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Paulo Ormindo
A realização da Copa poderá ser uma oportunidade para deflagrar algumas melhorias urbanas em Salvador, como conseguiram outras cidades-sedes de copas. O governo do Estado anunciou três grandes obras. A construção de uma arena, uma ponte para Itaparica, que nada tem a ver com a Copa, e a ampliação do Aeroporto num total de R$ 3 bilhões. Tudo realizado em parcerias público privada com contrapartida do PAC-Copa pedido a Dilma.
A imagem que se tenta vender é a de Barcelona, transformada com as Olimpíadas de 92.
A realização da Copa poderá ser uma oportunidade para deflagrar algumas melhorias urbanas em Salvador, como conseguiram outras cidades-sedes de copas. O governo do Estado anunciou três grandes obras. A construção de uma arena, uma ponte para Itaparica, que nada tem a ver com a Copa, e a ampliação do Aeroporto num total de R$ 3 bilhões. Tudo realizado em parcerias público privada com contrapartida do PAC-Copa pedido a Dilma.
A imagem que se tenta vender é a de Barcelona, transformada com as Olimpíadas de 92.
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Não se pode comparar Salvador com Barcelona.
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Há 30 anos o Estado vive à deriva. As últimas iniciativas de planejamento se devem a Rômulo Almeida, com os projetos do CIA (66) e o Copec (78). No vazio do Estado, as construtoras oferecem projetos carimbados, no velho esquema da Gautama, que não levam a nada.
Quem são os técnicos que planejaram essas obras e que conselho da cidade as aprovou? A ampliação do Aeroporto já teria sido descartada, pois a Infraero considera a obra desnecessária.
A nova arena de R$ 600 milhões corre grande risco de não encontrar parceiro privado, pois a Fifa afirma que são necessários quatro grandes times para dar sustentação a uma arena. A Bahia tem dois e três estádios.
Mesmo interditando o Barradão e o Pituaçu não dá. Resta a ponte, que envolve enormes interesses corporativos e imobiliários. Só não se sabe se ficará pronta a tempo, a julgar pelo metrô, mas o governo não desiste.
Que benefícios trará tal ponte?
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Para os governantes e empresas imobiliárias, ampliar o mercado hoteleiro e habitacional de classes alta e média. Mas inevitavelmente surgirão alagados e favelas. Ora, o Estado, que não foi capaz de desenvolver um plano para a Região Metropolitana de Salvador (RMS) compreendendo, entre outros projetos, o metrô e a hidrovia, quer agora criar uma ponte para ocupar as ilhas. Cerca de 70% da atividade produtiva do Estado se concentra nas terras firmes da RMS, onde abundam milhões de km² de terrenos planospróprios paraa habitaçãoe belas praias subutilizadas. A ponte de Itaparica já nasce caduca,como a política automobilística dos anos 70. O descongestionamento da cidade é outro sofisma, a via que leva é a mesma que traz.
Que impactos negativos provocarão a ponte na cidade? Imaginem as carretas e ônibus da BR-101 e os carros da região de Santo Antônio de Jesus e Jequié atravessando Salvador com destino ao Polo Petroquímico e às praias do litoral norte. Pensem estes veículos entrando por elevados e trevos na pitoresca Monte Serrat, entupindo o Américo Simas, a Montanha, a Contorno e a San Martin para chegar ao Iguatemi.
Para ali convergirá o tráfego de três rodovias: BR-324, BR-101 e Estrada do Coco atando um nó-cego. Imaginem, por fim, uma das mais belas baías do mundo cortada por um monstrengo como o nosso metrô, atrapalhando a paisagem, a navegação e o turismo.
Nossos empresários ainda não perceberam que tal esquema está esgotado e que políticos não se sustentam com projetos de efeito, senão com planejamento e políticas sérias de médio e longo prazos. Essa convergência de interesses resultou em fracassos monumentais em Salvador, como o Aeroclube, o metrô, as barracas de praia, o PDDU e o tamponamento dos rios urbanos. O País mudou, hoje temos uma sociedade civil aguerrida, ministérios públicos atuantes e a internet.
Comos R$ 1,5 bilhão da ponte se criaria um arco rodoviário euma rededemetrô desuperfície para integrar a RMS e livrar Salvador, de uma vez, da sina de dormitório metropolitano.
Veneza tem uma baía bem menor que a nossa e centenas de pontes, mas nenhuma tão tristemente famosa como a dos Suspiros, que liga o Palácio dos Doges à prisão. A ponte de Itaparica poderá ser a nossa Ponte dos Suspiros, uma travessia sem volta.
Paulo Ormindo Azevedo - Arquiteto e presidente do IAB Bahia
"Pensem estes veículos entrando por elevados e trevos na pitoresca Monte Serrat, entupindo o Américo Simas, a Montanha, a Contorno e a San Martin para chegar ao Iguatemi."
ResponderExcluirCaro Oswaldo, penso que este transtorno possa ser resolvido através da via expressa Baía de Todos os Santos, que ligará o Porto de Salvador a BR-324, que por sua vez será modernizada através de uma PPP. Sobre o ponto de vista estético, não creio que essa ponte deva ser encarada como um monstrengo (sic), outras cidades do mundo também possuem paisagens belíssimas e pontes desse porte, a exemplo de Lisboa (Portugal), San Francisco (EUA), Rio de Janeiro (BRA), Tóquio (JAP), etc.
Outro ponto que tem que se levar em consideração é o econômico, a ponte não tem o objetivo único e exclusivo de servir como um fator de expansão imobiliária para a Ilha de Itaparica. Ela servirá para diminuir a distância entre a capital e a BR-101, que além de ser a principal rodovia de ligação com o sul da Bahia, é uma importante via de transporte de cargas e consequentemente ajuda a expandir a economia baiana nesta região.