sexta-feira, 26 de abril de 2013

Pessoas criativas fazem as cidades criativas

Quando nós falamos em cidades, vamos muito além dos aspectos econômicos, apesar de, fisicamente, muitas vezes, a cidade refletir a economia que ela traz". A opinião é de Ana Carla Fonseca, especialista internacional em Economia Criativa e doutora em Urbanismo.
Em entrevista concedida ao portal EcoD, Ana Carla abordou detalhes importantes que estão no livro Cidades Criativas - Perspectivas, organizado por ela e cujo conteúdo reúne as visões de 18 estudiosos (de 13 países diferentes) sobre o tema. Disponível em português na internet, a obra foi editada pela Garimpo de Soluções.
PSF: Qual é a relação da economia criativa com as cidades criativas?
Ana Carla Fonseca: Falar de uma cidade criativa não é necessariamente dizer que esta cidade tem uma economia criativa pujante. A economia criativa é importante e atua como uma das características das cidades criativas, mas não é a única.
PSF: O crescimento desse conceito te motivou a organizar o livro?
Ana Carla Fonseca: Quando eu comecei a me debruçar mais sobre essa história, me dei conta de que existem poucas bibliografias sobre o tema cidades criativas no mundo. O objetivo foi organizar uma visão conjunta, harmonizada, do que elas sejam. Inicialmente, seria apenas um livro digital em inglês. Os colaboradores são colegas com os quais conheci ou trabalhei nos últimos anos. Eles aceitaram a minha proposta de expressar o que são as cidades criativas do ponto de vista deles, como é que uma cidade se desenvolve a partir de sua criatividade, desafios no âmbito público e privado, entre outros temas relacionados. Aí, trouxemos como parceiros o Sebrae, a SP Turis e o Santander. O livro foi lançado no Brasil em Salvador, São Paulo e Belo Horizonte.
PSF: E o que uma cidade precisa para ser, de fato, considerada criativa?
Ana Carla Fonseca: Ao analisarmos as contribuições dos 18 especialistas que integram o livro, percebemos que há três características básicas das cidades criativas, comuns aos pensamentos de todos eles: inovações, soluções inteligentes para problemas urbanos; conexões, com ligações entre áreas da cidade e parcerias entre setores público e privado; e cultura, com ações no circuito das artes, setores da moda, gastronomia, design e arquitetura que possam gerar um ambiente mais favorável à inovação.
ana carla fonseca "Quem faz as cidades são as pessoas. Se as pessoas são criativas, as cidades são criativas" - Ana Carla Fonseca.
PSF: Existem limites para que uma cidade possa ser criativa?
Ana Carla Fonseca: Há o risco de se achar que uma cidade criativa tem de ser de grande porte, mas isso não acontece, necessariamente. Uma cidade de 10 mil habitantes pode ser extremamente criativa, mesmo que não seja considerada uma “cidade global”, como Nova York e São Paulo. Ela pode ter suas inovações e conexões culturais aplicadas ao seu contexto. Uma cidade de 5 mil habitantes, como Guaramiranga, no Ceará, pode ser criativa levando-se em conta sua proporção. Pode não ter um grande polo científico, mas ações conjuntas inovadoras, como o reaproveitamento de garrafas PET para às construções. Quem faz as cidades são as pessoas. Se as pessoas são criativas, as cidades são criativas.
PSF: Uma determinada cidade pode ter ações criativas, porém, de forma isolada. Daria para classificá-la como criativa?
Ana Carla Fonseca: Este é um ponto interessante. O grande desafio é a cidade inteira se beneficiar de sua criatividade, porque ela é um sistema, que precisa funcionar de forma harmônica. Do contrário, só com ações isoladas, você acaba com bolsões de criatividade que não transformam a cidade. A essência de uma cidade criativa é ela voltar-se a si mesma, identificar o que possui de singular e quais são os seus problemas, para passar a trabalhar em cima disso. Não adianta querer copiar outra cidade. É preciso explorar o próprio potencial.

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