sábado, 13 de maio de 2017

Lançado edital do VLT Salvador

Adilson Fonseca*
O aviso de licitação para implantação e operação do Veículo Leve sobre Trens (VLT) em Salvador foi publicado na edição desta quarta-feira no Diário Oficial. Os dois processos serão realizados por meio de Parceria Público Privada (PPP). As propostas serão recebidas e abertas no dia 30 de junho de 2017, na sede da BM&FBOVESPA, em São Paulo.
O Edital de Concessão nº 01/2017 está disponível desde quinta-feira no site da Secretaria de Desenvolvimento Urbano (Sedur) ou na sede da pasta. 
O VLT, que vai substituir o atual Trem do Subúrbio, terá 18,5 quilômetros de extensão e 21 estações. Estão previstas intervenções em duas fases: a primeira, entre o Comércio e Plataforma, com 9,4 quilômetros; a segunda, entre Plataforma e São Luiz, tem nove quilômetros, e uma terceira, com 1,5 quilômetros, entre Paripe e a localidade de São Luís.
Conforme o projeto, os usuários do VLT estarão integrado às linhas 1 e 2 do metrô e aos roteiros do BRT (Transporte Rápido por Ônibus) metropolitano. A perspectiva é de beneficiar, diretamente, os mais de 600 mil moradores do Subúrbio Ferroviário de Salvador. A capacidade diária do futuro VLT será de 100 mil usuários. Atualmente, a malha ferroviária que liga Paripe à Calçada é de 13,6 quilômetros;
Audiência Pública    

Na audiência pública que resultou na formação do Fórum  de Defesa dos Trens de Salvador, reunindo entidades civis, e especialistas ferrovias do CREA e Sindicato dos Engenheiros,  foram apresentadas propostas de

 revitalização dos trens e a extensão do atual trajeto, entre Calçada e Paripe, para outros municípios da Região Metropolitana de Salvador. A proposta do fórum e tentar um diálogo mais consistente com o Governo do Estado.
No caso do VLT de Salvador a alteração da bitola métrica existente,  o engenheiro Carlos Alberto Martins da Matta , presidente da Associação dos Engenheiros Ferroviários da Bahia e Sergipe , diz que as mudanças  serão complexas e exigirão grandes ajustes na ampliação da largura da plataforma da via, na substituição total dos dormentes, na alteração  e nos aterros e cortes, o que implicará no aumento substancial dos custos das obras, diz o documento assinado pelo engenheiro.
Revitalização 

Há 30 anos, desde quando foram desativados o transporte ferroviário de passageiros para os municípios da Região Metropolitana de Salvador, e transferidos da União apara o Município e atualmente para o estado, a operacionalização dos trens em Salvador, que o Movimento Trem de ferro luta pela revitalização dos trens de passageiros. “Há 30 anos lutamos pelo resgate desses trens, pois sua revitalização é inerente à sobrevivência de famílias que vivem nas adjacências da ferrovia”, declarou.

Numa petição encaminhada no ano passado à Procuradoria Geral da República, o Movimento Trem de Ferro denunciou que existem apenas dois trens que circulam entre 06h às 20h, de segunda a sábado, com intervalos de 40minutos. Os trens ainda sofrem constantes avarias diariamente, situação esta que já perdura por 11(onze) anos, sendo 08(oito) anos na  gestão Municipal e os últimos 03 (três) anos na gestão Estadual. 
O documento relata ainda que de 2005 até 2013 foram gastos aproximadamente R$ 200 milhões, com garantias da CBTU – Companhia Brasileira de Trens Urbanos, gestora do Sistema na época, antes de transferir a gestão do sistema para a Prefeitura. Nas obras foram feitas a troca de mais de  nove mil metros de trilhos novos importados de outros países, troca de mais de oito mil dormentes de concreto monobloco, reforma de oito estações, substituição das subestações de energia elétrica e reforma da ponte  São João, na Enseada do Cabrito .
Além do mais o documento aponta que foram feitas as reformas de duas locomotivas diesel/elétricas, realizadas no Rio de Janeiro, e aquisição de três trens reformados com capacidade de transportar 600 passageiros, cada, em São Paulo entre 2007 e 2009, e outros três que vieram de Minas Gerais, pela empresa  GK Engenharia, num custo total de R$ 8.731.800,00, di]os quais foram pagos R$ 7.967.106,00 
Conforme explicou o coordenador do Projeto Trem de Ferro excluir o trem significa excluir parte da identidade da região do Subúrbio Ferroviário de Salvador, além de inviabilizar uma expansão dos trens para a Região Metropolitana. “Nas outras capitais o sistema usa as mesmas bitolas dos trens, aproveitando-se as estruturas de trilhos e estações existentes”, diz. 
*Tribuna da Bahia

