domingo, 19 de julho de 2015

Centro Histórico: A gota d'agua

Paulo Ormindo de Azevedo*
Uma morte, a demolição de 31 ruinas e a desocupação de muitos imóveis no Centro Histórico (C.H.) foi a gota d’água para a denúncia de seu abandono à Unesco por arquitetos e urbanista através do CAU/BA, IAB-BA e SINARQ-BA. A Faculdade de Arquitetura da UFBA convocou o Seminário C.H. de Salvador em Debate (8/7/15). Acudiram imediatamente a presidente e o superintendente do IPHAN, o Diretor do IPAC, a diretora do Escritório do Centro Antigo, o Secretário Municipal de Urbanismo e a diretora da F. Mario Leal Ferreira para justificar o que fizeram naquela área desde o seu tombamento, mas não prometeram nada.
Não se pode negar que foram feitos muitos investimentos públicos na área. O fato é que estas ações não conseguiram deter o processo de deterioração daquela área, especialmente no Pilar, Taboão, Montanha, Conceição, Preguiça e Rua do Tijolo. São cerca 1500 imóveis arruinados e 150 cobertos de vegetação e com escoras metálicas já podres ameaçando caírem. O que as autoridades pretendem fazer com essas ruinas que aumenta a cada dia? A presidente do IPHAN confessa que não ter dinheiro para sua recuperação, que custaria R$1,5 bilhões, orçamento maior que do Ministério da Cultura. É evidente que o modelo de intervenção está falido.
A razão deste insucesso é não compreender que a questão do C.H não é edilícia senão urbanística e social. O Comercio e Centro Antigo estão em depressão há 40 anos com a retirada de sua função central na década de 1970 e habitacional na de 1990 para transformá-los num enclave turístico. Donos de salas no Comercio estão entregando seus imóveis para quem queira pagar o IPTU e o condomínio. Dizer que o C.H. está conservado porque seu cartão postal, o Pelourinho, não tem ruinas é querer tapar o sol com peneira. A área não tem transporte, estacionamento nem vida social e cultural. Em uma palavra, política de preservação, apenas restaurações isoladas, que aliviam a culpa, mas não mudam a situação. A
Prefeitura nunca se interessou pela área, com exceção da administração Mario Kertesz, e sem ela não pode haver recuperação.
Mas a área tem grande potencial econômico. Grupos privados estão comprando centenas de imóveis na Ladeira do Mauá, Largo 2 de Julho, Areal, S. Antonio Além do Carmo e Rua Chile e expulsando seus moradores. Seu interesse não é o patrimônio, senão a vista para a baia, como ocorreu no corredor da Vitória. A situação do centro antigo é gravíssima e só se resolve com um plano urbanístico que contemple incentivos fiscais, linhas de financiamento e associe grandes investimentos públicos em infraestrutura e habitação a privados em serviços. A chave de sua recuperação é saber associar dois interesses: o dos moradores e dos hoteleiros, em uma operação consorciada. Não faltam ruinas.
A solicitação das associações de arquitetos de pedir uma missão da Unesco com vista a declarar o C.H. Patrimônio Mundial em Risco é a mão na roda para o IPHAN, IPAC e PMS conseguirem da União os recursos para este grande desafio. O que é melhor, investir R$1,5 bilhões no C.H. ou cinco vezes mais em duas construtoras para construírem numa ponte de veraneio? Se o Brasil quer ter Patrimônio Mundial tem que pagar o preço.
*Arquiteto e professor Titular da Ufba.

sexta-feira, 17 de julho de 2015

Salvador 500 - Democracia e participação

Silvio Pinheiro*
Dias atrás, um articulista deste conceituado jornal A Tarde, teceu críticas às audiências públicas realizadas pela Prefeitura Municipal dentro do Plano Salvador 500, que discute o planejamento urbano de longo prazo para nossa cidade, além de promover os debates para a revisão do PDDU e da LOUOS.
Dentre os questionamentos trazidos no artigo, estão: o cronograma para elaboração do Plano Diretor, o diagnóstico apresentado pela consultoria contratada pela Prefeitura e a participação popular.
Como ferrenho defensor do contraditório, não poderia deixar de responder, sobretudo porque os fatos narrados não refletem a realidade. No máximo podem retratar a opinião pessoal do articulista ou de um grupo, que sistematicamente vem trabalhando contra o Salvador 500, contra projetos importantes capitaneados pela Prefeitura Municipal do Salvador e contra nossa cidade.
O Plano Salvador 500, iniciado em agosto de 2014, numa audiência com mais de 600 pessoas, vem percorrendo todo o município. Nesse período, além das seis audiências públicas citadas naquele artigo, que estão ocorrendo em locais centrais e acessíveis, já realizamos seis Fóruns Temáticos, dezenove Oficinas de Bairros, um Fórum Internacional com especialistas na área de planejamento urbano - eventos devidamente divulgados, através de anúncios, releases, mídia externa, impressa e radiofônica.
O resultado temos visto com uma importante participação popular nesses eventos. É preciso estar lá, ver, participar. Do contrário, corre-se o risco de cometer erros graves, tal como Otelo, de Shakespeare, que se limitou a ouvir Iago e não buscou por si só a verdade dos fatos.
Ademais, numa iniciativa inédita, a Prefeitura vem disponibilizando, desde o início do projeto, todo o conteúdo produzido pelos técnicos municipais, da consultoria contratada e da sociedade civil, além do áudio e vídeo dos eventos, integralmente no sítio www.plano500.salvador.ba.gov.br.
Com referência a alegada inconsistência dos estudos, recebemos as críticas com alegria, aliás as queremos, porque esse é o espírito tem guiado todo o processo: a participação democrática. Nesse contexto, mais de uma dezena de profissionais estão trabalhando para aprimorar este diagnóstico, permitindo um prognóstico tendencial e uma visão de futuro que reflita o pensamento da nossa cidade e da nossa administração.
Em relação ao cronograma, este foi apresentado há quase um ano, acolheu sugestões inclusive do grupo citado pelo articulista, é dinâmico, com fases vinculadas a conclusão dos trabalhos, e pode, se necessário, ser revisto, na hipótese de entendermos que impõe-se mais estudos, reflexões e tempo para que o projeto de revisão do PDDU seja enviado à Câmara Municipal, que na forma da Lei, completará o processo legislativo.
O trabalho está sendo construído com democracia, seriedade e compromisso com Salvador e sua gente. A postura sistemática de poucos, visando protelar a aprovação dos novos marcos legais, não prevalecerá, pois a cidade clama pela segurança jurídica, que permitirá a Salvador ultrapassar a séria crise econômica que assola o País, com geração de emprego e renda.
*Artigo publicado no jornal A Tarde.
* Silvio Pinheiro é advogado, secretário Municipal de Urbanismo e coordenador Geral do Plano Salvador 500

