sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Mobilidade Sustentável

 Osvaldo Campos Magalhães*
No momento em que a “mobilidade urbana” e a questão ambiental passam a integrar, ao lado da segurança pública, da saúde e da educação, questões estratégicas dos debates políticos nas grandes cidades brasileiras, é no mínimo estranha a decisão do governo federal em prorrogar a redução no Imposto sobre Produtos Industrializados, referente à venda de automóveis.
A perplexidade em relação ao fato provocou reações contrárias até mesmo de lideranças governistas no Congresso Nacional: “Ao invés de investir em uma política de inovação tecnológica e em atividades de baixo carbono, o governo estimula o consumo de automóveis, o que torna nossas cidades menos sustentáveis, agravando ainda mais os problemas do trânsito e da mobilidade urbana.” Estas palavras foram proferidas em plenário pelo senador Rodrigo Rollemberg do Partido Socialista Brasileiro.
Talvez o fato do Partido dos Trabalhadores ter suas origens no ABC paulista, berço da indústria automobilística nacional, explique a questão. Ou quem sabe, a necessidade de adoção de medidas que estimulem o crescimento econômico, num momento em que os reflexos da grave crise econômica dos países centrais deixaram de ser “marolinhas” e se transformaram em “perigo real e imediato”, ameaçando as promessas presidenciais de crescimento econômico em índices próximos aos dos demais países do BRICS.
O certo é o que Brasil continua, neste novo milênio, preso ao passado, sem um real projeto de desenvolvimento nacional, e ainda extremamente dependente dos investimentos no parque industrial automobilístico e na exploração e industrialização do petróleo.
Os incentivos à indústria automobilística e os subsídios ao preço dos combustíveis, beneficiam o transporte individual, em automóveis, que provocam imensos congestionamentos, poluem nossas grandes cidades e provocam imensos prejuízos econômicos.  Somente na cidade de São Paulo, os prejuízos provocados pelos gigantescos engarrafamentos foram estimados em R$ 36 bilhões ao ano. No Rio de Janeiro, cerca de R$ 12 bilhões.
Para controlar a inflação, o governo não reajusta o preço da gasolina ha mais de seis anos. Como conseguencia, torna o Etanol pouco competitivo levando as agro-indústrias do setor sucroalcoleiro a optarem pela produção de açucar. O Brasil que no passado era exemplo mundial em energia sustentável vem apresentando declínio na produção de Etanol e crescimento nas importações de gasolina.
Por outro lado, a qualidade de vida nas grandes cidades tem se deteriorado imensamente. Os congestionamentos e a poluição, provocados pelos automóveis, aumentam a sensação de desconforto da população e causam prejuízos aos setores produtivos, como a indústria, o comércio e o turismo.   Estes são alguns dos principais reflexos desta política equivocada de incentivo aos automóveis.
Ao invés de copiar este anacrônico modelo norte americano de incentivo ao transporte individual, desta invasão no trânsito de SUV´s e ciclomotores, deveria o Brasil e suas grandes cidades adaptarem soluções inteligentes e criativas como as implementadas em Berlin, Copenhague, Seoul e até mesmo Portland, nos Estados Unidos, que resgataram o transporte público sobre trilhos em bondes modernos, na expansão de um eficiente sistema de metrô e trens urbanos e na implantação de infraestrutura e no incentivo à utilização de bicicletas. 
*Engenheiro Civil e Mestre em Administração, Coordenou o PELTBAHIA, Programa Estadual de Logística e Transportes do Estado da Bahia.

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