviário é a que dispende menor custo, pelo poder público, em relação a qualquer outro sistema de transporte. Em tempos de economicidade, a bicicleta conta com fatores importantes como preço, baixa manutenção, consumo zero de combustível e nenhuma emissão de poluentes, além de possibilitar exercício físico com ganho para a saúde do usuário.
A “magrela” é sete vezes mais eficiente que o automóvel. Ou seja, a circulação de carros, por hora, numa faixa de tráfego, comporta 2 mil pessoas; por ônibus, 9 mil; enquanto de bicicletas permite 14 mil pessoas. Não há dúvida que a bicicleta representa uma solução fundamental para o transporte nas cidades. Seja por garantir o direito de ir e vir, seja por liberar a população carente da exclusão territorial e para práticas sócioespaciais ampliadas.
Iniciativas nesse sentido têm sido adotadas com êxito em diversas capitais brasileiras, e em inúmeras cidades em âmbito mundial, mas Salvador permanece na contramão desse processo. Com 2,8 milhões de habitantes, a cidade dispõe de cerca de 16 km de ciclovias destinadas ao uso da bike, em caráter meramente de lazer. E apenas uma ciclofaixa inferior a um quilômetro de extensão. Aracaju, com 520 mil habitantes, tem 80 km; Curitiba, 120 km para uma população de 1,8 milhão. O Rio de Janeiro, 180 km, para 6 milhões de moradores. Mesmo com equívocos no traçado dos acessos, São Paulo inaugurou, esse ano, ciclovia com 14 km paralelos às linhas de trens metropolitanos.
Não se trata meramente de pintar ciclofaixas e ciclovias, mas de dotar o equipamento e seu usuário de um completo plano de mobilidade, com bicicletários e implantação de circuitos especiais, principais e secundários. O sistema requer logística específica e gestão (pública, privada ou mista) que envolvam campanhas de conscientização e proteção, além do estímulo à cadeia de produção e comercialização, incluídos serviços de manutenção e locação.
Há estimativa de 20 mil usuários e dezenas de grupos de passeio organizados, em Salvador, segundo a Associação de Bicicleteiros da Bahia. Para a associação, é preciso haver ciclovias em, no mínimo, três trechos da cidade: São Cristovão/Iguatemi, Iguatemi/Estação da Lapa e Calçada/Paripe.
O ciclista não é um obstáculo nas vias, faz parte do transito, está inserido na legislação. A ele não está conectado apenas o veículo em si, mas um conjunto de acessórios que envolvem equipamentos especiais das indústrias de calçados (tênis), viseiras, luvas, capacete, além de inúmeros adereços para turbinar a bike.
Circulando por ruas, avenidas, bairros e rodovias, mas sem contar com a educação para o transito e um planejamento cicloviário, estão expostos a acidentes na guerra insana do tráfego, com estatística crescente e proporcional à ampliação do número de usuários. Dados de 2008 apontam a ocorrência de 364 acidentes com 16 mortes.
A circulação de bicicletas, em condições de segurança e maior comodidade, para amplo contingente de trabalhadores, é importantíssima nas ligações intermodais. A transversalidade de um sistema cicloviário demonstra inúmeras interfaces. Desde a mobilidade e inclusão territorial à ampliação do universo de utilização e dos calendários desportivo e turístico; estímulo ao empreendedorismo; melhorias na condição de saúde do cidadão; ampliação da consciência ecológica. Tudo isso pode proporcionar, sem dúvida, o advento de uma radical renovação da cultura urbana. Frente à Copa e à Olimpíada, o que falta mesmo?
*Albenísio Fonseca é jornalista

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Personagens marcantes de Salvador :Rita Tourinho

