sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Como a mobilidade pública se deteriora em beneficio do setor privado

Clement Vialle*
Pode-se perguntar como o sistema atual de mobilidade soteropolitano consegue sustentar-se, apesar das várias críticas no que se refere a trânsito, transporte público, mobilidade alternativa...
Eu queria fazer algumas sugestões relativas ao equilibro precário que está sendo criado em Salvador. Incentivados pelo poder público, pelas empresas e pela mídia, sabemos todos que o sistema atual incentiva à compra do carro.
Por outro lado, e conseqüentemente, o transporte público se atrasa mais e mais e não cumpre seu papel de serviço público. Enfim, o que aconteceu neste processo?
Acredito que apareceu um tipo de privatização do serviço de mobilidade nos últimos 40 anos. A falha dos órgãos públicos não diminuiu a demanda em mobilidade, é claro, então o mercado se adaptou rapidamente.
Por exemplo, podemos constatar o número crescente de transporte público informal, que acaba por ser mais eficiente de que ônibus regular.
Outro sintoma é o crescimento da frota dos taxis. Enquanto estrangeiro, quando cheguei a Salvador, fiquei surpreso pelo baixo preço da corrida. Hoje, é muito viável pegar um taxi a 2 ou 3 por veiculo. Este modo de transporte aproveitou da falha dos ônibus para criar lucro particular.
Finalmente, o setor privado sendo muito mais reativo de que o público, o poder público abre mão da qualidade do serviço, deixando pouco a pouco os lucros decidirem o que deve ser uma mobilidade democrática e justa em Salvador.
Resumindo, como o principal interesse de uma empresa é o lucro, os bairros populares acabam por serem menos bem atingidos, pode existir uma escolha dos clientes em função da renda, ou de outros critérios completamente injustos e não justificados... Isso tudo com um controle muito solto pelos órgãos responsáveis pela mobilidade.
Concluindo, existe um equilíbrio natural a favor do serviço privado, cujos interesses por nossos bolsos são claros.
Por outro lado, esta política sem objetivo ambicioso claro esta desestruturando toda a base da mobilidade solidária e humanista e mostra uma visão de curto prazo.
Um dia talvez, nossos filhos, netos, vão perguntar: “Ouvi falar que existia antes, um transporte público?
Podiamos mesmo viajar na cidade com pouco dinheiro e em boas condições? Por que acabaram com isso tudo?”
Cabe a cada um de nós de pensar na resposta certa... Ou de reagir hoje para que isso mude!
*Clement Vialle, é Engenheiro de Sistemas Urbanos

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Conheço as portas do céu

Oliveiros Guanais* (in memorian)
Vou começar este relato com algumas considerações preliminares.
Há umas centenas de anos atrás, um cara chamado Isaac Newton, preguiçosamente deitado debaixo de uma macieira, recebeu uma maçã na cabeça e só não gritou eureka, como o Arquimedes, porque certamente não o conhecia.
Mas, naquele momento, Newton, que foi um dos maiores gênios da ciência de todos os tempos, encontrou inspiração para formular a teoria da gravidade (a matéria atrai a matéria...).
Pois é. A partir de então, ficou-se sabendo que existe uma coisa chamada lei da gravidade, que, entre nós, deste compenetrado planeta, tem a terra como núcleo de atração mais forte. E se pisamos a terra, é porque ela está abaixo de nós. Logo, esse centro de força atrai para baixo todos os corpos, sólidos, líquidos e até gasosos. O homem flutua apenas nas naves espaciais . Aqui, ele está preso a terra, à sua mãe Gaia, à qual retornará como pó que é ( pulvis est ), inevitavelmente. E o próprio corpo humano é estruturado de forma a sentir no seu interior os efeitos da gravidade.
Vamos considerar um importante sistema do nosso organismo: o circulatório, que tem, entre os seus componentes, um volume grande de líquido, o sangue. O sangue passeia, indo e voltando por um conjunto tubular ( artéria e veias), impulsionados pela bomba do coração. Além da bomba cardíaca, há um trabalhinho também das artérias, que se dilatam quando recebem um jato de sangue mandado pela bomba cardíaca (sístole) e se contraem depois, ajudando a empurrar o sangue para a frente, funcionando como uma bomba periférica. Feita a sua viagem de ida pelas artérias, o sangue volta pelas veias em direção ao coração, e não vão para as partes baixas, atraídos pela gravidade, quando a pessoa está em pé, porque as veias têm válvulas que impedem esse retorno. É mais ou menos assim que as coisas funcionam. Há, lembrei-me agora: tem ainda um mecanismo nervoso, chamado neurovegetativo, formado por dois componentes que atuam de modo antagônico, chamado simpático e parassimpático (vagal). Através do simpático o coração bate acelerado (taquicardia) e com mais força, os vasos se contraem, mecanismos que ocorrem quando há necessidade de mais sangue em certos órgãos. (O vago atua, como foi dito, em sentido contrário. O seu predomínio faz as coisas andarem de modo inverso: o coração bate devagar (bradicardia), etc.
Existem situações em que o equilíbrio se rompe, e o sistema se desregula, levando a uma predominância do vago, numa reação que é chamada vasovagal. Os vasos se dilatam e os mecanismos compensatórios não dão conta do equilíbrio necessário. Estando o indivíduo em pé, o espectro de Newton aparece, a gravidade marca presença e o sangue vai para as partes baixas, resultando em redução da quantidade destinada ao cérebro, que acusa de imediato a sua falta. Faltando sangue, falta oxigênio, e faltando oxigênio, o cérebro, que só tem metabolismo aeróbico (feito com oxigênio) resolve protestar, fazendo greve. Deixa de trabalhar, e o apagão se instala: o sujeito perde os sentidos. É a chamada lipotímia ou síncope, que pode ser provocada também por falta de glicose no cérebro, porque a dieta dos neurônios, células nobres, cheias de realeza, tem que incluir no cardápio glicose regada com o vinho de oxigênio. Exigente, não é? Os desmaios matinais que ocorrem nas igrejas durante o santo ofício da missa, principalmente com pessoas idosas em jejum, tem explicação dessa maneira: baixa de glicose e mecanismos reguladores do sistema circulatório comprometidos pela idade.
Será que alguém leu até aqui? Se não leu, está desculpado, porque este lenga-lenga está mesmo muito longo e chato.
Mas vamos em frente, para um outro capítulo, que tem eu como personagem.
No dia 12 deste mês de março, fui ao lançamento de um livro do filósofo Marcos Bulcão, um jovem talentoso que eu ajudei a nascer, porque anestesiei a mãe no parto e dei assistência neonatal ao recém-nascido, que veio à luz meio perrengue, dando-me susto e trabalhos. Mas recuperou-se logo, tornando-se um brilhante intelectual . Lá estava eu, tive meu autógrafo, fui fotografado em companhia do autor (foto), e comecei a circular cumprimentando amigos de velhas amizades.
Mas, ao invés de fazer como muitos fazem e as circunstâncias aconselhavam, ou seja, dar a missão por cumprida e voltar para casa (à francesa), fiquei andando pelo ambiente, sentindo um calor imenso e suando muito. Com a sudorese, pensei com meus botões: será que estou infartando? Dúvida posta, comprimido de Isordil posto debaixo da língua. Estava meio afastado do grupo, olhando livros de direito, e logo chegou Carlos Valadares (um colega estimado, companheiro dos meus tempos de CREMEB ) e ficamos olhando livros. Não se passaram nem dois minutos da administração do Isordil e eu comecei a ficar tonto. Nada falei com meu amigo mas me apoiei na bancada dos livros, e logo não vi mais nada, nem sei de mais nada. Acordei deitado no piso do mezanino da livraria (Civilização Brasileira) cercado de parentes, conhecidos e médicos, todos alvoroçados, o que foi, o que foi, você está bem, respire fundo, está se sentindo bem, fique deitado, não levante não, como é seu nome, está sentindo dor de cabeça e etc..
Eu sei lidar com isso muito bem, porque conheço a fisiologia do fenômeno, anestesista que sou. Já presenciei alguns ou muitos casos de lipotimia em pacientes operandos, quando permanecem certo tempo sentados, principalmente à tarde (por causa do jejum) e são jovens e do sexo masculino (que são mais frouxos, louvor às mulheres). Mas o que acontece? Simplesmente interrompemos o que queríamos fazer e colocamos rapidamente o paciente na posição horizontal, o que facilita a chegada de sangue ao cérebro e poucos minutos depois restaura-se a consciência. ( Aliás, a primeira conseqüência de uma lipotímia- queda – funciona também como corretivo do problema, se, claro, a pessoa não tiver traumatismo de crânio- o que é grave- ou quebra de algum osso periférico. A minha experiência com essa situação levou-me a entender, tardiamente, que nem eu nem ninguém deve tomar Isordil longe de uma cama. Se for necessário o uso dessa droga, que é um potente vasodilatador, deve-se usá-la deitado.
Ainda tenho o que contar sob o episódio. Vejamos.
Ante o espanto das pessoas mais próximas e o grande susto do meu filho mais novo, carinhoso e preocupado comigo, fui levado ao hospital Português, à minha revelia- mas entendendo a razão dos meus amigos, porque, por trás da síncope, pode haver coisa mais grave. Na assistência entre a livraria e o Português muitos colegas foram solidários, mas Chicão ( Dr. Francisco Sampaio, que muito se preocupa comigo) e Guiga ( Dr. Guilherme Moysés) tiveram papel de comando e no hospital, pouco depois de minha chegada, lá compareceu o Dr. Altamirando Santana, velho amigo (uma ajuda à procura de um necessidade), e as coisas foram se encaminhando. Parei na emergência, e, depois dos exames apropriados, a doutora de plantão falou: seus exames deram normais, tudo indica que o senhor teve uma lipotimia por reação vasovagal. Mas...levando em conta o seu histórico, acho melhor o senhor permanecer na Unidade Coronariana para melhor observação, e certamente amanhã vai para casa. E assim aconteceu. Um de meus filhos, que mora fora, inteirando-se dos fatos, disse: “é, meu pai, com o seu passado, se você se encostar numa emergência não tem escapatória, será internado logo, porque médico nenhum vai liberá-lo, conhecendo o seu histórico (meu histórico é gloriosamente rico em batalhas e lutas em que muita gente deixou de acreditar na minha vitória). Mas aqui estou, com cicatrizes e condecorações.
Um comentário final. Se “o oceano é a única sepultura digna de um almirante batavo”, como disse aquele almirante holandês, uma livraria seria o lugar mais apropriado para eu morrer. Seria uma glória, capaz de causar inveja a Jorge Luis Borges, que via na biblioteca a representação do paraíso. Eu não sou Borges, está-se vendo. E divirjo dele porque troco a biblioteca ( de que não gosto muito) por livrarias e sebos, imagens do meu paraíso. Se eu morresse ali, seria uma despedida apoteótica da vida, porque dulce et decorum est circa libros mori ( é paráfrase de um verso latino: é doce e glorioso morrer cercado de livros).
*Oliveiros Guanais, falecido em 21/11/2010, escreveu este artigo em 17/03/2009.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Uma Nova Rodoviária em Salvador?

