quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

As cidades se reinventam

 Carlos Leite*
As metrópoles são o grande desafio estratégico do planeta neste momento. Se elas adoecem, o planeta fica insustentável. No entanto, a experiência internacional - de Barcelona a Vancouver, de Nova York a Bogotá, para citar algumas das cidades mais verdes - mostra que as metrópoles se reinventam. Se refazem. Já existem diversos indicadores comparativos e rankings das cidades mais verdes do planeta. Fora dos países ricos, Bogotá e Curitiba colocam-se na linha de frente como cases a serem replicados. Quais são as cidades mais inovadoras atualmente, aquelas que já estão sinalizando as mudanças para daqui a 25 anos? Por que as metrópoles contemporâneas compactas - densas, vivas e diversificadas nas suas áreas centrais - propiciam um maior desenvolvimento sustentável, concentrando tecnologia, novas oportunidades de crescimento, gerando inovação e conhecimento em seu território?
As metrópoles são o lócus da diversidade - da economia à ideologia, passando pela religião e cultura. E diversidade gera inovação. As maiores cidades do hemisfério norte descobriram isso há alguns anos e têm se beneficiado enormemente desse diferencial, dessas externalidades espaciais - inclusive com atração de investimentos. E têm promovido seus projetos de regeneração por políticas de inovação. Centros urbanos diversificados, em termos de população e usos, com empresas ligadas à nova economia, têm se configurado nas novas oportunidades de inovação urbana em áreas anteriormente abandonadas (caso do Barcelona 22@, San Francisco Mission Bay, além de diversas áreas em Nova York, Boston ou Londres). As cidades inteligentes, as smart cities, expressam a necessidade de uma reformulação radical das cidades na era da economia global e da sociedade baseada no conhecimento.
A capacidade de inovação se traduz em competitividade e prosperidade. Alguns parâmetros são fundamentais: presença da nova economia, sistema de mobilidade inteligente, ambientes inovadores/criativos, recursos humanos de talento, habitação acessível/diversificada e e-governance, que deverá incorporar sistemas inteligentes e integrados de governo, transporte, energia, saúde, segurança pública e educação. A democratização das informações territoriais com os novos sistemas de tecnologia de informação e comunicação, favorecendo a formação de comunidades participativas, além de e-governance: serviços de governo inteligente mais ágeis, transparentes e eficientes, por compartilhamento de informações.
Por fim, devemos ficar atentos às imensas perspectivas que as tecnologias verdes aliadas à gestão inteligente estão abrindo no desenvolvimento urbano de novos territórios, sejam novos bairros sustentáveis (por aqui, o pioneiro é o Cidade Pedra Branca Urbanismo Sustentável em Santa Catarina), sejam cidades inteiras verdes (Masdar, em Abu Dhabi, desenvolvida por Sir Norman Foster é o maior exemplo). E as nossas cidades? Decisão política, boas ideias e competência na gestão urbana sempre serão bem-vindas e algumas cidades atuais demonstram isso claramente e jogam otimismo no futuro das nossas cidades. Curitiba iniciou há 20 anos o processo e suas boas práticas devem ser replicadas cada vez mais, pois a sociedade civil organizada exigirá - como o sistema integrado de transportes coletivos, destacando-se os corredores de ônibus expressos ligados a corredores planejados de adensamento, coleta seletiva de lixo e rede polinucleada de parques.
Nossas duas megacidades, São Paulo e Rio de Janeiro, trazem parâmetros oportunos importantes. O incrível boom imobiliário atual (terceiro maior do planeta), aliado à pujança do setor da construção civil e à força econômica de São Paulo e Rio, além da concentração, rara no Brasil, dos famosos 3T's - Talento, Tecnologia e Tolerância - defendidos por Richard Florida como essencial para a inovação urbana pode alavancar as desejáveis reinvenções dessas cidades. Resta ao nosso mercado imobiliário incorporar melhor as lições que as cidades campeãs em inovação no mundo estão promovendo ao aliar, à pujança econômica, modelos urbanístico mais interessantes, com maior sociodiversidade espacial, como menos condomínios fechados e distantes. 
As cidades inteligentes estão chegando 
As cidades do futuro serão inteligentes em diversos aspectos. Uma gestão inteligente do território será capaz de propiciar maior agilidade na gestão integrada online das diversas mobilidades urbanas. Essencialmente, transporte público multimodal ágil e competente, como já há em diversas cidades desenvolvidas, mas também sistemas inteligentes de uso compartilhado de transporte individual, de bicicletas motorizadas aos smart city cars. 
Na verdade, as cidades inteligentes atuarão como um sistema de redes inteligentes conectadas. É natural que as contínuas inovações em tecnologia da informação e comunicação propiciem inúmeras revoluções urbanas. Empresas como a IBM (Smarter Cities), Cisco (Connected Urban Development), Siemens e outras já estão desenvolvendo programas e os ofertando às cidades. Não há mistério. O século 21 mostra, cada vez mais, a substituição da economia fordista industrial pela nova economia: de serviços. É óbvio que as cidades do futuro se pautarão assim também, serão polos numa imensa rede global de conexões inteligentes. 
As pessoas serão usuárias dos diversos sistemas e terão, cada vez mais, acesso online a todos os serviços urbanos, do consumo de água à escolha do posto de saúde. Do compartilhamento de smart cars à execução de trabalho em lugares flexíveis, espaços sem dono fixo, compartilháveis.Resta saber como tudo isso será acessível, democrático, inclusivo. Novamente, olhemos a história das cidades e lembremos que elas sempre foram o espaço das contradições e conflitos de suas sociedades. Seria inocente pensar que as inovações tecnológicas do século 21 propiciarão maior inclusão social e cidades mais democráticas por si só.
*Arquiteto, mestre e doutor (FAUUSP), pós-doutorado pela California Polytechnic University,
**Trecho do artigo, " Cidades dos Futuro", originalmente publicado na Revista do CAU

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