Blog: Conte um pouco sobre sua trajetória no Ministério Público da Bahia.
Rita Tourinho: Ingressei no Ministério Público no ano de 1991, fui a segunda colocada no concurso público e, por esta razão, minha primeira Comarca foi Amélia Rodrigues. Depois fui promovida para São Francisco do Conde e depois para Camaçari. Em Salvador durante um ano trabalhei com processos de investigação de paternidade, até que, no ano de 1998, fui transferida para o Centro de Apoio Operacional de Defesa do Patrimônio Público. Assim, trabalho na mesma área há 12 anos.
Blog: Como é coordenar o Grupo de Defesa do Patrimônio Público e Moralidade do Ministério Público?
RT: Como coordenadora procuro auxiliar os colegas que estão nas Comarcas do interior do Estado. Também coordeno campanhas do Ministério Público na área de defesa do patrimônio público, como, por exemplo, a campanha “diga não ao nepotismo”e “bens públicos legais”.
Blog: Quais as principais demandas desse Grupo?
RT: Com certeza a maioria dos casos reporta-se a irregularidades em processos licitatórios e contratos administrativos. Há também uma grande demanda concernente a problemas em concursos públicos ou processos seletivos.
Blog: Visivelmente a senhora não tem receio de se indispor com os políticos, e sempre que é preciso está cobrando, através de ações no MP-BA, a moralidade da administração pública. Isso já te trouxe problemas?
RT: Nunca tive qualquer problema, pois sempre tive uma atuação coerente. Nunca o GEPAM atuou por questões políticas. Sempre temos o mesmo comportamento, independente de quem esteja no poder. Nossas ações são respaldadas em inquéritos civis bem fundamentados e instruídos. Particularmente, não tenho qualquer restrição a nenhum dos nossos políticos, mas profissionalmente as irregularidades detectadas serão apuradas e, se necessário, as ações judiciais serão propostas, independente de quem seja o gestor responsável.
Blog: Já sofreu algum tipo de ameaça ou retaliação?
RT: Ameaças sim. Retaliações não. Mas não me preocupo com ameaças. Todos devem saber que o Ministério Público não começa nem termina na minha pessoa. Assim, o trabalho que faço pode ser realizado por qualquer um dos meus colegas, da mesma forma ou até melhor.
Blog: O que a senhora acha do nepotismo?
RT: Acho que o nepotismo é um mal que vem sendo aos poucos excluído do nosso país, graças não somente à atuação do Ministério Público, como também do Judiciário, afinal o STF editou a Sumula Vinculante n. 13 que proíbe a prática do nepotismo no âmbito do Estado brasileiro.
Blog: No MP-BA há nepotismo?
RT: Não, em absoluto. O Ministério Público do Estado da Bahia está totalmente adaptado à Súmula Vinculante n. 13 do STF, que estabelece os casos de nepotismo.
Blog: Com relação ao caso da limpeza urbana de Salvador, o caso já está resolvido? O que efetivamente aconteceu?
RT: O processo chegou ao Ministério Público em virtude da possível realização de licitação para contratação no modelo parceira Público-privada para limpeza urbana. Diversos vícios foram detectados e por recomendação do MP a licitação foi abortada. Posteriormente, o Município se comprometeu a instaurar um processo licitatório, com fundamento na Lei n. 8.666/93 até que seja finalizado o estudo para uma nova licitação com novo modelo. O Inquérito Civil tramita também na 5ª Promotoria do Meio Ambiente, tendo à frente a Promotora Cristina Seixas.
Blog: Qual sua idéia de transparência na administração pública?
RT: Transparência significa administrar sem subterfúgios. Apresentar esclarecimentos aos Administrados quanto às medidas que vêm sendo adotadas na condução do Estado. A transparência repudia publicações de resumos de contratos com termos genéricos, propagandas de governo que não correspondem à verdade. Afinal, se o poder é exercido em nome do povo, o povo tem o direito de saber o que vem sendo feito no exercício desse poder.
Blog: Muitos dizem que a senhora gosta de aparecer em sua ações. É verdade? A que se deve isso?
RT: Trabalho na defesa do patrimônio público e da moralidade administrativa. Área que é de interesse de todos. Logo, sempre que possível, deixarei a população informada do quem vem ocorrendo em nossa Administração Pública. É a única forma que tenho para contribuir com a transparência administrativa.
Blog: A Senhora acha que como membro do MP-BA deveria resguardar mais suas opiniões?
RT: Não exponho minhas opiniões, mas fatos que estão sendo apurados ou que já foram apurados. Não costumo fazer juízo de valor sobre as pessoas que estão envolvidas em inquéritos que tramitam pela nossa Promotoria de Justiça.
Blog Por fim, qual a expectativa da senhora dentro do MP-BA? Deseja alçar vôos mais altos?
RT: Não tenho qualquer pretensão a não ser continuar realizando o meu trabalho, escrevendo meus livros e ministrando aulas para meus alunos, transmitindo a eles o apreço que tenho pelo meu trabalho, a importância da probidade nas nossas vidas e como somos responsáveis diretos ou indiretos por tudo o que acontece no nosso pais. Espero que eles possam construir um Brasil melhor

