segunda-feira, 17 de maio de 2010

Seminário sobre Mobilidade Urbana em Salvador

Osvaldo Campos Magalhães *
De acordo com o especialista em Mobilidade Urbana, Nazareno Alffonso, coordenador do Forum Nacional da Reforma Urbana, a população precisa perceber que os investimentos públicos em transporte estão revertendo em seu benefício. Neste aspecto, segundo o especialista, faz-se imprescindível a finalizaçào do projeto original do Metrô de Salvador, que previa a Linha I ligando a Estação da Lapa ao Bairro de Cajazeiras, com estações no Campo da Pólvora, Brotas, Rótula do Abacaxi , Retiro e Porto Seco Pirajá. Obras iniciadas há 10 anos, com diversas estrutruras já prontas e grande trecho desativado entre a Rótula do Abacaxí e Cajazeiras. Milhões de reais foram investidos nas obras que se encontram abandonadas entre o Retiro e a Brasilgás.
No projeto original, a Linha II do Metrô previa a ligação da Estaçào ferroviária da Calçada com a Estação de integração Rodoviária de Mussurunga e daí a Lauro de Freiras passando pelo aeroporto internacional de Salvador.
Além de paralizar as obras, a prefeitura ainda vem manifestando a intenção de alterar completamente o projeto original, implantando um sistema de vias exclusivas para ônibus a Bus Rapid Transit - BRT, num claro benefício às empresas de transporte de ônibus representadas pelo SETEPS que doôu o projeto do BRT à PMS.
Além de não ter a mesma capacidade operacional do Metrô, o BRT vai na contramão da questão ambiental, sendo importante emissor de gás carbônico na atmosfera.
O seminário de Mobilidade Urbana em Salvador foi realizado pelo jornal A Tarde no final de abril e contou com especialistas e representantes dos governos municipal e estadual, IAB, Clube de Engenharia, Seteps e do jornal A Tarde.
* Engenheiro e Mestre em Administração, é especialista em transportes e editor deste blog que Pensa Salvador do Futuro.

domingo, 16 de maio de 2010

Esperando o Bonde

Paulo Ormindo Azevedo*
Morávamos na Barra Avenida e poucas famílias tinham carro na época. A maioria dos seus moradores era de classe média, mas havia também alguns ricos e muitos modestos, que viviam em uma das “avenidas” da cidade. Nós, estudantes, nos encontrávamos no ponto de bonde e entabulávamos conversas que eram interrompidas abruptamente num ponto, com a famosa frase de Ibraim Sued: depois eu conto...
Éramos todos moleques, independente da origem, no bom sentido da palavra, que pongávamos e nos divertíamos no bonde. Havia filhos de comerciantes prósperos, funcionários públicos, mecânicos, operários e até de banqueiro. Não chegava a ser uma democracia socioracial, mas sem dúvida o bonde socializava. Os abrigos da Sé e do Campo Grande, que reuniam uma multidão de estudantes da rede pública e privada era uma festa ao meio-dia e no final da tarde, com muita conversa, olhares e namoricos.
No começo dos anos 60 os bondes foram abolidos a pretexto de atrapalhar o trânsito para dar passagem a milhares de carros produzidos no País. A popularidade do carro privado deveria resolver tudo. Desde então deixamos de ter políticas de transportes público. Foi preciso a FIFA dizer que sem transporte de massa não haveria Copa em Salvador.
Surge assim o Projeto Rede Integrada de Transporte (RIT), gentilmente presenteado à prefeitura pelo Sindicato das Empresas de Transportes de Passageiros de Salvador (SETEPS), que na primeira etapa deve ligar o aeroporto ao Shopping Iguatemi, correndo pelo canteiro central da Av. Paralela. As etapas seguintes, bem mais complicadas, não tem prazo nem orçamento. As construtoras e os donos de ônibus tem pressa de cobrar a fatura de R$ 570 milhões prometidos pelo BNDES.
Criou-se , porém uma polêmica sobre a motorização do sistema. O SETEPS defende um sistema conhecido pelo nome cifrado de BRT (Bus Rapid Transit). Por outro lado, o governo do Estado, que tem a chave do cofre federal advoga a adoção do VLT (Veículo Leve Sobre trilhos). A decisão, que deveria ser técnica, está dependendo da sucessão senatorial.
O BRT, como o nome indica, é um sistema de “busus” moderninhos trafegando em via segregada, como em Curitiba. O VLT é um bonde articulado muito comum na Europa trafegando no meio das ruas, nos trilhos do antigo bonde, que nunca desapareceram completamente. Tem a vantagem de não poluir e ter uma manutenção baixa. Mas o adjetivo “leve” expressa bem que não é um transporte de massa. È o bonde moderno. Ambos podem servir como redes alimentadoras, transversais , do sistema de metrô, como nas cidades do México, Londres e Nova York.
O vetor de expansão mais forte de Salvador é o norte. Já transbordou para Lauro e Freitas e está chegando a Abrantes em Camaçari. Nem BRT nem VLT darão conta da demanda de deslocamentos humanos na Região Metropolitana de salvador (RMS) nos próximos dez anos, quando a região terá seis milhões de habitantes. A RMS tem duplicado de população a cada 20 anos e terá 12 milhões em 2014. As duas alternativas são um paliativo caro e não uma solução.
Por que não se faz logo um metrô estruturante dessa expansão na Paralela, prevendo sua extensão até Camaçari? Um metrô de superfície, sem desapropriações, nem galerias subterrâneas, como o da Paralela, não custaria muito mais que um VLT ou BRT. Os vagões estão aí, parados enferrujando e pagando pedágio. O metrô-tobogã da Bonocô até chegar a Cajazeiras, para que seja viável, demorará mais dez anos.
Com essa solução dispensaríamos a abertura da Via Atlântica e Linha Viva, que provocarão grandes impactos sociais e ambientais e um montão de desapropriações. E o pior, não resolverá nada, pois induzem a população a comprar mais carros. Remos que deixar de pensar pequeno.
Lembro-me agora das propagandas nos bondes, como a do Rum Creosotado do elixir de Nogueira e uma que dizia: “Neste mundo todos são passageiros, menos o cobrador e o motorneiro”. Desconfio que esses também são passageiros do bonde da história. A conversa está muito boa , mas vocês me dêem licença, porque um bonde ou um ônibus está chegando...atrasado. depois eu conto...
* Arquiteto, professor titutar da UFBA

Os galpões do Porto de Salvador

Estação Docas - Belém do Pará
Dimitri Ganzelevitch*
Esporadicamente as sucessivas administrações municipais propôem um novo projeto para os antigos galpões do Porto de Salvador. Cada um mais exdrúxulo que os anteriores. Um inventou, logo após os ataques ao World Trade Center, construir duas torres. Não faltaram piadas contra tal proposta. Outro imaginou um shopping center, que é, como todos sabem, a solução a qualquer problema urbano e social. Mas não vamos listar as divagações de nossos edis e seus comparsas. O mais estranho é que todos conhecem perfeitamente as felizes iniciativas de Lisboa, Barcelona, Buenso Aires e até Belém de Pará (foto abaixo), mas ninguem quer aproveitar a experiência alheia.
Nunca entendí o porque desta obsessiva necessidade de destruir em vez de adaptar. Neste milênio que começa a tomar consciência das mazelas da sociedade de consumo exarcebado, passou da hora de pensarmos sete vezes antes de derrubar e implodir. Temos oito imensos armazéns construídos na primeira metade do século passado para reforçar a economia do Estado, já que, naqueles tempos tudo dependia de navegação. Quem consagrar algumas horas a esta parte de Salvador vai se surpreender com o tamanho e a elegância despojada destes galpões. Sim , porque beleza também reside na simplicidade. Querem reabilitar o Comércio? Então comecem pela recuperação e adaptação destes imóveis. Quem for passear por esta parte da Cidade Baixa advinhará novas energias pulsando, sempre por iniciativa privada - Cais Dourado, Museu du ritmo, amanhã Trapiche Barnabé, etc. - apesar de a prefeitura afogar boas intenções em burocracias mil, levando até um ano para licenciar a mais simples reforma.
O que fazer com os galpões? A lista é longa. Desde salas para ensaios de bandas - comtratamento acustico adequado - a teatros, cinemas galerias, salões para grandes exposições, conjunto de lofts, restaurantes e pizzarias, sem esquecer um projeto paisagístico para recolocar o verde tão ausente das decisões urbanisticas de nossos municípios. Já imaginaram sentar com um bom espumante numa esplanada virada para o poente no Réveillon, olhando para a baía e assistir a belos fogos de artifício?
* Dimitri Ganzelevitch é Marchant e presidente da Associação Cultural Viva Salvador

sábado, 15 de maio de 2010

Pelo Pelourinho (Ó Paí Ó)


