domingo, 31 de janeiro de 2016

Baianidade

Paulo Ormindo de Azevedo* 
 O caráter nacional tem sido um dos temas reiterativos de antropólogos e psicólogos. Costuma-se caracterizar os ingleses pela pontualidade, elegância e humor. Os argentinos como sendo italianos desterrados, que falam espanhol, se comportam como franceses, mas gostariam de ser ingleses. Na verdade, esta imagem se ajusta mais ao londrino com o big-bem marcando as horas da cidade e aos portenhos fanfarrões de La Boca. Estas imagens são geralmente construídas pelos de fora, mais que pelos locais. Com a limitação de ser um local, recebi um telefonema de uma jornalista de São Paulo de uma empresa de opinião pública, querendo saber como eu caracterizaria a baianidade. É tão raro jornalistas tratarem desses temas, que aceitei o desafio. Expliquei que poderia falar sobre ser soteropolitano ou no máximo reconcavino, mas não baiano, representante de um estado tão diversificado como a Bahia. Respondi suas perguntas bem formuladas, à queima roupa, e continuei remoendo o assunto. Baiano no Sudeste e Sul é o migrante nordestino, pobre, atrapalhado e analfabeto. Mas esta imagem popular não é a mesma da classe média daquelas regiões. Para ela, baiano é o nascido em Salvador, terra da orgia perpetua, da licenciosidade, de vadias e gigolôs. Imagem difundida pela TV e pelo cinema inspirada em autores baianos. Este perfil é injustamente atribuído a Caymmi, que pelo contrário exaltou a faina dura dos jangadeiros e a fidelidade de suas mulheres, que os esperavam na praia, muitas vezes para sempre. Quando os apresentadores do Jornal Nacional abrem um amplo sorriso, já sei que é uma notícia ou reportagem caricatural sobre Salvador. Mas qual seria a imagem que os soteropolitanos têm de si? Talvez aquela que exalta sua inteligência ou sagacidade na expressão: “baiano burro nasce morto”. Também esta imagem comporta duas interpretações. Para uma classe mais alta ela decorre de figuras como Gregório de Mattos, Antonio Vieira, Castro Alves, Rui Barbosa e Glauber Rocha. Para o povão, eles são pessoas habilidosas “que dão nó em pingo d’água” e “vestem suspensório em cobra”. Mas nenhuma das duas versões exprime o estado de espirito de ser baiano. Por sermos mais complexos, não temos um hino como os cariocas com o “Samba do Avião” de Jobim ou os paulistanos com “Sampa”, de Caetano. Acho importantes os depoimentos de visitantes, que não pretenderam criar uma imagem pública, senão registar sua percepção de nosso povo. Há muitos depoimentos neste sentido, a começar pelo de Caminha, mas me restringirei a um só e casual. Um gerente de um hotel de Salvador me disse que foi procurado por um hóspede inglês que se apresentou como do ramo e perguntou se poderia fazer algumas observações sobre o hotel. O gerente ouviu suas observações pertinentes e perguntou sobre os funcionários. Ele disse, “do ponto de vista do treinamento é fraco, mas têm uma qualidade que eu pagaria qualquer preço na Inglaterra, mas não consigo. É o fato deles estabelecerem imediatamente uma relação afetiva com os hospedes”. Turistas se surpreendem como os soteropolitanos se tratam e aos visitantes de “meu rei, meu chapa” e “meu bem”. Mais que sua arquitetura barroca e suas belas praias, o grande atrativo desta cidade, ao meu ver, são seus habitantes, com seu patrimônio imaterial de misticismo, musicalidade, fruição da vida e forma de falar, que as novelas e até mesmo a literatura não conseguem retratar. Isto não significa que tudo são rosas em Salvador e não exista muita violência no interior de nossa comunidade, senão que na vida cotidiana ainda sobrevive em Salvador relações humanas que já não existem em sociedades mais industrializadas e competitivas. Belo tema para um seminário da nossa universidade.
*Professor titular da Ufba
** Ilustração: Camila Schindler - modelo: Isadora Moraes

sábado, 30 de janeiro de 2016

Novo Rio Vermelho é entregue à população

Pedras portuguesas mantidas no novo Rio Vermelho Luiz Carreira futuro vice prefeito de Salvador?

sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

O novo Rio Vermelho

Claudio Tinoco*
O movimento contrário às obras de requalificação no Rio Vermelho tem viés político e parte de militantes ou simpatizantes de partidos de oposição à gestão municipal, que querem confundir a opinião pública e atrapalhar a recuperação de um dos bairros mais queridos por baianos e turistas.
Mentem ao dizer que o projeto de requalificação não foi apresentado aos moradores. Após muitos estudos e discussões, o projeto foi apresentado pelo prefeito ACM Neto, no dia 1º de fevereiro de 2014, aos moradores, comerciantes e representantes das entidades do Rio Vermelho (entre elas, Acirv e Amarv), no auditório lotado da Sociedade Caballeros de Santiago, onde críticas e sugestões foram feitas.
Com adequações, a obra foi licitada, contratada e, antes da ordem de serviço, mais uma vez a prefeitura convocou a comunidade em maio para apresentar o cronograma da 1ª etapa, interdição parcial das principais ruas e criação de uma comissão para acompanhar as obras.
Após ampla divulgação e emissão da ordem de serviço em 15 de junho, esse movimento vem requerer a paralisação das obras.
Hoje, Salvador reconhece o compromisso do prefeito ACM Neto com o Rio Vermelho. Entre eles, estão a restauração da Casa do Rio Vermelho - antigo sonho de baianos e admiradores de Jorge Amado e Zélia Gattai, que tem levado milhares de pessoas ao número 33 da rua Alagoinhas -, restauração do monumento O Centro da Ancestralidade, do Mestre Didi e realização do Festival da Primavera.
O falso argumento de que a administração municipal não dialoga não cola mais. Todos sabem que a prefeitura realizou o maior programa de escuta da sociedade, através do Ouvindo Nosso Bairro, quando 9.523 cidadãos dos 163 bairros/ilhas participaram das 152 reuniões, apresentando 101.348 demandas e sugestões.
A prefeitura se mantém disponível para esclarecer qualquer dúvida, como ocorreu no dia 15 de julho, quando se reuniu com moradores para dar mais informações sobre o projeto. Considero toda participação da comunidade salutar para aprimorar o projeto e exercer a fiscalização mais firme.
Posso afirmar que ninguém, nem a prefeitura, vai defender a retirada injustificada de árvores, lançamento de esgoto na praia, má qualidade de acabamentos ou eliminação de elementos históricos, como um pequeno grupo vem propagando.
Parece até que essas pessoas se contentam apenas em conviver com partidos políticos que só usam o Rio Vermelho para montar comitê eleitoral e comícios.
O Rio Vermelho merece ser requalificado, andou sujo, escuro, sem calçadas decentes e desordenado. As intervenções serão executadas em três etapas, da curva da Paciência até o quartel de Amaralina, incluindo o largo de Santana e o largo da Mariquita, com pavimentação, drenagem, piso compartilhado, ciclovia e nova iluminação pública, assim como ocorreu na requalificação de toda a orla.
Merecemos ver um novo Rio Vermelho, com seus aspectos históricos preservados, onde teremos orgulho de frequentar e fazer parte.
* Vereador por Salvador, foi Secretário de Infraestrutura do Governo da Bahia

quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

A reforma do Rio Vermelho






Nasce um Deus. Outros morrem. A verdade
Nem veio nem se foi: o Erro mudou.
Temos agora uma outra Eternidade,
E era sempre melhor o que passou.
Esse primeiro quarteto do poema Natal, de Fernando Pessoa, lembrou-me, por esses dias, a Salvador do Século XX, que insiste em permanecer, até hoje, noutro milênio.
As discussões recentes, sobre a reforma do bairro Rio Vermelho, remontam às discussões sobre a reforma recente da Barra, que remontam às pedras portuguesas tiradas do calçadão do Porto da Barra, há anos, pedras estas sempre em discussão. Conforto, manutenção, acessibilidade, identidade, etc. (como se todos os pisos, monumentos históricos, prédios antigos não tivessem problemas de manutenção, acessibilidade, custos altíssimos de preservação, de pessoal empenhado nos cuidados, etc.).
O fato é que era sempre melhor o que passou, em Salvador. Ao menos pra mim. Na foto acima, vemos o Jardim da Graça, espaço que não deve em nada a jardins que vi em Paris, em Roma e Lisboa. Mas não existe mais. A Catedral da Sé foi demolida para passar uma linha de bonde, e as seguidas intervenções no que ainda hoje chamamos de Praça da Sé são provas cabais do nosso mau gosto e do quanto o horror de um progresso vazio, como diria Caetano, vai descaracterizando, destruindo, aniquilando nossa história, nossa cultura, nossa arte.
Somos, por vezes, tão idiotas, que buscamos novidades, por pior que sejam, como uma necessidade urgente e primordial de Salvador. Talvez por um trauma de ex-capital, que deixamos de ser ainda província, e que talvez também por conta disso nunca tenhamos deixado de sê-lo, queremos ser vanguarda, por um lado, e criativos, inovadores, revolucionários e desbravadores, por outro. Parece que queremos nos desvincular daquela imagem de capital da colônia, mostrando que estamos da “moda”. Talvez, também, não seja nada disso, ou um pouco disso tudo.
O fato é que, ao contrário de diversos lugares que prezam suas tradições e seus clássicos, basta termos um carnaval sem uma canção impactante, ou um som novo, e todos os abutres do Axé começam a falar em crise de criatividade. Sentimo-nos na obrigação de fazer o “novo” o tempo todo. Rejeitamos a tradição, o clássico, o passado, em busca de eternas novidades que serão, sempre, um velho revisitado, segundo palavras de Vieira, com riscos de ser um pastiche, boa parte das vezes.
Essa mentalidade perpassa diversos setores da nossa cultura. Dos experimentais vanguardistas das artes que – em sua maioria – apresentam modismos requentados e desinteressantes, camuflados sob a desculpa da inferioridade do público e atraso da cidade, até os governantes e seus projetos mirabolantes que de forma quase total resolvem interferir, pra pior, bem pior, na cidade.
Com exceção das destruídas e bombardeadas – e há aquelas que reconstroem sua história, como citei num artigo anterior – as cidades históricas preservaram parte significativa de sua arquitetura e urbanismo como uma identidade, um valor cultural e simbólico, um potencial turístico e, consequentemente, financeiro; trazendo, assim, bem-estar à população local que não se vê asfaltada e murada por prédios, viadutos e concreto, concreto, concreto.
Essa volta toda para dizer que talvez Salvador não goste de si, de seu passado, de sua história. A forma como caipiramente louvamos o que vem de fora, sem dar valor ao que temos aqui – muitas vezes melhor que o que vem de fora – é prova cabal. As pessoas viajam o mundo louvando a programação cultural das grandes metrópoles, sem se aperceberem que são elas culpadas pela programação cultural soteropolitana muitas vezes definhar, justo por ser ignorada por essas mesmas pessoas que varrem espetáculos da Broadway ou da Avenida Corrientes.
O mesmo vale para nosso Centro Histórico. Sinceramente, se ocorresse a tal gentrificação que tantos acusam em relação ao Pelourinho, Santo Antônio e adjacências, sendo bem-feita, bem pensada, eu não veria problema algum. A iniciativa da Fera Empreendimentos, que muitos vêm atacando, me soa, por vezes, uma salvação para uma zona abandonada, simples elo entre o Pelourinho e a Praça Castro Alves. Revitalizar o Palace Hotel jamais passaria pela cabeça de empresários baianos, que torram seus patrocínios em camarotes, villages ao Norte e Sul da cidade, ou investem pesado em prédios na Paralela a arredores, fugindo da “cidade real”, da “cidade histórica”, da cidade que faz de Salvador o que ela é: com suas ladeiras, casarões coloniais, seu cheiro de dendê, suas igrejas, seus terreiros; tradição e identidade. Mas há aqui uma preferência pelo desabamento, em detrimento de algum investidor de fora que possa interferir na cidade. Um excessivo zelo pela decadência e uma histérica rejeição ao capitalismo, como se pudéssemos estar fora dele (e até podemos e ficamos, para o nosso mal, desde as políticas econômicas à estrutura escravagista que realçam nosso falhanço).
O aspecto de praça de xópim center que virou a reforma árida da Barra, que a todo momento é remendada e que, depois de petulantes argumentos de que seria assim e pronto, agora sofre mudanças de trânsito, de arborização, de estrutura, é um fantasma que ronda o Rio Vermelho.
Gostem, ou não gostem das pedras portuguesas, sua retirada segue a lógica histórica, da cidade, de mudar, “inventar moda”, deixar uma marca moderna, pessoal, ao urbanismo de Salvador.
Há quem goste da nova Ceasa, da reforma da Barra, da demolição de escolas projetadas por Lelé, daquele mondrongo que até hoje não entendi pra que serve no Terminal Marítimo de Salvador. Há quem defenda aquele estupro visual que é o metrô da cidade, que promete lascar visualmente a Paralela com uma imensa serpente gorda e pesada de concreto em seu meio. Há os que aplaudem que haja mais xópins, mais gaiolas, mais grades, mais concreto, vidro fumê, arranha-céus. Há quem goste da descaracterização da cidade, há quem vibre com o esquecimento do que fomos (e poderíamos ter sido).
Andando por Roma e Paris, pelos lugares históricos que são a maioria da cidade, vemos prédios antigos de gabarito baixo, arquitetura de séculos preservada, e são cidades cosmopolitas que os caipiras de Salvador acham lindas e aplaudem. Basta darmos uma olhada em postais da cidade antiga de Salvador, e um desespero nos acomete. Já fomos isso? Já tivemos isso? Basta ver o livro “… vou pra Bahia”, de Marisa Vianna – quase todo com postais de Ewald Hackler, grande diretor e professor de teatro alemão radicado há décadas na cidade – e muitos sentirão aquela nostalgia de tempos não vividos, imaginando o que ainda poderíamos ser, poderíamos ter sido.
Talvez, no entanto, haja uma lógica inversa nisso tudo. A ideia do “já fomos isso” e “já tivemos isso” seja por conta de nosso desmerecimento. O que destruímos, demolimos e esquecemos da cidade talvez seja nossa forma de mostrar que não merecemos aquilo, que essa cidade nasceu pra ser um amontoado horrível de arquiteturas, erros urbanísticos e mau gosto. O que vimos fazendo é eliminar qualquer resquício de história, beleza e cultura, em busca de uma descaracterização, de uma reinvenção cafona, de novo-rico, de burguesia ignorante, que devaste a “cidade real”.
Como, ao contrário da maioria dos grandes nomes da nossa terra, a arquitetura e urbanismo de Salvador não têm como se mudar pra tentar a vida no Rio, Sampa, ou Paris, ou Nova York, e serem reconhecidos e fazer sucesso, nós mesmos fazemos o favor de que tudo isso vire o “já fomos isso” e “já tivemos isso”, numa gana violenta em busca do novo. Talvez sejamos os artífices do nosso declínio, livrando a história, que não merecemos, de um povo que não a quer merecer.
O novo Rio Vermelho vem aí. Sem pedras portuguesas. Tira e bota concreto. Dá menos trabalho, fica menos história, despersonaliza e simplifica. Em meio a tanta merda que vem sendo feita em nossa cidade, tirar pedras portuguesas talvez não importe tanto (pra mim, importa), mas traz, em sua simbologia, o que nós estamos fazendo com nossa cidade, nossa cultura e nossa identidade, desde sempre.
O erro mudou?
Temos agora uma outra Eternidade?
*Dramaturgo e diretor teatral

quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

Morre em Salvador o médico e professor Hélio Ramos.

Hélio Ramos , por quase meio século formou gerações sucessivas de médicos em duas escolas médicas e do trabalho dele resultou o Instituto de Hematologia da Bahia, que dentre muitas outras conquistas trouxe para o país as primeiras bolsas plásticas para coleta de sangue humano, as primeiras ampolas de hidrocortisona e de heparina, os primeiros ensaios laboratoriais isotópicos.
Em nosso meio, participou diretamente dos primeiros transplantes de medula, coração e rins. No Instituto (que em cinquenta e oito anos anos atingiu a impressionante marca de meio milhão de transfusões de sangue (quantas vidas eles terão salvo?...) fez as primeiras exsanguineo-transfusões e transfusões intra-uterinas; e montou o primeiro laboratório de produção de interferon, e depois a primeira unidade de histocompatibilidade na America Latina. 
Helio Ramos foi sócio fundador da Sociedade Brasileira de Patologia Clínica, do Conselho Nacional de Energia Nuclear, do Colégio Brasileiro de Hematologia, da Sociedade Brasileira de Hematologia e Hemoterapia; que inclusive presidiu por uma profícua gestão. Foi membro do Conselho Nacional de Saude e do CnPqDiscípulo de Carlos Lacaz e Jean Dausset, especializou-se no Centre National de Transfusion Sanguine, em Paris. Professor Catedrático mais jovem do país em todos os tempos, aos 29 anos foi nomeado pelo então Presidente da República Juscelino Kubitscheck.
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Marcelo Reis*
Hoje morreu um Professor de Medicina.
Titular das duas universidades , UFBA e da EBMSP (Baiana) , um dos mais importantes médicos da Bahia e do Brasil, professor renomado aqui e no exterior, com participações importantíssimas em inúmeros Congressos de Hematologia e Hemoterapia , que dedicou toda a sua vida ao ensino e ao aperfeiçoamento da Medicina da Bahia.
Sabem que homenagem recebeu dessas instituições? Nenhuma! Apenas de sua família , amigos particulares e da paróquia que freqüentava , alguns colegas e alguns poucos ex alunos! Não vi os Reitores das duas Escolas Medicas de Salvador nas quais foi Professor! Nem mesmo outros professores atuais da Universidade! Não ví representantes dos nossos órgãos de saúde ligados a Medicina !

