segunda-feira, 30 de outubro de 2017

Sistema de compartilhamento de carros em Fortaleza

Um sistema de compartilhamento de carros elétricos completa quatorze meses de funcionamento em Fortaleza. O Veículos Alternativos para Mobilidade, conhecido pela sigla VAMO, é fruto de uma parceria entre a prefeitura da cidade, o Hapvida Saúde e a Serttel. Contudo, algo que já é cultura em metrópoles de países do primeiro mundo, como Paris, Londres e Nova York, sequer é tendência nas grandes cidades brasileiras. A iniciativa na capital cearense é exceção. 
O VAMO possui 20 carros elétricos, distribuídos em 12 estações de compartilhamento na capital cearense. Em funcionamento desde setembro de 2016, o sistema já possui mais de 2 mil pessoas cadastradas. A faixa etária, dos 21 aos 30 anos, é a mais representativa entre os usuários e representa cerca de 39% do total de usuários cadastrados em maio último. O Hapvida Saúde, patrocinador do projeto, investiu mais de R$ 7 milhões.
Para poder retirar o carro das estações, é preciso que o motorista tenha um cadastro no VAMO, que deve ser feito pelo site do programa (vamofortaleza.com.br), preenchendo informações como nome completo, telefone, CPF, endereço e o número da carteira de motorista de habilitação B ou superior.


As informações serão verificadas pela Serttel, empresa de mobilidade, que entrará em contato com o cadastrado para agendar hora, data e estação de desejo do usuário para a assinatura do Termo de Responsabilidade, bem como para realizar test drive acompanhado de técnico.

Para fazer uso do sistema, por meio do site e do aplicativo para smartphone, os usuários poderão reservar carro elétrico disponível em qualquer uma das estações, tendo até 15 minutos para efetivar a retirada do veículo do local. Os carros elétricos poderão ser retirados, todos os dias, das 5h às 23h59, podendo ser devolvidos 24 horas por dia.
A tarifação do VAMO se dará conforme o tempo em que o carro estiver sendo utilizado. Para os primeiros 30 minutos de uso, o valor cobrado do usuário é de R$ 20, sendo este valor indivisível, ou seja, do primeiro minuto ao trigésimo minuto, o valor cobrado será fixo e totalizará R$ 20. Após meia-hora de uso, a cobrança se dará por minuto adicional, variando o custo do minuto conforme o tempo.

terça-feira, 17 de outubro de 2017

O Pelô no pelourinho

Paulo Ormindo de Azevedo*
Estou na Espanha participando da reunião do Comitê Cientifico da Rede Patrimônio Histórico Ibero-Americano, da Universidade Politécnica de Madri. No ano passado, na Guatemala, propus como tema deste seminário “Habitar o patrimônio” e os colegas ibero-americanos acataram, sem pestanejar, a proposta. A ideia é analisar os problemas que enfrentam os moradores dos Centros Históricos, geralmente pouco considerados por seus administradores. Na Espanha e na maioria dos países latino americanos, os CH são levados a sério.
Para mostrar o que ocorreu no nosso CH, nos 58 anos em que está tombado, foi criado no Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo da UFBA o subgrupo Observatório do Centro Antigo de Salvador, que reúne professores e pós-graduandos do programa, coordenado por este escriba e pela Profa. Márcia Sant’Anna. Reunimos um grande número de dados dispersos em repartições federais, estaduais e municipais sobre investimentos públicos e privados, propriedade e uso do solo e aplicamos 11 questionários em associações de moradores, além de entrevistas com os principais protagonistas do CH.
Os algarismos são alarmantes. De meados de 1970 até hoje foram investidos no CH – pasmem - cerca de USD$ 255 milhões. Apesar disso, a população local foi reduzida à metade. Em 1991, eram de 11.947 pessoas, e em 2010 baixou para 5.985. A Defesa Civil contabiliza, hoje, 1400 imóveis em estado de risco. A diretoria do IPAC diz que 40 de seus imóveis estão desocupados e 300 inquilinos são inadimplentes, com uma dívida de R$13 milhões (A Tarde, 09/09/17). Outros tantos são devidos de impostos pelos comerciantes. Muitos estudos foram feitos, mas as decisões políticas não se basearam em estudos. Alguns dos erros mais gritantes foram: a retirada das atividades centrais, a exclusão dos moradores, em 1992, a estatização do estoque habitacional e a precarização da infraestrutura de mobilidade e acesso. Um imóvel só é conservado se seu ocupante for o dono. Cerca de 511 sobrados estão na mão do estado (307) e de irmandades religiosas (204). As reivindicações corretas da comunidade são: moradia e requalificação profissional.
A Prefeitura, sempre ausente desse processo, anuncia agora uma série de investimentos. A melhor proposta é a instalação de sua administração em edifícios desocupados do Comercio. O Estado, por seu turno, anuncia a criação de um distrito criativo no CH, como fez Recife há 40 anos. Mas perdura a desarticulação das políticas dos governos federal, estadual e municipal e a não participação da comunidade. Vamos cotejar nossos dados com os de outros de países, como Peru, Colômbia e Equador, que enfrentaram com sucesso esse desafio, e buscar apoio para os movimentos sociais que lutam pela requalificação do CH, nosso maior ativo.
* Professor Titular da Escola de Arquitetura e Urbanismo da UFBa
SSA: A Tarde, 8/10/17