Márcio Meireles*
Caro Caetano,
Motivado pelo seu artigo do domingo passado, resolvi escrever esta carta, para esclarecer algumas coisas.
Você fala de mim como artista, criador do Bando de Teatro Olodum (que gerou Lázaro Ramos e Virgínia Rodrigues) e da peça “Ó paí, ó!” (depois filme e série televisiva). E também como gestor, Secretário de Cultura do Estado da Bahia, “responsável pelo destino do Pelourinho”.
Não sou responsável pelo destino do Pelourinho porque ninguém é responsável pelo destino de nada. O destino é um conjunto de acontecimentos que parecem prévia e inexoravelmente traçados. Mas, de fato, são construídos e podem ser alterados por circunstâncias históricas, sociais, emocionais, econômicas, políticas... Vejo-me apenas como parte deste elenco que constrói e modifica os acontecimentos.
Também, ao contrário do que você afirma, nas peças da “Trilogia do Pelô” — especialmente “Ó paí, ó!” e “Bai bai Pelô”, que criei e te emocionaram e nos aproximaram — não havia ódio. Havia indignação por ver um poder truculento promover uma limpeza étnica e social, expulsando os antigos moradores do Pelourinho e entregando as casas, que eles mantiveram de pé, a novos ocupantes.
Diferente do exemplo da Lapa, no Rio, onde o poder público fez sua parte, e a iniciativa privada e a sociedade, as delas, aqui, o governo fez tudo, como um pai/padrasto, “com dinheiro numa mão e o chicote na outra”. Tentando ser o condutor do destino.
Mas o “destino” às vezes não obedece a seus condutores, e o tempo dá respostas. A reforma não deu certo. A pintura das casas, que lembrava Santo Amaro em festa e te encantou, não era feita pelos moradores, nem pela prefeitura.
O Pelourinho foi reformado, ou seja, ganhou nova forma. Não foi revitalizado, não retomou sua capacidade vital, não se pensou em sustentabilidade.
Não é possível revitalizar um território urbano sem a força de seus moradores, sem ações articuladas dos três entes federados. Não é possível tratar o Pelourinho como uma área isolada, um (im)possível parque temático. A maioria das soluções está no entorno para onde foram muitas das famílias retiradas da área, ocupantes agora de outras ruínas ou marquises, sobrevivendo do possível.
Criamos o Escritório de Referência do Centro Antigo de Salvador para articular o Plano de Revitalização do Centro Antigo. Em parceria com a Unesco, ele foi concluído e será apresentado no dia 2 de junho, com a entrega do Palácio Rio Branco restaurado. Ampliamos a área expositiva dos museus do lugar, triplicando a frequência e diversificamos a programação artística dos largos; temos tido, como você já comprovou, um público significativo.
Caetano, meu amigo, o Bando precisou de dois anos para fazer sua primeira temporada no Rio, quatro para entregar ao mundo uma Virgínia Rodrigues, oito para um Lázaro Ramos, 17 para “Ó paí, ó!” virar filme, 18 anos para a série. Os processos culturais sustentáveis levam um tempo, mas, desde o seu início, o Bando sempre teve a vitalidade necessária para ser agora o que é. Talvez um anticarlismo.
Sem ódio. Só um caminho em outra direção. Um outro ponto de vista. Outra prática.
Não deixe sua visão, tão preciosa sempre ao Brasil, ser nublada por questões partidárias. Não abandonamos o Centro Antigo de Salvador. Ele estava abandonado. O crack é uma realidade trágica. A segunda pior renda per capita das capitais brasileiras, o quarto pior ensino público, o abismo social, a fragilidade de nossas instituições não foram criados nos últimos três anos e meio. Não era possível.
Ó paí, velho: quem criou um espetáculo e um grupo capazes de te emocionar poderia abandonar o sujeito da peça?
*Márcio Meirelles é secretário de Cultura do Estado da Bahia.
Carta publicada no jornal O Globoe, em 14/05/2010

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Sistema Cicloviário em Salvador, Já!

ALBENÍSIO FONSECA*
Em meio à crise de mobilidade urbana gerada pelo excessivo número de automóveis, reduzida expansão de vias, insuficiência e má qualidade do transporte coletivo, e diante da exclusão de parcela significativa de pessoas de baixa renda, sem disponibilidade para pagar a tarifa de ônibus, é urgente a implantação de um sistema cicloviário em Salvador e macrorregião.
Governo e prefeitura dispõem de projetos nesse sentido, mas não demonstram, ainda, a vontade política necessária para contemplar 47% da população que andam a pé ou 7% de bicicleta, pelo menos meio quilômetro diariamente, conforme pesquisa da Associação Nacional de Transportes Públicos.
A infraestrutura necessária à implantação de um sistema cicloviário é a que dispende menor custo, pelo poder público, em relação a qualquer outro sistema de transporte. Em tempos de economicidade, a bicicleta conta com fatores importantes como preço, baixa manutenção, consumo zero de combustível e nenhuma emissão de poluentes, além de possibilitar exercício físico com ganho para a saúde do usuário.
A “magrela” é sete vezes mais eficiente que o automóvel. Ou seja, a circulação de carros, por hora, numa faixa de tráfego, comporta 2 mil pessoas; por ônibus, 9 mil; enquanto de bicicletas permite 14 mil pessoas. Não há dúvida que a bicicleta representa uma solução fundamental para o transporte nas cidades. Seja por garantir o direito de ir e vir, seja por liberar a população carente da exclusão territorial e para práticas sócioespaciais ampliadas.
Iniciativas nesse sentido têm sido adotadas com êxito em diversas capitais brasileiras, e em inúmeras cidades em âmbito mundial, mas Salvador permanece na contramão desse processo. Com 2,8 milhões de habitantes, a cidade dispõe de cerca de 16 km de ciclovias destinadas ao uso da bike, em caráter meramente de lazer. E apenas uma ciclofaixa inferior a um quilômetro de extensão. Aracaju, com 520 mil habitantes, tem 80 km; Curitiba, 120 km para uma população de 1,8 milhão. O Rio de Janeiro, 180 km, para 6 milhões de moradores. Mesmo com equívocos no traçado dos acessos, São Paulo inaugurou, esse ano, ciclovia com 14 km paralelos às linhas de trens metropolitanos.
Não se trata meramente de pintar ciclofaixas e ciclovias, mas de dotar o equipamento e seu usuário de um completo plano de mobilidade, com bicicletários e implantação de circuitos especiais, principais e secundários. O sistema requer logística específica e gestão (pública, privada ou mista) que envolvam campanhas de conscientização e proteção, além do estímulo à cadeia de produção e comercialização, incluídos serviços de manutenção e locação.
Há estimativa de 20 mil usuários e dezenas de grupos de passeio organizados, em Salvador, segundo a Associação de Bicicleteiros da Bahia. Para a associação, é preciso haver ciclovias em, no mínimo, três trechos da cidade: São Cristovão/Iguatemi, Iguatemi/Estação da Lapa e Calçada/Paripe.
O ciclista não é um obstáculo nas vias, faz parte do transito, está inserido na legislação. A ele não está conectado apenas o veículo em si, mas um conjunto de acessórios que envolvem equipamentos especiais das indústrias de calçados (tênis), viseiras, luvas, capacete, além de inúmeros adereços para turbinar a bike.
Circulando por ruas, avenidas, bairros e rodovias, mas sem contar com a educação para o transito e um planejamento cicloviário, estão expostos a acidentes na guerra insana do tráfego, com estatística crescente e proporcional à ampliação do número de usuários. Dados de 2008 apontam a ocorrência de 364 acidentes com 16 mortes.
A circulação de bicicletas, em condições de segurança e maior comodidade, para amplo contingente de trabalhadores, é importantíssima nas ligações intermodais. A transversalidade de um sistema cicloviário demonstra inúmeras interfaces. Desde a mobilidade e inclusão territorial à ampliação do universo de utilização e dos calendários desportivo e turístico; estímulo ao empreendedorismo; melhorias na condição de saúde do cidadão; ampliação da consciência ecológica. Tudo isso pode proporcionar, sem dúvida, o advento de uma radical renovação da cultura urbana. Frente à Copa e à Olimpíada, o que falta mesmo?
*Albenísio Fonseca é jornalista

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Personagens marcantes de Salvador :Rita Tourinho