Almir Ferreira*
Uma polêmica de volta: uma nova rodoviária.
Em primeiro lugar, não se pode pensar em mudar um equipamento como a rodoviária quando o principal problema identificado é o trânsito do seu entorno nos dias de pico. Se os problemas são as vias, que se encontrem soluções para o sistema viário, melhore-se o existente e ofereçam-se outras vias alternativas. No caso de Salvador atribuir-se ao congestionamento de tráfego á sua localização é uma premissa precipitada. Há de se pensar no desejo dos passageiros de ônibus rodoviários e o seu conforto de ir ao lugar desejado, a pé, um pequeno percurso de ônibus ou uma corrida de taxi de baixo custo. Observem-se os equipamentos do seu entorno, dois grandes shoppings, dezenas de prédios comerciais e residenciais de grande porte, sede de grandes empresas, hipermercados, terminais de ônibus urbanos, um grande hospital, que geram um número expressivo de veículos e pessoas que por ali transitam, com certeza muito mais significativo que as 580 partidas e os 11000 passageiros diários embarcam em Salvador. Comete-se outro equívoco quando se fala em jogá-la para fora da cidade.
Temos exemplos da rodoviária Novo Rio, construída há aproximadamente 45 anos, que está situada na intercessão da Av. Rodrigues Alves com a Av. Francisco Bicalho, que é um prolongamento da Av. Presidente Vargas, na área urbana da cidade. São Paulo tem três terminais: Tietê, Jabaquara e Barra Funda, responsáveis por aproximadamente 3.000 partidas diárias, todos situados nos eixos do metrô e têm acessos através de vias expressas, também situados na área urbana da cidade. Buenos Aires, Santiago do Chile, México, Barcelona, Madrid, Nova Iorque, Chicago, Porto Alegre e Belo Horizonte também têm seus terminais situados dentro da cidade.
Tudo isso evidentemente é resultado de estudos, que visam viabilizar física-econômicamente o investimento, cuja localização leva em conta, entre outros, os seguintes fatores: a localização do usuário do ônibus rodoviário, a área da edificação, as vias de acesso ao terminal e o impacto que o equipamento traz ao seu entorno. A prioridade é sempre o usuário. O equipamento já existe e opera com capacidade ociosa. Pode-se melhorar o seu desempenho com a realização de obras viárias, disciplinando-se o tráfego de veículos no local, replanejando o transporte coletivo urbano, implantando-se uma rede integrada de transporte ou, em último caso, estudando-se criteriosamente uma descentralização.Abandonar o terminal existente e construir um novo terminal na BR-324, próximo a Valéria resultará em desconforto para o usuário nos seus deslocamentos, onera-os com as despesas de taxi e é uma solução que não o prioriza.
*Almir Santos - Engenheiro Civil especialista em Transportes Públicos e Logística de Transportes integra o NELT - Núcleo de Estudos em Logística e Transportes: nelt.oscip@gmail.com

domingo, 21 de novembro de 2010

Era no Dois de Julho

Oliveiros Guanais de Aguiar*
A poesia foi usada para glorificar os feitos grandiosos de povos e heróis, por ser o único recurso disponível para isso, no passado. Os gregos valeram-se da “Ilíada” para cantar as façanhas dos seus deuses e guerreiros na guerra de Tróia. A “Eneida”, poema escrito por encomenda de um imperador, visava a dar nobreza à genealogia do povo e do império romano. “Os Lusíadas’, que cantaram as ”armas e os barões assinalados” que partiam das praias lusitanas para as conquistas marítimas do mundo, ficaram gravados na língua portuguesa de forma perene.
No Brasil, o mais belo e mais forte poema épico contraria, pela brevidade, o conceito de epopéia, pois consta apenas de 48 versos, não tem compromissos narrativos, não fala em deuses e não dá nome a heróis, porque deixa implícito que heróis eram o povo que se batia no ” imenso anfiteatro da amplidão”. Mas tem, da epopéia, duas características fundamentais: heroísmo e referência a guerra. Assim, é a nossa epopéia libertária.
Castro Alves escreveu a “Ode ao Dois de Julho” aos 21 anos de idade! Fase do arrebatamento, da retórica, das hipérboles. Nesse poema, o vate maior do Brasil deu aos baianos orgulho por terem lutado para conseguir a liberdade porque na Bahia, ao contrário do que aconteceu no Ipiranga, houve luta, sim, luta e morte. (E aqui cumpriu-se a sentença de um homem chamado Espinosa : “não existe liberdade, quando não se luta pela liberdade”)
Não foi uma guerra igual às grandes guerras da história, mas Castro Alves construiu uma alegoria à luta dos combatentes e à glória dos vencedores, dando às batalhas que aqui se travaram dimensões heróicas para que fosse justificada a reverência dos baianos aos que pegaram em armas e arriscaram a vida para expulsar os últimos defensores da permanência de Portugal no Brasil. E ao fim das lutas:
... quando a branca estrela matutina
surgiu do espaço lá do campo deserto da batalha
uma voz se elevou clara e divina:
eras tu - liberdade peregrina!...
A Bahia precisa continuar a festa do Dois de Julho em homenagem àqueles que ficaram registrados na história, não só pelo heroísmo ou pelo martírio, mas também, e principalmente, em memória do povo sem nome que aqui lutou ou foi sacrificado : freiras, soldados, brancos, índios, negros.... As comemorações do Dois de Julho são também uma dívida irresgatável que a Bahia deve a Castro Alves, o jovem que eternizou na poesia o heroísmo daquelas lutas. É preciso, portanto, continuar e dar valor às comemorações dessa data, tendo à frente o grupo de políticos de todos os partidos, a maioria distribuindo sorrisos e acenos de mão, que são retribuídos com vaias, para a maioria, e por alguns aplausos perdidos para uns poucos merecedores, enquanto o cortejo passa à vista do povo concentrado nas calçadas ou abrigados nas janelas enfeitadas de bandeirolas, balões e tecidos coloridos; o povo gosta de ver o batalhão dos “periquitos”, com seus dólmãs de golas e punhos verdes, e procura ver e saudar Maria Quitéria, a camponesa de Cachoeira que se tornou símbolo do heroísmo da mulher brasileira; é importante que os cavalarianos desfilem, porque eles também contribuíram para o êxito da guerra; é preciso que continue e seja preservado, com destaque especial, o carro do “Caboclo” e da “Cabocla” como representação simbólica dos que lutaram com arco e flecha, seus instrumentos de guerra. É preciso que esse desfile representativo do passado continue, com a participação de movimentos sociais, escolas, grupos de capoeiras, marchas improvisadas, bandas de música e fanfarras, transformando uma festa cívica numa desorganizada e alegre festa do povo, porque foi o povo que ganhou a guerra.
*Oliveiros Guanais de Aguiar: Faleceu hoje no Hospital Português.
Filho de Galdino Borges de Aguiar e D. Etelvina Guanais Aguiar, foi figura de destaque no movimento estudantil de sua época, ocupando a presidência da União dos Estudantes da Bahia e, posteriormente, da UNE biênio 1960-1961.
Segundo o pesquisador Alberto Saldanha, Guanais foi eleito presidente da UNE por um entendimento triplo entre seu grupo (esquerda independente), a Juventude Universitária Catôlica (que apresentava o nome de Hebert de Souza) e o Partido Comunista. Registra, ainda, o papel da UNE na época (1956-1960) na opinião do próprio Oliveiros Guanais: "A UNE ... era uma grande tribuna política do país".
Como anestesiologista, destacou-se profissionalmente, o que rendeu-lhe a eleição por seus pares para integrar o Conselho Federal de Medicina. Integrou, ainda, o Conselho Editorial da Revista Bioética, do Conselho Federal de Medicina. Em reconhecimento a sua carreira profissional, presidiu o 22º Congresso Nacional de Anestesiologia.
Casado com Simone Campos Guanais, pai de Frederico, Juliana e Oliveiros, e avô de Enrico e Fátima.