quarta-feira, 15 de julho de 2015

Luiz Fernando Studart Ramos de Queiroz toma posse na ACB

Tomando posse, nesse momento, como novo presidente da Associação Comercial da Bahia o empresário Luiz Fernando Studart Queiroz, que substitui no cargo a Marcos Meirelles Fonseca. Advogado com pós graduação em Harward, Luiz Fernando foi secretário da Fazenda do estado da Bahia. No Conselho Superior da ACB, assume o empresario Rubens Araujo, substituindo a João Sá, que exerceu também a presidência da mais antiga entidade de classe empresarial da America Latina.  
O palacete da Praça Conde dos Arcos, no Comércio, foi inaugurado em 1811 e é um dos marcos da chegada de D. João VI à Bahia com a corte portuguesa fugitiva de Portugal para evitar um confronto com as forças napoleônicas que, à época, estava em guerra com a Inglaterra da qual Portugal era aliada.
A história do belo palacete é, portanto, marcante. Lá se reunia com os comerciantes baianos e portugueses que aqui aportarem o vice-rei do Brasil, D. Marcos de Noronha e Brito. A história da Associação Comercial da Bahia é um marco da chegada da corte portuguesa comandada por D. João VI. 
Luiz Fernando Studart Queiroz exercerá dois anos de mandato. ´
No discurso de posse Luiz Fernando garantiu que priorizará a luta contra as desigualdades regionais e promoverá ações em prol do desenvolvimento do setor de serviços, do agronegócio, do comércio e da industria baiana. O salão da ACB lotado,com a presença de empresários e representantes dooverno do Estado da Bahia e da Prefeitura de Salvador saudou a posse do novopresidente. O prefeito ACM Neto elogiou a escolha da ACB ressaltando que Luiz Fernando possui todos os atributos para realizar um excelente trabalho a favor do desenvolvimento da cidade de Salvador e do estado da Bahia. Durante a posse de Luiz Queiroz como presidente da Associação Comercial da Bahia, na noite de ontem, o prefeito ACM Neto disse, em seu discurso, estar preocupado com a atual situação econômica do país, que tinha acabado de criar o Salvador Negócios para atrair empresas para a cidade e que planeja lançar zonas especiais, onde dará crédito tributário a empresas que se instalarem na Barra.