sexta-feira, 12 de maio de 2017

Zélia Duncan celebra os 50 anos da Tropicália

Sérgio Roveri*
A primeira benção à escolha de Zélia Duncan como protagonista de "Alegria Alegria" foi dada antes mesmo da estreia deste musical sobre a Tropicália marcada para amanhã no Teatro Santander, em São Paulo. "Quando soube que Zélia seria a estrela do projeto, Caetano Veloso se mostrou feliz e tranquilo quanto ao resultado", disse o diretor Moacyr Góes, ele próprio o maior entusiasta do trabalho da cantora. "Zélia Duncan sempre foi o norte deste projeto. Escrevi o musical tendo sempre em mente que ela estaria à frente do elenco."
O aval de Caetano, que não costuma ser desprezível qualquer que seja o assunto em pauta, ganha importância especial neste caso, já que é de sua autoria a maioria das 24 canções executadas ao vivo durante as quase duas horas de espetáculo - há ainda, em número consideravelmente menor, composições de Gilberto Gil, Tom Jobim, Luiz Gonzaga e Roberto Carlos.
Zélia Duncan não está apenas à frente do elenco: quando as cortinas se abrem para o número inicial, a cantora de 52 anos é vista sobre um platô a cerca de quatro metros acima do chão, à direita do palco. É desta posição estratégica que a Zélia, trajando bata feita com centenas de fitinhas do Senhor do Bonfim, usa as mãos para conduzir, num misto de narradora e comandante, a cena que se desenrola sob seus pés.
"Estou aprendendo um pouco a cada dia", diz a cantora num intervalo dos ensaios. "O que faço aqui é um exercício de entrega. O diretor orienta esse trabalho com tanta doçura, que não me dou conta do risco que estou correndo ao assumir este papel."
Não se pode dizer que "Alegria Alegria" seja a estreia de Zélia Duncan no teatro. Entre 2011 e 2012 ela correu o país com o espetáculo "Tô Tatiando", espécie de concerto músico-teatral baseado na obra do compositor Luiz Tatit, no qual o texto tinha uma relevância maior que as canções. Sob a direção da atriz Regina Braga, Zélia tinha, em "Tô Tatiando", uma quantidade de texto ainda maior do que se viu obrigada a decorar agora em "Alegria Alegria".
"Aquele espetáculo foi um divisor de águas na minha carreira. Depois de 'Tô Tatiando', nunca mais vi o palco da mesma maneira", afirma. "Mais que isso, até: nunca mais vi a minha carreira da mesma maneira. O que não quer dizer que esteja abrindo definitivamente novo rumo na profissão. Sou uma cantora que, no momento, está trabalhando em um espetáculo teatral, já que teatro sempre foi uma das minhas paixões. Mas não sei como serão as coisas daqui a seis meses."
Apesar da importância que "Tô Tatiando" teve em sua carreira, a cantora afirma não ter sido esse o único trabalho que ajudou a pavimentar o caminho que a conduziria ao musical "Alegria Alegria". "Antes do 'Tatiando' veio minha parceria com os Mutantes, entre 2006 e 2007. Tocar com eles, que também tiveram importância no tropicalismo, foi como tomar um ácido cujo efeito se prolonga até hoje. É uma viagem que ainda não terminou", diz. "Agora sei que o risco aqui é outro, mas conheço o Moacyr Góes há tanto tempo e confio tanto nele que, caso eu venha a cair, sei que vou cair gostoso."
Em "Alegria Alegria", que chega aos palcos quando a Tropicália comemora 50 anos, Zélia não responde por um personagem fixo. Ela transita por entre os 13 atores do espetáculo fazendo uma costura cênica, uma anfitriã incumbida de conduzir uma narrativa que se apropria da música para esboçar retrato social, econômico e, acima de tudo, cultural do Brasil. Não apenas do Brasil do fim dos anos 60, quando o movimento aflorou, mas do país onde vivemos hoje. "Foi trabalhoso, mas fácil ao mesmo tempo, transportar a Tropicália para o Brasil do século XXI", diz Góes, que além da direção responde pelo roteiro.
"Digo que foi fácil porque os clássicos preservam a juventude, e as 24 canções escolhidas são clássicos indiscutíveis. São músicas que tratam de determinados valores que não morrem. Os tropicalistas não produziram apenas aventura musical, produziram a contracultura e nos apresentaram a ela."
Nessa primeira experiência com musicais, Góes, que já dirigiu duas novelas na Rede Globo, dez filmes e perto de 50 peças, afirma ter se afastado do didatismo e de uma cronologia que presenteasse a trama com começo, meio e fim. "Isso nem seria condizente com a Tropicália, movimento que nunca foi obediente às normas", afirma. Vindo de uma família de intelectuais de esquerda - seu pai foi o educador e escritor Moacyr de Góes - Moacyr Góes era obrigado, na infância, a se esconder no quarto da empregada para ouvir as canções da Tropicália, já que na casa o movimento, por ser considerado americano demais, havia sido sumariamente banido.
"Escrevi 'Alegria Alegria' para dar voz à paixão que sinto pela cultura e pela diversidade", afirma. "Estamos vivendo um momento muito difícil, por isso acredito que o espetáculo sinaliza que é possível um renascimento. Eu quis trazer um pouco de esperança, justamente por meio da diversidade. Estas canções são uma ode ao que temos de melhor."
*Valor Econômico - Cultura & Estilo