terça-feira, 11 de maio de 2010

Presidente do STJ autoriza retomada das obras da Via Expressa Portuária

O Superior Tribunal de Justiça (STJ) decidiu hoje suspender a decisão que impedia a Companhia de Desenvolvimento Urbano (Conder), na Bahia, de prosseguir com a construção da via de acesso ao Porto de Salvador. A obra faz parte de um amplo pacote de projetos incluídos no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), do governo federal, e servirá para integrar o Porto de Salvador à Rodovia BR-324, principal acesso rodoviário à capital baiana.
A questão foi analisada por meio de pedido de suspensão de segurança impetrado pela Conder e pelo próprio Estado da Bahia. No pedido, os requerentes alegaram que a suspensão do contrato, nas atuais circunstâncias, poderia acarretar grave lesão à ordem e à economia públicas. Argumentam ainda que a suspensão das desapropriações prolongaria o transtorno causado pelas obras da Via Expressa, cujo tráfego na região sofreu efeitos colaterais diretos dessa intervenção. Os autores afirmam também que o atraso das obras implica acréscimo de encargos trabalhistas, majoração do orçamento dos serviços contratados e mais gastos com ações judiciais movidas por particulares afetados pelo empreendimento.
Fonte: DCI/Panorama Brasil

Tempos Modernos


Luiz Felipe Pondé*
Uma frase típica de jantares inteligentes é: "Hoje temos outra cabeça!". Eu digo que não. Não temos "outra cabeça". Somos mais tagarelas sobre nossas mentiras. A mentira virou ciência: virou marketing.
Acho, sim, que muitos profissionais das ciências humanas afirmam que existe essa "outra cabeça" (no sentido de sermos mais bem resolvidos) simplesmente para justificar seu lugar de gurus de uma vida melhor. Pretendem seduzir as pessoas dizendo para elas palavras bonitas.
Principalmente as mulheres. Enganam-se porque as mais interessantes entre elas detestam bajulação. A praga da "autoajuda" não é privilégio de magos decadentes, bruxas loiras e gurus desdentados. Essa praga assola tudo, fazendo da vida inteligente um marketing da autoimagem.
Progredimos, sim, em remédios, repelentes de mosquitos e cirurgias (tecnologias médicas), aviões, computadores e celulares (tecnologias de transporte e comunicação). Mesmo a democracia eu julgo sobrevalorizada em muitos casos devido à inequívoca vocação para a retórica e para a tirania da opinião pública.
Mas a má-fé se esconde no fato de que todos esses avanços técnicos implicam o tipo de vida (degradada, instrumental, apressada) que temos. Como diz o filósofo francês André Comte-Sponville, o "progresso" em escala global é uma ameaça à vida.
Sem dúvida que algumas coisas "mudam". Hoje, por exemplo, muitas mulheres podem ser "mais" do que secretárias, elas podem ser médicas, engenheiras, cientistas. E negros podem ser presidentes. Mas nada disso (de antibióticos a médicas negras) implica em "outra cabeça": continuamos invejosos, manipuladores, inseguros, traiçoeiros e podemos destruir muita gente dando uma de "defensores dos mais fracos". Os "ganhos sociais" só se instalam quando se acomodam e passam a servir às velhas mazelas humanas.
Uma leitora, irritada, pergunta: "Você não acredita que existam mulheres sozinhas e bem resolvidas? Você deve é ter problemas com as mulheres". Dou duas respostas.
Primeira: não acredito em pessoas bem resolvidas, acho que todo mundo que se diz bem resolvido é um mentiroso contumaz, mulher ou homem. No fundo, o que existe hoje é um marketing de comportamento que se apoia no consumo crescente de antidepressivos e hábitos macabros como conversar com gatos, cachorros, plantas ou extraterrestres.
Só eremitas conseguem viver bem sozinhos. Amar a solidão sempre implica alguma forma de trauma ou desencanto com a vida.
Segunda: sim, tenho problema com as mulheres, quem não tem? Só os mentirosos. Vou contar uma história. No maravilhoso livro "Contraponto", de Aldous Huxley, existem duas personagens femininas, entre outras, Marjorie e Lucy. A primeira é aquele tipo clássico da mulher que se faz vítima do homem, grávida e traída. A segunda é o outro tipo clássico de mulher (e oposto à Marjorie), o ideal de toda mulher moderna: a devoradora de homens, que transa com quem quer.
Lucy, em sua vivência de mulher livre, descobre um tesouro de sabedoria: só os gays não têm problemas com as mulheres porque são indiferentes a elas. Ser bem resolvido com as mulheres é ser gay. Para o gay, a mulher é obsoleta. Exigir dos homens "afetos corretos" para com as mulheres é querer que todos sejam gays. O mesmo vale para as mulheres: toda mulher tem problema com os homens. Quando se trata da relação entre homens e mulheres, estamos num pântano de medo, insegurança, baixa autoestima e jogos de manipulação. O inferno do desejo.
Conhece?
E por que existe tanta gente que faz uso desse marketing de comportamento dizendo por aí que "hoje temos outra cabeça"? De novo, dou duas respostas.
Primeira: eu me vendo como bem resolvido para fazer os outros se sentirem mal e com isso elevo minha autoestima. Nunca subestime a delícia que é fazer o outro se sentir mal mesmo que você não esteja se sentindo tão bem assim.
Segunda: como derivação da primeira, eu me vendo como bem resolvido para elevar meu preço no mercado dos afetos e das relações.
As duas se resumem no velho pecado da vaidade. Esse é apenas um dos sete pecados capitais (caso a cara leitora queira saber mais, leia são Tomás de Aquino). Melhor do que todo o papo de luta de classes, ideologia, política dos corpos, sexismo e blá-blá-blás associados, experimente usar os sete pecados capitais para ver se eles não iluminam a chacina cotidiana em que você vive.
* Filósofo. Artigo publicado originalmente no jornal Folha de São Paulo, em 10/05/2010