Blog: Conte um pouco sobre sua trajetória no Ministério Público da Bahia.
Rita Tourinho: Ingressei no Ministério Público no ano de 1991, fui a segunda colocada no concurso público e, por esta razão, minha primeira Comarca foi Amélia Rodrigues. Depois fui promovida para São Francisco do Conde e depois para Camaçari. Em Salvador durante um ano trabalhei com processos de investigação de paternidade, até que, no ano de 1998, fui transferida para o Centro de Apoio Operacional de Defesa do Patrimônio Público. Assim, trabalho na mesma área há 12 anos.
Blog: Como é coordenar o Grupo de Defesa do Patrimônio Público e Moralidade do Ministério Público?
RT: Como coordenadora procuro auxiliar os colegas que estão nas Comarcas do interior do Estado. Também coordeno campanhas do Ministério Público na área de defesa do patrimônio público, como, por exemplo, a campanha “diga não ao nepotismo”e “bens públicos legais”.
Blog: Quais as principais demandas desse Grupo?
RT: Com certeza a maioria dos casos reporta-se a irregularidades em processos licitatórios e contratos administrativos. Há também uma grande demanda concernente a problemas em concursos públicos ou processos seletivos.
Blog: Visivelmente a senhora não tem receio de se indispor com os políticos, e sempre que é preciso está cobrando, através de ações no MP-BA, a moralidade da administração pública. Isso já te trouxe problemas?
RT: Nunca tive qualquer problema, pois sempre tive uma atuação coerente. Nunca o GEPAM atuou por questões políticas. Sempre temos o mesmo comportamento, independente de quem esteja no poder. Nossas ações são respaldadas em inquéritos civis bem fundamentados e instruídos. Particularmente, não tenho qualquer restrição a nenhum dos nossos políticos, mas profissionalmente as irregularidades detectadas serão apuradas e, se necessário, as ações judiciais serão propostas, independente de quem seja o gestor responsável.
Blog: Já sofreu algum tipo de ameaça ou retaliação?
RT: Ameaças sim. Retaliações não. Mas não me preocupo com ameaças. Todos devem saber que o Ministério Público não começa nem termina na minha pessoa. Assim, o trabalho que faço pode ser realizado por qualquer um dos meus colegas, da mesma forma ou até melhor.
Blog: O que a senhora acha do nepotismo?
RT: Acho que o nepotismo é um mal que vem sendo aos poucos excluído do nosso país, graças não somente à atuação do Ministério Público, como também do Judiciário, afinal o STF editou a Sumula Vinculante n. 13 que proíbe a prática do nepotismo no âmbito do Estado brasileiro.
Blog: No MP-BA há nepotismo?
RT: Não, em absoluto. O Ministério Público do Estado da Bahia está totalmente adaptado à Súmula Vinculante n. 13 do STF, que estabelece os casos de nepotismo.
Blog: Com relação ao caso da limpeza urbana de Salvador, o caso já está resolvido? O que efetivamente aconteceu?
RT: O processo chegou ao Ministério Público em virtude da possível realização de licitação para contratação no modelo parceira Público-privada para limpeza urbana. Diversos vícios foram detectados e por recomendação do MP a licitação foi abortada. Posteriormente, o Município se comprometeu a instaurar um processo licitatório, com fundamento na Lei n. 8.666/93 até que seja finalizado o estudo para uma nova licitação com novo modelo. O Inquérito Civil tramita também na 5ª Promotoria do Meio Ambiente, tendo à frente a Promotora Cristina Seixas.
Blog: Qual sua idéia de transparência na administração pública?
RT: Transparência significa administrar sem subterfúgios. Apresentar esclarecimentos aos Administrados quanto às medidas que vêm sendo adotadas na condução do Estado. A transparência repudia publicações de resumos de contratos com termos genéricos, propagandas de governo que não correspondem à verdade. Afinal, se o poder é exercido em nome do povo, o povo tem o direito de saber o que vem sendo feito no exercício desse poder.
Blog: Muitos dizem que a senhora gosta de aparecer em sua ações. É verdade? A que se deve isso?
RT: Trabalho na defesa do patrimônio público e da moralidade administrativa. Área que é de interesse de todos. Logo, sempre que possível, deixarei a população informada do quem vem ocorrendo em nossa Administração Pública. É a única forma que tenho para contribuir com a transparência administrativa.
Blog: A Senhora acha que como membro do MP-BA deveria resguardar mais suas opiniões?
RT: Não exponho minhas opiniões, mas fatos que estão sendo apurados ou que já foram apurados. Não costumo fazer juízo de valor sobre as pessoas que estão envolvidas em inquéritos que tramitam pela nossa Promotoria de Justiça.
Blog Por fim, qual a expectativa da senhora dentro do MP-BA? Deseja alçar vôos mais altos?
RT: Não tenho qualquer pretensão a não ser continuar realizando o meu trabalho, escrevendo meus livros e ministrando aulas para meus alunos, transmitindo a eles o apreço que tenho pelo meu trabalho, a importância da probidade nas nossas vidas e como somos responsáveis diretos ou indiretos por tudo o que acontece no nosso pais. Espero que eles possam construir um Brasil melhor

terça-feira, 11 de maio de 2010

Presidente do STJ autoriza retomada das obras da Via Expressa Portuária

O Superior Tribunal de Justiça (STJ) decidiu hoje suspender a decisão que impedia a Companhia de Desenvolvimento Urbano (Conder), na Bahia, de prosseguir com a construção da via de acesso ao Porto de Salvador. A obra faz parte de um amplo pacote de projetos incluídos no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), do governo federal, e servirá para integrar o Porto de Salvador à Rodovia BR-324, principal acesso rodoviário à capital baiana.
A questão foi analisada por meio de pedido de suspensão de segurança impetrado pela Conder e pelo próprio Estado da Bahia. No pedido, os requerentes alegaram que a suspensão do contrato, nas atuais circunstâncias, poderia acarretar grave lesão à ordem e à economia públicas. Argumentam ainda que a suspensão das desapropriações prolongaria o transtorno causado pelas obras da Via Expressa, cujo tráfego na região sofreu efeitos colaterais diretos dessa intervenção. Os autores afirmam também que o atraso das obras implica acréscimo de encargos trabalhistas, majoração do orçamento dos serviços contratados e mais gastos com ações judiciais movidas por particulares afetados pelo empreendimento.
Fonte: DCI/Panorama Brasil

Tempos Modernos


Luiz Felipe Pondé*
Uma frase típica de jantares inteligentes é: "Hoje temos outra cabeça!". Eu digo que não. Não temos "outra cabeça". Somos mais tagarelas sobre nossas mentiras. A mentira virou ciência: virou marketing.
Acho, sim, que muitos profissionais das ciências humanas afirmam que existe essa "outra cabeça" (no sentido de sermos mais bem resolvidos) simplesmente para justificar seu lugar de gurus de uma vida melhor. Pretendem seduzir as pessoas dizendo para elas palavras bonitas.
Principalmente as mulheres. Enganam-se porque as mais interessantes entre elas detestam bajulação. A praga da "autoajuda" não é privilégio de magos decadentes, bruxas loiras e gurus desdentados. Essa praga assola tudo, fazendo da vida inteligente um marketing da autoimagem.
Progredimos, sim, em remédios, repelentes de mosquitos e cirurgias (tecnologias médicas), aviões, computadores e celulares (tecnologias de transporte e comunicação). Mesmo a democracia eu julgo sobrevalorizada em muitos casos devido à inequívoca vocação para a retórica e para a tirania da opinião pública.
Mas a má-fé se esconde no fato de que todos esses avanços técnicos implicam o tipo de vida (degradada, instrumental, apressada) que temos. Como diz o filósofo francês André Comte-Sponville, o "progresso" em escala global é uma ameaça à vida.
Sem dúvida que algumas coisas "mudam". Hoje, por exemplo, muitas mulheres podem ser "mais" do que secretárias, elas podem ser médicas, engenheiras, cientistas. E negros podem ser presidentes. Mas nada disso (de antibióticos a médicas negras) implica em "outra cabeça": continuamos invejosos, manipuladores, inseguros, traiçoeiros e podemos destruir muita gente dando uma de "defensores dos mais fracos". Os "ganhos sociais" só se instalam quando se acomodam e passam a servir às velhas mazelas humanas.
Uma leitora, irritada, pergunta: "Você não acredita que existam mulheres sozinhas e bem resolvidas? Você deve é ter problemas com as mulheres". Dou duas respostas.
Primeira: não acredito em pessoas bem resolvidas, acho que todo mundo que se diz bem resolvido é um mentiroso contumaz, mulher ou homem. No fundo, o que existe hoje é um marketing de comportamento que se apoia no consumo crescente de antidepressivos e hábitos macabros como conversar com gatos, cachorros, plantas ou extraterrestres.
Só eremitas conseguem viver bem sozinhos. Amar a solidão sempre implica alguma forma de trauma ou desencanto com a vida.
Segunda: sim, tenho problema com as mulheres, quem não tem? Só os mentirosos. Vou contar uma história. No maravilhoso livro "Contraponto", de Aldous Huxley, existem duas personagens femininas, entre outras, Marjorie e Lucy. A primeira é aquele tipo clássico da mulher que se faz vítima do homem, grávida e traída. A segunda é o outro tipo clássico de mulher (e oposto à Marjorie), o ideal de toda mulher moderna: a devoradora de homens, que transa com quem quer.
Lucy, em sua vivência de mulher livre, descobre um tesouro de sabedoria: só os gays não têm problemas com as mulheres porque são indiferentes a elas. Ser bem resolvido com as mulheres é ser gay. Para o gay, a mulher é obsoleta. Exigir dos homens "afetos corretos" para com as mulheres é querer que todos sejam gays. O mesmo vale para as mulheres: toda mulher tem problema com os homens. Quando se trata da relação entre homens e mulheres, estamos num pântano de medo, insegurança, baixa autoestima e jogos de manipulação. O inferno do desejo.
Conhece?
E por que existe tanta gente que faz uso desse marketing de comportamento dizendo por aí que "hoje temos outra cabeça"? De novo, dou duas respostas.
Primeira: eu me vendo como bem resolvido para fazer os outros se sentirem mal e com isso elevo minha autoestima. Nunca subestime a delícia que é fazer o outro se sentir mal mesmo que você não esteja se sentindo tão bem assim.
Segunda: como derivação da primeira, eu me vendo como bem resolvido para elevar meu preço no mercado dos afetos e das relações.
As duas se resumem no velho pecado da vaidade. Esse é apenas um dos sete pecados capitais (caso a cara leitora queira saber mais, leia são Tomás de Aquino). Melhor do que todo o papo de luta de classes, ideologia, política dos corpos, sexismo e blá-blá-blás associados, experimente usar os sete pecados capitais para ver se eles não iluminam a chacina cotidiana em que você vive.
* Filósofo. Artigo publicado originalmente no jornal Folha de São Paulo, em 10/05/2010