quarta-feira, 10 de maio de 2017

Morre Nelson Xavier, o magistral "Mágico" de Fernando Coni

Um mágico, Don Velásquez (Nelson Xavier) e sua partner Paloma (Tania Alves) chegam a uma pequena cidade do interior do Bahia para apresentar um espetáculo de variedades, com números de mágicas e de canto e dança. A estréia da dupla é frustrada pela prepotência do delegado local. O dia seguinte é o dia de feira da cidadezinha. 
Comovida pela pobreza da feira, Paloma sugere ao mágico uma grande mágica que traga a fartura onde existe a miséria, o que é feito. No entanto, a mágica dura pouco e logo a cidade volta à sua pobreza habitual. Há uma grande revolta e o delegado prende o mágico. Na cadeia, ele é colocado numa cela comum onde já estão quatro outros presos. A presença do mágico quebra a rotina da vida carcerária e uma série de coisas esparitosas e maravilhosas começam a acontecer. Na tentativa de restabelecer o ordem, o delegado retira o mágico da cela comum e o coloca numa solitária. Tal recurso não adianta, segundo depoimento do carcereiro, que vê o mágico promover banquetes chega aos outros presos que exigem comida igual a que dizem que o mágico come, e então entram em greve de fome. Uma galinha ao molho pardo é preparada para acabar com a greve de fome. Pouco depois, o mágico, algo maravilhoso acontece justificando a afirmativa do Padre Antonio Vieira: ‘cada um sonha como vive’.
Inspirado numa anedota contada pelo gaúcho Josué Guimarães no terceiro capítulo de “Depois do Último Trem”, “O Mágico e o Delegado” foi roteirizado por Coni Campos e Mário Carneiro com muita emoção. Diz o próprio Coni que a idéia foi buscar em sua infância, numa pequena cidade da Bahia, “os seus loucos, seus bêbados, as suas tristes mulheres”, os personagens capazes de dar vida e emoção nesta estória de elementos fantásticos. Entretanto, não deixa de ser um filme extremamente simples e comunicativo, pois uma das preocupações de Coni foi esta. Explica: Sempre busquei um cinema popular, isto é, um cinema que nasce do povo ou nele se inspira e a ele retorna, fechando um círculo (talvez a palavra circo seja mais adequada) e não um cinema de massa que reflete o gosto da classe dominante e tenta impor essa estética ao povo massificado.E porque é através da poesia que o povo, formalmente se expressa, a linguagem poética foi escolhida para narrar uma espécie de parábola que em vez de implodir numa lição de moral, explode num amplo leque de leituras, ao sabor dos sonhos, fantasias e vivências do espectador.

Coni Campos, foi feliz na linguagem que empregou: procurou a mesma informalidade, a brincadeira, a invenção, os truques e os malabarismos usados pelos artistas de feira, de circos e mambembes em toda América Latina “que é a maneira que o povo tem encontrado para sobreviver”.