segunda-feira, 10 de maio de 2010

O Largo da Ordem

Largo do Pelourinho
Caetano Veloso*
Quando disse a Leminski, no começo dos anos 70, que me encantava a recuperação do Largo da Ordem, no centro de Curitiba, ele riu: "Você adora enganações feitas para a classe média." Respondi que adorava mesmo. Sempre à esquerda, Leminski via limpeza, iluminação, policiamento e restauração de prédios como maquiagem - e olhava com desconfiança meu interesse por Jaime Lerner, o então prefeito da cidade que fora indicado pelo governo militar. Eu odiava o regime - e desprezava os que chegavam ao poder em acordo com ele. Mas não via o Largo da Ordem como enganação. Bem, talvez se pudesse dizer que aquilo se dirigia à classe média. Mas eu ri ao dizer diante da cara do poeta: "Eu sou classe média." O que de fato pensei foi: se se fizesse algo assim com o Pelourinho, o Brasil decolaria - ou estaria mostrando que já decolara. Era sonhar demais.
Ainda nos 70, os sobrados da área estrita do Largo do Pelourinho foram restaurados. Lembro duas reações negativas: Candice Bergen e Décio Pignatari. Em ocasiões diferentes, ouvi de ambos: "Parece a Disneylândia." Eu próprio, diante das tintas plásticas usadas, apelidei o novo Pelourinho de Giovanna Baby. Mas a verdade é que, tendo crescido em Santo Amaro, eu não achava artificial uma rua com casas antigas pintadas com tintas novas: era o que acontecia ali a cada fevereiro, mês de Nossa Senhora da Purificação. Achei que Candice e Décio pensavam que casa velha tem que ter limo e reboco caindo. Décio, de Sampa, queria velharia mais "autêntica". Candice, de Los Angeles, reviu o que expõe a artificialidade de sua terra natal: Disneylândia. Já eu só via o esboço de realização da promessa do Largo da Ordem.
Nos anos 90, toda a região do Pelourinho ganhou o tratamento que eu imaginara utópico em 1972. Há queixas contra os métodos usados para a retirada dos moradores. Há a frase bonita de Verger: "Devia se erguer no Pelourinho um monumento às putas." Elas é que mantiveram de pé esse pedaço da cidade. Em 1960, vendo a harmonia de formas exibida em matéria deteriorada, eu me sentia fascinado também pela degradação dos habitantes. A prostituição mais anti-higiênica manteve os sobrados de pé. Casas sem moradores caem. As do Pelô exibiam as marcas da decadência da humanidade que as povoava e as mantinha erguidas.
Há a frase bonita de Verger: "Devia se erguer no Pelourinho um monumento às putas."
ACM é um nome que se evita - a não ser que se queira xingá-lo ou adulá-lo, (na foto, no 2 de julho de 2003, recebendo homenagens de baiana estilizada pela Bahiatursa). Medir objetivamente seu legado é anátema. Tou fora. Truculento, vingativo, populista, Antônio Carlos Magalhães era o tipo de político de que desejei ver a Bahia e o Brasil livres. Fiz-lhe sempre oposição. Cantei nos comícios de Waldir Pires, que se elegeu governador. Mas Waldir uniu-se com parte da oligarquia rural que odiava ACM desde sempre. O vice de Waldir era um representante dessa oligarquia. Waldir mal esquentou a cadeira: saiu para tentar ser vice na candidatura furada de dr. Ulysses. ACM voltou em glória nas eleições seguintes.
A essa altura, ele já tinha feito as avenidas de vale (um projeto de 1942), ligando entre si partes distantes da cidade (outrora com tráfego apenas nas cumeadas). E atraído quadros de alto nível técnico. Na sua volta, retomou os trabalhos do Pelourinho, que floresceu.

