quarta-feira, 1 de março de 2017

Impressões e expressões do carnaval da soteropolis

Fernando Guerreiro*
Apesar dos vaticínios e pragas das trombetas da derrota, o Carnaval desta cidade continua vivo, vibrante e deliciosamente contraditório. 


Considerações  de um humilde folião que adora observar a folia:
1. A personalidade deste Carnaval foi Gilberto Gil. Onipresente, esteve no camarote, nos palcos, nos trios, esbanjando vitalidade e sabedoria. Falou o necessário e funcionou como uma espécie de embaixador da paz.
2. Falar o necessário não foi o caso de nosso vereador Igor Kannário. Um festival de bobagens, comprometendo meio mundo, se transformando no maior mico carnavalesco da década. Um terror!
3. Terror apostar em celebridades na folia. Elas estão em extinção, não causam mais impacto, e a proliferação de ex-BBBs destruiu a categoria. Poucos globais nos camarotes, com impacto zero na mídia.
4. A mídia e o público se deliciaram com a nossa rainha da comunicação, Ivete Sangalo. Deu um banho no desfile do Rio e provou que é imbatível no quesito carisma. Sambou no asfalto, aprendeu coreografias e ainda protagonizou o primeiro cooper do Sambódromo, para chegar no carro destaque. Deliciosa!
5. Delícia poder voltar a pular no chão. O folião pipoca volta a dominar o Carnaval e junto com ele a sensação de que blocos de corda que não dependem de um artista de nome e tem identidade vão continuar na folia: Muquiranas é o maior exemplo. Existe espaço para tudo, desde que equilibrando as demandas. 
6. Demanda para ser resolvida com urgência: crianças querem mais espaço na folia. Onde estiveram, cantaram e encantaram, e são os foliões do futuro. Depende deles a sobrevivência da festa.
7. Festa para Bell que vendeu todos os abadás e provou que continua imbatível como puxador. Festa para Daniela, que apesar do ego nos infernos continua provocadora e polêmica, trazendo movimento para a folia. Festa para Tomate com sua loucura e Márcio Victor que apareceu com a melhor música, colado com Léo Santanna que fez o melhor Carnaval de sua vida. Festa para o Cortejo Afro, Olodum, Gandhy, Ilê e todas as agremiações que mantêm vivas as nossas tradições, apesar da dificuldade eterna de colocar o bloco na rua.
8. Falar em rua, a tradição de falar nos trios está matando os desfiles. Ninguém aguenta mais a conversa interminável dos artistas com emissoras de TV no circuito. Um poooorrrre e um desrespeito ao folião.  
9. Que o folião volte a reinar no Carnaval e seja o principal elemento e o protagonista de uma deliciosa esbórnia que todo ano se reinventa e surpreende. Que o Carnaval seja discutido o ano inteiro em fóruns representativos e eficientes e que possamos construir ações que extrapolem os 12 (!) dias da festa e durem o ano inteiro. Paro por aqui que o arrastão me espera!
Fernando Guerreiro é presidente da Fundação gregório de Matos

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