sábado, 9 de janeiro de 2010

A Teoria de Gaia e o futuro da Humanidade

As origens da moderna Teoria de Gaia (nome da antiga deusa grega pré-helênica que simbolizava a Terra viva) se encontram nos primeiros dias do programa espacial da NASA (Capra, 1997, p. 90). Os vôos espaciais que começaram na década de 60 permitiram aos homens modernos perceberem o nosso planeta, visto do espaço exterior, como um todo integrado, um Holos extremamente belo.... Daí as primeiras palavras dos astronautas serem de deslumbramento e emoção, muito longe do linear e frio linguajar técnico-científico presente nas operações de pesquisa e de lançamento dos veículos espaciais. Todos nós lembramos das poéticas palavras de Yuri Gagarin: "A Terra é azul"... Pois bem, esta percepção da Terra em toda a sua poética beleza, foi uma profunda experiência espiritual, como muitos dos primeiros astronautas não se cansaram de dizer, mudando profundamente as suas concepções e seu modo de relacionamento com a Terra. De certa forma, este deslumbre foi o passo inicial do resgate da idéia muito antiga da Terra como um organismo vivo, presente em todos as culturas e em todos os tempos (Capra, obra cit., p. 90; Campbell, 1990; Eliade, 1997).
Posteriormente, a NASA convidaria James Lovelock (foto)
para ajudá-la a projetar instrumentos para a análise da atmosfera e, conseqüentemente, para a detecção de vida em Marte, para onde seria enviada uma sonda Viking.
A pergunta capital para Lovelock, dentro deste contexto, era: "Como podemos estar certos de que o tipo de vida marciano, qualquer que seja ele, se revelará aos testes de vida baseados no tipo de vida terrestre, que é o nosso referencial?". Este questionamento o levou a pensar sobre a natureza da vida e como ela poderia ser reconhecida nas suas várias possibilidades.
A conclusão mais óbvia que Lovelock poderia chegar era a de que todos os seres vivos têm de extrair matéria e energia de seu meio e descartar produtos residuais em troca. Assim, pensando no meio terrestre, Lovelock supôs que a vida em qualquer planeta utilizaria a atmosfera ou, no caso de os haver, os oceanos como o meio fluido para a movimentação de matérias-primas e produtos residuais. Portanto, poder-se-ia ser capaz de, em linhas gerais, detectar-se a possibilidade da existência de vida analisando-se a composição química da atmosfera de um planeta. Assim, se houvesse realmente vida em Marte (por menor que fosse sua chance) a atmosfera marciana teria de revelar algumas combinações de gases características e propícias à vida que poderiam ser detectadas, em princípio, a partir da Terra. Ou, em outras palavras, qualquer planeta, para possibilitar a vida, necessita de um veículo fluido - líquido ou gasoso - para o transporte ou movimentação de componentes orgânicos e inorgânicos necessários à troca de materiais e resíduos resultantes da vida, pelo menos no nível e na dimensão do que se reconhece por vida dentro de nosso atual grau de conhecimento. Este meio fluido deve, portanto, apresentar uma somatória de características básicas.
Estas hipóteses foram confirmadas quando Lovelock e Dian Hitchcock começaram a realizar uma série de análises da atmosfera marciana, utilizando-se de observações feitas na Terra, comparando os resultados com estudos semelhantes feitos na nossa atmosfera. Eles descobriram algumas semelhanças e uma série de diferenças capitais entre as duas atmosferas: Há muito pouco oxigênio em Marte, uma boa parcela é constituída de Dióxido de Carbono e praticamente não há metano na atmosfera do planeta vermelho, ao contrário do que ocorre aqui. Lovelock postulou que a razão para tal retrato da atmosfera de Marte é que, em um planeta sem vida, todas as reações químicas possíveis já ocorreram há muito tempo, seguindo a segunda lei da termodinâmica - a da entropia que já foi exposta acima - e que estabelece que todos os sistemas físico-químicos fechados tendem ao equilíbrio termo-químico, ou de parada total de reações. Ou seja, ao contrário do que ocorre na Terra, há um total equilíbrio químico na atmosfera marciana, não ocorrendo reações químicas consideráveis hoje em dia.
Já na Terra, a situação é totalmente oposta. A atmosfera terrestre contém gases com uma tendência muito forte de reagirem uns com os outros, como o oxigênio e o metano, mas que, mesmo assim, existem em altas proporções, num amálgama de gases afastados do equilíbrio químico. Ou seja, a pesar da contínua reação entre os gases, seus componentes continuam presentes em proporções constantes em nossa atmosfera.Tal estado de coisas deve ser causado pela presença de vida na Terra, já que as plantas (terrestres e aquáticas) produzem constantemente oxigênio, e os outros organismos formam os outros gases, de modo a sempre se repor os gases que sofrem reações químicas. Em outras palavras, Lovelock provou que a atmosfera da Terra é um sistema aberto, afastado do equilíbrio químico, caracterizado por um fluxo constante de matéria e energia, influenciando e sendo influenciada pela vida, em perfeito biofeedback!
Eis as palavras de Lovelock do exato momento de sua descoberta:
"Para mim, a revelação pessoal de Gaia veio subitamente - como um flash ou lampejo de iluminação. Eu estava numa pequena sala do pavimento superior do edifício do Jet Propulsion Laboratory, em Pasadena, na Califórnia. Era outono de 1965, e estava conversando com Dian Hitchcock sobre um artigo que estávamos preparando... Foi nesse momento que, num lampejo, vislumbrei Gaia. Um pensamento assustador veio a mim. A atmosfera da Terra era uma mistura extraordinária e instável de gases, e, não obstante, eu sabia que sua composição se mantinha constante ao longo de períodos de tempo muito longos. Será que a Terra não somente criou a atmosfera, mas também a regula mantendo-a com uma composição constante, num nível que é favorável aos organismos vivos?"
Artigo originalmente publicado no site:http://www.healing-tao.com.br/

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