sábado, 20 de novembro de 2010

TAV, um equívoco federal

Osvaldo Campos Magalhães*
A publicação no dia 5 de novembro da Medida Provisória nº 511, concedendo garantias do Tesouro Nacional ao BNDES para o financiamento do projeto do Trem Bala ligando Campinas ao Rio de Janeiro no valor de R$ 20 bilhões, a juros subsidiados, sem qualquer seguro ou contra garantia do concessionário demonstra que o projeto é realmente de alta velocidade. Criando um fato consumado em final de mandato, sem a necessária participação da sociedade através das comissões temáticas do Congresso Nacional, o governo persiste numa prática pouco transparente beneficiando um projeto bastante questionado por especialistas e técnicos do setor de transportes. Afinal, qual a necessidade da União subsidiar um serviço de transporte de passageiros entre as duas maiores regiões metropolitanas no país? Enquanto isto, graves questões na infra-estrutura ferroviária do Brasil persistem sem qualquer iniciativa do governo federal para equacioná-las. As restrições existentes nos acessos ferroviários dos principais portos públicos do país, a implantação do ferroanel em São Paulo, do contorno ferroviário do Paraguaçu, entre Cachoeira e São Félix e a solução para as centenas de passagens de nível urbanas do país continuam a aguardar ações efetivas do governo federal. Enquanto isto, na opinião de diversos especialistas em transportes públicos, a grande questão a merecer investimentos e subsídios da União, diz respeito à mobilidade urbana nos grandes centros urbanos do país, que, devido à falta de planejamento e de investimentos em infra-estrutura de transporte de massa, vem trazendo grandes prejuízos à economia, com os grandes congestionamentos nas vias públicas, provocados pelo número cada vez maior de automóveis licenciados a cada ano nos maiores centros urbanos do país.
Lembremos que projetos de Trens de Alta Velocidade implantados em outros países enfrentam grandes dificuldades para se viabilizarem economicamente, e tiveram que receber grandes subsídios públicos, sendo exemplos o TAV de Taiwan e o Eurostar ligando Paris a Londres Como bem demonstrou o especialista do Senado e PHD em economia pela USP, Marcos Mendes em seu trabalho “Trem de Alta Velocidade, caso típico de problema de gestão de investimentos”
http://www.senado.gov.br/senado/conleg/textos_discussao.htm), o projeto do Trem de Alta Velocidade brasileiro contém vários pontos problemáticos: custos orçados abaixo da média internacional, demanda estimada excessivamente otimista, tarifa cara, inexistência de avaliação de projetos alternativos de menor custo e, principalmente, alta probabilidade de criação de um esqueleto financeiro de mais de R$ 30 bilhões. O mais preocupante é que o TAV será licitado sem que se tenha um projeto de engenharia concluído. Na avaliação final, o estudo do Senado Federal conclui que: ”O processo decisório parece estar fortemente influenciado por motivação política, com alto risco de se criar um empreendimento too big to fail que acabará transferindo custos financeiros para o erário, e que por seu alto montante pesará sobre os ombros das próximas gerações.” Tudo isso para oferecer um serviço que hoje é prestado com bastante eficiência por empresas de transporte aéreo que operam com baixos custos, num ambiente fortemente competitivo. Destaque-se que diferentemente de outros países que adotaram o trem bala, o serviço irá competir com um sistema de transporte aéreo privado, que opera em dois aeroportos centrais, recentemente modernizados e ampliados, Congonhas e Santo Dummont, e, que está ganhando a competição com o sistema de transporte rodoviário, hoje prestado com eficiência por diversas empresas de ônibus. Se existe qualquer problema no modal aeroviário, deve-se exclusivamente à ação do governo federal, que, loteando politicamente a INFRAERO, vem retardando investimentos necessários ao setor. Para que gastar bilhões oferecendo um serviço caro, beneficiando aqueles que podem pagar pela alta tarifa? Não seria muito mais lógico direcionar estes recursos para a ampliação da rede de metrôs nas grandes capitais?
* Editor deste blog, é Especialista em infra-estrutura da FIESP. Engenheiro Civil e Mestre em Administração(UFBa)

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Meu pai subiu no telhado

Quando eu nasci, já recebi a cruz,
plantada no caminho á minha espera,
a projetar a sua sombra austera
onde eu busquei sedento paz e luz
Quando eu nasci, já recebi Jesus
como anúncio de dor e primavera.
Mas era uma outra luz; uma outra esfera —
meu caminho, não sei onde conduz.
Resta-me a cruz e a dura provação
dos espinhos da vida, triste dança
de enganos, dissabores, ilusão.
que penetram-me o peito feito lança
e afastam a luz que a vista não alcança —
numa só chaga pulsa o coração.
Ildásio Tavares Jr.*
Meu pai subiu no telhado. Sim, isso é uma paródia da famosa piada de português, povo que ele amava e que publicou seu último livro em vida. E parodio a piada porque a coisa que meu pai mais gostava no mundo era fazer piada e sei que ele riria muito (deve estar rindo, talvez) de um artigo sobre seu falecimento iniciado assim.
Meu pai subiu num telhado, mas num telhado bem alto de um palácio, de um zigurate, de uma sinagoga, de um barracão. Ele subiu em todos esses telhados e tantos outros da vasta cultura de um homem especial, talvez o único próximo a mim cujo título de gênio coubesse como a nenhum outro.
Ildásio Tavares nunca esteve nos holofotes como alguns de sua geração. Mas iluminou a cultura brasileira. Se eu fosse desfilar o currículo de meu pai, precisaria escrever uns dez artigos. Livros, jornais, revistas, TV e google dão conta do recado. Entrementes, falar um pouco do quanto meu pai iluminou minha vida talvez seja uma metonímia do homem que ele tentou ser e em muitos momentos foi pro mundo.
Desde pequeno, bastava eu aparecer entusiasmado com alguma música, algum escritor, que ele logo me mostrava os defeitos. Foi um crítico feroz de todas as obras, a começar pela minha e, principalmente, pela dele. Como todo grande intelectual, via os defeitos e rachaduras, as falhas e fraquezas que o senso comum aplaudia e ignorava. E sofreu muito por isso. A grandeza oprime e a verdade dói. E era um grande que defendia verdades. Nem sempre as verdades, mas as suas verdades, e era muito íntegro com elas.
Dificilmente temos o que merecemos. Muitos são louvados em demasia, outros sofrem pela escassez de reconhecimento. Mas meu pai foi um lutador e um vencedor porque, a despeito da mediocridade opressora que tentava lhe anular, ele conseguiu galgar degraus que, se não o levaram ao merecido altar de gênio que era, ao menos lhe trouxeram momentos de alegria, como ao desfilar homenageado pela Nenê da Vila Matilde, em São Paulo, ou na comemoração de seus 70 anos, com momentos lindos como o de Gerônimo e Vevé cantando É d’Oxum em francês, na versão dele, ou o belo discurso de Jorge Portugal na entrega da Medalha Zumbi dos Palmares, etc, etc...
Tive o prazer de cochilar a manhã inteira no colégio depois de virar a noite vendo meu pai compor com Baden Powell. Tive a honra de, já exaurido, ter um poema em redondilha todo refeito ao lado dele quando eu tinha 7 anos de idade. Aprendi a fazer poesia, a reconhecer a beleza de muita coisa no mundo graças a meu pai. E o que levamos da vida é a beleza das coisas, a poesia dos momentos, das palavras, das cores e melodias.
Meu pai subiu num telhado, mas diferentemente da piada, ele não morreu. Ele está ali, em cima do telhado, olhando pra mim e pro mundo com olhos críticos. Eu sei que ele está lá olhando e pensando o quanto o mundo perdeu ao não reconhecer sua poesia e seu pensamento, e, nós poucos, de cá, pensando o quanto parte do mundo e eu ganhamos ao reconhecer sua poesia e seu pensamento.
Alguns poucos olharão pro telhado, em busca de meu pai. Ele vai estar lá, como todo mestre. Pois um mestre só se torna mestre mesmo quando o que ele pode oferecer deixa de ser ele e passa a ser a gente. E meu pai está mais em mim do que em qualquer outro momento esteve.
Agora é o momento de começar a aprender quem eu sou. Aos poucos, por toda vida. Tentando buscar em mim a poesia e sabedoria do pai e do mestre. A tristeza aparece no momento em que não olhamos as coisas belas.
E não tem nada mais lindo, agora, do que ver meu pai de cima do telhado, olhando pra mim e torcendo pra eu seja um grande homem. Para que eu não deixe que a pobreza do mundo invada nossa alma.
Foi isso que ele me ensinou. E será isso que eu tentarei fazer minha vida inteira, porque agora a responsabilidade aumentou; meu pai subiu no telhado e estará de lá, olhando pra mim, e dizendo; “agora é com você. Já fiz minha parte e fiz muito bem”.
*Dramaturgo e ator
Ildásio Marques Tavares (Ubaitaba-BA, 25/01/1940 - Salvador 31/10/2010) Além de poeta e compositor, tendo mais de 40 músicas gravadas por Vinícius de Moraes, Maria Bethânia, Alcione, Toquinho, Nelson Gonçalves e Maria Creuza, Ildásio Tavares também era professor da Universidade Federal da Bahia (UFBA).Ele nasceu na atual cidade de Gongoji, região do cacau da Bahia. Em Salvador, formou-se em Direito e em Letras na UFBA, tendo feito o Mestrado na Southern Illinois University, doutorado na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) com pós-doutorado na Universidade de Lisboa. Durante muito tempo, Ildásio Tavares foi tradutor e professor de inglês, da qual surgiu o seu livro "A Arte de Traduzir".Ildásio Tavares deixa seis filhos e uma vasta obra literária que começou a ser publicada em 1968, com o livro "Somente um Canto".