393 anos da Invasão holandesa a Salvador

holandeses brasilAlbenísio Fonseca*
Salvador, 9 de maio de 1624. A cidade amanhece sob o domínio e os efeitos do bombardeio de uma esquadra holandesa composta por 26 navios, sob o comando de Jacob Willekens. Na véspera, mesmo sob fogo cruzado do Forte de Santo Antônio, eles conseguem alvejar os canhões da Ponta do Padrão e desembarcam no Porto da Barra. Grupamentos de vanguarda seguem pela Ladeira da Barra e despenhadeiros até alcançarem a Porta de São Bento. Passam a madrugada no Mosteiro “ao sabor de vinhos e confeitos” que encontram no local. Ali, esperam o dia amanhecer e tomam o centro da cidade.
Pintura de Hassel Gerritsz sobre a invasão a Salvador em 1624
Conforme Ricardo Behrens, no livro ‘Salvador e a invasão holandesa de 1624-1625’, “relatos portugueses e holandeses contam que o confronto teve início no dia anterior quando os da cidade receberam com disparos um batel com bandeira de paz enviado pela frota, antes mesmo de ouvirem a embaixada. Em resposta, os invasores descarregaram seus canhões no costado da cidade, nos fortes e nos navios que estavam no porto”. A visão da armada, por si só, provoca pânico e correria na maioria dos habitantes. Por mais que soubessem da probabilidade dos ataques, a cidade não dispunha de nenhuma estratégia especial. D’El Rey não estabelecera nenhum recurso para armamentos.
Já os holandeses – cuja armada partiu do porto de Texel em dezembro e a viagem durara, portanto, quase seis meses – estavam imbuídos do propósito de invadir a capital do Reino do Brasil e com bastante munição. Os arrasadores disparos de canhões e, depois, o vandalismo dos invasores, acarretam inúmeros prejuízos à cidade, inclusive ao prédio da Câmara onde estava instalado o Arquivo Histórico, cujos documentos são completamente destruídos pelo fogo.
De acordo com o historiador Affonso Rui, no livro ‘História política e administrativa da cidade de Salvador’ “os oficiais encarregados da documentação, como boa parte da população, fogem para Abrantes”, relata. Os 3.400 homens, entre aventureiros e mercenários que compunham a esquadra invasora, não encontram maiores resistências para render o governador-geral da colônia, D. Diogo Mendonça Furtado, e aprisioná-lo na chamada Casa dos Governadores (no que viria a ser o Palácio Rio Branco, na atual Praça Tomé de Souza), em pleno coração da urbe, uma das mais importantes cidades da América, então capital do Brasil.
O governante português já houvera se mostrado preocupado com o despreparo bélico do Brasil e chegou a entrar em choque com a Igreja, que não via necessidade de preocupações militares. Assim, os holandeses não tiveram muitos problemas para tomar a cidade e Mendonça Furtado assina sua rendição um dia depois. É levado prisioneiro para Amsterdam, com outras 12 pessoas, entre auxiliares e jesuítas, de onde somente são libertados em 1626. Segundo Behrens em sua dissertação de Mestrado já convertida em livro, “há uma série de conferências publicadas na Revista do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia, nº 66, de 1940. Trata-se de uma publicação em comemoração à derrota de Maurício de Nassau ao tentar invadir a Bahia em 1638. Além das conferências, foram publicadas as sugestões feitas pelos membros do Instituto para comemorar a data, dentre as quais se destaca a ideia de confecção de uma série de placas comemorativas, a exemplo da que existe ainda na entrada do Mosteiro de São Bento”.
A permanência dos holandeses em terras baianas duraria praticamente um ano. Cabe ao bispo Dom Marcos Teixeira, posteriormente denominado Bispo Guerreiro, promover a resistência. Através da tática de emboscadas impede os invasores de sair da cidade. Em 27 de março de 1625, a esquadra de reforço portuguesa-espanhola, comandada pelo espanhol D. Fradique de Toledo Osório, chega a terras baianas. Foram mais de 40 dias de batalha e, em 1º de maio, obtém a primeira rendição.

Colônia era controlada pelos espanhóis durante a União Ibérica
A colônia era controlada, então, por espanhóis, durante a denominada União Ibérica (1580-1640) que junta as duas coroas após o desaparecimento de Dom Sebastião de Avis, na Batalha de Alcácer Quibir, no Marrocos, na guerra contra os mouros, em 1578, quando ambicionava a vitória sobre os muçulmanos para a glória do cristianismo. Vale entender mais: A “morte” de Dom Sebastião provoca uma crise sucessória em Portugal, tendo em vista que o rei não deixara herdeiros. Seu desaparecimento gera o “sebastianismo”, espécie de crença messiânica que estipulava seu retorno ao reino e que se estenderia por três séculos como símbolo do nacionalismo português.
A solução encontrada para o trono é seu tio-avô, o cardeal D. Henrique (Henrique I, de Portugal), que, já bastante idoso, falece em 1580, marcando o fim da dinastia de Avis. Com isso, o trono português passa a ser disputado por outras dinastias europeias, que reivindicavam ligação de parentesco com Dom Sebastião. O então rei da Espanha, Felipe II, um dos mais poderosos monarcas da época, era neto de Dom Manuel, O Venturoso, que, por sua vez, era tio de Dom Sebastião. Essa ligação parental é reivindicada por Felipe II e usada como legitimação para a invasão de Portugal pelos espanhóis em 1580, instaurando a monarquia dualista: duas coroas sob um mesmo monarca. Portugal só readquire a independência 60 anos depois quando tem início o reinado de D. João IV, fundador da dinastia de Bragança.
É no período da União Ibérica que ocorrem também as invasões francesas. Holanda e França, que antes mantinham relação amistosa com Portugal, confrontam-se diretamente com a Espanha. A supremacia ibérica passa a ser questionada por aquelas nações europeias que desejavam também lucrar com o processo de colonização. E isso envolvia tanto razões de caráter econômico, no que pese o controle do comércio de açúcar e da extração de metais, quanto de ordem religiosa, na medida em que a Espanha era católica enquanto a Holanda e parte dos franceses haviam aderido ao protestantismo. O período conhecido como “Brasil Holandês”, em que vigorou uma sofisticada administração holandesa em parte da costa nordeste brasileira, ocorre exatamente nesse contexto. Não há registros de legados holandeses na Bahia, ao contrário dos verificados em Pernambuco, como os franceses no Rio de Janeiro e no Maranhão.
holandeses brasil
Desenho de Hassel Gerritsz sobre a Baía de Todos os Santos durante a invasão holandesa