Velado numa capela do Campo Santo , o Professor Doutor Helio Ramos adormecia em paz e para sempre!

Desculpe Mestre. O Senhor merecia e deveria ter sido velado na Reitoria Universitária, com todas as honras de um Professor Titular, com a presença dos professores atuais, membros da Academia de Medicina, atuais acadêmicos , seus ex alunos, os membros dos Diretórios e da Congregação Universitária e todas as autoridades ligadas ao ensino e ao exercício da Medicina !

Como vamos ensinar aos alunos e a comunidade sem esses valores ? Como vamos dar o exemplo do reconhecimento e respeito que possamos um dia possuir com o nosso trabalho honesto e capacidade científica, fazendo essa ingratidão a quem deu tanto valor ao ensino Medico e pratica da Medicina ? Como vamos cobrar respeito ao verdadeiro valor de um homem?  Se não nos valorizamos, então quem nos vai valorizar? Perdão Mestre por essa inversão de valores que acaba com o nosso país e as suas instituições de ensino.

Perdoe Mestre talvez se o senhor fosse um atleta, cantor, político , milionário poderoso o senhor merecesse uma melhor consideração e reconhecimento!O senhor preferiu os livros, salvar milhares de vidas, a ciência, as pesquisas e o ensino e isso, infelizmente para muitos, atualmente não vale muito!
É como Jesus disse ao Pai Celestial:
˜PERDOE PAI, ELES NÃO SABEM O QUE ESTÃO FAZENDO"  
Triste Bahia,Triste Brasil!
Descanse em paz meu professor e muito obrigado por tudo que fez e lembranças aos outros Mestres que sofreram a mesma ingratidão
* Médico


segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

Salvador - Carnaval é o Diabo

Jolivaldo Freitas* 
Interessante este embate entre ACM Neto e Rui Costa para ver quem oferta o melhor carnaval para os foliões. Acho que, neste quesito, moeda por moeda, o prefeito vem perdendo a discussão, a partir do momento em que era melhor seu exército ficar acomodado do que mexer em quem estava quieto. A questão nos mostra, expõe, assegura e garante — e a Prefeitura estufou o peito e disse que ia gastar milhões com a estrutura da festa e saiu batendo no governador, quando este observou que o aumento no número de dias da folia e dos espaços não era coisa simples de oferecer segurança.
Quando passaram a mostrar números, o governo estadual jogou na cara quanto custa montar a estrutura policial e de segurança. Mas o que estão investindo estado e município pode dar certo por dois motivos: primeiro que o baiano e quem é de fora tem a certeza de que será um Carnaval da maior qualidade e atrações não irão faltar. Segundo que a folia será mais segura. Enquanto brigam prefeito e governador, quem ganha é o muvuqueiro que vai cair na gandaia até se esfalfar.
O bom nisso tudo é que pela primeira vez está sendo inteiramente — das vezes passadas foram apenas atitudes isoladas de glumas estrelas que possibilitaram — beneficiado o folião pipoca: aquele que não tem grana para pagar trios, blocos e abadás, mas que fica espremido pelos cordeiros e haja porrada. O governador deu uma dentro quando contratou aquele dois artistas que mais atraem foliões, que foram Ivete Sangalo, que vai levar sua imensa tribo de admiradores e sabe como organizar a festa, e Bell Marques, que ainda vive da imagem do Chiclete com Banana, este que deixa solto, deixa o pau correr e quem tiver coragem que siga seu trio — coisa que os preconceituosos dizem que só dá marginal.
E os verdadeiros marginais são responsáveis pelos altos índices de violência, o que, por outro lado, é fator de limites para a festa. Se o Carnaval não tivesse nenhuma ocorrência assustadora, como tiros e facadas, fosse uma festa de Baco, algo pantagruélico e ou no verdadeiro espírito de Momo, não haveria lugar para tanta gente na cidade. Isso porque milhares deixam de vir de outros estados com medo da violência, o mesmo acontecendo aqui dentro mesmo, com gente de outros municípios. Como muita gente é frouxa, deixa de vir. Daí que Carnaval vem a ser coisa para quem tem coragem e não receia o Diabo.
*Jornalista e escritor

domingo, 24 de janeiro de 2016

Vem aí mais um puxadinho do Bonocô?