segunda-feira, 10 de maio de 2010

O Largo da Ordem

Largo do Pelourinho
Caetano Veloso*
Quando disse a Leminski, no começo dos anos 70, que me encantava a recuperação do Largo da Ordem, no centro de Curitiba, ele riu: "Você adora enganações feitas para a classe média." Respondi que adorava mesmo. Sempre à esquerda, Leminski via limpeza, iluminação, policiamento e restauração de prédios como maquiagem - e olhava com desconfiança meu interesse por Jaime Lerner, o então prefeito da cidade que fora indicado pelo governo militar. Eu odiava o regime - e desprezava os que chegavam ao poder em acordo com ele. Mas não via o Largo da Ordem como enganação. Bem, talvez se pudesse dizer que aquilo se dirigia à classe média. Mas eu ri ao dizer diante da cara do poeta: "Eu sou classe média." O que de fato pensei foi: se se fizesse algo assim com o Pelourinho, o Brasil decolaria - ou estaria mostrando que já decolara. Era sonhar demais.
Ainda nos 70, os sobrados da área estrita do Largo do Pelourinho foram restaurados. Lembro duas reações negativas: Candice Bergen e Décio Pignatari. Em ocasiões diferentes, ouvi de ambos: "Parece a Disneylândia." Eu próprio, diante das tintas plásticas usadas, apelidei o novo Pelourinho de Giovanna Baby. Mas a verdade é que, tendo crescido em Santo Amaro, eu não achava artificial uma rua com casas antigas pintadas com tintas novas: era o que acontecia ali a cada fevereiro, mês de Nossa Senhora da Purificação. Achei que Candice e Décio pensavam que casa velha tem que ter limo e reboco caindo. Décio, de Sampa, queria velharia mais "autêntica". Candice, de Los Angeles, reviu o que expõe a artificialidade de sua terra natal: Disneylândia. Já eu só via o esboço de realização da promessa do Largo da Ordem.
Nos anos 90, toda a região do Pelourinho ganhou o tratamento que eu imaginara utópico em 1972. Há queixas contra os métodos usados para a retirada dos moradores. Há a frase bonita de Verger: "Devia se erguer no Pelourinho um monumento às putas." Elas é que mantiveram de pé esse pedaço da cidade. Em 1960, vendo a harmonia de formas exibida em matéria deteriorada, eu me sentia fascinado também pela degradação dos habitantes. A prostituição mais anti-higiênica manteve os sobrados de pé. Casas sem moradores caem. As do Pelô exibiam as marcas da decadência da humanidade que as povoava e as mantinha erguidas.
Há a frase bonita de Verger: "Devia se erguer no Pelourinho um monumento às putas."
ACM é um nome que se evita - a não ser que se queira xingá-lo ou adulá-lo, (na foto, no 2 de julho de 2003, recebendo homenagens de baiana estilizada pela Bahiatursa). Medir objetivamente seu legado é anátema. Tou fora. Truculento, vingativo, populista, Antônio Carlos Magalhães era o tipo de político de que desejei ver a Bahia e o Brasil livres. Fiz-lhe sempre oposição. Cantei nos comícios de Waldir Pires, que se elegeu governador. Mas Waldir uniu-se com parte da oligarquia rural que odiava ACM desde sempre. O vice de Waldir era um representante dessa oligarquia. Waldir mal esquentou a cadeira: saiu para tentar ser vice na candidatura furada de dr. Ulysses. ACM voltou em glória nas eleições seguintes.
A essa altura, ele já tinha feito as avenidas de vale (um projeto de 1942), ligando entre si partes distantes da cidade (outrora com tráfego apenas nas cumeadas). E atraído quadros de alto nível técnico. Na sua volta, retomou os trabalhos do Pelourinho, que floresceu.

O escolhido para dirigir o projeto foi o antropólogo Vivaldo da Costa Lima. Vivaldo, cujo amor pela cultura do povo baiano não pode ser superestimado, não acolheria decisões malévolas. Seja como for, a restauração, com os atrativos para quem quisesse estabelecer negócios ali, mudou a cara da cidade. Jovens que até os anos 80 nunca tinham ido ao centro histórico lotavam os bares do Pelourinho. Isso deu ao baiano uma nova auto-imagem.
O atual governo do PT precisaria se posicionar de forma clara face ao legado de ACM. Sentir que talvez haja desprezo pelo Pelourinho deprime. A explicação dada é que as facilitações oferecidas aos negociantes que ali se estabeleceram são artificiosas. O secretário de Cultura, meu amigo Márcio Meirelles, é o responsável pelo destino da área. Diretor do Bando de Teatro Olodum, Márcio nos deu "Ó paí, ó!". O elenco que ele reuniu é um espanto de vitalidade. Mas, nesse e em outros espetáculos do grupo, o sarcasmo relativo à reforma do Pelourinho vinha colorir o ódio a ACM. Eu adorava a peça assim mesmo. Arte é coisa séria. Aquelas pessoas falando e se movendo daquela maneira estão, na verdade, mais sintonizadas com as forças que fizeram possível a recuperação do Pelourinho do que com a demagogia que por vezes se comprazem em veicular contra ela.
Depois vieram o Recife Velho, o Centro de São Luís, algo do Centro de São Paulo - e sobretudo veio vindo a Lapa. A iniciativa privada se achegou, a Sala Cecília Meireles dera a largada, o Estado entrou com o trato dos arcos, iluminação, policiamento - e temos uma mostra de como nos vemos nestes anos FH-Lula. O governo petista da Bahia deveria tomar o Pelourinho como uma joia a ser cuidada. Aproveitar o aproveitável de ACM -- e fazer melhor. Não é saudável fazer com os benefícios aos negociantes aderentes o que Ipojuca Pontes fez com o cinema ao acabar com a Embrafilme. Esse privatismo repentino soa suspeito. O abandono do centro histórico tem parte no aumento da criminalidade. Política para mim é isso. Capturar as forças regenerativas da sociedade e trabalhar a partir delas. Não se atar a facções ideológicas como a torcidas de futebol - nem, muito menos, a grupos de interesses inescrupulosos.
*Caetano Veloso, poeta, cantor , compositor e escritor, é baiano, de Santo Amaro da Purificação. Artigo originalmente publicado no jornal O Globo, 09/05/2010

domingo, 9 de maio de 2010

O nome da ponte Salvador - Itaparica

JOSÉ NOGUEIRA*
Acompanho, com cuidado, as propostas para a ponte que se pretende estender por sobre a Baía de Todos-os-Santos, para interligar os tramos Sul e Norte da BR 101, atualmente conhecida como Ponte Salvador-Itaparica.
É notório que uma ponte ligando os dois municípios Itaparica (e não Vera Cruz) e Salvador é e será por muito tempo inviável economicamente – tal ligação, na escala em que acontecer, não pagará os custos de construção e, com base e propostas já vistas, os de manutenção.
O que razoavelmente seria uma estrutura simples sobre a água, pesadeleia cada dia como se fora um monumento pretensioso e caro. Vãos enormes, muitos deles estaiados, pensados em navegação atípica, em nada contribuirão para o bom senso na Arquitetura e Engenharia baiana (ou nacional, ou internacional, como queiram).
O traçado mais coerente é ao fundo da Baia (N/NO), em cotas batimétricas da ordem máxima de 20m, sobre fundo de areia, com tabuleiro baixo, isto por que:
1.Luz (entrevão do subtabuleiro ao nível do mar) acima de 50m é desperdício – passar porta-aviões? Qual? o São Paulo (ex-Foch)? Para que? Não há como docar casco tão grande na Base Naval de Aratu. Bem, quem sabe um CVAN (porta-aviões de ataque, de propulsão nuclear) desses americanos um dia quebra uma peça aqui perto e… podem quere uma gambiarrazinha…
Quanto a outros navios, essa altura é suficiente, já que, na posição de fundo da baia só passarão sob a ponte os que usam o Terminal de Madre Deus.
1.A opção por águas menos profundas requer pilares submersos curtos que apresentam menor resistência às correntes marinhas (que no fundo da baia são mais fracas – menor volume d’água/tempo)
2.Vãos maiores que 240m não são necessários, a não ser como exercício estrutural ou para aumentar o custo de manutenção (que não será pequeno e implicará em pedágio caro); todavia, para gáudio de poucos, justificariam formas escultóricas e estais de aço, provavelmente inoxidável (o aço).
3.Ainda sobre estais – há velocidades de ventos nos rumo S e SSE e também NE que chegam a 26 kt (44kmn/h) que provocarão vibrações harmônicas de baixa frequência, o que, além de causar mal estar podem contribuir para colapso lento das estruturas e suas ligações; isso sem falar que tabuleiro de perfil reto, na altura e extensões propostas, por efeito do teorema de Bernoulli poderá fazer com que tais estais, em regime de vento forte, não funcionem – pode haver empuxo negativo do tabuleiro pela subpressão causada sobre sua face superior pelo fluxo eólico. (como uma asa de aeronave)
Há solução simples e prática para fazer uma ponte; entretanto, seo o que querem (quem) é um monumento que o projeto fique por conta de quem assim pensa.
Em 1984 foi publicado em A Tarde um estudo sobre A Ponte, com o seguinte traçado:
- saída FORA do perímetro urbano da Salvador a partir de um trevo a completar na BR 324 na altura do acesso À base Naval;
- duplicação da estrada da Base Naval, com correção do eixo passando por cima da “boca da Baia de Aratu” a 60m de altura, atingindo o sistema viário existente co CIA Norte;
- duplicação da via do CIA Norte até perto de Madre de Deus;
- ponte com 1600m da linha de costa de Madre de Deus até a Ilha dos Frades (posto de pedágio)
- ponte com 10.960m, sobre águas rasas, com vãos de 120m e um central de 200/240, atingindo a Ilha de Itaparica no município do mesmo nome, na Fazenda Mocambo (governo do Estado)
- daí, rodovia nova pela contra-costa da ilha até a ponte do Funil, duplicando-a e a rodovia seguinte até o entroncamento da BR 101.
Mas o assunto era o nome da ponte, ou, do monumento?
É assunto para plebiscito e não agora; definamos primeiro o que como fazer; daí o nome não será uma piada.
*José Nogueira – Arquiteto urbanista. Trabalhou com infraestrutura urbana na Conder entre 1980 a 1999. Professor do curso de Arquitetura da Universidade Salvador (Unifacs)