O escolhido para dirigir o projeto foi o antropólogo Vivaldo da Costa Lima. Vivaldo, cujo amor pela cultura do povo baiano não pode ser superestimado, não acolheria decisões malévolas. Seja como for, a restauração, com os atrativos para quem quisesse estabelecer negócios ali, mudou a cara da cidade. Jovens que até os anos 80 nunca tinham ido ao centro histórico lotavam os bares do Pelourinho. Isso deu ao baiano uma nova auto-imagem.
O atual governo do PT precisaria se posicionar de forma clara face ao legado de ACM. Sentir que talvez haja desprezo pelo Pelourinho deprime. A explicação dada é que as facilitações oferecidas aos negociantes que ali se estabeleceram são artificiosas. O secretário de Cultura, meu amigo Márcio Meirelles, é o responsável pelo destino da área. Diretor do Bando de Teatro Olodum, Márcio nos deu "Ó paí, ó!". O elenco que ele reuniu é um espanto de vitalidade. Mas, nesse e em outros espetáculos do grupo, o sarcasmo relativo à reforma do Pelourinho vinha colorir o ódio a ACM. Eu adorava a peça assim mesmo. Arte é coisa séria. Aquelas pessoas falando e se movendo daquela maneira estão, na verdade, mais sintonizadas com as forças que fizeram possível a recuperação do Pelourinho do que com a demagogia que por vezes se comprazem em veicular contra ela.
Depois vieram o Recife Velho, o Centro de São Luís, algo do Centro de São Paulo - e sobretudo veio vindo a Lapa. A iniciativa privada se achegou, a Sala Cecília Meireles dera a largada, o Estado entrou com o trato dos arcos, iluminação, policiamento - e temos uma mostra de como nos vemos nestes anos FH-Lula. O governo petista da Bahia deveria tomar o Pelourinho como uma joia a ser cuidada. Aproveitar o aproveitável de ACM -- e fazer melhor. Não é saudável fazer com os benefícios aos negociantes aderentes o que Ipojuca Pontes fez com o cinema ao acabar com a Embrafilme. Esse privatismo repentino soa suspeito. O abandono do centro histórico tem parte no aumento da criminalidade. Política para mim é isso. Capturar as forças regenerativas da sociedade e trabalhar a partir delas. Não se atar a facções ideológicas como a torcidas de futebol - nem, muito menos, a grupos de interesses inescrupulosos.
*Caetano Veloso, poeta, cantor , compositor e escritor, é baiano, de Santo Amaro da Purificação. Artigo originalmente publicado no jornal O Globo, 09/05/2010

