quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Salvador: revitalizar ou expandir?

 Osvaldo Campos Magalhães*
No momento em que importantes decisões sobre o futuro de Salvador estão sendo engendradas, sem a devida participação da sociedade civil, cabe uma reflexão sobre as consequências destes atos para a qualidade de vida futura na cidade.
Em evento realizado no final de 2012, na Federação das Indústrias do Estado da Bahia, onde se discutiu os transportes e o futuro da nossa metrópole, foi ressaltado por urbanistas participantes dos diversos painéis, da necessidade de planejar o futuro das cidades não mais em função dos automóveis, mas das pessoas. Ao invés de se pensar em criar infraestruturas viárias voltadas para a expansão e espraiamento da nossa metrópole, os urbanistas presentes ressaltaram que a prioridade deveria ser a requalificação e o adensamento do centro da cidade e a priorização do sistema de transporte público de qualidade.
Discutindo-se questões semelhantes, foi realizado nos dias 17 e 18 de janeiro, em Washington D.C, o evento “Transformar os Transportes”, patrocinado pelo World Resources Institute (WRI), e que contou, pela primeira vez, com a presença do presidente do Banco Mundial, Jim Yong Kim, talvez indicando que o transporte urbano sustentável, finalmente subiu na lista de prioridades de todo o mundo. Também ali foi ressaltada a necessidade de serem adotados novos padrões mais sustentáveis ​​de desenvolvimento urbano, com maior densidade dos núcleos urbanos e sistemas de transporte sustentáveis ​​no coração desses lugares.
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Citando o exemplo de Hong Kong, onde o número de carros havia dobrado nas últimas décadas, e que, através de uma política pública bem sucedida, que contou com o suporte do Banco Mundial, conseguiu reduzir pela metade, o presidente Jim Yong Kim afirmou. "Não tem de ser uma intervenção dispendiosa. Nós podemos intervir para melhorar a qualidade de vida nas grandes cidades". Afirmou ainda que o principal desafio será "melhorar as condições de vida de milhares de milhões no mundo que vivem nas grandes metrópoles.” Enquanto as próprias cidades devem tomar decisões difíceis, o Banco Mundial, disse ele, está disponível para prestar assessoria política e de financiamento.
Já o prefeito de NY, Michael Bloomberg, também presente no evento, e que dirige o C40: Grupo de Liderança Climática que reúne as 40 principais metrópoles do mundo ressaltou o importante papel dos prefeitos: “somos executivos e devemos decidir quem ganha e quem perde, para isto é que fomos eleitos, para tomar decisões estratégicas para o futuro das cidades”.
Bloomberg está agora cada vez mais focado no redesenho das vias públicas, adaptando-as para todas as modalidades de transporte: "prioridade agora é para as pessoas, não apenas carros.", citando a transformação da região do Times Square, que foi recentemente fechada ao tráfego de automóveis e ônibus e se tornou um calçadão permanente.
Voltando a Salvador, especificamente em relação ao projeto de construção da ponte Salvador – Itaparica, as divergências entre os urbanistas e os representantes do governo do Estado da Bahia presentes à Agenda Bahia realizada na FIEB foram gritantes. A expansão da metrópole para o vetor sul, incorporando principalmente o litoral da ilha de Itaparica, trará consequências negativas para Salvador, afirmaram os urbanistas. Será repetido de certa forma, o fenômeno observado com a expansão já ocorrida para o litoral norte, que acentuou a decadência de importantes áreas da cidade, como a sua região central e toda a cidade baixa e provocou o caos no sistema de trânsito de Salvador.
Antes de qualquer decisão sobre o projeto da ponte, valeria a pena conferir experiências de sucesso que outras cidades no mundo estão realizando, qualificando o sistema público de transportes, revitalizando as regiões centrais e melhorando a qualidade de vida dos habitantes. Os exemplos de Bogotá, Portland, Copenhagen, entre outras, deveriam nos inspirar. Estas cidades são hoje referências mundiais em planejamento e revitalização de centros urbanos.
Priorizar as pessoas, a qualidade de vida, não os automóveis e os grandes sistemas viários, eis as novas palavras de ordem.
*Engenheiro Civil e Mestre em Administração, com foco em Tecnologia, Competitividade e Estratégia

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