terça-feira, 4 de maio de 2010

Urbanismo Sustentável

Lourenço Mueller*
Em princípios de abril os jornais anunciaram a chegada a esta cidade [Salvador], para uma conferência, da urbanista May East, ex-roqueira, hoje dirigente de uma fundação ecológica escocesa que prega a minimização das cidades e sua entronização ecológica.
Foi publicado este ano o livro Diários de Bicicleta (SP: Manole, 2010) do conhecido band leader do Talking Heads, David Byrne, também escocês, com prefácio de Tom Zé: forte conteúdo crítico sobre certas cidades e visão de futuro do urbanismo dito sustentável.
Pergunto-me porque artistas – neste caso ligados à música – demonstram essa preocupação com o urbano. Porque mudam de profissão, ou escrevem livros sobre o tema ecologia urbana, mostrando o perigo do aquecimento global ou o equívoco do automóvel nas grandes cidades. Porque “saem na frente” de outros profissionais, até mesmo dos urbanistas e arquitetos, que já deveriam ter levantado esta bandeira há mais tempo e sobretudo dos políticos, que não conseguem perceber a incondicional, superlativa importância do urbano.
Talvez a arte, em sua sensibilidade a situações concretas, faculte aos que a praticam essa noção aguda de perigo iminente, como no conhecido conteúdo imagético da pintura Guernica (1937) de Pablo Picasso (1881-1973), prévia antifascista do horror da guerra civil espanhola.
Sem a mesma genialidade do pintor fica difícil ilustrar a imanência perigosa que as cidades modernas representam para a humanidade, mas tal esforço merece crítica dialética e elogios.
Entrevistei May East, fui à sua conferência e li o livro de Byrne.
Posso dizer que as ecovilas propostas por ela pecam pela questão dimensional. É uma solução para pequenos núcleos, não para grandes cidades; malgrado possam ser uma semente – existem já algumas no mundo – guardam na sua concepção os limites da ideologia conservadora contra os avanços das tecnologias construtivas da verticalidade mesmo que defendam cidades compactas e densas, e ao mesmo tempo cercadas por cinturões verdes hortifrutigranjeiros.
Isso só foi possível em pequeníssimas aldeias, com um forte substrato espiritualista, como pareceu transparecer nos fluidos vocais e figurativos que precederam a palestra, onde se distribuíram folhetos do Partido Verde.
Admito o viés esotérico dessas iniciativas desde que equacionem a problemática do crescimento urbano desordenado e cruel de forma a que se desenhe – aliás, exorbitam na palavra design – uma perspectiva de solução.
O poder público desistiu de re-assentar populações em áreas de risco e resolveu relocá-las: é possível começar a desestimular a ocupação urbana em alguns pontos onde as densidades já estão exageradas e a infraestrutura viária já é insuficiente, incentivando novas edificações em zonas planejadas, previamente pautadas em um novo modelo de cidade, mais ou menos seguindo as premissas ecológicas das ecovilas de East, mas sem a ingenuidade das mesmas; quem vai construí-las são os mesmos incorporadores que escolhem pontos da cidade e concentram seus empreendimentos sem se preocupar com o depois, na mesma linha de um Luís XIV contemporâneo, pensando: depois de vendidos os condomínios que se lixem os compradores…
David Byrne faz a apologia da bicicleta. Vem usando-a ao longo de anos como forma de deslocamento e “percepção dos ritmos e dinâmicas características” das metrópoles e cidades que atravessou. O livro já virou best seller.
Em determinado trecho escreve que “opções sustentáveis, transportes públicos e ciclovias não são mais alvos de piada” e mais adiante: ”…A economia afundou, os Estados Unidos podem perder seu lugar como potência número um do mundo, mas isso não significa que muitas destas cidades não possam se tornar ainda mais habitáveis.”
No fim, defende Jane Jacobs, a jornalista que se meteu a urbanista e fez sucesso propondo cidades que misturam comércio e moradias como modelo, enquanto condenava, como o próprio Byrne, as cidades americanas.
*Lourenço Mueller é arquiteto e urbanista
Publicado no blog Jeito baiano

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Sou Tântrica

Ludmilla Rohr*
Estou num momento bem interessante da minha vida. Essa semana volto a Salvador pela primeira vez desde nossa mudança para os EUA em dezembro. Nunca fiquei tanto tempo longe da minha cidade. Nunca fiquei tanto tempo longe das pessoas que amo e do meu trabalho. Hoje já não acho que foi muito tempo...nem tenho noção desse tempo...hoje acho que só existe o hoje.
Me sinto feliz aqui em Houston. Tive pouquíssimos momentos de tristeza ou de falta desde que cheguei aqui, e isso devo a minha forma de encarar a vida. Sou Tântrica. Definitivamente sou Tântrica.
Existe uma frase que amo muito que define o Tantrismo. Ela é assim: "O que existe aqui, existe lá. O que não existe aqui, não existe em lugar algum."....Adoro essa frase...penso exatamente assim. Por que pensar que minha felicidade está em outro lugar que não esse que estou? Não é um perda de tempo pensar que a vida seria melhor se fosse assim..ou assado...se estivesse ali, ou acolá...? Não é estupidez pensar que existe alguma coisa que me faria feliz ou completa, que não esteja aqui e agora?
Penso que o Tântra me deu uma visão muito clara de realidade, desfazendo ilusões e fantasias de algo que seja melhor do que aquilo que tenho ou que posso fazer agora.
Pensar assim, não me faz uma pessoa pobre de sonhos..sonho muito...desejo até mais do que gostaria, muito pelo contrário...exatamente porque tenho uma noção (que penso ser boa) de realidade, posso sonhar sonhos possíveis..e posso desejar muito...
Quem me conhece sabe que nunca penso pequeno..é estranho dizer isso, mas é verdade. Nunca acho nada inalcansável ou impossível. Não existe nada que eu não pense ser possível realizar. As vezes fico aborrecida e até mesmo entediada quando vejo pessoas colocando dificuldade na realização de coisas tão simples....acho um desperdício de energia, pensar nas dificuldades..sempre penso nas possibilidades...sou assim.
O Tântra me ensinou que não existe lugar mais completo e perfeito que esse aqui, esse agora. Esse é o lugar da realização, esse é o lugar da força e do Poder. Tudo só é possível a partir desse lugar...e se concentro minhas forças nele..tudo mais se desenrola...tudo mais, como uma Rede (essa é tradução da palavra Tântra)...como uma Teia...Trama...vai se construindo em todas as direções...e para sempre...porque o sempre é hoje..o sempre é agora.
Hoje filosofava virtualmente com uma amiga sobre a necessidade de se "trocar de pele", de não nos prendermos a aparências ou mesmo a rótulos e adjetivos. Sempre tive muita aversão a isso. É muito comum estar vestida de saia indiana de manhã e à tarde com scarpin vermelho..., ou quando alguém faz um comentário dizendo algo tipo: "Você é calma!" , ou, "Como você é corajosa!"..e eu sempre respondo: "Também!"..Essa é minha resposta libertadora. Dizer que sou "também", me libera da obrigação de ser aquilo. Por que no fundo no fundo..quero poder ser qualquer coisa..quero poder ser o meu hoje, o meu presente..o meu agora..
No fundo não quero me sentir na obrigação de ser qualquer coisa que seja projeção do outro sobre mim, quero ser eu mesma, e ser eu mesma, é ser um dia de cada vez...ou melhor, um momento de cada vez.
O meu presente agora, é que descobri que tenho duas casas..que moro em Salvador e também em Houston (foto)...
que tenho muitas amigas lá e aqui também...que posso ser feliz aqui, acolá..em qualquer lugar!!!
Meu coração e minhas vísceras estão nesse momento muito excitadas, por que amo viver assim, porque tenho uma excelente sensação a meu respeito...minhas vísceras falam de mim agora..e elas dizem que estou feliz!
Namastê
*Ludmila é psicoterapeuta e professora de yoga

domingo, 2 de maio de 2010

A bença, Mãe Stella

Baiana de Salvador, nascida a 2 de maio de 1925, está completando 85 anos de vida, neste domingo, a cidadã Maria Stella de Azevedo Santos, enfermeira de profissão e Ialorixá por fadário, querer de Deus, escolha dos Orixás.
Trata-se de Mãe Stella, a Ialorixá Stella de Oxóssi, consagrada, iniciada há 71 anos como Odé Kayodé, nome iniciático que quer dizer ‘Caçador de Alegria’, seu Oxóssi. Ela é a sacerdotisa maior, desde 1976, do trono de Xangô do terreiro de nação iorubá – Keto/Nagô, conhecido como o Ilê Axé Opô Afonjá, a roça de São Gonçalo do Retiro, assentada em 1910 pela notável Mãe Aninha, a lendária Obá Biyi, antecessora de Mãe Senhora. A roça do Opô Afonjá comemora 100 anos de fundação, neste 2010.
Mãe Stella é a Yá da Mãe-Preta Bahia. Antenada, moderna e ao mesmo tempo rigorosa na prática e na defesa dos fundamentos da religião, ela tem marcado seu tempo à frente da comunidade Keto Afonjá cuidando da preservação do culto e também, de forma pioneira, da transmissão por escrito do conhecimento e dos princípios aprendidos com os antepassados e transmitidos oralmente pelo mais velhos, há gerações. “O que não se registra o vento leva”, costuma repetir.
Com o propósito de disseminar ensinamentos escreveu Meu Tempo é Agora, um manual indispensável à compreensão da religião dos Orixás. Depois, lançou Oxóssi, O Caçador de Alegrias, livro dedicado ao Orixá que rege sua cabeça, com mitologias e reflexões sobre o guardião dos terreiros baianos de nação Keto. Mais recentemente, escreveu um livreto de antigos ditos, relembrando provérbios guardados na memória desde os tempos de criança: Owé – Provérbios, em português e iorubá. Por último, lançou o ilustrado Epé Laiyé –Terra Viva, uma parábola para crianças (de todas as idades) em defesa da mãe-natureza, fundamento da religião dos Orixás.
Nosso carinho, nossa homenagem a Mãe Stella de Oxóssi, em seus 85 anos de vida, desejando-lhe Axé, saúde e luz, sabedoria, sempre.
texto de zédejesusbarreto*