domingo, 9 de maio de 2010

O nome da ponte Salvador - Itaparica

JOSÉ NOGUEIRA*
Acompanho, com cuidado, as propostas para a ponte que se pretende estender por sobre a Baía de Todos-os-Santos, para interligar os tramos Sul e Norte da BR 101, atualmente conhecida como Ponte Salvador-Itaparica.
É notório que uma ponte ligando os dois municípios Itaparica (e não Vera Cruz) e Salvador é e será por muito tempo inviável economicamente – tal ligação, na escala em que acontecer, não pagará os custos de construção e, com base e propostas já vistas, os de manutenção.
O que razoavelmente seria uma estrutura simples sobre a água, pesadeleia cada dia como se fora um monumento pretensioso e caro. Vãos enormes, muitos deles estaiados, pensados em navegação atípica, em nada contribuirão para o bom senso na Arquitetura e Engenharia baiana (ou nacional, ou internacional, como queiram).
O traçado mais coerente é ao fundo da Baia (N/NO), em cotas batimétricas da ordem máxima de 20m, sobre fundo de areia, com tabuleiro baixo, isto por que:
1.Luz (entrevão do subtabuleiro ao nível do mar) acima de 50m é desperdício – passar porta-aviões? Qual? o São Paulo (ex-Foch)? Para que? Não há como docar casco tão grande na Base Naval de Aratu. Bem, quem sabe um CVAN (porta-aviões de ataque, de propulsão nuclear) desses americanos um dia quebra uma peça aqui perto e… podem quere uma gambiarrazinha…
Quanto a outros navios, essa altura é suficiente, já que, na posição de fundo da baia só passarão sob a ponte os que usam o Terminal de Madre Deus.
1.A opção por águas menos profundas requer pilares submersos curtos que apresentam menor resistência às correntes marinhas (que no fundo da baia são mais fracas – menor volume d’água/tempo)
2.Vãos maiores que 240m não são necessários, a não ser como exercício estrutural ou para aumentar o custo de manutenção (que não será pequeno e implicará em pedágio caro); todavia, para gáudio de poucos, justificariam formas escultóricas e estais de aço, provavelmente inoxidável (o aço).
3.Ainda sobre estais – há velocidades de ventos nos rumo S e SSE e também NE que chegam a 26 kt (44kmn/h) que provocarão vibrações harmônicas de baixa frequência, o que, além de causar mal estar podem contribuir para colapso lento das estruturas e suas ligações; isso sem falar que tabuleiro de perfil reto, na altura e extensões propostas, por efeito do teorema de Bernoulli poderá fazer com que tais estais, em regime de vento forte, não funcionem – pode haver empuxo negativo do tabuleiro pela subpressão causada sobre sua face superior pelo fluxo eólico. (como uma asa de aeronave)
Há solução simples e prática para fazer uma ponte; entretanto, seo o que querem (quem) é um monumento que o projeto fique por conta de quem assim pensa.
Em 1984 foi publicado em A Tarde um estudo sobre A Ponte, com o seguinte traçado:
- saída FORA do perímetro urbano da Salvador a partir de um trevo a completar na BR 324 na altura do acesso À base Naval;
- duplicação da estrada da Base Naval, com correção do eixo passando por cima da “boca da Baia de Aratu” a 60m de altura, atingindo o sistema viário existente co CIA Norte;
- duplicação da via do CIA Norte até perto de Madre de Deus;
- ponte com 1600m da linha de costa de Madre de Deus até a Ilha dos Frades (posto de pedágio)
- ponte com 10.960m, sobre águas rasas, com vãos de 120m e um central de 200/240, atingindo a Ilha de Itaparica no município do mesmo nome, na Fazenda Mocambo (governo do Estado)
- daí, rodovia nova pela contra-costa da ilha até a ponte do Funil, duplicando-a e a rodovia seguinte até o entroncamento da BR 101.
Mas o assunto era o nome da ponte, ou, do monumento?
É assunto para plebiscito e não agora; definamos primeiro o que como fazer; daí o nome não será uma piada.
*José Nogueira – Arquiteto urbanista. Trabalhou com infraestrutura urbana na Conder entre 1980 a 1999. Professor do curso de Arquitetura da Universidade Salvador (Unifacs)