domingo, 22 de agosto de 2010

O lugar perfeito

Ludmila Rohr*
Vim morar nos EUA porque meu marido está trabalhando aqui e porque achei que seria uma boa experiência passar um tempo fora. Após 8 mêses, passada a fase natural de encantamento, consigo ver defeitos..porque antes só via qualidades.
Isso pra mim, não tem a menor importância, se um lugar tem defeitos...porque nunca tive alguma ilusão a respeito de pessoa alguma, quanto mais de lugares. Temos defeitos e qualidades, todos nós e todos os lugares, inclusive isso aqui.
Não suporto as construções todas serem de cor bege...todas as casas , todas as lojas são iguais e bege! Não suporto a mania que eles tem de colocar molho em tudo. A comida tem gosto dos molhos..detesto...Adoro o trânsito..a educação no trânsito é espetacular. Nada é mais lindo do que uma experiência no Stop Sign, as pessoas param em cruzamentos e saem uma de cada vez, por ordem de chegada. Lindo!
Poderia passar o dia fazendo listas do que gosto e do que não gosto daqui e muito mais ainda de Salvador, que é o lugar que eu conheço e que vivi minha vida toda! Mas essa não é a questão.
Adoro comprar tudo que compro aqui, roupas, botas, sapatos, maquiagem, cremes, perfumes..Adoro!...adoro minha geladeira americana enorme linda, adoro o fogão que é elétrico, enorme, maravilhoso...mas, sinceramente, NADA disso me faz feliz, nada disso faz ninguém feliz!
Sou uma pessoa feliz porque me busco..e não quero me auto-enganar. Gosto de mim apesar dos meus defeitos...não quero deixar de vê-los! Assim como amo Salvador, apesar de todos os defeitos dela...amo e pronto!
Alguém não precisa ser perfeito pra que tenha o meu amor...um lugar também não precisa. O lugar bom, é aquele onde me realizo...onde me sinto útil, onde sinto que estou crescendo. Posso fazer isso em qualquer lugar ou não. Enquanto esse for um lugar que me propicie algum crescimento, aqui será um bom lugar. No dia que eu entender que nada aqui me faz crescer...que meu coração não está em paz...não há geladeira, perfumes e sapatos que me convença a ficar!
Hoje estou triste. Hoje sinto falta de tudo da minha vida que eu amo lá em Salvador. Sinto falta de ser útil e produtiva. Sinto falta de sair pra trabalhar e voltar cansada. Sinto falta dos dengos que Nil me fazia, sinto falta de ver o mar e as cores que lá existem e que aqui não. Se estou infeliz? Não, não estou. Estou triste. Estou em contato com a falta. Posso lidar com isso, sem achar que é infelicidade, da mesma forma que posso adorar passar um dia em um lindo Mall, e não confundir isso com felicidade.
A tristeza da falta não me deixa infeliz, assim como a opulência do consumo não me faz uma pessoa feliz.
Hoje...o que eu queria..ter acordado em Salvador, na minha casa que eu amo e que meus filhos foram criados...ficar lá sem fazer nada...sair pra dar uma volta de carro de tarde e ver o pôr-do-sol no lugar mais lindo que existe no mundo...o Farol da Barra...beber uma água de coco geladinha, passar no Rio Vermelho e comer a melhor Pizza que existe no mundo e voltar pra casa...
Simples e perfeito assim.
Ludmila
* Psicóloga, psicoterapeuta e professora de Yoga

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