Primeira tentativa de invasão acontece em 1599
Outras tentativas de invasão dos holandeses já haviam sido registradas na Bahia, mas não foram bem sucedidas. Na impossibilidade de dominar a capital do Brasil, eles conseguiram se estabelecer em Pernambuco e estenderam seus domínios por grande parte do Nordeste até serem expulsos, definitivamente, da Colônia, em 1654. A primeira tentativa holandesa de conquistar Salvador ocorre em dezembro de 1599, quando o almirante van Leynssen envia sete navios ao Brasil, comandados pelos capitães Hartman e Broer. Os ataques na Baía de Todos os Santos duraram quase dois meses. Os holandeses afundam várias embarcações portuguesas e pilham engenhos no Recôncavo. Mas fracassam no objetivo de conquistar a cidade.
Nos anos seguintes, piratas holandeses continuam atacando navios espanhóis e portugueses nos oceanos Atlântico e Índico. Em 1604, tentam novamente conquistar Salvador, dessa vez com uma esquadra de seis navios comandada por Paulus van Caerden. O ataque, similar ao primeiro, tem como resultado o mesmo fracasso. Nos anos seguintes, dezenas de navios com cargas do Brasil são atacados pelos holandeses. Em 1621, eles fundam a Companhia das Índias Ocidentais, empresa patrocinada pelo governo holandês com participação de investidores privados e que visava, principalmente, a exploração comercial da América. No século 16, Portugal mantinha boas relações comerciais com os holandeses, mas esse quadro muda com o advento da União Ibérica em 1580.
Um ano antes, em 1579, as províncias do norte dos Países Baixos haviam formado a União de Utrecht, documento assinado por diversos estados dos Países Baixos que se debatiam para obter a independência da Espanha. Em 1581, declaram formalmente sua independência. A Espanha, entretanto, só a reconheceria em 1648, 24 anos depois de a Companhia das Índias Ocidentais decidir pela invasão de Salvador sob a alegação de sentir-se prejudicada em seus negócios no Atlântico pelo domínio espanhol sobre Portugal.

A expulsão dos invasores no contexto internacional
Fevereiro de 1630. Navios e canhões holandeses entram de novo em águas brasileiras. Dessa vez invadem Pernambuco, maior produtor mundial de açúcar na época. Desembarcam no litoral pernambucano e conquistam Olinda e Recife com relativa facilidade. O então governador Matias de Albuquerque retira-se para o interior com homens e armas e funda o Arraial do Bom Jesus, uma fortificação de onde partiam os ataques aos invasores.
Como na invasão da Bahia, os lusos-brasileiros adotam a guerra de emboscadas na tentativa de impedir os holandeses de penetrar nas terras onde estava a maioria dos engenhos. A resistência, no entanto, não contém o avanço holandês, que chega a receber apoio de moradores da região, como é o caso de Antônio Fernandes Calabar. A colaboração, muito mais que traição, visava livrar-se do domínio português. Derrotado, Matias Albuquerque manda incendiar os canaviais à sua volta e retira-se para Alagoas. Antes, porém, consegue prender Calabar e manda executá-lo.
Sete anos depois, em 1637, a Companhia das Índias Ocidentais decide reconstruir os engenhos com o objetivo de voltar a obter lucro com o açúcar brasileiro. Para liderar esse projeto, envia ao Brasil o conde João Maurício de Nassau-Siegen, com o título de governador-geral. A acumulação de riquezas da Companhia das Índias Ocidentais reflete-se na administração e na reconstrução de Recife, a capital do Brasil holandês. Nassau teve a habilidade de convidar alguns senhores de engenho para participar da administração. Não lhes oferece cargos importantes, mas não ignora suas reivindicações. Mantém uma tolerância religiosa, sem obrigar os colonos luso-brasileiros a converterem-se ao protestantismo dos holandeses.
No afã compreender melhor o Brasil, Maurício de Nassau manda vir da Holanda 46 estudiosos, pintores e cientistas para estudar e registrar as características da terra, dada a curiosidade despertada pela rica fauna e pelas belezas naturais da região. Os holandeses foram pioneiros nesse tipo de estudo sobre o Brasil. Os pintores Frans Post e Albert Eckhout deixam belíssimas pinturas da colônia holandesa nordestina. Os cientistas estudaram doenças tropicais e sua possível cura. O primeiro observatório astronômico das Américas foi construído em Recife. Maurício de Nassau tentou ainda dar maior autonomia econômica à colônia para não depender em demasia do mercado externo.
Em 1640, Portugal consegue independência da Espanha. Em agosto de 1645, os colonos luso-brasileiros conseguem importante vitória no Monte das Tabocas. O governo da Bahia envia auxílio e Recife é sitiada. A vitória, todavia, não conseguiu desalojar os holandeses, muito bem guarnecidos por mar. As lutas prosseguem por três anos. No final de 1648, os holandeses sofrem grande derrota na Batalha dos Guararapes. Ainda assim, Recife continua em poder da Companhia das Índias Ocidentais.
A situação internacional, contudo, ajuda a acabar com o impasse no conflito entre holandeses e colonos no Brasil. A Inglaterra declara guerra à Holanda, na disputa pela hegemonia dos mares. Os ingleses chegam a auxiliar os rebeldes anti-holandeses no Brasil. Os governantes portugueses aproveitam o enfraquecimento dos invasores e enviam um grande reforço para os colonos no Brasil, em fins de 1653. Finalmente, em janeiro de 1654, os holandeses se rendem. Terminava ali o período de domínio holandês no Brasil. Mas somente em 1661 o governo holandês reconhece que não tinha mais direitos sobre o Brasil.
 Publicado originalmente no Blog do Albenísio
*Jornalista com trajetória marcante nos principais jornais baianos como repórter e editor nas áreas de Cultura, Política, Economia e Internacional. Como assessor de Comunicação atuou nas duas primeiras campanhas de Luiz Inácio Lula da Silva à presidência da República, na Bahia, entre outros políticos e junto à iniciativa privada, em shopping centers e indústrias do Pólo Petroquímico. Como empresário, lançou diversos títulos e ganhou o prêmio Colunistas Brasil, em 1992, pelo ineditismo da “Revista do Carnaval”. Atualmente é repórter de Cidade, na Tribuna da Bahia e sócio-editor do jornal “Itapuã na Frente”.
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domingo, 7 de maio de 2017

