segunda-feira, 22 de abril de 2019

Salvador e o futuro

Antônio Carlos Magalhães Neto*
 Em transformação, cidade constrói seu futuro sem esquecer seu passado; investimentos em turismo e inovação são destaques.
O presente projeta o futuro. A colheita de amanhã depende da semeadura de hoje. Mas os frutos já brotam nesta terra chamada de Kirimurê pelos seus primeiros habitantes, os índios tupinambás.
Fundada por Tomé de Souza em 1549 para ser a primeira capital do Brasil, a Cidade de São Salvador da Baía de Todos-os-Santos chega aos 470 anos ingressando num novo círculo virtuoso com um destino promissor.
O futuro é auspicioso para uma cidade que organizou suas finanças. Com as contas arrumadas, tornou-se possível investir na transformação de Salvador, melhorando a sua infraestrutura e as condições de vida de seu povo.
Quando hoje todo o Brasil se vê diante da urgência de buscar o equilíbrio fiscal, a nossa capital se antecipou e dá exemplo de responsabilidade, com gastos sob controle, recursos em caixa e capacidade de investimento.
Com planejamento e priorizando aqueles que mais precisam, Salvador vai superando índices negativos e descartando rótulos como o de “capital do desemprego”. A maior recessão econômica da história do Brasil não freou o progresso da Cidade da Bahia nesses últimos anos.
O desafio de vencer essa adversidade impôs a necessidade de estratégias que evitassem o aprofundamento de nossas desigualdades sociais.
O programa Salvador 360 é a bússola que nos guia para o futuro. Abordando a cidade sob todos os ângulos, essa iniciativa da prefeitura traça metas e ações que já transformam a realidade de nossa urbe e delineiam um alvissareiro porvir para a nossa população.
Estamos recuperando a nossa vocação turística. As nossas joias estão sendo restauradas. O Centro Histórico e o território de identidade da Cidade Antiga, que abrange o Comércio e a Avenida Sete, estão sendo revitalizados. Salvador constrói o seu futuro sem esquecer o seu passado.
Um novo Centro de Convenções começa a surgir para dinamizar a atratividade turística, integrado a nossa nova orla que vem se transformando na mais bela do país: de São Tomé de Paripe a Stella Maris, com intervenções que destacam o esplendor da beleza da Ribeira, da Barra, do Rio Vermelho e de Itapuã.
Os novos tempos apontam para novos meios de produção. Inovação, empreendedorismo e conexão são palavras-chave dessa nova era que já fazem parte do vocabulário soteropolitano. O Hub Salvador é o ambiente criado pela prefeitura para a gestação das startups made in Bahia.
Salvador está em sintonia com o futuro e abraçada com sua gente. Afinal, como canta Caetano Veloso, “gente é pra brilhar!”. Numa terra abençoada por Nossa Senhora da Conceição e o Senhor do Bonfim, não cabem mais abissais desigualdades.
No presente, a prefeitura investe mais de 76% de seus recursos nas áreas mais carentes para aplacar os problemas sociais de nossa cidade. São verbas alocadas nos setores de educação, saúde, habitação, infraestrutura e assistência social.
O objetivo é um futuro onde não haja crianças fora da escola, ninguém morra em filas para obter um atendimento médico, sejam dignas as condições de moradia e os cidadãos de Salvador possam viver em paz e  tranquilos.
*Antonio Carlos Magalhães Neto é prefeito de Salvador e presidente dos Democratas