terça-feira, 14 de julho de 2015

Revolução Urbana em Portland

Forum internacional debate Planejamento Urbano


Maira Lopes*
O Plano Salvador 500, projeto que visa pensar a capital para os próximos anos, realizou hoje, no auditório da Federação Das indústrias do Estado da Bahia(FIEB), mais uma reunião para debater com a população e com autoridades, ideias que auxiliem na construção da nova Lei de Ocupação e Uso do Solo (LOUS) e do Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano (PDDU).
O evento contou com palestrantes internacionais e com autoridades fundamentais para elaboração do projeto que tem impacto direto na economia e desenvolvimento da cidade. Dentre eles, o presidente Câmara de vereadores, Paulo Câmara, que afirmou que a iniciativa tem um papel fundamental para elaboração do projeto. “Diferente do que foi feito anteriormente os novos PDDU e LOUS vão ser construídos com debates com a população, além de contar com experiências internacionais bem sucedidas. Isso vai enriquecer muito o projeto”, explicou Câmara . 
Representando a Prefeitura, a vice-Prefeita Célia Sacramento também aprovou a ideia do projeto em trazer palestrantes de fora para apresentarem novas ideias de projetos que foram bem aplicados em seus países. Além disso Célia também falou sobre a iniciativa do debate para construção do PDDU e LOUS. “Acredito que eventos como esse são fundamentais para o crescimento da cidade”.
O Secretário Municipal de Urbanismo, Silvio Pinheiro, também falou sobre o evento e como a Prefeitura está trabalhando para o crescimento do Plano nos próximos meses. “Acredito que eventos como esse são fundamentais para colher experiências internacionais e poder desenvolver Salvador da melhor forma possível. Assim, poderemos ter uma visão maior da cidade e trabalhar com pontos importantes como a regulação urbana, dentre outros. esse é um projeto que começou em novembro de 2015, e vai continuar até sua conclusão com novas audiências e debates”, explicou Silvio. 
A presidente da Fundação Mário Leal Ferreira (FMLF), Tânia Scofield, coordenadora do Plano Salvador 500, aposta que eventos como esse tem uma simples função de tornar a cidade menos desigual. “Entender como a cidade funciona, para que possamos trabalhar num contexto macro e acabar com os itens que tornam a cidade muito desigual”, disse a presidente.
O Presidente da FIEB (Federação Das indústrias do Estado da Bahia) Antônio Ricardo Alvarez Alban enalteceu o evento colocando o órgão como parceiro. “É uma grande satisfação da FIEB participar de um projeto tão grandioso como esse, que vai possibilitar Salvador crescer tanto no comércio, como também na indústria e na construção civil. Estamos cientes da necessidade de construir o desenvolvimento econômico e industrial da cidade”, comentou o presidente. 
Dentre os palestrantes que fizeram parte do evento temos o consultor Greg Clark, de Londres, Reino Unido, que tem experiência em diferentes cidades como São Paulo, Rio de Janeiro, Barcelona (Espanha), Johannesburg (África do Sul) e Mumbai (Índia); Jorge Perez Jamarilho (foto), de Medelín, Colombia, do departamento de planejamento territorial do município; Andrew Boraine, da Cidade do Cabo, África do Sul, onde trabalhou com poder público e iniciativas de mitigação da violência urbana e desenvolvimento econômico; e  Claudette Forbes(foto),  de Londres, Reino Unido, com experiência de implementação de projetos de desenvolvimento como transportes e infraestrutura urbana. 
*Jornalista do site Bahia Econômica        

segunda-feira, 13 de julho de 2015

Bahia District, na rua Chile, é inspirado no Meatpacking District de NY

Era uma casa sem muita graça. Não tinha teto, não tinha nada. Mas fica na esquina da primeira rua do Brasil, no centro histórico de Salvador, tombado como patrimônio da humanidade.
O preço, quase uma pechincha, levou o investidor mineiro Antonio Mazzafera, dono da Fera Empreendimentos, a comprar não só esse imóvel, o Empresarial Tesouro, como outros 123 nos arredores da rua Chile, que se chamava rua Direita e foi feita pelo governador-geral Tomé de Souza em 1549.
Em parceria com a Prefeitura de Salvador, o governo estadual e o Iphan (instituto do patrimônio histórico), Mazzafera e seus sócios tornaram-se os novos "donos" da rua, que será ladrilhada com recursos do PAC e terá seus fios aterrados. Batizado de Bahia District, o projeto foi inspirado no Meatpacking District, zona inóspita de Nova York onde só funcionavam frigoríficos e que virou ponto turístico. "Em cinco ou sete anos, esses imóveis valerão o dobro; a região será revitalizada", diz Mazzafera.
Como todo investimento, é uma aposta arriscada. Até o momento, a compra e o restauro de imóveis já custaram R$ 150 milhões. O plano prevê ao menos 3 edifícios, 1 hotel de luxo, 6 restaurantes, 1 casa noturna, 2 galerias de arte e 1 estacionamento.
Parte dos imóveis será alugada para empresas. Outra será vendida, caso do residencial de dez apartamentos (um por andar) com vista para a baía de Todos os Santos. A cobertura, de R$ 2,5 milhões, já foi vendida. Os serviços de limpeza e lazer do condomínio serão prestados pelo Palace Hotel, um cinco estrelas que será inaugurado em maio de 2016 e ficará sob o controle e o comando da própria Fera Empreendimentos.
Erguido em 1934, o Palace é um exemplo da arquitetura art déco e foi imortalizado nos romances de Jorge Amado (1912-2001). Dona Flor bailou com Vadinho no salão do cassino do hotel antes de irem para "o leito de ferro".
O restauro do prédio consumiu cerca de 40% do investimento. Especialistas coletaram amostras do material original da construção para que fossem reproduzidos por fabricantes de hoje. "Até o brilho dourado típico do revestimento externo vai ser recuperado", diz Mazzafera.
O empresário mineiro não está sozinho nesse ramo. Nos últimos três anos, a queda dos preços de imóveis nas principais capitais abriu o apetite de fundos de investimento.
Em São Paulo, em Minas e no Rio, os preços recuaram 30% em média. Para imóveis comerciais no centro do Rio, a queda chegou a 50%.
FÓRMULA
A jogada desses investidores é dar o primeiro passo. "O segredo é saber comprar", diz Antoine Marmelo, sócio do fundo de investimento Equinox, que tem dez projetos em andamento no Maranhão e no Rio. "Não é só olhar o prédio pelo seu valor histórico. Ele precisa ter potencial de negócio para atrair público."
"Quando dá certo, o m² na região se valoriza imediatamente e aí o retorno de um novo projeto na área fica menor."
Por isso, Mazzafera adquiriu mais de uma centena de imóveis no centro de Salvador sem fazer alarde. "Não queria gerar especulação."
Para o Iphan, essa parceria com a iniciativa privada garante que o imóvel seja preservado, e o órgão se livra de um peso. Hoje, muitos proprietários de locais tombados não têm dinheiro para restaurá-los. Nesses casos, a lei determina que o próprio Iphan banque a reforma. Por isso, muitos prédios se deterioraram com o tempo. Mas pelo menos na rua Chile a história começou a mudar. 