Portos: Salvador e Barcelona

Osvaldo Campos Magalhaes*
Cidades que surgiram e se desenvolveram em função de seus portos, Barcelona e Salvador, possuem enormes potenciais para o crescimento em segmentos econômicos parecidos.
Se nos dias atuais, Barcelona e Salvador, se distinguem pelo forte apelo turístico e cultural, atraindo milhões de pessoas de todo o mundo para os grandes eventos que realizam, divergem, e muito, na atenção aos investimentos em tecnologia, infraestrutura de transportes, turismo e comércio.
Com a realização das Olimpíadas em 1992, Barcelona realizou investimentos na requalificação da decadente área portuária, na construção de hotéis, moderno terminal aeroportuário e, no seu sistema de mobilidade urbana.
Os investimentos na requalificação urbana não implicaram no desprezo ao enorme potencial portuário da cidade, um dos maiores do Mediterrâneo e dos mais importantes da Europa, mesmo estando encravado no centro da cidade e movimentando navios com cargas químicas, siderúrgicas e minerais.
Em Salvador, apesar da decadência de seu aeroporto e do desprezo da comunidade e das autoridades locais em relação ao porto, existem boas perspectivas de superação destes entraves. A privatização do seu aeroporto e o grande potencial de crescimento nas operações de navios de turismo e navios porta contêineres abrem boas perspectivas para a economia da cidade.
Privatizado em 1999, o Terminal de Contêineres do porto de Salvador é administrado pela maior empresa operadora portuária do Brasil, a Wilson Sons, que vem investindo e modernizando o TECON, hoje um dos mais eficientes do Brasil e com enorme potencial para se tornar no hub-terminal do Nordeste. Com a ampliação do canal do Panamá, que passa a operar com navios de até 14.000 TEU´s, Salvador, ampliando seu molhe e seu berço de atracação de navios conteneiros, poderá captar esses gigantescos navios que exigem eficiência e capacidade operacional do porto.
Já o terminal de Cruzeiros, apesar do equivocado e deficiente projeto, está concessionado à maior operadora de terminais de passageiros do Brasil, a SOCICAM, e possui enorme potencial de desenvolvimento e de atração de turistas para a cidade, e, com ações e investimentos, poderá transformar Salvador em porto emissor de Cruzeiros Marítimos.
Uma boa estratégia para revitalizar a economia de Salvador, seria a municipalização da gestão do porto, como ocorre com sucesso nas principais cidades portuárias da Europa.
Salvador abriga uma das maiores comunidades espanholas do Brasil, o que justificaria uma aproximação do nosso prefeito com os alcaides de Barcelona e Valencia.
Essas cidades vêm obtendo êxito nas suas estratégias competitivas, baseadas no fortalecimento de seus portos, do turismo e da economia criativa.
*Membro do Conselho de Administração da CODEBA    



A morte e as mortes do centro histórico

Paulo Ormindo de Azevedo*
Não é só o centro histórico que está enfermo. O Comercio, antigo centro financeiro do estado, está enfermo também. Conheço inúmeros edifícios relativamente novos que têm um só elevador funcionando e são abastecidos por carros pipas, porque têm dívidas enormes com a Embasa e a Coelba. Os proprietários de suas salas buscam quem se comprometa apenas a pagar o condomínio e o IPTU. Não é muito diferente a situação da Av, 7 de Setembro e Rua Chile, a main street de Salvador até os anos 60. 