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Cidade pede um novo urbanismo

Milton Santos*
Artigo publicado originalmente quando da comemoração dos 450 anos da fundação da cidade de Salvador, em A TARDE. A lucidez dos argumentos, a lógica das conclusões e a cadência de sua escrita, como sempre, chamaram para esse texto merecidos destaque e atenção. Reconhecendo a atualidade e importância de suas colocações, decidimos republicar o artigo prestando uma justa homenagem a esse pensador ímpar.

Salvador nasce como uma planta transplantada, para afirmar, em terra americana, a presença portuguesa e servir como base transatlântica ao projeto de mundialização capitalista. Em sua origem deram-lhe um modelo, trazido da corte, mas a mistura, aqui, de raças, línguas e culturas e a adaptação a um meio natural opulento produziram uma associação inesperada, um hibrismo inédito na História, que iria nortear a sua evolução e marcar, para sempre, a personalidade do lugar. Salvador cresceu como península - mar e continente confundidos -, misturando os apelos do mundo e o chamado da terra e assim podendo renovar, século após século, sua aventura original.
Na vida da cidade há momentos decisivos. Para a minha geração, esse momento pode ser estabelecido nos anos imediatos à Segunda Guerra Mundial, nos quais coincidem mudanças fundamentais no panorama internacional, na vida brasileira, na economia do estado e na cidade.
Tratava-se menos de um divisor de águas e mais de uma fase de transição, que iria se estender por um quarto do século, até que se inaugure uma nova fase de crescimento. Foi uma época de abertura explosiva, um período de grande ebulição e de progresso, tanto na vida material, quanto na atividade intelectual. Desenvolve-se, no estado, a agricultura, melhoram os transportes e as comunicações, explora-se o petróleo, assentam-se, com o planejamento, as bases para a industrialização e, quanto à expansão da informação e do consumo, crescem as cidades e a vida de relações.
CRESCIMENTO – Então Salvador se prepara para abandonar seu papel secular de capital incompleta e displicente e passa a vigiar e melhor comandar seu território, dele recebendo contingentes que, em 25 anos, fazem triplicar sua população (menos de 350 mil em meados da década de 40, cerca de 1.150 mil em 1970). A cidade diversifica a sua atividade, produz um novo arranjo de profissões e classes sociais e parte à conquista do seu espaço, criando novos bairros e deixando explodir outros, onde, nas famosas “invasões”, instala-se uma população dinâmica, mas pobre. O velho centro, ao mesmo tempo, moderniza-se e se degrada - sobretudo na Cidade Baixa - e se espalha sobre bairros residenciais tradicionais, mas já não é suficiente para abrigar o comércio e os serviços, que vão criar em outros lugares (primeiro na Liberdade, na Calçada, na Barra) novos pólos de atividade.
A cidade invade uma série de sítios que ela aproveitara ou fabricara em quatro séculos, urbaniza a sua franja litorânea, mas deixa intactos inúmeros vazios.
SER ORIGINAL – Terminada essa fase, Salvador decide ser, logo após Brasília, a segunda cidade mais moderna do Brasil. Mas decreta, também, que deveria produzir sua modernidade de modo original. Para ser como Aracaju, Goiânia ou Belo Horizonte teria que mudar de lugar. Essa idéia não foi aceita. Também não adotou a solução de São Paulo, que substituiu as velhas pedras por novas construções, mas no mesmo sítio, como se a novidade se envergonhasse do passado. Salvador simplesmente se valeu dos vazios especulativos deixados pela história e preferiu dar as costas ao centro velho - que era, praticamente, toda a cidade histórica - e edificar outro todo novo, para a administração, e ainda outro, próximo do primeiro e igualmente novo, destinado aos negócios.
BAIRROS – A originalidade não ficou aí. Foi decidido estabelecer, estrategicamente zonas industriais, à distância da velha urbis, mas planificar bairros residenciais correspondentes. Foi a primeira vez que uma metrópole se tornou cidade-dormitório do seu subúrbio industrial. Uma atividade fabril de elite era concentrada, enquanto os trabalhadores foram espalhados na cidade grande. Assim, através da ocupação dos municípios vizinhos, a região metropolitana era segmentada, enquanto Salvador era puxada para suas extremidades. Criam-se novos vazios, ainda mais valiosos. Como, porém, a cidade não deixava de receber e de fabricar novos pobres, terrenos desocupados acolheram, no chamado “miolo”, centenas de milhares de moradores.
Agora, a cidade se instala em todos os seus sítios: os litorais, os vales, as encostas, os alagados, os morros, as chácaras, arrabaldes e subúrbios, transformando cada pedaço de chão em dinheiro. Salvador se adensa e verticaliza, ao mesmo tempo em que, metrópole nacional, fortalece suas relações externas, incluído o desenvolvimento do turismo nacional e internacional. Foram necessários 50 anos para que a demografia pudesse dobrar, entre 1900 e 1950. Entre 1950 e 1999, a população urbana quase quintuplica, passando de 650 mil para cerca de 3 milhões de habitantes.
CONTRASTES – A cidade de hoje paga um pesado tributo à forma em que cresceu, em busca da modernização. Cega pela ambição de progresso material, devotou as energias disponíveis ao seu planejamento, deixando, porém, quase tudo o mais à espontaneidade. Daí a agudização dos seus contrastes seculares, opondo uma Salvador imponente e limpa, vista e admirada pelos que passam, domesticada em nome da modernidade, habitada pelas atividades e camadas favorecidas e pelas novas classes médias, e outra Salvador, dita irregular, carente de serviços, onde se acotovela a maioria, isto é, os mais pobres. A cidade não apenas acolhe os pobres de sua região, mas, produzindo e agravando a separação, ela também, pelo seu próprio funcionamento, cria pobres.
A realidade é pungente, mas será essa uma problemática insolúvel? Não mais estamos à época da celebração do quarto centenário da fundação de Salvador, em 1949, quando, diante das promessas de riqueza e da permanência do atraso, as elites mostravam sua perplexidade, falando de um “enigma baiano”. Já não é mais difícil localizar os problemas, enumerar suas causas e diagnosticar os remédios. Já sabemos como se formaram, evoluindo juntas, ainda que se dando as costas, essas cidades todas justapostas, contidas em Salvador. Urge, agora, quando festejamos seus 450 anos (nota do editor: época da publicação original desse artigo, em 1999), encontrar as forças para pensar, de modo unitário, um novo planejamento, talvez menos urbanístico e mais urbano; e certamente mais social e mais humano.
*Milton Santos nasceu em Brotas de Macaúbas, no interior da Bahia, em 1926. Morreu em junho de 2001, aos 75 anos, depois de uma vida ligada a Salvador. Formado em direito em 1948 (Ufba), escreveu livros (cerca de 40) reconhecidos por geógrafos em todo o mundo. Foi preso em 1964 e exilado, passando a ensinar na França, Estados Unidos, Canadá, Peru, Venezuela e Tânzania, antes de retornar ao Brasil. Foi, por muitos anos, editorialista de A TARDE.

O mal da floresta urbana

Foto: Nilton Souza
Anilton Santos*
No início do século XX, um visionário inglês, Ebenezer Howard, declarou que cidades mal planejadas e ineficientes talvez não deveriam ter lugar num futuro mais humano. Le Corbusier, arquiteto francês, também repudiou tais cidades afirmando que elas gastam nossos corpos e frustram nossas almas. O 3º milênio se instaura com intensificação da exclusão social urbana, fome generalizada nos países pobres, comprometimento ambiental, escassez de recursos naturais etc., que tornam nebuloso o futuro da humanidade. No cenário atual, a maioria das cidades tem características que frustram nossos desejos de habitá-las confortavelmente e se desenvolve num sentido sombrio para as gerações do futuro.
Salvador já ultrapassa os 3 milhões de habitantes e recentemente decola num "boom" imobiliário, notadamente na Paralela, que tem tudo para nos inquietar quanto a um futuro sombrio, tal como o previsto pelos pensadores do início do século XX, embora nem sempre os pensadores acertem suas previsões, ou como disse Karl Marx: quando o bonde da vida faz uma curva, os pensadores caem para o lado. Todavia, temos de reconhecer que os pensadores são luzes piscando quando o túnel da vida obscurece.
A propósito desta inquietação quanto à perspectiva de um futuro sombrio de Salvador, o professor Pedrão, em seu artigo - a urbanização voraz da cidade -, e o arquiteto L. Muller em opinião neste jornal alertam sobre essa preocupação, instigando o debate sobre o futuro face os desafios mais preocupantes dessa nova ordem urbana.
O amplo projeto de mobilidade urbana que prevê a implantação de 135km de corredores exclusivos de ônibus. Um projeto dessa natureza modifica radicalmente a face de Salvador, tornando primordial o debate público de uma intervenção que muda a vida da cidade.
Os projetos de requalificação da orla e da Cidade Baixa que também alterarão o padrão de ocupação nesses espaços sem que haja uma definição quanto às consequências sociais da valorização de tais setores urbanos.
A reconstrução da Fonte Nova que mudará o uso e a ocupação do solo no seu entorno.
Trata-se de um conjunto de ações planejadas, que reestrutura toda a ocupação do solo, evidenciando a constituição de uma nova geopolítica dos conflitos socioespaciais urbanos, e no seu rastro, o capital imobiliário a tirar as vantagens locacionais da valorização do espaço público. O momento é propício para se recorrer ao Estatuto das Cidades e exigir a elaboração de um novo Plano Diretor que leve em conta esses eventos.
O fenômeno em gestação tende a reproduzir uma nova Salvador com os pobres cada vez mais longe. Isso já repercute em Lauro de Freitas, com 160 mil habitantes em apenas 60km², a mais alta densidade municipal em todo o Estado, dos quais algo em torno de 100 mil só no bairro de Itinga, que abriga o transbordamento da pobreza de Salvador.
Assistimos à formação desse cenário, que transforma o futuro de Salvador diante da ausência de planejamento regional e de uma manifestação vigorosa dos conselhos de classes, sindicatos profissionais, entidades ambientais e não governamentais etc., alertando a sociedade e os gestores urbanos.
Imagino que o silêncio nessa selva urbana possa estar relacionado à influência dos partidos, antes fora do poder e que hoje estão comprometidos de alguma forma com a estrutura de poder, influentes nessas entidades. Entretanto, cultivo a esperança que um dia o barulho das criaturas da escuridão irá despertar o silêncio dos verdadeiros senhores da floresta - seus habitantes e instituições independentes.
Afinal, de quem é o mal da floresta urbana? Do voraz tigre imobiliário? Do frágil canto dos pássaros ambientais que não ecoa na floresta? Do leão gestor florestal que ignora seu papel orientador? Da cobra financeira que num ziguezague de tudo tira vantagem? O mal dessa floresta não é só da ação voraz do tigre imobiliário ou do frágil canto dos pássaros ambientais; nem tão-somente do leão gestor ou da cobra financeira sempre faminta. O mal da floresta urbana é de todos nós. A floresta urbana atual é resultante das ações de gerações do passado, da mesma forma que a floresta do futuro resultará das ações de gerações do presente.
* Arquiteto e Urbanista