sexta-feira, 30 de abril de 2010

Viver no Centro Histórico de Salvador

Dimitri Ganzelevitch*
Voltando ao mau uso do Centro Histórico de Salvador. A rejeição deste bairro pela classe média baiana é uma realidade cultural. Ninguém quer saber se aqui moraram os poderosos, clérigo e nobreza de outras épocas. Nem os responsáveis pela conservação do bairro, seja de primeiro ou segundo escalão, nem o próprio arcebispo, apesar do magnífico palácio arquiepiscopal da Praça da Sé.
Quem manda seus filhos passar férias em Miami e Orlando dificilmente aceitará viver em moldura histórica sem o glamour dos condomínios com playground, zelador e garagem de controle remoto. O escudo invocado sempre é “por causa dos filhos”. Mas lamentar não adianta.
O Centro Histórico necessita de leque sociocultural mais amplo se quiser sobreviver. Há muitos anos defendo a implantação de repúblicas de estudantes, como houve antes da reforma, antes das vaias a um irascível governador. Sangue novo, risos, violões, atitudes rebeldes fazem parte da qualidade de vida de antigos bairros onde espíritos irrequietos e contestadores encontraram refúgio.
Que seria de Salamanca sem suas tunas ou de Coimbra sem suas estudantinas?
Que também fique aqui registrada minha sugestão aos governantes de atribuir, talvez na forma de prêmio, uns ateliês amplos e arejados a alunos recém-diplomados das Escolas de Música, Dança, Antropologia, Belas-Artes etc. Poderia ser sob forma de convênio para um mínimo de dois ou três anos, sem ônus para o contemplado, incluindo luz e água. Uma bolsa-artista. Por que não? Sairia muito mais barato que campanhas publicitárias na televisão e outdoors na Paralela.
Pequenos eventos com programação regular como feiras livres de produtos orgânicos no Terreiro de Jesus e no Largo de Santo Antônio, apresentações semanais de mamulengos e tantas outras formas de atrair e manter uma qualidade de vida diferenciada poderiam mudar os preconceitos da sociedade soteropolitana.
Precisamos reintegrar o Centro Histórico à cidade que dele nasceu. O que não se pode é imaginar que a abertura de um shopping no Santo Antônio ou shows de rock ou de pagode no Pelô solucionarão a previsível decadência do bairro.
Tombado pela Unesco no final do século XX, ou tombando pela falta de visão nos primórdios do século XXI?
*Dimitri Ganzelevitch – Presidente da Associação Cultural Viva Salvador

terça-feira, 27 de abril de 2010

Escolas Espremidas

Ilustração de Aziz
Nelson Pretto*
Tenho saudade de uma Salvador dos espaços generosos. Não imagino que o tempo tenha que parar, que o chamado progresso e o avanço do cimento e do asfalto tenham que ser contidos na marra. Mesmo que nestes últimos tempos de chuvas fortes eles tenham dificultado o movimento da água para seu lugar natural, longe de mim pensar em simplesmente voltar para o passado.
Também não quero falar do tempo das praças sem grades, dos chafarizes, fontes de água, casas sem muros ou com eles ainda baixinhos, onde podíamos sentar para prosear e matar o tempo. Para estes temas, os arquitetos, urbanistas, engenheiros, todos os articulistas de várias áreas já vêm escrevendo em A Tarde desde muito.
Quero falar, no entanto, de um espaço que para mim é muito caro: o das escolas.
Nossas escolas encolheram. E muito. Acabaram-se os amplos campos para o futebol, babas, garrafão ou similares, acabaram as áreas para o tão esperado recreio, também esse espremido entre os poderosos 50 minutos da sequência de aulas. Aulas que normalmente acontecem em salas que, praticamente, mantêm a mesma configuração de muitos anos, quem sabe séculos, e, o que é pior, também elas encolhidas.
São os mesmos móveis, a distribuição das cadeiras, o quadro negro – depois verdes e, nas mais modernas, até digitais –, estes quase todos colocados na frente, para que uma “plateia” de estudantes possa acompanhar as “emissões” dos professores.
No campo de interseção da arquitetura com a educação pouca coisa mudou e Bahia é repleta de experiências nessa área.
De um lado, com a triste proposta de se construir grandes escolas, todas iguaizinhas, replicadas pelo interior do Estado, e ainda por cima com o mesmo nome, antecedido do terrível adjetivo “modelo”. Nada a ver com educação, que precisa mesmo é ir para além dos modelos e caminhar em busca da criação.
De outro lado, tivemos uma rica experiência que não deveria ser esquecida, como a Escola Parque, implantada no bairro da Caixa D’Água por educadores e arquitetos baianos. Idealizada pelo educador Anísio Teixeira em conjunto com o arquiteto Diógenes Rebouças e o engenheiro Hélio Duarte, ali podemos ver, de forma cristalina, uma clara compreensão da importante relação da educação com a arquitetura. Relação essa que nós, da Faculdade de Educação da UFBA, insistimos ser básica para pensarmos a educação no presente e para o futuro.
Tentamos – com sucesso muito pequeno, é bem verdade – uma maior aproximação com a nossa Escola de Arquitetura, para montar um grande projeto para se estudar a relação entre essas duas grandes áreas. Um programa que fosse buscar em Anísio, Diógenes e Hélio inspiração e resgate histórico. Mas que não ficasse só neles. Que fosse também estudar e aprender, por exemplo, com Charles Mackintosh, o arquiteto da Escola de Artes de Glasgow, idealizador de um projeto de escola básica denominado Scotland Street School, hoje belíssimo museu sobre a história da educação na Escócia, onde é possível ver como eram as salas de aula e o funcionamento da escola ao longo dos anos naquele país.
A Escola Parque, pensada por Anísio (ver Revista Muito de 25/04), era um conjunto generoso de espaços livres, que incluía, com uma incrível centralidade, um enorme campo de futebol, rodeado de um teatro a la Teatro Castro Alves, uma magnífica biblioteca a la Brasília, um pavilhão para oficinas, repletos de obras de arte de Jenner Augusto, Carybé, Mario Cravo (aliás, como estão esses painéis, alguém sabe?!) e uma ala administrativa com refeitório, padaria e espaço para professores e alunos. Tudo, absolutamente tudo, imerso numa área verde de frondosas mangueiras que, felizmente, ainda lá estão.
Nesse complexo educacional, dizia Anísio, os filhos dos pobres teriam acesso àquilo que os filhos dos ricos têm nas suas casas. Ali estaria sendo formada uma juventude para fazer diferença.
Aqui, num hoje espremido no tempo e no espaço, nossa juventude é deformada para caber, literalmente, nas grades, curriculares e das salas de aulas. Quebrar estas amarras, na busca de uma formação mais ampla, é algo que demanda ações mais corajosas. E isso, não pode mais ser protelado para amanhã.
*Nelson Pretto – professor da Faculdade de Educação da UFBA – www.pretto.info
(artigo publicado originalmente na editoria de Opinião do jornal A Tarde, de Salvador-BA, em 25.4.2010)

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Um centro de convenções no centro histórico

Dimitri Ganzelevitch*
Na década de 90 discordei do espírito que liderou a restauração do Centro Histórico de Salvador. Continuo discordando do aproveitamento leviano que ainda vitimiza este pedaço de cultura e história, ora confundido com um banal Wet’n Wild, ora palco de folclorizações para turismo de massa.
Não me conformo com as “baianas de receptivo”, suas roupas e torços, verdadeira traição à elegância das vestimentas tradicionais. Você conhece cariocas, sevilhanas ou cusquenhas de receptivo? Não me conformo com um monte de erros de como se deve usar este bairro.
Há uns dois anos mandei pela internet uma sugestão de centro de convenções no Pelourinho. Receptividade excelente. De que se trata? Simplesmente de mapear e usar as possibilidades – e são numerosas – para atrair um público variado de profissionais oriundos de todas as partes do mundo.
Temos salas de reunião e auditórios suficientes, hotéis e pousadas para todos os bolsos, restaurantes, bares, sorveterias e teatros para o laser. E mais: não será preciso construir um monstrengo de ferro e concreto para abrigar seminários e congressos. Por que concentrar todos os serviços no mesmo espaço?
Em 1999, fui convidado pela Unesco a um congresso sobre Turismo Cultural em Puebla, no México, cidade tombada como patrimônio mundial. O centro de convenções fica a cinco minutos a pé do Zócalo, coração da cidade. Adaptaram, com desmedido talento, um conjunto de antigas usinas, respeitando os edifícios originais e até as ruínas, levando os participantes a andar de uma sala a outra por jardins, áreas descobertas e velhos depósitos. Passeios para ninguém criticar ou achar penoso. Muito pelo contrário, todos apreciam o aproveitamento da memória material e cultural da região.
Para mudar o perfil do mau uso de nosso Centro Histórico, basta fazer um levantamento exaustivo de suas possibilidades. Senac, Teixeira Leal, Faculdade de Medicina, Ipac (Instituto do Patrimônio Artístico Cultural da Bahia), igrejas…
E assim poderia também se programar a reabilitação dos cinemas Excelsior, Jandaia e Pax, espaços ideais para grandes audiências e exposições. Não, instrumentos de trabalho e bons operários não faltam. O que falta são bons empreiteiros.
* Francês nascido no Marrocos e radicado na Bahia desde 1975. Dimitri fundou a Associação Viva Salvador, que desenvolve ações de educação para a arte. Colecionador de peças de arte popular, ele transformou sua residência, situada no Centro Histórico de Salvador, na Casa Museu Solar Santo Antônio, que reúne seu acervo particular.