João Quadros* 
Não sou contra a linha 2 do metrô. Todos os elogios à decisão do governo em não só resolver os impasses de gestão que envolveram o início do projeto, como, também, estender a sua área de abrangência para um trajeto de fluxo prioritário para a mobilidade dos soteropolitanos. Dando uma de são Tomé, motivei as 32 entidades integrantes do Fórum Empresarial a visitarem as obras do metrô. A impressão não poderia ter sido melhor. A concessionária demonstra dominar uma tecnologia de primeiro mundo, com destaque para a sua preocupação com a segurança e bem-estar dos usuários. As estações já implantadas reportam-se à arquitetura do que há de melhor no primeiro mundo.
Mas isto não basta. Não percebemos, no croqui que a concessionária nos apresentou (e não um projeto como todos nós esperávamos), a preocupação com os detalhes urbanísticos, ambientais e paisagísticos imprescindíveis para com a última avenida de Salvador que ainda estava preservada da voracidade de mais um plano pouco sensível ao meio ambiente, à sua convivência com os passantes e à sustentabilidade do ecossistema lá instalado desde a sua implantação.
Questões relevantes não foram respondidas a contento à época da apresentação. A resposta lacônica que recebemos durante a visita é que "tudo será resolvido". Questiona-se a disponibilidade de estacionamentos capazes de abrigar os transbordos necessários de moradores nas áreas próximas às estações do metrô.
Parece que a comunicação entre os dois lados em que a Paralela será dividida pela ferrovia de superfície será feita através de três complexos viários (mais viadutos!) que serão construídos para substituir três retornos existentes. Este "detalhe" crava definitivamente a reimplantação do "muro de Berlim" na primeira capital do Brasil.
Mesmo que preservem as lagoas existentes, sobre elas serão construídas pontes. O governador declarou a este jornal, em 6 de novembro, que "onde houver depressões haverá um pequeno pilar e o trem passará por entre as trincheiras, mas não vai afetar a paisagem". Pilares, trincheiras e trem, Senhor governador, são incompatíveis com o paisagismo em qualquer lugar do mundo. Talvez, em Salvador marcaremos mais uma exceção sem precedentes!
A preservação das árvores e lagoas já implantadas está sendo jurada pela concessionária que serão recompensadas. O Inema, tão exigente nos projetos privados, acredita piamente quando a promessa é feita por projetos públicos. Estranho, não? Pelo andar dar carruagem, nem "tudo será resolvido", até porque o puxadinho do Bonocô já está instalado desde as futuras estações da rótula até a rodoviária. Há que se levar em conta que o trajeto da linha 2 contempla 12 estações com grande ocupação espacial.
O que já está aparecendo por traz dos tapumes é um desmatamento desenfreado, inclusive com o uso intensivo de motosserras - o que me parece incompatível com o propósito de "conservar árvores nativas".
Preocupa-me também um termo de ajustamento de conduta firmado entre a prefeitura de Salvador e o governo em que prevê apenas o replantio de árvores, sem focar na preocupação da sustentabilidade ambiental. As obrigações estabelecidas para a concessionária neste acordo se restringem à limpeza da cidade, ordenamento do trânsito e à recuperação da malha viária, ou seja, basta cumprir o que fora feito no Bonocô.
Os argumentos que ouvi de alguns setores responsáveis da prefeitura é que foram "condescendentes" com o projeto para que não transparecesse de que se tratava de oposição política ao projeto.
Ora bolas! Está em jogo neste projeto não questiúnculas políticas com visão imediatista, mas a vida de uma comunidade que usa diariamente a Paralela como fluxo de deslocamento e local de habitação e convivência.