quinta-feira, 11 de abril de 2019

RIO/BAHIA

Antonio Risério*
O Rio de Janeiro e Salvador são cidades férteis em mitos - e que cultivam mitos fáceis. Um deles, central, é o de que ambas são cidades ensolaradas. Cariocas e baianos vendem essa imagem para o país - e o pior é que acreditam no que dizem. Mas esse papo de que o Rio é cidade do sol (há alguns meses, na tv, vi um surfista dizendo que no Rio faz sol 365 dias por ano!) e de que Salvador é cidade do sol é um papo furadíssimo, que não resiste ao menor exame dos fatos. A fantasia da cidade solar, tanto num caso como no outro, foi tecida por escritores, artistas em geral, empresários, governantes, políticos em geral. E as massas embarcaram na conversa. Basta recuar um pouco no tempo para ver que o discurso já foi outro. O Rio de Machado de Assis, por exemplo, é mais chuvoso que solar. Mas, com o avançar do século 20 e o assentamento de bairros atlânticos, tudo mudou. Salvador e o Rio, no entanto, são cidades de altos índices pluviométricos. Recebem chuvas quase o ano inteiro - o sol é um visitante intenso, mas breve, de pouquíssimos meses. No mais, é chuva atrás de chuva; Mas, como baianos e cariocas acreditam no mito que criaram, é o que vemos: duas cidades que se enfeitam para as frescuras do verão, mas nunca se preparam para os desastres dos demais meses, que tomam a maior parte do ano. É isso.
* Escritor e antropólogo

1997 na cidade da Bahia

Aninha Franco*
Quase suserano do Estado depois da eleição de 1996, o carlismo acelerou o processo de amalgamento de “cultura e negócio, tradição e inovação, trabalho e prazer [com atenções redobradas sobre o] carnaval, seu circuito econômico, [e a movimentação da] soma fantástica [de seus] recursos financeiros, [consagrando] a percepção de que a cultura e a informação são as grandes fontes de negócio da cidade do Salvador” (Elizabete Loiola, 1997) Em 1997, portanto, institucionalizou-se a privatização da mais interessante manifestação popular da cultura baiana, iniciada na gestão Fernando José e continuada na gestão Lídice da Matta. A apropriação evoluirá, sem controle, separando o povo de sua criação.
Em ano de prejuízos, a Cidade perdeu um dos mais brilhantes e profícuos criadores da baianidade do século XX, o artista Carybé, que passou mal e morreu numa reunião do Ilê Axé Opô Afonjá, na primeira quarta-feira do mês, dia de devoção aos orixás Xangô e Iansã, e foi enterrado no Jardim da Saudade ao som do uticu, cantado pelos integrantes da Sociedade Cruz Santa do Ilê Axé Opô Afonjá, para recomendar o novo Egun através do Axexê.
Stella de Oxossi ressaltou que "o filho de Oxossi estava sendo sepultado no dia de homenagens ao seu orixá, quinta-feira" (José Bonfim, 1997) e os jornais delinearam o perfil do “artista de traço admirável, cuja característica maior era a síntese, porque se uma linha fosse suficiente, não fazia duas” (Elaine Hazin, 1997), um erê, um capeta que pouco antes de morrer vestiu-se de médico e foi ao Hospital Aliança visitar Jorge Amado internado e com visitas proibidas. Carybé, Jorge Amado, Mirabeau Sampaio, geração plena de criatividade, amor à cultura popular e a transgressão, estava se descorporizando. 
Também em 1997 morreu Osmar Macedo, o Osmar de Dodô que trieletrizou a Baía nos anos 1950, e que nos 1990 não dispunha de dinheiro para comprar sua invenção, e o sambista Oscar da Penha, renomeado Batatinha pelo compositor Antônio Maria, antes que Diplomacia, seu primeiro CD, ficasse pronto. Batatinha foi o inventor do samba-receita com a música Feijoada Baiana (quando), e introdutor do toque de capoeira na música popular.
Morreu Agnaldo Siri , autor do curta-metragem Capeta Carybé partindo num mesmo ano, criador e criatura. Morreram, também, para empobrecimento do conhecimento brasileiro, Paulo Francis e Antônio Callado, Callado, autor do Quarup, um conforto para as gerações vitimadas pelos anos de chumbo da ditadura. Morreu Chico Science, Francisco de Assis França, aos 30 anos, num acidente de carro a caminho do carnaval de Olinda, cavando uma cratera na criatividade da música nordestina que alimenta as renovações musicais do Brasil há séculos, deixando os patrimônios Da Lama ao Caos (1994) e Afrociberdelia (1996). Sua morte de homemcaranguejo, de dono do satélite de baixa tecnologia, mas de longo alcance, reduziu o reino das invenções musicais do Nordeste a um solitário Carlinhos Brown.
*Dramaturga e escritora