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Metrópoles e Cibernética

Lourenço Mueller*
Num sistema econômico excludente ampliando progressivamente os índices de pobreza, convive-se hoje com um fenômeno típico da pós-modernidade, a chamada era digital, causado pela emergência das novas tecnologias da informação e comunicação (TIC), que excluem mais as pessoas, seja pela pobreza, seja pela resistência à mudança na aceitação dessa nova ordem e no aprendizado de procedimentos que permitam o acesso e contato a ambientes virtuais de conhecimento, ao ciberespaço.
As TIC permitem uma gama diferenciada de aplicações ao urbanismo e destaco duas: a reconquista do espaço urbano ‘perdido’ pelo habitante somada à inclusão digital das populações metropolitanas. Na verdade, a mudança produzida por essas novas práticas implica em mudança na própria natureza do espaço, que não é mais apenas físico, mas virtual, cibernético: um ciberespaço. A socialização do conhecimento pode ser feita em comunidades que podem ser cooptadas também “virtualmente”.
Victor Hugo e Henri Lefebvre, em distintas épocas, também pensaram a cidade como um texto. Seria uma questão dimensional? Se a cidade é um texto, a metrópole pode ser um hipertexto, que, em informática é um protocolo de recuperação de dados via computador que permite aos usuários fazer ligações entre informações através de uma variedade de vias e conexões. Os usuários podem organizar aleatoriamente a informação de um modo que esteja de acordo com as suas próprias necessidades. Se cada cidade já é ou está sendo transformada num banco de dados e sua acessibilidade feita através de um site de busca próprio, é lícito supor-se que quase tudo que é real possa ser feito ao nível digital.
A partir das TIC pode-se mapear e armazenar o conhecimento disseminado em bairros e outros assentamentos dispersos na região, utilizando história oral e outros registros narrativos, iconográficos, uma herança que não deixa marcas e permanece inédita no limbo de uma ecologia cognitiva desconhecida, mas geradora de uma cultura local pertinente e imaginária, cuja referência dota os habitantes de uma identidade que valeria a pena ser reconhecida, armazenada, datada, disseminada e discutida, como é o caso das festas de largo ou algumas práticas do cotidiano que estão a desaparecer.
Qualquer comunidade pode-se colocar diante de telão conectado à Internet e mediado por internautas inteligentes, treinados para a comunicação coletiva e a dinâmica de grupos. Criam-se ambientes e esses mediadores de rede mobilizam pessoas para investigarem juntos os assuntos de seu interesse ao mesmo tempo em que socializam esses assuntos entre os participantes. O deslumbramento de ‘navegar’ coletivamente pode superar todas as restrições, socializando as vantagens auferidas pelos poucos que têm acesso à rede apenas em suas máquinas solitárias.
Na diversidade das cidades está o gérmen de sua própria regeneração. Salvador pode ser considerada uma cidade decadente em muitos aspectos, mas é uma cidade viva, de extrema diversidade cultural, e possui a centelha de que fala Peter Hall, para reacender o seu fogo morto. A lógica do ciberespaço constitui-se num desafio que deve ser aceito pelos urbanistas.
Ermínia Maricato identifica o urbanismo se preparando para enfrentar novos paradigmas e pergunta se esses novos tempos vão repetir o processo de submissão à dominação econômica, política e ideológica inspirada em modelos de além-mar ou se esta nova matriz vai ser gerada pela práxis urbana.
Há 60 anos um grupo de intelectuais criou um movimento que é uma proposta de cidade que se autoproduz a partir dos seus habitantes, vivenciando a valorização do lúdico. A animação do espaço urbano impregnava esse movimento, conhecido como ‘situacionismo’, que inseria a arte nas cidades. Hoje, essa ‘construção de situações’ poderia se configurar em programas de computação capazes de gerar ciber-ambientes, espaços apropriados à vivência digital e real.
*Lourenço Mueller é arquiteto e urbanista

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Wally, A Fera Faiscante

Caricatura de WALY SALOMÃO criada por GENTIL
Minha admiração por Waly (Salomão (é imensa (...). Daí a felicidade em ver homenagens como a biblioteca de Ribeirão Preto e o centro cultural no Rio, realização do grupo Afro-Reggae. Mas e a Bahia? Existe alguma coisa feita aqui para Waly?
ANTONIO RISÉRIO*
Em 2004, andando por Ribeirão Preto, no interior de São Paulo, sob a fuligem de canaviais queimados, vi à distância uma construção de arquitetura inconfundível. Um prédio de João Filgueiras Lima, Lelé. Curioso, fui ver o que o prédio abrigava. E tive uma surpresa que me deixou especialmente alegre. Era a Biblioteca Waly Salomão. Uma homenagem de Ribeirão Preto ao inventivo poeta-guerreiro nascido em Jequié, na Bahia. É claro que Waly mereceu a homenagem.
Meses atrás, no jornal O Globo, vi que estavam na reta final as obras do Centro Cultural Waly Salomão, agora inaugurado, na favela de Vigário Geral, no Rio. E, mais uma vez, Waly merece a homenagem. Pelo que fez e por ser quem foi.
O poeta-escritor que nos deu a prosa de Me Segura Queu Vou Dar um Troço. O poeta-letrista que nos deixou canções como Mel, Cabeleira de Berenice e Vapor Barato.
O poeta-editor que trouxe à luz a revista Navilouca e Os Últimos Dias de Paupéria, reunindo escritos de Torquato Neto.
O poeta-produtor cultural que, com Antonio Cícero, organizou os debates do Banco Nacional de Ideias, trazendo ao Brasil personalidades intelectuais como Horty, Gellner e Todorov, com o qual tive o prazer de debater em São Paulo sobre diversidade cultural.
O poeta-executivo, administrador público, que coordenou aqueles que talvez tenham sido os últimos carnavais baianos culturalmente relevantes.
O poeta-artista visual que nos brindou com a série colorida dos Babilaques.
O poeta que queria ultrapassar barras e bordas, não ser “si-mesmo”, mas tudo que fosse ou significasse um outro. O poeta que sabia e dizia que a memória não passa de uma ilha de edição.
Ao apresentar um livro seu, Armarinho de Miudezas (publicado por Myriam Fraga e Claudius Portugal, em importante coleção editorial da Fundação Casa de Jorge Amado) – cuja lembrança sempre me traz à mente o texto “Bahia Turva”, porrada na pasmaceira da província –, tentei fazer uma síntese de como eu o via, chamando-o “a fera faiscante” (àkàtà yeriyeri, nos orikis iorubanos), em referência ao orixá Xangô, dono de sua cabeça.
Curiosamente, aliás, Xangô é o orixá da retórica, do discurso, da eloquência. O senhor do axé na palavra. E, nesse sentido, Waly, que tinha uma capacidade oral extraordinária, era mesmo uma encarnação total da figura do filho de Xangô. Tinha o dom do improviso, da língua afiada, da frase desconcertante, do achado irônico-humorístico que levava todos às gargalhadas.
Naquela apresentação, entre outras coisas, escrevi: “Não há lugar aqui para o temor, a prudência, a reverência paroquial. Pensamento agudo, voz de trovão, o baianárabe Waly (de walid) é um happening ambulante. Um farsante declarado e colorido num ambiente cultural infestado de beletristas seriosos e cinzentos. Inimigo público número um do meio termo, da mesmice gustativa, Waly é uma verdadeira montanha russa de grossura e de finesse, indo das baixarias de botequim à suprema limpeza do construtivismo de Maliévitch. Sua figura é a hipérbole. O leitor de Rimbaud e Nietzsche circulando pelo morro do Estácio, da Mangueira, ou em meio aos tambores sagrados do candomblé. Curiosidade ibnkhalduniana. Estrada do excesso. Um homem livre como as formas de Arp”.
Minha admiração por Waly é imensa. Dos tempos de minha juventude, quando o conheci chez Caetano Veloso, aos dias em que trabalhamos juntos, com ele na direção do Instituto Nacional do Livro, em Brasília. Waly animava e alegrava nossas vidas na cidade de Lúcio Costa.
Daí a minha felicidade em ver obras-homenagens como a biblioteca de Ribeirão e o centro cultural no Rio, realização do grupo Afro-Reggae.
Mas e a Bahia? Existe alguma coisa feita aqui para Waly? Algum projeto, ao menos? Que eu saiba, não. Waly, na linha de um Gregório de Mattos, dizia, num texto publicado no jornal Folha de S. Paulo, que a verdadeira padroeira de Salvador era “Nossa Senhora do Empata Foda”. Tudo aqui emperra, não anda, não acontece. Acho até que ele deve estar aí em alguma fila, aguardando que antes a Bahia faça uma Casa Dorival Caymmi.
*Antonio Risério, é antropólogo, poeta e escritor