O Palace será dos baianos

As obras de restauração do Palace Hotel, na Rua Chile, estão a todo vapor. O prédio, em estilo Art Déco, deverá ser inaugurado em maio do ano que vem. À frente do empreendimento, o empresário mineiro Antonio Mazzafera, 40, quer mais. Ao longo dos últimos três anos, adquiriu 123 imóveis na região, onde planeja erguer um megaprojeto de revitalização do Centro Histórico que inclui moradias, lojas modernas, bares, restaurantes, clube noturno, galerias de arte, farmácia, minimercados, dentre outros serviços necessários a quem se dispuser a viver lá. Formado em administração e pós-graduado em Harvard, Mazzafera diz ser um apaixonado por sítios históricos. Nos mais de 15 anos em que viveu entre a Europa e os Estados Unidos, atuou na área de hotelaria. No currículo, passagens pelas redes Claridge's e Savoy, ícones da hotelaria de alto luxo. De volta ao Brasil, radicou-se em São Paulo, onde abriu a Fera Investimentos, empresa focada na realização de negócios em sítios históricos. Encantado pela Bahia, comprou, de um grupo português, o hotel abandonado da Rua Chile e se jogou de cabeça na recuperação do empreendimento. Entregou o projeto de arquitetura ao baiano David Bastos e o de interiores ao dinamarquês Adam Kurdahl, referência mundial em restauração de prédios históricos. Empolgado com a reforma, ele recebeu Muito no seu escritório na Rua da Ajuda e nos convidou a visitar, em primeira mão, as obras do antigo hotel. "Vocês serão o primeiro veículo a conhecer a obra do Palace Hotel". E você, caro leitor, está convidado a nos acompanhar. 

 O Palace Hotel foi o que determinou a expansão do investimento da sua empresa para toda a Rua Chile?
Comecei a frequentar a Bahia em 2011, para visitar amigos. Fui apresentado ao Palace, que havia sido comprado por um grupo português, mas, por conta da crise na Europa, eles suspenderam os investimentos no Brasil. Foi quando as pessoas começaram a sugerir que nós o comprássemos. As primeiras impressões que tive do Centro Histórico não foram muito boas. Uma área suja, abandonada, insegurança nas ruas, mas eu já estava apaixonado pelo prédio e, mesmo com tantos fatores negativos, passei a frequentar mais a área, com outro olhar, e vi ali um grande potencial, embora 90% das pessoas com quem falava me diziam para eu não comprar. Esse foi o primeiro investimento, feito no início de 2012, e começamos a desenvolver o projeto.

Essa é a primeira empreitada do seu grupo na área de hotelaria?

Sim. Eu vivi muitos anos na Europa e nos Estados Unidos, atuando na área de hotelaria de luxo. Quando voltei ao Brasil, foi com a intenção de montar a Fera Investimentos, focada em projetos imobiliários em sítios históricos, áreas que tenham uma arquitetura singular. Nossa missão é agir como empreendedores sociais, podendo causar impactos positivos onde estivermos atuando. Nosso objetivo não é apenas ganhar dinheiro, mas contribuir para a história, para a cultura de onde a gente esteja atuando. Se olhássemos apenas a questão da  rentabilidade, não iríamos nos aventurar a comprar o Palace, porque é um investimento de alto risco. Mas sou apaixonado por cultura, por história, e acredito que essas áreas podem ser recuperadas, a exemplo do que aconteceu em vários bairros degradados de Londres e Nova York e que  renasceram a partir de iniciativas de empresários com essa visão.

O projeto já se chamou de Nova Rua Chile e agora está sendo chamado de Bahia Design District. Como se chama afinal?
Então, inicialmente pensamos em Nova Rua Chile, mas as pessoas começaram a questionar o nome, já que a nossa intenção é colocar Salvador no mapa do turismo mundial. As pessoas deixaram de vir a Salvador, elas até circulam por aqui, mas se hospedam no litoral norte, em Trancoso... Então, conversando com Nizan (Guanaes), ele sugeriu que tivesse um nome mais forte. Começamos a brincar com nomes, mas ainda não existe um definido, pensamos em Salvador Design, Bahia Design District. É importante dizer que o projeto é, primeiramente, para o baiano. Não estamos fazendo exclusivamente para turistas, mas para os soteropolitanos. Quando falamos no Palace, todo mundo tem uma história para contar, um carinho... então, ele será para os baianos.

Depois do Palace, você foi adquirindo imóveis na região, hoje já são mais de 100. Quando comprou o Palace já previa a aquisição de outros imóveis?
Não. Era exclusivamente o hotel. Claro que já pensávamos que, junto à iniciativa privada, essa área poderia ser revitalizada. Ao longo desses três anos, fomos adquirindo outros imóveis na região. As pessoas falam em 123 imóveis, mas na verdade foram 123 negociações imobiliárias que resultaram em 16 edifícios.

