domingo, 20 de junho de 2010

A Novela do Metrô

Osvaldo Campos *
Como todos podem lembrar, na gestão do prefeito Antonio Imbassay, foi criada uma Secretaria Extraordinária, com a função específica de implantar o Sistema de Metrô de Salvador, composto por duas linhas. A linha I, com cerca de 12 km, ligando a Estação da Lapa até o Porto Seco Pirajá (Cajazeiras numa segunda fase), e a Linha II ligando a Estação da Calçada até Mussurunga (até o aeroporto numa segunda fase). A Linha I foi licitada e teve suas obras iniciadas pelo Consórcio METROSAL, composta pelas empresas Camargo Correa, Andrade Gutierrez e Siemens. (A empresa que apresentou a melhor proposta, a italiana Impregllio, foi desclassificada sob a alegação de que o projeto era ambientalmente agressivo). Para realização das obras foram obtidos financiamentos do Banco Mundial e BNDES entrando o Governo da Bahia como interveniente. A prefeitura de Salvador criaria em seguida a Companhia de Transportes de Salvador – CTS.
Com a crise financeira mundial, o Governo Federal atrasa a liberação de recursos e a obra sai do cronograma inicial.
Com a eleição do presidente Lula em 2002, as obras voltam a ser paralisadas, conseqüência de denúncias por parte do PT de corrupção e superfaturamento das obras. (Ver operação Castelo de Areia da Polícia Federal)
Depois de dois anos paralisadas, as obras do metrô de Salvador só foram retomadas em 2004, ano de eleições municipais, quando o candidato do PT Nelson Pellegrino se comprometeu publicamente com sua retomada. Depois da desativação dos canteiros, o Consórcio Metrosal exigiu um aditivo ao contrato, face às custos decorrentes da paralisação e da desativação do canteiro de obras.
Em 2004, com a eleição do candidato João Henrique, à época no PDT, a Secretaria de Infra-estrutura, passa a ser liderada pelo ex-deputado Nestor Duarte Neto, então no PSDB, que assume a direção da CTS, ficando encarregado de coordenar as ações visando a conclusão das obras do Metrô. Inexplicavelmente, o Prefeito João Henrique Carneiro resolveu alterar o projeto básico do Metrô, decidindo conjuntamente com a SETIN/CTS e o Consórcio Metrosal pela construção do trecho elevado na Avenida Bonocô.
Apesar do acréscimo de custos e do alto impacto visual para a cidade, foi então construído o elevado, mesmo com algumas paralisações das obras por falta de recursos e auditorias por parte do TCU.
O Governo do Estado da Bahia, co-responsável pelo empreendimento, adquire as seis primeiras composições do metrõ, que são entregues em dezembro de 2008.
Com a reeleição de João Henrique, agora no PMDB e aliado ao Ministro Gedell Vieira Lima, as obras são retomadas, com a previsão de inauguração do trecho Lapa Rotula do Abacaxi em setembro de 2010.
Enquanto isso o Consórcio que seria responsável pela operação do sistema de transporte desiste do contrato, face aos constantes atrasos nas obras.
Paralelamente à novela do Metrô, o SETEPS que nunca apoiou o mesmo, passa a desenvolver uma proposta de implantação de um novo sistema de transportes urbanos em Salvador, o Bus Rapit Transit, conhecido pela sigla BRT. Modelo de transporte urbano desenvolvido com sucesso pelo arquiteto Jaime Lerner na década de 70 em Curitiba. O BRT foi também implementado com sucesso em Bogotá e na cidade do México e, mais recentemente, com alguns percalços, em Santiago do Chile.
Com a decisão da FIFA em escolher Salvador como uma das sedes da Copa de 2014, e, constando como uma das exigências do caderno de Encargos da Copa 2014 a implantação de um sistema de transporte de alta capacidade entre o aeroporto e a arena esportiva, decidiu a Prefeitura de Salvador pela alteração do projeto de transporte de massa, que previa a linha II entre a Rotula do Abacaxi e o Aeroporto, pelo novo modelo proposto pelo SETEPS.
O Governo da Bahia, parte interveniente do processo, pois terá que assumir o financiamento junto ao BNDES ainda resiste à idéia.
Aguarda-se a novos capítulos desta triste novela, com a decisão final sobre o assunto. O BRT é uma solução mais barata e paliativa, com forte impacto ambiental e operacionalmente limitado em sua capacidade de atender ao crescimento populacional da cidade, principalmente em seu vetor norte de crescimento.
Confiamos, para o bem da cidade e de sua população, que não vença o lobby do SETEPS
Artigo publicado em junho de 2010 no jornal A Tarde
*Osvaldo Campos Magalhães é Engenheiro (UFBA/79) com especialização em Transportes e Mestre em Admistração (UFBA/95), com foco em Tecnologia e Competitividade.
Foi candidato a vereador em Salvador pelo PSB em 2008. O Povo , na sua sabedoria enigmática , preferiu Leokrete.

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