domingo, 10 de outubro de 2010

A sexta campanha presidencial de LULA

Pedro Malan*
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disputou cinco eleições presidenciais. Na primeira (1989), disputou palmo a palmo com Leonel Brizola o direito de ir para o segundo turno com Fernando Collor. Cerca de uma década e meia depois, já presidente, Lula agradeceu publicamente a Deus por não ter ganho aquela eleição. Porque, reconheceu, não estava preparado para isso.
Na segunda e na terceira tentativas (1994 e 1998), Lula perdeu no primeiro turno para Fernando Henrique Cardoso. Quem sabe um dia, talvez, Lula reconheça que, em ambas as ocasiões, também não estava preparado para governar o País - nem seu partido tinha quadros para tal. Afinal, em 1994 os principais economistas de seu partido lhe asseguraram que o Plano Real era apenas uma tentativa de estelionato eleitoral, que não duraria mais que alguns meses. Em 1998, Lula e o PT não conseguiram convencer o eleitorado de que tinham alguma ideia coerente sobre o que fazer para enfrentar a crise internacional de 1997-1998 e seus efeitos sobre o País.
Na quarta disputa (2002), Lula apareceu totalmente repaginado por uma competente marquetagem política: o irritado líder sindical foi substituído por um novo personagem, com visual, gestos e postura mais tranquilizadores para a classe média e um discurso na linha do "paz e amor". Mas a herança que o PT havia construído para si mesmo na área econômica - a oposição ao Real, ao Proer, à Lei de Responsabilidade Fiscal, bem como seu irresponsável empenho pelo plebiscito (de 2000!) propondo a suspensão dos pagamentos das dívidas externa e interna - levou à necessidade de uma gradual desconstrução dessa herança, iniciada ainda em 2002. Mas houve segundo turno.
A quinta disputa, em 2006, já se deu num contexto internacional e doméstico que, do ponto de vista econômico e social, favorecia enormemente o governo, apesar dos escândalos políticos que marcaram o período e que contribuíram para que Lula, que esperava ganhar no primeiro turno, tivesse, outra vez, de disputar um segundo turno.
O ano de 2010 representa, em mais de um sentido, e na visão de legiões de eleitores, uma espécie de sexta campanha presidencial com Lula na disputa, ainda que agora por meio de interposta pessoa. Foi exclusivamente de Lula a escolha da candidatura oficial. Foi de Lula a decisão de transformar esta eleição num tipo de plebiscito a favor ou contra o seu nome. É de Lula a clara definição da estratégia geral de seu governo, expressa na litania oficial sobre as heranças malditas pré-2003 e no "nunca antes jamais" pós-2003 - que viraram parte do nosso folclore político.
Não adianta vozes sensatas do PT escreverem que "os ganhos obtidos pelo Brasil a partir de 2003 se assentaram sobre avanços e resultados realizados em governos anteriores (...). Fazer tabula rasa destas contribuições seria atentar contra a própria história do País" (Antônio Palocci). Ou: "Não tenho dúvidas de que o Brasil evoluiu positivamente ao longo dos últimos 15 anos" (Paulo Bernardo).
O fato é que essa não é a visão do presidente Lula. Tampouco a de sua candidata, que em entrevista recente nas páginas amarelas da revista Veja respondeu com um categórico "discordo" a uma pergunta exatamente sobre esse tema. E vai em frente, com a ladainha da "herança maldita" e do "nunca antes" - de 2003, este suposto marco zero de uma idealizada nova era.
É forçoso reconhecer que essa esperteza retórica (para a qual faltou oposição política à altura), a persistência de Lula (em média, um discurso por dia útil) e, particularmente, seu gradual aprendizado no governo - e seus recursos - lhe renderam muitos frutos e elevada popularidade. Mas o "imbatível carisma", o "inigualável tirocínio" e a "genialidade política sem par", aos quais legiões hoje tecem loas, não permitiram a Lula ganhar as eleições de 1989, 1994 e 1998 e evitar um segundo turno em 2002 e 2006. O que mudou mais: o homem ou as circunstâncias? A resposta é: ambos.
É claro que as circunstâncias mudaram: além de uma herança não maldita e de uma política macroeconômica não petista (até 2006), nunca será demais repetir - já que este governo decidiu simplesmente ignorar fatos que não lhe convêm (e se apropriar indevidamente de outros quando lhe convêm) - que a economia internacional teve desempenho excepcional no quinquênio 2003-2007. O que contribuiu para a crise que se lhe seguiu, e para a qual estávamos mais bem preparados, porque nos beneficiamos das realizações até ali alcançadas, inclusive por este governo.
É claro que Lula mudou, e está mudando de novo nesta reta final da campanha, que vê como tão sua quanto de sua candidata, não hesitando em assumir agressivamente a linha de frente da campanha, como no recente "pronunciamento à Nação", em meio a um programa no horário eleitoral de seu partido.
O grave não é apenas o achincalhe à Justiça Eleitoral, a perda do "senso de medida" e a noção de que a popularidade lhe permite dizer qualquer barbaridade, como, por exemplo, "a elite brasileira não sabia o que era capitalismo: foi necessário um metalúrgico entrar na Presidência para ensinar como se faz capitalismo" ou "a elite tenta dar golpe a cada 24 horas neste país", referindo-se aos grandes jornais de circulação diária.
Tão grave quanto é o fato de que a crise internacional de 2007-2009, e a necessária resposta dos governos dos países desenvolvidos, foi vista entre nós como configurando não algo temporário e "contracíclico", mas como uma permanente mudança de paradigma, no sentido de demonstrar a necessidade de um papel de muito maior liderança do governo - e de suas empresas, financeiras e não financeiras (existentes e por criar), no processo de desenvolvimento econômico do País. Ainda é forte entre nós a ideia de que dois mais dois podem ser cinco - desde que haja vontade política.
*Economista, foi Presidente do Banco Central e Ministro da Fazenda

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Um Arquiteto Myth-Buster

Lucas Portela*
Ele implode mitos, e constrói espaços.
Fui a apresentação do plano de reforma do Mercado de São Miguel, na Baixa dos Sapateiros, apresentado por João Filgueiras da Gama Lima, Lelé – talvez o maior arquiteto vivo do planeta (segundo este que vos batuca, mas Oscar Niemeyer concorda comigo).
O que dizer: plano inteligente, exuberante, e factível. E, principalmente, demole alguns mitos fundamentais sobre a mobilidade urbana de Salvador.
Senão vejamos:
1) Em Salvador tudo é longe – Falso! Como Lelé lembra desde os anos 1980, quando criou suas belas passarelas típicas da Capital Barroca, cá na Reconvexa as coisas estão mais perto do que parecem. Por exemplo, entre o Desterro, em Nazaré, e o Terreiro de Jesus, no Pelourinho, há apenas 500m de distância. Contudo, para ir de um ponto ao outro, percorremos quase 4km. Por que? Porque há o vale da Barroquinha no meio do caminho.
Com isso, Lelé nos anuncia uma dádiva: a construção de uma passarela (possivelmente com esteiras rolantes), ligando o Desterro a Rua das Laranjeiras por cima da Avenida José Joaquim Seabra. E mais: pela primeira vez em quarenta anos, finalmente se construirá um elevador urbano em Salvador – ligando a Baixa dos Sapateiros ao Alto de Nazaré. Será o único elevador urbano público que não é de frente pro mar, mas nas costas da Cidade Velha. E será, claro, panorâmico – porque as vistas urbanas de Salvador, desde as barrocas às modernistas (o Vale do Canela) são tão belas quanto a vista (também ela artificialmente construída) da Baía de Todos os Santos.
2) Salvador não dá pra usar bicicleta – Falso também! Segundo o Gabinete de Gestão do Centro Antigo (
recentemente premiado pela Caixa Econômica Federal como uma das melhores iniciativas públicas do país, e vai concorrer a prêmio semelhante pela ONU em Dubai), o fluxo cicloviário contado entre a Barroquinha e os Dois Leões é maior do que de outras áreas centrais de capitais brasileiras. Maior que o da Lapa carioca, e o Rio de Janeiro tem uma infraestrutura cicloviária parisiense (a de Salvador, sabemos, é haitiana).
Então, porque se nega isso? É um misto de racismo (a população que pedala aqui é pobre e preta), especulação imobiliária, carrocentrismo galopante, e ausência de elevadores. As bikes em Salvador são,
como já dissemos aqui, perfeitas nos vales e nos topos. Entre um e outro é preciso haver elevadores, bondes, e ônibus – ou bicicletários nos sopés onde se as possa guardar e subir andando.
Que mais posso dizer? Que outro mito também se implodiu a si mesmo agora: aquele, criado pela TV Bahia, a Rede Globo local, carlista até os nucleotídeos, de que “O Pelourinho tá abandonaaaaaaaado!”.
Se abandono é ter um prédio cujo funcionamento vai se equiparar ao do Mercadão de São Paulo, com projeto de Lelé que inclui shades e jardins suspensos internos como os de TRE Bahia e do Tribunal de Contas do Estado – se abandono é isso, eu quero mais abandono!