*João Quadros | Presidente do Instituto Miguel Calmon | joao.quadros13@gmail.com

sábado, 23 de janeiro de 2016

Salvador é uma cidade devastada pela alegria

Luiz Felipe Pondé
Vivi muitos anos na Bahia. Tenho ótimas recordações. As mulheres baianas, como as mineiras, são doces e pouco competitivas. Uma qualidade essencial numa mulher, além da beleza, é não querer competir com seu homem em tudo. Homens não suportam mulheres fálicas. Mas lamento profundamente o que se passou com a Bahia a partir dos anos 80: a música brega do povo tomou conta da cultura de Salvador, e, se você não gosta da “cultura afro” ou de “axé”, é necessariamente um racista, o que não é verdade. Eu posso não gostar de música viking ou coreana e nem por isso sou racista. A condenação imediata da crítica à africanização compulsória da cultura baiana é exemplo claro do autoritarismo do politicamente correto. 
Conheço muitas pessoas que não alimentam qualquer preconceito com relação à população negra da Bahia e que ainda assim não podem manifestar seu desgosto. E pior: os espaços culturais em Salvador cada vez mais são infectados por esse fundamentalismo afro, destruindo toda a diferença cultural na Bahia em nome de um grupo majoritário que se aproveita do discurso “democrático”. A proibição de recusar esse fundamentalismo afro é parte de uma proibição maior que é fruto da mesma sensibilidade democrática mencionada antes: a divinização do “povo” como culto democrático.
 A ideia de que qualquer coisa que venha do povo é boa é absurda. Além do mais, a maior parte do povo é idiota porque a maioria é sempre idiota e infantil. Associa-se a esse fato geral uma outra marca mais específica desse caso, que é a questão dos negros e da indústriadas vítimas sociais e históricas como entidades sagradas da verdade moral. Ninguém põe em dúvida a escravidão e o preconceito racial nem o dever de acabar com eles. Mas dizer que, por isso, “tudo que é africano é lindo” ou que “todo negro é maravilhoso”, típico do politicamente correto, é um crime intelectual e afetivo. 
O fato é que, além da devastação causada pela alegria histérica do axé baiano, vive-se numa constante escravidão a serviço do fundamentalismo afro. A Bahia é, nesse caso, um exemplo claro de vítima social e histórica da praga PC.

*Luiz Felipe Pondé - Filósofo 
Guia Politicamente Incorreto da Filosofia

quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

Shoppings versus ruas comerciais

Paulo Ormindo de Azevedo*
Quando foi criado em Salvador o primeiro shopping, no início da década de 1970, muita gente pensou que as ruas comerciais iriam acabar. Mas não é isso o que está ocorrendo nos países desenvolvidos, especialmente nos EE. UU. Cultura, política urbana e preço do solo nunca permitiram a instalação desses vórtices de trafego dentro das cidades ali. Fazer compras na Rua do Ouvidor, no Rio; na Baixa, em Lisboa; no Boulevard Haussmann em Paris; na Via del Corso em Roma, ou na 5ª Avenida em N. York é uma viagem cultural que não se compara à mesmice dos shoppings com lojas, decoração e produtos iguais, em todo o mundo. 
E não se diga que são locais só turísticos. Naquelas cidades há boas zonas de comercio de classe média, como o Bairro Alto de Lisboa, o estudantil Quartier Latin de Paris, o Trastevere de Roma, e o Soho de N. York. Se quiseram centros mais populares, podem ir às feiras da ladra de Paris e Lisboa, a Porta Portese em Roma e a Portobello em Londres. Fui com um colega a um shopping na periferia de Madri e lá os moradores exigiram que fosse feito um mercado integrado ao shopping, onde eles pudessem provar o queijo, a charcutaria e o vinho da casa e não comprar produtos inodoros e envelopados. 
Os malls e outlets americanos estão no campo, à margem de autopistas, e são galpões em que cada loja controla o seu consumo de energia. Os daqui seguem o modelo canadense, com iluminação e aeração artificiais, porque lá eles são subterrâneos, devido ao clima. Com a luz e a paisagem tropical nossos shoppings são uma aberração. (Na foto, Rua Chile após a reforma do Hotel Pálace)
Quando disse que os shoppings estavam em crise, neste jornal, alguns leitores puseram em dúvida a minha afirmação. Mas uma amiga, muito atenta às mudanças culturais, me mandou a referência de dois sítes chocantes:Deadmalls.com e This is Dan Bell, este último um fotografo especializado em edifícios abandonados que reuniu fotos de ruinas de shoppings em Dead mall series. São centenas deles nos EE.UU. e Canadá. Continuei a busca e encontrei farto material em Shoppings abandonados e Defuncted shoppings malls. Num deles há um excelente artigo da BBC/Brasil intitulado “Os shoppings estão fadados a sumir do mapa nos EE.UU.?” 
Seu auge ali foi nos anos 90, quando se abririam 140 por ano. Depois de 2007 não se abriu mais nenhum. O arruinamento do shopping Aeroclube e a decadência do Baixa dos Sapateiros e dos menores não é um acaso. Eles estão sendo abandonados pela concorrência desigual de sites de compras na internet, que cresceram 38% em 2015 no pais, e porque o carro privado está sendo desativado também. O efeito desses dois fenômenos vai mudar as nossas cidades. A USP, FGV e SEBRAE vêm realizado estudos sobre ruas de comercio que estão alimentando políticas urbanas espertas no Sudeste. É o caso do Corredor Cultural do Rio, que inclui a Cinelândia, a Rua 1º de Maio e a Praça 15. 
Por outro lado, os comerciantes dessas ruas estão se organizando. O melhor exemplo é a Sociedade de Amigos das Adjacências da Rua da Alfandega, SAARA, na mesma cidade, que faz promoções e mantêm vigilância privada na área. Essas duas entidades são responsáveis pela vitalidade do centro antigo do Rio. Em São Paulo podemos citar a Associação Viva o Centro. Essas não seriam referencias para Salvador? A crise em curso dos shoppings deve provocar mais atenção das autoridades para os espaços públicos de comercio e diminuição da circulação de carros, o que é muito positivo para as cidades. 
P.S. – Sobre o artigo “Dia do Arquiteto e Urbanista”, o Pres. do Icomos /Br esclarece que o convite do CAU/BA era pessoal e não funcional, para falar sobre “Patrimônio Histórico” e não sobre o Centro Histórico. E que o órgão divulgará, em breve, um parecer sobre as demolições de maio.