terça-feira, 20 de abril de 2010

O trânsito e o uso do solo urbano

Hernani Santos*
As funções básicas do homem moderno, expressas através da habitação, trabalho e o lazer, que crescem em incontida explosão demográfica, provocando um avanço continuado por novos espaços urbanos, tornaram-se cada dia mais distantes, se elasteceram, e por conta dessa nova configuração passaram a exigir da circulação – antes, mero fator integrante – uma posição de dependência quase vital, situando-a dentro do sistema, numa condição de superfunção urbana. Em virtude desse fenômeno, grandes e surpreendentes transformações, notadamente nos setores do desenvolvimento urbano e transportes de massa têm sido observadas nas principais cidades brasileiras, modificando de maneira expressiva as suas configurações físicas, o comportamento do uso do solo, e até mesmo a qualidade de vida dos seus habitantes.
Até o início da década de 50, o problema dos movimentos urbanos era geralmente encarado em termos de volume de tráfego, e o método largamente aceito para avaliar a demanda futura de movimentos em uma determinada via era o de examinar ou contar o fluxo existente e extrapolá-lo para alguma data futura, aplicando um fator de crescimento apropriado. Em 1953 surgiu nova filosofia, tendo como base a influência do uso do solo na formação dos movimentos viários.
Dentro dessa premissa e a consistência adquirida ao longo do tempo, configurou-se em definitivo que toda essa interação, para que venha propiciar as melhores condições possíveis, seja feita através de processo de planejamento contínuo e integrado, do uso do solo e dos transportes.
Salvador, diante da sua história, e em período recente, lamentavelmente, jamais conviveu com o mínimo processo de planejamento voltado para o trânsito, o transporte e o uso do solo. Em fins da década de 60, quando todas as atenções, interesses e fatos convergiam e aconteciam no seu centro tradicional, mais precisamente na Rua Chile, e ainda quando Itapuã era um aprazível e maravilhoso local de veraneio, eis que de repente surgem as avenidas de vale que provocam extraordinária expansão da cidade no sentido norte. Subsequentemente tivemos a construção da Av. Paralela, do Centro Administrativo da Bahia e no terreno onde ia ser erguido o estádio do Bahia, diante e na expectativa de expressivo negócio, foi construido o Shopping Center Iguatemi.
Salvador passou da condição de cidade para metrópole. De forma continuada, surgiram o sistema de viadutos do Acesso Norte, a Estação da Lapa, a segunda pista da Av. Paralela, outros viadutos e as famosas passarelas. Somente no início da década de 80, com a criação da Secretaria Municipal dos Transportes, tornou-se possível imaginar a possibilidade de se poder realizar um trabalho de planejamento mais próximo do ideal admitido e preconizado para a época. Isso porque a prefeitura, já responsável pelo planejamento urbano e gerenciamento dos transportes, passou também a administrar o trânsito.
No entanto, para infelicidade da nossa cidade, em dois períodos administrativos Salvador foi governada por cerca de nove prefeitos.
Pelas condições efêmeras de suas presenças, nada foi feito. As administrações subsequentes não encontraram nada a continuar e pouco puderam fazer, agravado pelo fato de que vieram atreladas e condicionadas à política e suas práticas nocivas, instalando-se dentro do sistema.
Atualmente, além da implantação de novos shoppings, temos em processo de construção o questionável metrô, que agrediu de forma violenta toda a paisagem no trecho por onde deve passar, sobretudo nas proximidades da Fonte Nova, além de Via Portuária, também bastante questionada. Num processo continuado, o que se vê hoje na Av. Paralela é a fixação de expressivos equipamentos geradores de tráfego, além da presença fortíssima da especulação imobiliária que provocam de forma inevitável, grandes congestionamentos e que, mantendo-se a mesma continuada omissa e descontrolada política, certamente viremos a ter no futuro, maiores e mais preocupantes problemas.
Por fim, sem nenhum controle do uso do solo nessas novas áreas de expansão como legado mais expressivo, surgiram e se fixaram grandes e expressivas invasões, favelas: Malvinas e Saramandaia.
*Arquiteto e engenheiro de transportes

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Qual a solução para as enchentes?

Enchente em Salvador
Sérgio Teperman*
Enchentes são acontecimentos inevitáveis. Por mais que a humanidade se esforce, a natureza pode até ser contrariada, mas acaba triunfando. A história também, a menos de Stalin e de Tarso Genro, não pode ser alterada. E ela relata que, ao longo dos séculos, as cidades se formaram no cruzamento de eixos comerciais, em torno de colinas fortificadas e principalmente ao lado de rios, ao mesmo tempo fonte de água e lugar para os dejetos, mas, também, grandes eixos de transporte.
As cidades, portanto, estão lá, não dá para mudá-las de lugar nem mudar sua principal conformação urbanística. Tampouco adianta lembrar que as antigas várzeas não eram ocupadas e que ali os ingleses jogavam "football". Muito embora algumas cidades tenham afastado as construções das margens dos rios criando parques, o ganho paisagístico e de imagem de ter um edifício ao lado do rio, com a visão da água e com as perspectivas abertas que as larguras dos rios oferecem torna essa posição imbatível. Reclamar que não se devem fazer avenidas nas margens e que as deveriam transformar em parques, depois que as cidades se estruturaram sobre essas diretrizes, é saudosismo do futuro. Ou mesmo argumentar que não se devem retificar rios, depois que todas as cidades do mundo já usaram essa solução, é o mesmo que dizer que não se devem fazer aglomerações junto aos terrenos fertilíssimos dos vulcões, ou que uma dezena de países deveria sair do círculo de fogo (e água) do Pacífico.
Há casos em que um país é tão inviável, que a solução seria mesmo fechar eternamente para balanço, mandar a população embora e apagar a luz, como no Haiti ou Bangladesh.
Mas há também o caso oposto, o da extrema engenhosidade humana para, mesmo morando em condições previsivelmente catastróficas, ultrapassá-las e se tornar um dos países de maior qualidade de vida e riqueza. É o caso dos Países Baixos. À exceção da cidade de Maastricht, na fronteira da Bélgica e da Alemanha, que atinge a altitude de 300 metros em uma colina fora de lugar, a maior parte dos Países Baixos está abaixo do nível do mar e aí foi criada uma das grandes civilizações da história. Esse país inteiro (pequeno é verdade) possui um planejamento territorial elaborado no meio do século passado, fielmente obedecido, governante após governante. E assim se criaram diques, estradas, portos e várias cidades em "terrenos" que eram água. E são tão capazes de admitir erros, que agora estão relocando cidades para permitir que não o mar (o que seria uma catástrofe), mas que os rios Reno e Maas, em seu delta, extravasem, ocupando áreas que eram cidades. Perceberam que o custo econômico e humano sairia mais barato.
Uma vez perguntei a um holandês qual era o ponto mais alto do país e me respondeu que ficava no Norte, a 4 metros de "altitude". Espantei-me mais ao ser informado de que um país tão pequeno tinha até Norte!
Uma das obras que protege a entrada do canal que leva a Rotterdam, o maior porto do mundo, tem um portão metálico de duas folhas de abrir com 2,5 km de comprimento e comportas que deixam passar o nível de maré alta conveniente ao porto, mas prevenindo inundações.
Naturalmente há também os casos opostos em que a Bushice (ou burrice) do presidente americano deixou praticamente à morte um patrimônio da humanidade, o berço do jazz, New Orleans. A inteligência pode ser incomensurável, mas como se dizia nos tempos da nossa ditadura, a burrice Medí-ci. Mas nenhum local, por mais famoso, escapa de inundações. Falando em Médicis, a cidade de Firenze sofreu em 1966 uma enchente que devastou em sua área central totalmente plana museus, palácios e igrejas, com um "Tsunami" de 6 metros de altura. Aí se percebeu, talvez pela primeira vez, que barragens destinadas a fornecer energia elétrica são em geral totalmente opostas como finalidade, para controle hidráulico. São incompatíveis.
As inundações previsíveis que atingem todos os verões a cidade de São Paulo, os desabamentos de terra nos contrafortes da Serra do Mar, as repetidas catástrofes no vale do Itajaí e tantas outras são inevitáveis.
O que é impensável, inconcebível, é que nada seja feito, previsto, seja como solução viária e urbanística alternativa, ou que, no caso de São Paulo, não seja realmente prevenida e severamente reprimida a atitude vergonhosa da população, de atirar tudo aos rios, colaborando decisivamente para o agravamento das causas das enchentes.
Temos em São Paulo o hábito de ver as enchentes pela impossibilidade de nos locomover, mas o dano é infinitamente maior. Inundações fazem parte da vida e da morte, a diferença está em prever soluções de proteção, alternativas viárias e principalmente planejamento urbanístico e territorial adequado, como sempre. Os governantes dos municípios em torno da Grande São Paulo, por exemplo, recusaram-se a se associar à Companhia de Saneamento Básico do Estado, que faria estações de tratamento de esgoto nos seus municípios, porque preferem gastar dinheiro com fontes luminosas a pagar as tarifas da companhia.
A solução, a meu ver, é extremamente simples: construir um tampão de concreto nos córregos dos municípios vizinhos a São Paulo, na divisa entre os dois municípios e cada um cuida dos seus problemas.
Com a mente curta de atitude corrupta, os nossos políticos só pensam em seus interesses pessoais e de seus companheiros. Quando muito constróem pontes em locais desnecessários e lembram, sempre adaptando o título, Paul Simon nas suas "water under troubled bridges".
* Arquiteto