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Adeus, Belo Monte

Osvaldo Campos Magalhães*
Qualquer que seja o resultado das eleições presidenciais, uma coisa é quase certa, projetos como Belo Monte e trem-bala devem ir para a “geladeira”.
Os expressivos 20 milhões de votos obtidos pela líder ambiental Marina Silva já estão alterando a agenda política e o programa de governo do potencial aliado, seja ele qual for.
Conforme anunciado, Serra já escalou o ex-presidente FHC, e Dilma, o governador Jaques Wagner, para uma aproximação com a candidata e o Partido Verde. Tudo leva a crer que o apoio explícito e engajado de Marina será decisivo no 2º turno.
A grande vitória política de Marina Silva foi a inclusão da questão ambiental e da sustentabilidade na agenda política nacional, e projetos como Belo Monte e trem-bala terão que ser repensados e até mesmo arquivados.
Os exemplos da Inglaterra e Alemanha comprovam o grande potencial econômico de parques eólicos no mar e no continente e deverão, ao lado da geração solar, que tem EUA e Austrália como paradigmas, substituir os megaprojetos que só beneficiam as grandes empreiteiras e agridem o meio ambiente.
Pena que Marina e o PV ainda não entenderam o sentido das mensagens emitidas por Sir James Lovelock, um dos maiores cientistas ambientais vivos, que, nos livros Gaia Cura para um Planeta Doente e A Vingança de Gaia, demonstra as vantagens da energia nuclear, que, segundo Lovelock, se constitui atualmente na única alternativa dos seres humanos para evitar o aquecimento global causado pela emissão de CO².
De qualquer modo, enquanto os Verdes brasileiros não assimilarem esta nova realidade da geração de energia a partir de usinas termelétricas movidas a urânio enriquecido, ao menos teremos agora maiores incentivos para uma política nacional de incentivo à geração solar e eólica.
Este certamente será um fator que fará Marina sair da neutralidade política no 2º turno, seguindo os passos dos Verdes da Alemanha que, pragmaticamente, conseguiram nas últimas décadas introduzir nas políticas públicas do governo alemão a agenda da sustentabilidade.
* Editor deste blog, é Engenheiro e Mestre em Administração - Especialista em tecnologia e competitividade

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Não stopem, não stopem!!!

Gil Vicente Tavares*
Acabei de voltar do enterro de Haydil Linhares. Aos poucos, uma geração de personalidades da cena baiana vai de despedindo dessa vida. Jurema Penna, Nilda Spencer, Wilson Mello, Álvaro Guimarães, Maria Manuela, e mais alguns que eu possa ter me esquecido; todos provenientes de um momento de euforia no teatro baiano, com o surgimento da Escola de Teatro da UFBA, a dissidência do Teatro dos Novos, inauguração do Vila Velha, as grandes montagens de Martim Gonçalves, década de 50, 60...
Haydil foi dramaturga e atriz. Conseguiu, ao menos, em vida, ter suas peças publicadas pela editora P55 em parceria com uma iniciativa do Teatro Vila Velha; que detém um bom acervo de fotos e peças de Haydil e da nossa história, mas que por questões que não sei e não vem ao caso, agora – estrutura, grana, organização, falta de tempo – não podem ainda ser disponibilizadas.
Foi atriz de grandes espetáculos, de momentos marcantes da nossa história, e veio dela a frase que deu título a um espetáculo dirigido por João Augusto, que, segundo Glauber Rocha – na altura – foi mais tropicalista, entusiasmante e marcante até que O rei da vela, de Zé Celso; marco do teatro nacional. Em determinado momento, ia haver alguma invasão, confusão, não lembro bem, e de improviso Haydil entrou gritando “stopem, stopem”, subvertendo o inglês, pluralizando antropofagicamente a palavra.
Durante o enterro, fui vendo meus mestres, minhas referências, todos juntos, cabeças grisalhas, conversando, e aquilo foi me dando uma emoção diferente. Venho me dando conta que um dos grandes problemas do nosso teatro é que, ao invés de se passear pelos terrenos férteis da nossa história e fazer nascer dali frutos novos provenientes de raízes saudáveis, seguidamente sepulta-se o passado.
Qual não é meu entusiasmo ao percorrer a história do teatro em Salvador (não a Selvador a que sempre me refiro) e ir descobrindo cada vez mais coisa, mais nomes, mais montagens, mais feitos históricos. É bom se saber parte de uma tradição, construída por muitos que ainda estão aí, lutando pra serem reconhecidos, tendo que escrever projeto pra editais e leis que privilegiam um discurso pseudo-novo, mas que no fundo é mais velho que eles mesmos. E vi, ali, muita gente que parou, que desistiu, que de tanto levar porrada jogou a toalha.
Em 2005, dirigi O despertar da primavera, de Wedekind. Seis anos depois de formado, trabalhei com gente mais nova que eu. Até aquele momento, eu fazia questão de ser uma rêmora comendo os restos dos tubarões que estavam à minha frente. Trabalhei com os grandes atores de Salvador pra aprender com eles e amadurecer como diretor. Teatro se aprende vendo e fazendo, e, principalmente, vendo e fazendo com gente mais velha. Era essa a proposta de Martim Gonçalves, expulso pela província por querer profissionalizar o amadorismo confortável dos que preferem ganhar seu pouco e fazer qualquer coisa, a ter que enfrentar o mercado e uma profissionalização que traz, consigo, apuro técnico, escolhas certeiras, dedicação e seriedade.
Não há maior burrice do que renegar o velho e se auto-intitular “o novo”. O imperador da língua portuguesa, Antonio Vieira, dizia; “o novo é o velho revisitado”. Haydil se foi sem ser reconhecida pelas novas gerações que, aos poucos, vão desconhecendo cada vez mais de perto seus pares. Profissionais recentes, atuantes, são ignorados pelos alunos de teatro, as referências são cada vez mais pobres e limitadas.
A despeito das discussões sobre antes e agora (e recomendo dar uma lida nos meus artigos;
http://teatronu.blogspot.com/2010/07/memorias-de-um-teatro-desandado-i.html, http://teatronu.blogspot.com/2010/07/memorias-de-um-teatro-desandado-ii.html, http://teatronu.blogspot.com/2010/07/memorias-de-um-teatro-desandado-iii.html), pude aprender muito com esses todos que se foram e muitos que ficaram e estão num limbo por culpa própria, por culpa das circunstâncias, por culpa de gestões, de “grupos políticos”, seja lá porque culpa for.
Aos gestores, empresários, diretores, administradores, novos artistas, eu peço; stopem, stopem com o anulamento de pessoas que solidificaram nosso teatro. Precisamos aprender com nosso passado e é preciso viabilizar esse acesso, esse diálogo, estimular essa “velharada” a compartilhar seu conhecimento, seus erros e acertos, sua experiência.
Não posso dizer à “velharada”; stopem, stopem de morrer. Mas ao menos peço que não stopem, stopem de produzir, de dialogar. Eu, de minha parte, tenho muito, ainda, o que aprender com eles, com vocês. Como aprendi com Alvinho, Jurema, Nilda, Melão e Haydil; que devem estar fazendo um rebucetê em algum canto por aí, porque esse povo não valia nada.
E viva o Teatro.
* Dramaturgo, ator e musico

UFBA se despede de Vivaldo Costa Lima

Peter Fry*
O antropólogo Vivaldo da Costa Lima, Professor Emérito e docente aposentado da UFBA, um dos fundadores do Centro de Estudos Afro-Orientais (CEAO), um dos principais estudiosos da cultura africana na Bahia, ao lado do francês Pierre Verger, faleceu na madrugada de quarta-feira (22 de setembro), na Fundação Baiana de Cardiologia, onde estava internado. O sepultamento foi no Cemitério do Campo Santo.
Vivaldo foi também diretor do Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (IPAC), sendo um dos principais responsáveis pelas obras de recuperação do Pelourinho.
Nasceu em Feira de Santana, Bahia, no dia 10 de abril de 1925. Graduou-se em Odontologia, profissão que exerceu por pouco tempo, como resultado de sua paixão pelos estudos antropológicos.
Sofisticadamente erudito e conhecedor do pensamento antropológico de matriz europeia, compartilhou com George Agostinho da Silva a criação do Centro de Estudos Afro-Orientais da UFBA em 1959.
Cedo seguiu para a África, onde tornou-se Leitor de Estudos Brasileiros, na Universidade de Ibadan, na Nigéria e na Universidade de Gana. Em 1966, substituiu o professor Thales de Azevedo, na cadeira de Antropologia, na Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da UFBA.
Vivaldo não seria apenas o acadêmico, ele queria interferir na realidade e assim tornou-se fundador e Diretor da Fundação do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia, inicialmente voltada para a restauração e valorização do Pelourinho em Salvador.
Foi responsável por romper com a mentalidade de restauração do patrimônio urbano com exclusão social, criando no Pelourinho o que denominava uma “universidade do fazer”, aliando teoria e prática, envolvendo uma equipe multidisciplinar composta por arquitetos, educadores, restauradores, assim como antropólogos e médicos, entre outros profissionais.
Mais que um professor, Mestre de Gerações, pois, como repetia: ensinar, transmitir conhecimento era fundamental a sua vida. Suas aulas, palestras, conferências sempre foram conduzidas com rigorosa indisciplina.
Cada texto, cuidadosamente elaborado com se fosse para ser submetido a um periódico de primeira linha, tinha sua leitura intercalada por comentários e referências que aprofundavam cada frase, cada ideia, cada achado, impressionando a todos que o ouviam e prendendo a atenção de estudantes, colegas, leigos. Todos mimetizados por sua retórica e sempre perfeitamente colocados comentários, com pitadas de ironia e tempo perfeitamente calculado para aguçar a curiosidade intelectual dos que o ouviam.
Aulas memoráveis, em todos os sentidos, até no destempero das palavras e imprevisibilidade do curso que tomariam!…. Todas, contudo, críticas, instigantes, desafiadoras!…
Continuam a reverberar nos ouvidos e sentimentos dos que foram docemente desafiados e agredidos por suas ideias. Personalizava a relação com cada estudante, perguntava e comentava sobre suas genealogias, relações familiares, ascendentes e descendentes; ao encontrar seus amigos e ex-alunos a pergunta sobre a família, pais, irmãos, esposas, filhos era feita de maneira sempre esperada, mas, surpreendente.
Em 2005, quando completou 80 anos foi homenageado por seus discípulos com a realização de um evento que trouxe a Salvador vários de seus amigos e admiradores para falar sobre seu trabalho. Agradeceu a homenagem com a magistral e inesquecível conferência em que reconstruiu a história social da alimentação na Bahia com o Acarajé como parte da culinária afro-baiana.
Foi homenageado com título de Professor Emérito pela UFBA e recebeu a Medalha Roquette Pinto da ABA por sua destacada contribuição para o campo da Antropologia.
Avesso a finalizações, escreveu e re-escreveu muito, mas privou os que conheciam e desejavam ler seus trabalhos de fazê-lo publicando só esparsamente e, quase sempre, textos “tomados” de suas mãos por outros que, muitas vezes, contra sua vontade pois sempre considerava todos inacabados, os levaram a publicação.
Destaca-se de sua produção intelectual o clássico sobre a Família-de-santo no Candomblé Gêge Nagô que tem reconhecimento nacional e internacional.
Nos últimos anos dedicou-se aos estudos de Antropologia da Alimentação, temática que dominava como poucos. Preparava vários livros para publicação através da Editora Corrupio.
*Peter Fry , é antropólogo e professor da Ufba