E qual a finalidade desses imóveis?
Diria que o Palace sozinho será uma grande âncora, mas se pudermos agregar outros projetos, ele poderá ter um sucesso muito maior. Eu acho que moradia no Centro Histórico é muito importante, porque quando as pessoas moram no lugar eles tomam contam daquilo que passa a ser seu. E para alguém morar num bairro, tem que ter uma infraestrutura, que inclui padaria, minimercado, farmácia, estacionamento, uma rede de serviços que permita que as pessoas possam viver confortavelmente. Além disso, aqui é um importante centro cultural, com cinemas de qualidade, teatros, museus. Hoje eu vejo que muitas pessoas deixam de vir para cá por falta de estacionamento. O projeto prevê um estacionamento com 220 vagas.

Revista Muito visita obras de restauração do Palace Hotel



Além de lojas, galerias de arte, restaurantes, boates... O que mais?
Vamos selecionar os investimentos, porque a nossa visão de recuperação da área é que tenhamos um mix de  serviços de excelente qualidade.

Então os imóveis  serão alugados?

Sim. No caso dos residenciais e escritórios, podemos vendê-los.

Você fala em parcerias com Iphan e prefeitura. Que tipo de parcerias foram firmadas com o setor público?
Quando falo em parcerias, falo em parcerias institucionais, no sentido de que o Iphan é quem administra o Centro Histórico e todos os nossos projetos seguem estritamente as regras do órgão. Quando começamos a elaborar o projeto, sentamos os nossos arquitetos com o corpo técnico do Iphan e discutimos os limites, o que pode e o que não pode ser feito, porque a nossa intenção é restaurar os imóveis. As pessoas me perguntam: 'Ah, mas você não vai poder mudar a fachada'. Eu digo: mas eu jamais ia querer mudar a fachada, o que, para as pessoas, é um impedimento, para mim é objeto de interesse. Se estou comprando um imóvel com uma fachada deslumbrante é porque eu quero aquela fachada deslumbrante, estou comprando por causa dela, então não faz sentido alterá-la. O fato de ser tombado, por exemplo, é o que nos atrai. No caso do Palace, trouxemos especialistas em restauro para cuidar dos mínimos detalhes para recuperar a arquitetura original.

O que o faz acreditar nessa área?
Eu ando muito por aqui, adoro o Centro Histórico. Eu almoço por aqui, saio para tomar café, conversar com as pessoas ...

E também para fazer compras?
(Risos).  Eu digo que, de três anos para cá, o Centro Histórico mudou, e é uma pena que os soteropolitanos não estejam frequentando. Hoje as ruas estão limpas, a gente se sente mais seguro, vejo uma ordem pública maior...

Certo, mas voltando às parcerias ditas institucionais. Que garantias do poder público (prefeitura e estado) você tem de que estes farão a sua parte?
Como já disse, há três anos acompanho esse progresso. Eu caminho por aqui e vejo que igrejas, como a do Paço e a de São Domingos, estão sendo restauradas;  o Palácio Episcopal, idem. De parte do governo municipal, estou vendo o progresso, do governo estadual também.

Nenhum acordo firmado com ambos?
Não, não. Mas sei que existe a intenção de se fazer a fiação subterrânea, o que seria ótimo, para liberar os monumentos e para que possamos contemplá-los na sua plenitude. Acredito que, para que esse projeto dê certo, precisamos de uma massa crítica, de parceiros da iniciativa privativa.

O processo de aquisição dos imóveis, com exceção do Palace, foi muito sigiloso. Isso foi para evitar a especulação?
Nem acho que foi tão sigiloso assim. Não tornamos público porque não tinha por que divulgar um projeto que não se sabia no que ia dar. Até porque as pessoas estão cansadas de ver projetos serem anunciados e não irem para a frente.

Você se refere ao projeto da LGR, de Luciana Rique, com proposta similar ao seu, no Santo Antônio, mas que  não vingou?

Não, não, falo do geral.
Ela comprou 50 casarões na região  que estão abandonados, causando insegurança aos moradores. O que o seu projeto tem diferente do da LGR?
Primeiro, acho que a Rua Chile, ao contrário do Santo Antônio, sempre foi uma área comercial. Lá, pelo que sei, era residencial. No nosso caso, a intenção não é só fazer comércio, mas trazer pessoas para morar também. Eu acho que nada acontece do dia para a noite. Temos visto o progresso nas três frentes, no nosso lado, da iniciativa privada, você viu lá a obra do Palace a todo vapor, gerando 200 empregos diretos. Pode ser que ainda exista quem não acredite, mas queremos trazer o soteropolitano para frequentar o hotel, o restaurante... Vai ser um hotel muito sofisticado, mas também muito casual, muito informal, um hotel para o baiano, para Salvador.


Qual o investimento total do projeto?
Nossa previsão é que nos próximos sete anos sejam investidos R$ 150 milhões. Investimentos que estão vindo na forma de recursos próprios e de investidores privados. As pessoas que estão associadas comigo têm essa mesma paixão pelo projeto e têm esse objetivo de longo prazo. Não querem o retorno imediato, mas, principalmente, eles querem ver essa mudança nessa área.

Tem recursos públicos também?
Não, não. Os financiamentos que vamos atrás são os que têm incentivo ao turismo. E é bom que se diga que o projeto como um todo vai gerar 1.500 a dois mil empregos diretos aqui no centro da cidade.

