terça-feira, 25 de setembro de 2012

Salvador em 2030


Eduardo Atayde*
Em recente palestra na Associação Comercial da Bahia o presidente da Câmara Municipal de Salvador, vereador Pedro Godinho, afirmou que não é mais possível administrar Salvador, terceira maior cidade do país, com o atual modelo de gestão. “O modelo está superado, falido. Nenhum prefeito, por melhor que seja, será capaz de administrar a cidade neste modelo”, concluiu o presidente.

Godinho não está sozinho. Ao redor do mundo lideres políticos que enfrentam a mesma realidade estão inovando, buscando soluções para os efeitos da crescente urbanização desordenada que onera a qualidade de vida, contribui para a instabilidade social, econômica e ecológica dos espaços urbanos. Neste planeta de 7 bilhões de seres humanos, metade urbanos, que cresce na velocidade de 80 milhões de novos habitantes/consumidores por ano, 1 bilhão de pessoas ainda vivem em favelas. Segundo o IBGE, a concentração populacional urbana brasileira que hoje é de 84%, aumentará para 90% em 2020.

A Região Metropolitana de Salvador, área de influência econômica da Baía de Todos os Santos, concentra 70% do PIB do estado com uma população de 3.5 milhões de habitantes (IBGE/2010), seis vezes maior do que cinquenta anos atrás. Compreendendo os municípios de Camaçari, Candeias, Dias d'Ávila, Itaparica, Lauro de Freitas, Madre de Deus, Mata de São João, Pojuca, São Francisco do Conde, São Sebastião do Passé, Simões Filho e Vera Cruz, incha com crescente imobilidade devido a expansão da frota de veículos que, mesmo paralisando as cidades, ainda são chamados de "auto-móveis". Administrações isoladas dos municípios conurbados e interdependentes, geridos por modelos ultrapassados, reclamados por gestores públicos e privados, precisam de inteligência nova. 
Enquanto o Instituto dos Arquitetos do Brasil, seção Bahia, IAB-BA, eleva o debate da problemática urbana em Salvador e região metropolitana, preparando-se para o XXIV Congresso Pan-americano de Arquitetos, em novembro, onde temas como metrópole, sistemas de representação, virtualidade e territórios verdes, estão em pauta; a bicentenária Associação Comercial da Bahia - ACB, cumprindo a missão de participar do processo de decisão nas áreas governamentais, inova, contribuindo na sua área de competência para o aperfeiçoamento do modelo que gestores - no Brasil e no mundo - declaram superado. 
Observando as ações da Agência Curitiba de Desenvolvimento, a Curitiba S/A, fundada em 2007 para fomentar a atividade econômica com ênfase nas parcerias público-privadas, a ACB avalia como as experiências exitosas de Curitiba podem ajudar na criação da Agencia de Desenvolvimento Sustentável de Salvador - Salvador S/A, e nas agencias dos municípios da área metropolitana. Agregando inteligência nova ao espírito metropolitano a ACB cria bases para uma futura Federação Baiana das Agências Municipais de Desenvolvimento, usufruindo da virtualidade das redes sociais e do e-governo. 
A Agencia Curitiba de Desenvolvimento S/A tem seu capital controlado pelo município - garantindo prioritariamente o interesse público - e partilhado entre a Federação das Indústrias do Estado do Paraná (FIEPR), Federação do Comércio do Estado do Paraná (FECOMÉRCIO), Federação das Associações Comerciais e Empresariais do Estado do Paraná (FACIAP), além de representantes dos setores produtivos do Estado. Assessora empresas com informações técnicas, socioeconômicas e ambientais, executa projetos delegados pelo executivo municipal e promove obras de infraestrutura, contribuindo, como iniciativa público-privada, para a governança da cidade 
O pensamento do geógrafo baiano Milton Santos, premiado em todo o mundo, ilumina a construção das novas governanças: "Com as novas tecnologias, o espaço territorial adquiriu características para se tornar um conjunto indissociável de sistemas de objetos e sistemas de ações", ensina Milton, destacando a importância de não perdermos a dimensão humana na reorganização dos modelos de gestão 
Ainda este ano, quando os programas eleitorais findarem, prefeitos e vereadores estiverem eleitos e as cidades voltarem a operar no modelo falido impugnado por Godinho e seus pares ao redor do globo, temos a opção de continuar reclamando e sonhando com a Salvador do Futuro ou agir na certeza de que o futuro depende de decisões do presente. Como estará Salvador e região metropolitana em 2030, quando os filhos dos candidatos eleitos e dos cidadãos, donos dos votos, estarão no comando? 
*Eduardo Athayde é diretor ACB. eduathayde@gmail.com

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