domingo, 9 de agosto de 2009

Morre em Salvador Mario Cravo Neto

Faleceu hoje, o fotógrafo e escultor baiano Mario Cravo Neto, vítima de câncer, no Hospital Aliança em Salvador. Nascido em 1947 na cidade de Salvador, onde viveu e trabalhava, foi criado no ambiente artístico de sua cidade natal, onde iniciou suas primeiras experiências em escultura e fotografia aos dezoito anos de idade. Nesta época, o seu pai o escultor Mario Cravo Júnior, tendo sido convidado para tomar parte no programa "Artists in Residence" patrocinado pela "Ford Foundation" e o Senado de Berlim Ocidental, viaja para a Alemanha com toda a família. É em Berlim que Mario Cravo Neto, além de dedicar a maior parte do seu tempo ao trabalho criativo, experimenta o contato com artistas e intelectuais vindos de outras partes do mundo. As viagens à Espanha e à Itália empreendidas por sua família e o contato direto com os artistas Emilio Vedova e o fotógrafo Max Jakob, tambem residentes em Berlim, alargam os horizontes do jovem Mario Cravo Neto. Retorna ao Brasil em 1965 e finaliza seus estudos secundários. Em 1968, muda-se para New York para estudar na Art Student League sob a orientação do artista plástico Jack Krueger, um dos precursores da arte conceitual em New York. Este período de dois anos foi de importância fundamental para o delineamento de sua vida futura como homem e artista. São desta época, as séries de fotografias em cores intituladas "On the Subway" e as fotografias em preto e branco relacionadas ao aspecto da solidão humana na grande metrópole. É em seu estúdio no Soho que desenvolveu, paralelo à fotografia, as esculturas em acrílico, baseadas no processo do "terrarium" que envolve o crescimento de plantas vivas em ambientes fechados. Retorna ao Brasil em 1970, vítima de um esgotamento nervoso e pela primeira vez mostra na IX Bienal Internacional de São Paulo a instalação das esculturas vivas realizados em New York. Devido ao acidente automobilístico no dia 31 de março de 1975 Mario Cravo Neto interrompe a sua atividade profissional e é forçado a permanecer na cama com ambas as pernas quebradas. Após o período de um ano de convalescença e, impedido de dar continuidade às suas pesquisas anteriores, direciona a sua atenção para a fotografia de estúdio e começa a utilizar nas suas instalações os objetos achados, íntimos do seu cotidiano. São desta fase a continuidade do trabalho que o artista vem mostrando no Brasil e no exterior. Fora seu trabalho fotográfico em preto e branco, Mario Cravo Neto publica seus dois livros mais recentes: SALVADOR, com cento e oitenta fotografias coloridas de página inteira, e texto de Jorge Amado, Padre Antônio Vieira e Wilson Rocha. LARÓYÈ , com cento e quarenta fotografias em cores de pagina inteira e texto de Edward Leffingwell e Mario Cravo Júnior. The Eternal Now (2002) é a mais completa monografia da obra em preto e branco do artista, com 136 fotografias em preto e branco e texto de Edward Leffingwell. Na Terra sob Meus Pés (2003), com 55 imagens digitais, em cores e em preto e branco, e texto de Ligia Canongia, direciona o trabalho do artista a uma perspectiva ainda mais abrangente. Trance-Territories (2004) contém 88 fotografias realizadas no Axé Opó Aganju e textos de Ildásio Tavares e do autor. O Tigre do Dahomey – A Serpente de Whydah (2004) traz 59 fotografias sobre a temática mencionada, com textos de Mario Cravo Junior, escultor e pai do fotógrafo, Ildásio Tavares, poeta e Otun Oba Aré do Axé Opô Afonjá, e do próprio autor.
Na obra do artista baiano, há uma cumplicidade afetiva com o objeto fotografado. É o profundo conhecimento do universo que retrata que permite a ele criar imagens que combinam rigor técnico e formal a uma forte carga emocional. Cravo Neto era conhecido pelo olhar único com que retratava a religiosidade afro-brasileira. “A fotografia de Mario Cravo Neto não pode jamais ser pensada como um exercício de maestria técnica. É o veículo utilizado para materializar idéias, visões e arranjos da realidade. Não devemos nos prender a princípios formais para apreciar sua obra, apesar da destreza com que cria imagens que nos seduzem, ora por uma sensualidade que as torna deliciosamente táteis, ora por uma solenidade particular do objeto retratado”, diz a curadora Solange Farkas.

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