Já existem  interessados no projeto?

Sim. Daqui e de fora. Queremos um mix de investidores locais e de fora.

Como tem sido o processo de restauro?
Muito trabalhoso e levando mais tempo do que prevíamos. Fazer uma obra de restauro é mais complexa do que  erguer uma nova construção. O Palace tem uma arquitetura toda Art Déco e vamos manter isso. Desde o mobiliário até a fachada, tudo permanecerá como era na época. Tivemos que reforçar toda sua estrutura, dobrar o tamanho dos pilares, reforçar mais de 416 colunas. Estamos recuperando 436 janelas originais, dobramos a fundação do prédio...

Que bandeira vai administrar o hotel?
Nós mesmos vamos administrar. Vou aproveitar a experiência que trago da área de hotelaria.

Cidades criativas, foruns e etc.

Lourenço Mueller*
A cidade pobre já caiu pelas ribanceiras e a cidade antiga, patrimônio da humanidade, também está caindo, mas o país se mobiliza pela delação de um canalha corrupto que até fisicamente se parece com um porco, convicto e arrogante pela visibilidade que está tendo. "What country, friends, is this?"(WS).
Posso ser considerado uma velha marafona em matéria de frequentar congressos, seminários, simpósios e todo tipo de reunião voltada para a discussão de assuntos ligados a urbanismo; na condição de ouvinte ou palestrante, já participei de dezenas ao longo da minha vida profissional e universitária. São necessários, sim, mas... eles pecam, na maior parte das vezes, pela organização. Seja do ambiente físico, da operacionalidade, do conteúdo ou na escolha dos palestrantes.
Não foi esse o caso do "Fórum de Cidades Criativas: o cenário urbano pede inovação", promovido pela Ademi-BA (leia-se Luciano Muricy e Rafael Valente) no último dia 9, com a representação do governador Rui Costa na arquiteta Livia Gabrielli, uma das dirigentes da Sedur: deu-se numa sala de cinema e tudo ocorreu otimamente, prova de que o uso dos espaços pode muito bem ser múltiplo: exemplos internacionais de cidades criativas, verticalizadas, compactas e com altas densidades desfilaram no telão e não em meros "pps" de uma telinha. Pergunta feita aos palestrantes pelo engenheiro Thales de Azevedo Filho calou fundo pela simplicidade e pertinência: como Salvador vai crescer? Aqui, posso sinalizar que, se a cidade tem de crescer, só poderá fazê-lo para dentro do município, substituindo tecido urbano horizontal (casario e pequenos prédios) por vertical (torres) ou para fora de Salvador, na sua expansão metropolitana, com novos aglomerados e adensamento dos já existentes, nas sedes municipais da região. Prefiro as duas formas, isso e aquilo; nesse texto, não dá para explicar os porquês.
O arquiteto Antônio Caramelo foi o palestrante baiano; autor de vários trabalhos locais, fez os projetos das torres/shopping no alto do Cabula, e, como Salvador não se transforma na sua essência, ele foi obrigado a encapsular esse minibairro: faltam espaços públicos de encontro dos moradores dos edifícios e do seu entorno, perigo no acesso de pedestres aos logradouros e ao próprio shopping, ilhado pelo sistema viário pré-existente, rodoviarista. Alfaville, na Paralela, de outras autorias, também está transformado num gueto de riqueza, facilitado ao automóvel e dificultado ao pedestre. O metrô, já tangenciando o Cabula e chegando em breve à Paralela, vai reconfigurar completamente o uso e a ocupação do solo desses enclaves, como de resto em toda a sua poligonal de abrangência.

Àqueles que decidem, urge debruçar-se sobre políticas públicas inteligentes para essas zonas de expansão brusca da cidade/região, e o fórum foi oportunamente provocador dessa circunstância. E que não deixem o nosso patrimônio arquitetônico se esfacelar todo.
*Arquiteto e Urbanista

sexta-feira, 10 de julho de 2015

Nenhum pio?