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Agressão a Terreiros

EMILIANO JOSÉ*
Num momento da história, tragédia. Noutro, farsa. Lembro-me de Marx, justo dele, um materialista convicto, quando vejo movimentos da Prefeitura de Salvador contra as religiões de matriz africana. Por que esses movimentos, por que essa má vontade com o candomblé? Quais as motivações? Poderia dizer que é como se a atual administração ouvisse ecos do passado escravocrata ou, até mesmo, do século XX, quando a religião dos negros ainda tinha que pedir licença policial para realizar seus ritos.
Fico aqui a matutar sobre como reagiram os religiosos do Ilê Odô Ogê, terreiro também conhecido como Pilão de Prata, ao receberem um jovem fiscal da prefeitura, no dia 18 de março deste ano. Constrangido, notificava a casa religiosa pelo barulho provocado pelos “instrumentos de percussão”, que era como ele se referia aos atabaques. A notificação dizia que a “emissão sonora gerada em atividades não residenciais” somente poderia ocorrer se autorizada pela prefeitura. Incrível, mas verdadeiro. Penso na lei, na isonomia, e constato a óbvia discriminação. Com essa atitude, agride-se notoriamente o dispositivo constitucional da liberdade de culto.
Ao fiscal, explicou-se que a roça do Ilê Odô Ogê nascera lá pelos idos de 1963, que o terreiro fora tombado em 2004. Tratava-se de um templo já tradicional. Ao jovem fiscal foram mostrados o Museu e a Biblioteca do terreiro. Não havia diálogo, não se admitia conversa. Ele tinha que lavrar o auto. Por que isso só ocorre apenas com as religiões de matriz africana? Por que essa perseguição à religião dos negros, assumidamente religião de negros? Por que essa dificuldade em lidar com a diversidade religiosa? Por que essa intolerância que não cessa? Por que não se aplica o princípio de que toda religião tem que ser igualmente respeitada? A prefeitura – ou se quisermos o Estado, em sentido amplo – tem obrigação de ser laica e na sua laicidade fazer respeitar toda e qualquer religião.
Provavelmente, embora seja quase inacreditável, haja quem, na prefeitura, ainda queira obrigar os terreiros de candomblé a tirar licença para cumprir os seus rituais, procedimento que foi abolido na Bahia em 1975. Tardiamente, mas abolido. A atitude do jovem fiscal evidencia que o ovo da serpente da discriminação, do preconceito ainda tem acolhimento, e não tão disfarçadamente. O espectro da Casa Grande continua a nos rondar. Eu me pergunto se o prefeito João Henrique tem conhecimento disso. Seguramente, o culpado não pode ser encontrado no jovem fiscal. Ele apenas obedece ordens.
A prefeitura vem agindo de modo rotineiramente perverso com as religiões de matriz africana. Falar apenas em erros denotaria ingenuidade. São vários episódios. Lembro-me de outro, recente. Em 2008, a agressão atingiu o Ilê Axé Iyá Nassô Oká, o célebre terreiro da Casa Branca do Engenho Velho, o mais antigo templo afro-brasileiro em funcionamento, cuja fundação remonta ao início do século XIX, tido como uma espécie de “mãe de todas as casas” de santo do Brasil. É uma casa respeitadíssima. O então governador Waldir Pires, em 1987, declarou de utilidade pública para fins de desapropriação o posto de gasolina que ocupava área da Casa Branca, e aí surgiu então a Praça de Oxum, cujo projeto de urbanização foi de Oscar Niemeyer.
Pois bem, em 2008 a prefeitura pediu o arresto do imóvel onde se encontra o terreiro da Casa Branca, depois de autuar uma sacerdotisa falecida há 80 anos por uma suposta dívida relativa ao IPTU. Seria cômico, não fosse trágico. Claro que um terreiro como a Casa Branca, visitado por governadores e presidentes, respeitado por outros credos não pode ser agredido assim impunemente, e a prefeitura teve que recuar diante das reações. Se, no entanto, fazem isso com a Casa Branca, imaginemos o que continuarão a fazer com os demais terreiros, muitos deles pequenos, sem a notoriedade do Ilê Axé Iyá Nassô Oká. Creio que se impõe a todos os que defendem o respeito à diversidade religiosa, que se impeça o crescimento dessa atitude odiosa por parte da administração municipal em relação ao candomblé. Viva a liberdade religiosa.
*Emiliano José – Jornalista, escritor. Site:
www.emilianojose.com.br

quinta-feira, 1 de abril de 2010

A Utopia Urbana de Salvador

Lourenço Mueller*
Utopia é sinônimo de projeto irrealizável, quase um sonho. Não obstante, a esfera do sonho, da fantasia, antecipa o real; não há realização construída se esta concretude não for em algum momento sonhada, imaginada ou projetada.
Por isso gostei quando ouvi um representante do governo dizer que precisamos TER a nossa utopia urbana. Talvez tenha sido uma afirmação inócua mas toda realidade ocupacional desta metrópole leva `a conclusão de que Salvador não pode mais resolver os seus problemas urbanos dentro dos limites territoriais do município, e deveria lançar mão de terrenos exteriores a este, promover urgentemente um plano diretor metropolitano e adaptar as sedes dos municípios limítrofes ao crescimento acelerado da sede metropolitana.
Seguindo regras universais do urbanismo, empregos devem estar localizados próximos às moradias, pois assim podem-se, digamos todos em coro, minimizar custos e tempo de deslocamento.
Repensando a Região Metropolitana de Salvador (RMS), alguns municípios como Camaçari, Lauro de Freitas, Simões Filho e Candeias emergem como geradores de emprego e renda, seja pelas indústrias instaladas, seja pelo setor terciário já desenvolvido com destaque para a localização de empreendimentos de hotelaria na Estrada do Coco e na Linha Verde.
Estes municípios estão na área de influencia da via CIA-Aeroporto, que interliga a baía ao litoral leste. Perpendicular a esta, estudada pela urbanista Maria Elisa Costa, filha de Lúcio, uma nova via denominada “Linha Viva” atravessaria Salvador longitudinalmente, configurando uma espécie de “T”. As duas vias têm natural vocação para o desenvolvimento de atividades urbanas e para o assentamento populacional, podendo abrigar nas suas margens a expansão demográfica metropolitana por muitos anos… Se bem projetadas.
A oportunidade de se agregar sustentabilidade a esse sistema é agora, ao promover a organização de variáveis físicas, econômico-sociais e político-institucionais.
Experiências históricas na direção das utopias urbanas, de Ebenezer Howard a Le Corbusier, não favorecem muito a condição da utopia aplicada ao planejamento urbano. Mas Brasília sim. Há 50 anos, num país que não dominava tecnologias, sonhou-se uma cidade a partir de um sinal gráfico no dizer do célebre urbanista e ela reúne muitas das utopias anteriores.
Ao mesmo tempo em que se afirmou a arquitetura personalíssima de Niemeyer perdeu-se, no plano diretor de Brasília, a oportunidade única de inaugurar e incentivar um modelo de cidade auto-sustentável no país inteiro. Mas não poderiam adivinhar que o automóvel, inquestionável herói da década de 60, quando o Brasil começou a produzi-lo, se transformaria no vilão do século 21 e se tornasse capaz de desestruturar qualquer plano diretor bem intencionado. Oscar e Lúcio estão perdoados.
Poderíamos, agora, aproveitar a oportunidade da “Linha Viva” e da CIA-Aeroporto para desenvolver a nossa utopia urbana : a partir de um modelo paradigmático de tendências mundiais em que é valorizada a mobilidade assim como a ênfase ao transporte publico não poluente, o privilegio do pedestre e do ciclista sobre os automóveis e legislando o solo como uma propriedade estatal, incorporando ideias de urbanistas do passado.
Precisamos dar forma a essas intenções e redesenhar as margens desse T: dimensionar um programa, seguir critérios onde a densidade liquida não exceda 500 habitantes por hectare com uma densidade bruta de 50 mil habitantes por km2 na zona intensamente urbanizada ao longo da faixa das vias onde os terrenos, desapropriados, só poderiam voltar a ser ocupados mediante concessão de uso pelos poderes públicos.
A ocupação obedeceria a uma configuração de zoneamento adaptada a condicionamentos legíferos e geomorfológicos existentes com setores de densidade maior nas centralidades e rarefeita nos extremos, passível de ser atravessada por pedestres em menos de uma hora nos oito rumos da rosa-dos-ventos e permanecendo com os pavimentos térreos vazados.
*Lourenço Mueller – Arquiteto e urbanista