*Professor Titular da UFBA
**Publicado em A Tarde de 03/01/16
*** Foto do Meatpacking District 

sábado, 2 de janeiro de 2016

Talento criativo pode transformar Salvador

Economista, mestre em administração e doutora em urbanismo pela USP, Ana Carla Fonseca é uma das mais respeitadas estudiosas sobre cidades criativas. Em entrevista ela fala sobre como desenvolver a capital baiana usando o seu talento criativo.
De que forma o conceito de cidade criativa pode contribuir para o desenvolvimento de uma cidade inteligente?
Cidade criativa e cidade inteligente não são sinônimos. enquanto a cidade inteligente se baseia no uso da tecnologia para inovar, com ênfase na gestão pública, a cidade criativa tem três características principais: inovações (não apenas tecnológicas, mas também sociais), conexões (entre áreas da cidade, entre atores públicos, privados e da sociedade civil; entre a cidade e suas regiões; e da cidade com sua história) e cultura. Recife, por exemplo, tem se destacado por iniciativas voltadas ao uso da tecnologia e do empreendedorismo nessa seara, como o Porto digital e o Porto Mídia; mas ainda tem muitos passos a trilhar para se aproximar da nota máxima de 63 (hoje atinge 25,73, conforme a pesquisa).
Como transformar o potencial criativo de Salvador em uma ferramenta de desenvolvimento?
A economia criativa se baseia no talento criativo para gerar produtos, serviços com valor agregado. O grande desafio de Salvador é transformar a criatividade de seu povo em inovação, o que necessariamente requer educação de qualidade (capaz de gerar raciocínio crítico, visão de contexto, análise, conexões improváveis), alfabetização digital em escala massiva e acessível, articulação entre políticas públicas e o setor privado e, claro, vontade política.
Como é possível utilizar a economia criativa para melhorar o posicionamento da capital baiana em outros setores, como saúde e educação?
Por duas vertentes. Investindo em indústrias criativas (ou seja, setores da economia que têm por base a criatividade aplicada) que possam contribuir para a melhoria desses setores. basta imaginar o impacto que a indústria criativa dos games e aplicativos, por exemplo, traz para a saúde e a educação. Em segundo lugar, várias pesquisas realizadas no exterior atestam a mobilidade dos talentos criativos entre os setores criativos e os setores tradicionais de uma economia, o que claramente contribui para dinamizá-los.
Além de Recife, quais outras cidades brasileiras que estão trabalhando sua economia criativa podem servir de exemplo para Salvador?
Muitas têm aspectos inspiradores para que Salvador desenvolva seus próprios processos, baseados em seus potenciais (e não incorra no erro de copiar receitas alheias). São exemplos o já mencionado trabalho de Recife nas tecnologias digitais, trilha também seguida por Florianópolis; os setores de design e moda em São Paulo (ainda que não com o respaldo de políticas públicas municipais consistentes); e o investimento do Rio de Janeiro em ferramentas e aplicativos vários de melhoria da qualidade de vida urbana, da mobilidade à prevenção da violência.