Osvaldo Campos Magalhães*
Enquanto vivencia as maiores crises econômicas e políticas dos seus cinco anos de mandato, seriamente ameaçada de sofrer um processo de Impeachment, desde que o Tribunal de Contas da União identificou uma diferença de R$ 251 bilhões entre os gastos do governo e o efetivamente arrecadado, com a utilização dos bancos públicos federais para “maquiar” a contabilidade criativa do governo, a presidenta Dilma volta a lançar mais um pacote de investimentos em infraestrutura, o PIL, que será apresentado aos empresários baianos, logo mais, nesta sexta-feira, no auditório da FIEB, pelo Ministro dos Transportes, Antônio Carlos Rodrigues.
Será uma excelente oportunidade para os empresários relatarem ao novo ministro as péssimas condições da infraestrutura de transportes na Bahia e os diversos projetos anunciados nos últimos anos e que não se viabilizaram, prejudicando os setores produtivos baianos.
Lembremos que a propaganda tem sido a marca registrada deste governo, com anúncios frequentes de grandes projetos e programas que sistematicamente deixam de ser executados. Durante o primeiro mandato da presidenta, as prioridades eram o TAV - Trem de Alta Velocidade, ligando Campinas, São Paulo e Rio, a ponte Salvador – Itaparica e os novos modelos de investimentos em portos e ferrovias. Apesar de vultosos recursos terem sido utilizados em estudos, projetos e publicidade, nenhum deles resultou em investimentos efetivos na melhoria da infraestrutura de transportes do Brasil.
Na Bahia, o maior projeto de infraestrutura, a FIOL, se encontra paralisada, com menos de 50% das obras realizadas, sendo que o Porto Sul nem sequer foi iniciado. Nossa malha ferroviária de mais de 1.500 km, concessionada a uma subsidiária da Companhia Vale do Rio Doce, encontra-se praticamente desativada, trechos da BR 242, importante rodovia para escoamento da soja na Bahia se deteriora a olhos vistos sem manutenção adequada. No porto de Aratu, com berços congestionados, navios aguardam por mais de 20 dias para iniciarem suas operações, nosso aeroporto internacional, com esteiras quebradas, deficiência nos serviços e obras infindáveis prejudica o turismo em Salvador e a BR 324, principal corredor de transpores da Bahia, convive com engarrafamentos e péssimos serviços, resultado de um modelo de concessão que privilegiou o baixo preço dos pedágios e inadequados e insuficientes serviços.
Obras como a duplicação da BR 101, recuperação da BR 242, terceira faixa na BR 324 entre Salvador e Feira de Santana, nova pista e um novo e moderno terminal para o aeroporto de Salvador, ampliação do terminal de conteines no porto de Salvador e a privatização do porto de Aratu, são urgentes e imprescindíveis para nossa economia.
A visita do novo Ministro dos Transportes será uma oportunidade para que a classe empresarial baiana se posicione firmemente em defesa de efetivos investimentos na infraestrutura de transportes no estado. Não podemos assistir mais uma vez a anúncios de projetos mirabolantes, como o da ferrovia bi oceânica, ponte Salvador – Itaparica, enquanto assistimos ao colapso da nossa infraestrutura de transportes, sem ao menos esboçar um pio.
*Membro do Conselho de Infraestrutura da FIEB

