quarta-feira, 13 de maio de 2009

Minha querida rua Treze (2ª parte)

Almir Santos
Engenheiro Civil
Cultiva o mar, a lua, a musíca e
as histórias da cidade do Salvador

.....temos muitas histórias pra contar, muitas recordações e muitas alegrias. Era uma rua pequena. Grandes eram os seus moradores que formavam praticamente uma família.....

Algumas mudanças viriam depois. Seu Arnaldo construiu uma casa num terreno da esquina e mudou-se. Dava a frente para a Garibaldi, a de número 71. Era despachante aduaneiro, tinha uma boa condição financeira. Chegou a ter sete casas alugadas além de uma para veraneio em Itapagipe.
Foi o primeiro da rua a ter um carro particular. Um Ford Anglia, de fabricação inglesa, cuja placa era 230. Nessa época o Botafogo do Rio de Janeiro costumava entrar em campo com um mascote. Um cachorrinho branco e preto chamado Biriba. Por isso o carro de seu Arnaldo foi apelidado de Biriba.
Foi o primeiro também a fazer uma grande viagem, saiu de Salvador de trem até Juazeiro, pegou um navio gaiola, subiu o São Francisco até Pirapora, depois foi ao Rio de janeiro, retornado a Salvador de navio pela Costeira.
O segundo carro da rua foi o de Arivaldo, genro de Seu Fausto, que já tinha mudado para a casa n.° 13. Um Chevrolet 40, placa 1547. O nosso foi o terceiro. Um Austin modelo A 40, placa 620.
Mais ambicioso, seu Arnaldo foi à Europa numa excursão em 1950, o Ano Santo.
A Rua Treze era uma transversal da rua Garibaldi. Por isso aqueles moradores próximos à rua Treze faziam parte da comunidade.
Além de Seu Arnaldo, já morando no 71 na Garibaldi, moravam Seu Romualdo, Seu Eugênio Tranquilli, Seu José Bahia, Jaime Carneiro.
Não se podem esquecer aquelas vizinhas bonitas: Dona Carmosina, Dona Hilda, a alemã, e Dona Valdete.Era uma família, onde todos se conheciam e todos se respeitavam.
Ayrton, meu irmão mais próximo em idade, era meu parceiro. Muitos descendentes daquelas pessoas viriam a ser os nossos primeiros amigos. Entre eles, Milton Chagas, Dega, Valter, Valdemar, Francisquinho, Dedeco, Lulu, Abilinho, Raimundo Barreto...
Milton nos ensinou a jogar botão e nos incentivou a gostar de futebol. Comprava semanalmente as revistas O Globo Esportivo e o Esporte Ilustrado. Lia, depois passava para nós. Era torcedor do América, depois mudou para o Vasco. Na Bahia torcia pelo Ypiranga.
Entusiasta pelo jornalismo, Milton Chagas editava um jornal manuscrito dedicado ao esporte que informava sobre um campeonato de botões de uma liga dos Barris e um futebol de várzea do mesmo bairro. Sua vocação se concretizou com o ingresso na Rádio Sociedade onde tinha um programa diário às 11:00h, denominado Cadeira de Engraxate.
Dega, seu irmão era muito bom de bola, mas não tentou se profissionalizar.
Valter e Valdemar eram netos de Seu Fausto. Tocavam violão e violino. Fizemos com eles muitas serenatas.
Os moradores iam se renovando. Uma das mudanças foi o jovem Fred Meting que veio morar na casa onde morou Seu Epifânio. Descendente de alemães, Fred se destacava por contar suas aventuras. Falava muito de cinema, montarias, brigas, namoradas e suas primeiras inserções no mangue. Neste ponto, Dega também era craque.
No decorrer dos anos, outros tantos nomes viriam fazer parte da comunidade como Jorge Caveirinha, os irmãos Fortes que foram chegando, os Gavazas, Nilton Tranquilli. Zezinho de Dona Mimi, Heralda, Osman, Maria Bahia, Lia, Ciro, Julimar, Naná, Neínha e tantos outros...
Nossos primeiros contatos com a bola de meia foram na rua com os gols marcados com duas pedras.
Nessa época outros meninos começaram a fazer parte dos babas de rua. Ivan Lima, Fifia, Manoel Berro Grosso, Herádio, Evandro Caranguejo, Cadu, Zé Cutia...
Outro bem sucedido foi Ivan Lima. Nas férias minha mãe permitia a realização do campeonato de botões. Organizávamos um campeonato com os sete clubes que disputavam o campeonato baiano. O meu time era o Botafogo. Ayrton Vitória, Dega Ypiranga, Ivan Galícia, Fifia Guarani, Chico Fortes Bahia e Almir Fernandes, (único convidado, pois não era da rua) São Cristóvão. O primeiro campeão foi o Botafogo.
Ivan tinha um vozeirão e narrava o jogo de botão como se fosse uma partida de futebol. Quando se entusiasmava, minha mãe, que sempre tinha pelo menos uma criança dormindo, dizia: Ivan, baixe o rádio.
Muito esforçado. Filho de Dona Coló, uma baiana de acarajé, enteado de Adalberto Engraxate, procurou estudar. Ingressou garoto na Western Telegraf como estafeta.
Mas sua vocação se concretizou. Foi contratado pelo serviço de alto falantes A Voz da Avenida, logo passou para a Rádio Excelsior da Bahia. Nunca transmitiu um jogo na Bahia, mas fez sucesso como locutor esportivo na Rádio Poti da Natal e finalmente na Rádio Clube de Pernambuco, onde chegou a dirigir o Departamento de Esportes. Conheceu o mundo acompanhado a Seleção Brasileira e dirigiu o Geraldão (Ginásio de esportes Geraldo Magalhães) em Recife. Grande trajetória ! ! ! ( continua)

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