domingo, 3 de outubro de 2010

O Trânsito e a Cidade I

Gil Vicente Tavares *
Às vésperas da eleição, uma enorme vontade de falar sobre a pobreza política que nos assola me veio à mente. Mas o nível de ridículo a que se chegou a política, e a forma vulgar como o assunto passou a ser tratado desmereceram, pra mim, um espaço de discussão.
Enquanto pensava nisso, andava pela cidade de carro com uma reflexão que há tempos venho amadurecendo sobre um comparativo entre a relação do homem com o trânsito e com a cidade. Mais animado ainda fiquei quando soube de um novo livro do antropólogo Roberto DaMatta tratando sobre o tema.
Gentileza gera gentileza. E esse é um dos fundamentos do trânsito que são mais desrespeitados. O soteropolitano dificilmente desacelera o carro pra alguém sair da garagem ou pra que alguém passe em sua frente por necessidade de entrar numa rua ou retorno. Parece que fere a masculinidade (tanto do homem quanto da mulher, no sentido figurado do termo) de quem dirige. Ser ultrapassado, dar passagem é humilhante. Você pode não estar com pressa, pode até andar a 60km/h, mas ao ver a possibilidade de ser ultrapassado, a chance de dar passagem, a situação de alguém saindo da garagem, acelera-se a 80km/h sem piedade.
O descompromisso com o outro também é evidenciado ao não se ligar o pisca alerta para se mudar de pista, entrar nalguma rua ou estacionar. Esse aviso serve a quem vem atrás, ao pedestre que aguarda algum sinal pra saber se pode atravessar, e é comumente ignorado porque o soteropolitano é esperto, ágil e o outro que se dane; faço minha manobra a hora que eu quiser e quem bate no fundo perde a razão e quem morre atropelado é o outro.
Não existe coisa mais irritante, também, do que ver o motorista que, numa pista de 70km/h, anda a 50km/h na pista da esquerda; que é a de velocidade. As pessoas além de descumprirem uma regra, ainda se colocam na postura de “olha como esse irresponsável quer correr, enquanto eu estou correto em dirigir lentamente”. Ora, a pista da esquerda é para ultrapassagem e para a mais alta velocidade permitida pela placa do local. E para completar, diversos são os motoristas que só resolvem passar pra pista correta – a que ele vai precisar estar para entrar numa rua, pra fazer um desvio, pra estacionar – na última hora. Com isso, o trânsito é amarrado. São seguidos os engarrafamentos aparentemente inexplicáveis oriundos de maus e/ou irresponsáveis condutores.
Abrir a janela do carro pra jogar papel fora nem se fala. Parece que o sujeito se sente em seu mundo, dentro do veículo, e o exterior é um limbo abjeto e que não lhe pertence. Se começarmos a somar a isso tudo o excesso de buzinadas inúteis, o não parar na faixa de pedestre, os gestos obscenos dos machões que fazem irresponsabilidades no trânsito e se sentem mais machões ainda quando ofendem além de ser irresponsáveis, a lista começa a aumentar. O desrespeito aos semáforos, às faixas de pedestre e a esperteza daqueles que decoram onde ficam os radares pra poder andar noutros trechos acima da velocidade permitida são coisas tão graves e óbvias que nem preciso discorrer sobre elas. E aí pensamos no ouvir som alto em locais públicos, estacionar em qualquer canto obstruindo calçadas e desrespeitando placas, e soma-se a isso tudo a irresponsabilidade do pedestre.
*Dramaturgo, poeta e ator

sábado, 2 de outubro de 2010

Trânsito e cidade II


Gil Vicente Tavares *
Em Salvador, as pessoas atravessam em qualquer lugar, correm risco de morte, mas estampam o sorriso esculhambado e faceiro que tanto encanta turistas e folcloristas irresponsáveis, sorriso que devia continuar estampado no rosto mesmo depois de um atropelo. Mas, a partir do momento de um “tá lá um corpo estendido no chão”, o motorista passa a ser o criminoso e o pedestre a vítima. Começam fábulas sobre as irregularidades de velocidade, etc, sobre o motorista; nos casos onde este sequer tem culpa. As culpas dos condutores são discorridas acima.
Outro problema sério decorrente disso é que a cidade se enche de semáforos, que tornam o trânsito lento, devido aos protestos de seguidos atropelos em locais com passarelas. O soteropolitano quer ser esperto, tem preguiça de atravessar uma passarela numa pista de alta velocidade, e ainda protesta se ocorre atropelo. Aí, queimam pneu, põem faixa, gritam, e vencem numa subversão da lógica que é simples; seguir a ordem pra não sofrer com a infração. Mas a irregularidade baiana vence.
Vivemos numa cidade cada dia mais feia. Numa cidade onde as opções de voto são ridículas, políticos desinformados, ignorantes, com discursos prontos sobre segurança, saúde e educação, mas sem propostas efetivas e inteligentes; pra não falar da cultura. Entrevistei três prefeituráveis, há dois anos, e foi uma lástima. Eles não sabiam absolutamente nada sobre cultura e arte em Salvador, nem tampouco sabiam o que fazer com o potencial incrível que essa cidade tem através de seus músicos, atores, artistas plásticos, cineastas, etc.
Mas temos sempre que lembrar que políticos não brotam do chão (se brotassem, seria do esgoto). Eles são cidadãos que têm a mesma atitude que nós todos, soteropolitanos, temos no trânsito. E que refletem, exatamente, a falta de cidadania, de gentileza, de preocupação com o espaço público, com a boa convivência, com o respeito, o desenvolvimento, a civilidade.
Nosso comportamento no trânsito reflete metonimicamente nossa pobreza cidadã. E assim vamos atropelando a possibilidade de uma civilização menos injusta, menos individualista, menos irresponsável. E assim vamos sendo atropelados por políticos que não dão sinal, atravessam fora da faixa, não respeitam o outro, andam lentos na pista de velocidade, e Salvador vai sendo a selva, a Selvador que tanto falo.
*Dramaturgo, escritor e ator

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Bye Bye Salvador

Foto: Osvaldo Campos, a bordo do EMB 195 da Azul, no Voo Campinas - Salvador
Osvaldo Campos*
Desde 1973, e lá se vão 37 anos, Salvador tem sido minha cidade do coração. Nascido em Castro Alves e criado até os 17 anos em Brasília, estou me afastando da minha amada e querida Salvador.
Protesto contra o "mar de lama" , a incompetência do nosso Alcaide e dos nossos Edis, do domínio do Capital Imobiliário , do SETEPS e das empresas de transportes urbanos nas decisões e nos investimentos na cidade (BRT, Espigões na Orla e na Paralela).
Os escândalos do metrô (operação Castelo de Areia), do Transcon, nossa orla abandonada e entregue à especulação imobiliária, a violência e a miséria, e........tragégia final...os terriveis engarrafamentos, de fazer inveja a São Paulo e Rio.
A partir de segunda, dia 04, passo a morar e trabalhar em São Paulo, onde, ao menos, a Sociedade Civil se organiza e luta pela melhoria da qualidade de vida.
(Na foto o famigerado " Le Park, prêmio ADEMI de melhor projeto??????? - Selva de Pedra numa Paralela já saturada. E a responsabilidade social dos nossos empresários???
Com a palavra o presidente da Ademi, o amigo Nilsinho Sarti Silva e o empresário do ano Ademi - Toninho Andrade da Cyrela -Andrade mendonça , responsável pelo projeto).
sExemplo Oded Grajew, "Movimento Nossa São Paulo", Marcia de Luca, "Dia da Yoga pela Paz", Claudio Abramo, "Transparência Brasil" , e dezenas de outros movimentos organizados, que vem transformando e melhorando a qualidade de vida na "terra da garoa".
Infelizmente, este blog entra em recesso , próximo de atingir 50.000 acessos.
Obrigado a todos pelas contribuições, sugestões e críticas.
Estarei a partir de segunda -feira, trabalhando na FIESP- gerência de infra-estrutura.
Até breve.
Osvaldo Campos Magalhães
* Editor e criador deste blog, que em outubro será suspenso temporariamente.
P.s. Na foto, Estação de Metrô do Bairro da Liberdade em São Paulo.
Fotos: Osvaldo Campos