Será que podemos criminalizar os proprietários desses imóveis por omissão, ou será que o problema é mais profundo, resultante de políticas públicas comprometidas? O nosso centro tradicional foi condenado com a transferência de suas funções centrais, na década de 1970, para um novo centro periférico, na maior transação imobiliária que esta cidade já viu, quando se transformaram glebas rurais de patacas em lotes dourados comerciais com o investimento público. O poder político e a administração estadual foram transferidos para o CAB e o econômico e comercial para o Iguatemi. Como se não bastasse, em 1992 se expulsou a população e se excluiu o Centro Antigo e o Comercio do projeto do metrô. O drama da área é resultado do conchavo imobiliário. 

Quando o Iguatemi e a Paralela se transforma em um dos locais mais congestionados, e inóspitos da cidade, a Orla do Atlântico, sem um parque costeiro capaz de amenizar a maresia, vira uma zona de motéis e shoppings decadentes e o estoque de terrenos do Corredor da Vitória se esgota, o capital imobiliário se propõe, candidamente, a revitalizar o Centro Antigo. Uma senhora compra 150 imóveis em Santo Antônio Além do Carmo, outro cavalheiro adquire igual número de imóveis na Rua Chile e projetos imobiliários para o Largo Dois de Julho e o Sodré são apresentados. Se pensam que vão verticalizar o Centro Antigo, se enganam.

Acho muito positivo que a Prefeitura se interesse pelo Centro Antigo, mas não creio que vá se resolver o problema pela justialização e mercado imobiliário. Para reconstruir 1500 ruínas e recuperar uma área tão extensa não bastam isenções fiscais. Quem são esses proprietários virtuais? Tirando uma franja com vista para a baia, que pode interessar à pequena hotelaria, não creio que a nossa burguesia possa querer morar em apartamentos sem garagem, playground e transporte na porta. Creio sim num plano urbanístico que envolva União, estado e município com investimentos pesados em mobilidade e recuperação de ruínas e pardieiros para uma clientela de “Minha casa, minha vida”, que inclua as 3.000 famílias carentes que foram o sal da área e outros setores sociais, como funcionários públicos, comerciários e estudantes. Sem essa decisão política, vai se continuar morrendo e liquidando o Centro Antigo.

SSA: A Tarde, 07/05/17

sexta-feira, 5 de maio de 2017

Ramma, 30 anos saudáveis

Ramma


Ramma surgiu de um sonho e vem se tornando uma referência em alimentação saudável e saborosa.
O restaurante faz parte das boas opções de comida natural em Salvador, desde 1987. Ao longo desses 30 anos, devido ao aumento da procura por comidas saudáveis, houve a necessidade de ampliação.Várias reformas no aspecto visual e estrutural foram feitas, tornando o ambiente mais bonito e mais confortável.
A sua proprietária sempre teve um sonho de ter um restaurante. Após conhecer um pouco sobre naturismo, e estando o Ramma à venda, resolveu arriscar nesse negócio, pois seria uma forma de aumentar a sua renda, fazendo algo que, lhe daria muito prazer, pois apesar de ser formada em engenharia civil, gostava de cozinhar e estava muito envolvida com a medicina natural. Nunca tinha trabalhado em outro restaurante, mas sabia como administrar uma casa e achava que não seria muito diferente com um restaurante. Após 23 anos, a mesma acha que está valendo à pena. Este é um negócio que para ela é como se estivesse cada dia fazendo festa para seus amigos.

Marina Santos Neves, proprietária,vem pesquisando sobre saúde desde 1982, quando sentia fortes dores de cabeça e após consulta com o médico naturalista Áureo Augusto, foi aos poucos mudando a sua forma de se alimentar, retirando aos poucos carnes e introduzindo mais saladas cruas, vegetais, frutas e cereais integrais, hoje acredita que este processo de se conhecer, conhecer qual o tipo de alimentação adequado a cada um é uma viagem muito interessante para quem quer investir em sua saúde.
A comida do Restaurante Ramma inaugurou em Salvador um novo conceito de alimentação. Saudável, feita com os melhores ingredientes do mercado e, por isso, apresentando a melhor qualidade, tem sido escolhida para grandes eventos como alternativa de bom gosto e consciência sobre como a boa alimentação pode influenciar os demais setores da vida.
Marina acredita na medicina Ayurvédica. Sempre que pode, gosta de ler sobre este assunto, e já fez duas viagens à Índia para conhecer mais.
O Ramma existe para satisfazer as pessoas que já praticam uma alimentação vegetariana, mas também tem o propósito de atender as pessoas que ainda não são e que querem fazer uma alimentação mais saudável.

