sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Como a mobilidade pública se deteriora em beneficio do setor privado

Clement Vialle*
Pode-se perguntar como o sistema atual de mobilidade soteropolitano consegue sustentar-se, apesar das várias críticas no que se refere a trânsito, transporte público, mobilidade alternativa...
Eu queria fazer algumas sugestões relativas ao equilibro precário que está sendo criado em Salvador. Incentivados pelo poder público, pelas empresas e pela mídia, sabemos todos que o sistema atual incentiva à compra do carro.
Por outro lado, e conseqüentemente, o transporte público se atrasa mais e mais e não cumpre seu papel de serviço público. Enfim, o que aconteceu neste processo?
Acredito que apareceu um tipo de privatização do serviço de mobilidade nos últimos 40 anos. A falha dos órgãos públicos não diminuiu a demanda em mobilidade, é claro, então o mercado se adaptou rapidamente.
Por exemplo, podemos constatar o número crescente de transporte público informal, que acaba por ser mais eficiente de que ônibus regular.
Outro sintoma é o crescimento da frota dos taxis. Enquanto estrangeiro, quando cheguei a Salvador, fiquei surpreso pelo baixo preço da corrida. Hoje, é muito viável pegar um taxi a 2 ou 3 por veiculo. Este modo de transporte aproveitou da falha dos ônibus para criar lucro particular.
Finalmente, o setor privado sendo muito mais reativo de que o público, o poder público abre mão da qualidade do serviço, deixando pouco a pouco os lucros decidirem o que deve ser uma mobilidade democrática e justa em Salvador.
Resumindo, como o principal interesse de uma empresa é o lucro, os bairros populares acabam por serem menos bem atingidos, pode existir uma escolha dos clientes em função da renda, ou de outros critérios completamente injustos e não justificados... Isso tudo com um controle muito solto pelos órgãos responsáveis pela mobilidade.
Concluindo, existe um equilíbrio natural a favor do serviço privado, cujos interesses por nossos bolsos são claros.
Por outro lado, esta política sem objetivo ambicioso claro esta desestruturando toda a base da mobilidade solidária e humanista e mostra uma visão de curto prazo.
Um dia talvez, nossos filhos, netos, vão perguntar: “Ouvi falar que existia antes, um transporte público?
Podiamos mesmo viajar na cidade com pouco dinheiro e em boas condições? Por que acabaram com isso tudo?”
Cabe a cada um de nós de pensar na resposta certa... Ou de reagir hoje para que isso mude!
*Clement Vialle, é Engenheiro de Sistemas Urbanos

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