quinta-feira, 9 de julho de 2015

As lições de Bogota

O que uma cidade com os mesmos problemas que os nossos pode nos ensinar sobre urbanismo, cidadania, transporte coletivo – e também sobre decisões erradas
Com 7,3 milhões de habitantes, em meio a um país que desde os anos 50 vive amedrontado pela violência do tráfico e das narcoguerrilhas, a capital da Colômbia não seria um lugar óbvio para uma reforma urbanística tão expressiva.
O que aconteceu por lá foi o que a população brasileira começou a pedir nas ruas nos últimos meses: medidas políticas que melhorem a vida dos cidadãos – e não a dos próprios políticos.
A cidade colombiana teve dois prefeitos decisivos para isso. O primeiro foi Antanas Mockus, um filósofo e ex-reitor da Universidade Nacional da Colômbia, que entrou no jogo político depois de ficar famoso por mostrar o traseiro para dois mil estudantes que o vaiavam durante um discurso.
Seu objetivo era educar a população.
MELHORIAS - Água, luz e esgoto para os bairros mais pobres.  SOBREVIVEU BEM - Não. MOTIVO - Os serviços estão correndo atrás do crescimento descontrolado da cidade por causa da violência no campo.
MELHORIAS - Água, luz e esgoto para os bairros mais pobres. SOBREVIVEU BEM - Não. MOTIVO - Os serviços estão correndo atrás do crescimento descontrolado da cidade por causa da violência no campo.
Contratou mímicos para ensinar os pedestres a atravessar a rua na faixa e distribuiu cartões vermelhos que podiam ser apontados para os motoristas que cometessem infrações. Ele mesmo se engajou: ia para as ruas vestido de Super-Homem para tirar o lixo das calçadas e apareceu na TV tomando banho para ensinar economia de água.
Suas excentricidades deram certo: o trânsito melhorou e as mortes violentas caíram em um terço.
Já Enrique Peñalosa, o segundo prefeito, foi por outro caminho: resolveu cuidar do espaço público da cidade. Primeiro, declarou “guerra aos carros”. Caçou espaço de estacionamento alegando que não é obrigação da prefeitura guardar o carro dos outros, construiu ciclovias onde não havia nem rua asfaltada e investiu maciçamente em transporte público.
MELHORIAS - Ciclovias. São 367 km ao longo de toda a cidade, inclusive nas periferias. SOBREVIVEU BEM - Sim.
MELHORIAS - Ciclovias. São 367 km ao longo de toda a cidade, inclusive nas periferias. SOBREVIVEU BEM - Sim.
Para isso, construiu o Transmilenio, um sistema de ônibus no qual os corredores do veículo funcionam como linhas de metrô. Mas Peñalosa não teve muito tato: além de deixar o estacionamento mais difícil, desalojou uma favela no centro da cidade e tentou desapropriar um Clube de Campo de elite para transformá-lo em parque – ou seja, desagradou a classe média, os pobres e os ricos, indiscriminadamente.
Cinco anos depois, Bogotá estava mudada, mais civilizada e com menos trânsito – algo que faz qualquer cidade do mundo, inclusive as nossas, ter esperança de dias melhores.
MELHORIAS - Bibliotecas construídas nos bairros pobres.  SOBREVIVEU BEM - Sim.
MELHORIAS - Bibliotecas construídas nos bairros pobres. SOBREVIVEU BEM - Sim.
Degringolou?
Viajei, então, a Bogotá para ver como andavam as coisas por lá.
Marquei duas entrevistas na prefeitura e resolvi pegar o Transmilenio para testar essa grande invenção do urbanismo mundial. “Mas pega antes das 16h – depois fica impossível”, ouvi de uma local. Entrei às 14h. Entrar não é bem a palavra. Parei já na escada e só fui encaminhada para o centro do ônibus à medida que a massa de pessoas me empurrava. Viajei jogada por cima da mala de uma mulher. Vi uma idosa esmagada contra a porta.
Do lado de fora da janela, o trânsito estava completamente parado. Quando saí no ponto final, quase fui atropelada por um dos “buses”, os ônibus normais de linha que abastecem o Transmilenio, e que não têm ponto marcado, nem rota fixa e que podem ser chamados por qualquer pessoa em qualquer lugar da cidade – inclusive nas faixas do meio de uma avenida larga.
Algo deu errado na revolução bogotana.
MELHORIAS Transmilenio: ônibus que andam apenas nas grandes avenidas, em vias separadas, com entrada pelo canteiro central, como num metrô. SOBREVIVEU BEM - Não. MOTIVO - Os ônibus estão sempre lotados.
MELHORIAS Transmilenio: ônibus que andam apenas nas grandes avenidas, em vias separadas, com entrada pelo canteiro central, como num metrô. SOBREVIVEU BEM - Não. MOTIVO - Os ônibus estão sempre lotados.
“O Transmilenio é vítima de seu próprio sucesso”, diz Maria Victoria Duque, assessora de gabinete do atual prefeito, Gustavo Petro, na entrevista à qual fui de ônibus. De fato, todas as linhas estão sempre cheias. Mas o motivo não é apenas o sucesso.
Bogotá é uma cidade cheia. Em 1993, tinha 5,4 milhões de habitantes. Hoje são 7,3 milhões: cresceu 35% em 20 anos. Culpa desse inchaço é a violência no campo, que desloca milhares de pessoas por ano para os grandes centros urbanos.
“Se existe uma população morando em alguma área de interesse econômico no interior – como uma rota de tráfico -, a história é sempre a mesma. Grupos paramilitares entram no vilarejo, matam todos os homens, e as mulheres acabam nas grandes cidades”, diz Mercedes Castillo de Herrera, professora de economia e urbanismo da Universidade Nacional da Colômbia.
MELHORIAS Rodízio de carros chamado "pico y placa", que proíbe 50% da frota de andar em horários de pico e fez as viagens de carro caírem 22%. SOBREVIVEU BEM - Não. MOTIVO - Trânsito voltou com tudo.
MELHORIAS Rodízio de carros chamado "pico y placa", que proíbe 50% da frota de andar em horários de pico e fez as viagens de carro caírem 22%. SOBREVIVEU BEM - Não. MOTIVO - Trânsito voltou com tudo.
Cerca de 5,2 milhões de colombianos são refugiados – o que corresponde a mais de 10% da população. Seu destino favorito é a próspera e industrial Bogotá. De fato, as periferias da cidade não param de crescer e os governos lutam para conseguir levar os serviços básicos – água, luz, merenda escolar – para lá. Diminuição do trânsito ficou em segundo plano.
Os outros fatores que contribuíram para a situação que Bogotá vive hoje são velhos conhecidos nossos. O primeiro é a falta de continuidade das prefeituras. “Somos latinos. A pior coisa para um homem latino é criar o filho de outro”, disse Mockus em uma entrevista ao The New York Times.
Cada novo prefeito que assumiu a cidade tratou de dar a ela uma marca “própria” – um plano de governo característico de seu mandato. Foram causas igualmente nobres, como a construção de escolas na periferia ou a distribuição de água de graça nas áreas mais pobres ou a viabilização do metrô (essas últimas duas, bandeiras do atual prefeito). Mas nenhum tratou de continuar o serviço que os anteriores fizeram.
MELHORIAS Educação no trânsito. Mímicos nas ruas ensinavam pedestres a atravessar na faixa. SOBREVIVEU BEM - Não. MOTIVO - Falta de continuidade nos projetos.
MELHORIAS Educação no trânsito. Mímicos nas ruas ensinavam pedestres a atravessar na faixa. SOBREVIVEU BEM - Não. MOTIVO - Falta de continuidade nos projetos.
Hoje, os bogotanos voltaram a atravessar a rua em qualquer lugar, como antes de Mockus. “Todo mundo voltou a buzinar que nem maluco. Antes não era assim”, diz Duque. E a rede do Transmilenio também não foi expandida muito além do que já estava ao final do governo Peñalosa. Para piorar, o último prefeito, Samuel Moreno, foi acusado de corrupção e está preso.
Todos esses contratempos acabaram gerando um clima de insatisfação na cidade que andava esperançosa com suas mudanças: desde outubro de 2010, os bogotanos têm a impressão de que a capital está piorando. Para nós, que acompanhamos de longe, restam alguns ensinamentos.
A boa notícia é que dá, sim, para mudar uma cidade – para melhor! – em pouco tempo, com boas e criativas decisões políticas. A má é que é possível perder o rumo em ritmo igualmente rápido. Ficam as lições para o futuro das nossas cidades.