quarta-feira, 3 de maio de 2017

Vida, vento, vela, leva-me daqui

Caetano Veloso*
A última vez que vi Belchior foi em São Paulo, pouco antes do seu famoso desaparecimento. Ele me procurou e conversamos bastante. Me trouxe de presente dois retratos de Drummond desenhados por ele, muito sugestivos e profundamente sentidos. Achei significativos a visita e os presentes.
Nunca me esqueço de sua entrada no palco do teatro João Caetano, quando o vi pela primeira vez. Ele veio da coxia quase correndo e gritando, antes da introdução da banda: "Quando me lembrei já estava em cima da hora!" Era a frase que Gil diz na abertura de minha Irene, ao perceber que tem que recomeçar (Gil toca violão em todas as faixas do disco que gravei em Salvador depois da prisão, durante o confinamento, antes de irmos para fora do país). A tirada de Belchior era mais uma das referências irônicas que ele fazia ao tropicalismo. Tinha uma beleza poética imensa, como muitos dos versos de suas canções.
A chegada à cena do "pessoal do Ceará" teve como uma de suas marcas a intenção de exibir confronto com os tropicalistas. Sugeriam que nós, os baianos, já representávamos o estabelecido, o velho, enquanto eles seriam o novo e a verdadeira rebeldia. Me parecia uma interessante reação ao habitual "tudo amiguinho, tudo certo". No estilo de Belchior, soava justo. O tropicalismo se opôs à bossa nova louvando João, Jobim e Lyra. A bossa nova se opôs à bossa velha louvando Caymmi, Ary e Bide&Marçal. O pessoal do Ceará queria opor-se mesmo. Não chegava a isso e a recusa à louvação teria ficado vazia não fosse o talento e a personalidade de Belchior. O belo "Pavão" (Pavão Misterioso) de Ednardo era psicodélico e nordestinista. Ou seja: nada que o tropicalismo já não tivesse sido. Fagner era, quanto a todas essas questões, indefinido. Belchior esboçava um estilo anti-sixties, sugeria uma volta aos fifties como prefiguração os eighties. Eu amava (e amo) Mucuripe. A frase musical que sustenta o verso "Vida, vento, vela leva-me daqui" é tão bela e adequada que dois dos maiores cantores do Brasil não conseguiram chegar à sua altura. Mas Mucuripe era uma canção "clássica", atemporal. Ela trouxera os cearenses ao reconhecimento público, mas não representava ruptura. As músicas que Belchior assinou sozinho fizeram isso. Todas as citações a canções nossas que estavam em trechos de canções de Belchior me agradavam por estarem dentro de um timbre criativo sempre rico e instigante.
Muitas entrevistas de Fagner desmereciam a força estética que era evidente em Mucuripe e em Belchior. Como Nossos Pais é uma das melhores interpretações de Elis. Também Velha Roupa Colorida é algo coeso e forte. Mas tudo isso ficava mais interessante ainda quando na voz do autor. É que a escrita em si, o material que ele apresentava, era de boa qualidade. E o som da sua voz, reiterado por sua figura, dizia o que ele queria dizer. Seria gozado ouvir, em Apenas um Rapaz latino-Americano, um "nada é divino, nada é maravilhoso", como se a frase do "antigo compositor baiano" lembrada por quem canta já não fosse amargamente auto-irônica quando foi inserida no retrato cubista de uma passeata de protesto contra a ditadura militar - e não precedesse o refrão "É preciso estar atento e forte/ Não temos tempo de temer a morte" - mas as dubiedades de Belchior são deliberadamente desorientadoras e estão ali mais para marcar a passagem do tempo e anunciar novos ventos de estilo.
Quando as músicas fizeram sucesso e os discos venderam, Belchior aparecia nas festas ao lado de André Midani usando ternos finos, fumando charutos caros e falando na cultura da "Rive Gauche". Depois, as Paralelas enchiam o ar das cidades. Eu próprio (que já chorara com Como Nossos Pais num teatro em São Paulo, vendo Elis) chorava no carro. O confronto que lhe pareceu necessário vinha eivado de amor. E não apenas amor transmutado em ressentimento. Não é por acaso que Belchior é lembrado e louvado por gerações sucessivas. Suas canções não são das que morrem. Ele prefigurou os anos 80 em termos globais e se instalou na memória profunda da história da criação de música popular no Brasil. As pessoas que enchiam os teatros a cada reaparição do bardo cearense entendem o sentido dessa história.

[Caetano Veloso]
*Musico e poeta. Assim como Belchior, Caetano cursou Filosofia