quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Porto da Barra, 460 anos depois

Almir Santos
Não foi por acaso que Thomé de Souza, nomeado pelo Rei D. João III Primeiro Governador Geral do Brasil, ali desembarcou em 29 de março de 1549, para fundar a Cidade do Salvador. Estabeleceu-se inicialmente na Vila Velha na residência do Donatário Francisco Pereira Coutinho e teve o assessoramento importante de Diogo Álvares Correia, o Caramuru, para executar o Plano Diretor da Cidade elaborado pelo mestre Luiz Dias. 29 de março, data do desembarque é, pois, uma data simbólica, como é o Sete de Setembro fixada posteriormente pelos historiadores como data de fundação da cidade. Pelo que consta não houve a solenidade de fundação, nem palanques, nem trios elétricos. Decorridos centenas de anos a Praia do Porto continua ganhado notoriedade, a ponto de o jornal inglês The Guardian considerá-la a terceira melhor praia do mundo, freqüentada por turistas de todo mundo que desfrutam de suas águas calmas, mornas, seu sol dourado, seu mar azul e de uma paisagem exuberante da Baía de Todos os Santos. Um porto natural, uma praia pequena, apenas 300m zoneada, cujo espaço é democraticamente dividido: farofeiros, pagodeiros, turistas, GLSs, profissionais liberais, empresários... Grandes são os seus freqüentadores. Uma praia de todos os povos de todas as raças. Que lindo! Os vendedores de bebidas com seus isopores disputam a clientela oferecendo cadeiras e sobreiros. Entre eles estão Mara, Celina, Xuxa (é homem), Gelado, Vermelho, Sady, Mazinho, Grande, Gerusa, Adriana e tantos outros. Ao todo são 60. Paralelamente, vendedoras oferecem o tradicional acarajé além de iguarias diversas, inclusive almoço. Há o Grupo da Peteca, fundado há aproximadamente há 40 anos onde muitos fundadores ainda estão em atividade. São assíduos freqüentadores entre eles a família Mario, Miguel e Paulo Albiani. Adilson, Américo, Osiel, Moacir, Jéferson Saldanha, Gutenberg, Geraldo, Algodão, Palhares, Matos (ex- jogador do Vitória) e Paulo Peixoto, este o que mais reclama. Não aceita perder de forma nenhuma. Justamente próximo ao Grupo é que me instalo há anos na Barraca de Deuzival, o Val, uma figura. Com seus filhos Valzinho e Danilo, seus auxiliares, Rose, Anderson e outros que se revezam a depender da demanda, Val e família se desdobram para atender bem seus fieis clientes. Entre eles João, o português, Mauricio, o namorador, Hélio, que vem correndo diariamente de Santo Antônio Além do Carmo até a Barra, Paulo, Paulo Oliver, Luiz, o Bolachinha, Neidinha, Augusta, Raquel, Jana, Tia Rita (que não tem nada de tia), Paulinha e outros que conheço sem saber seus nomes. Há ainda os cativos sazonais, isto é, que retornam dos mais diversos pontos do Brasil e do mundo todas as férias ou feriadões Dantas, amigo novo, é com quem divido um papo inteligente e simpático. Trocamos amenidades, comentamos fatos, falamos de futebol, política, atualizamos as notícias, tomamos nossa cervejinha e damos nossas modestas braçadas. No máximo contornamos o Chelito, barco que geralmente está ancorado. Nossa referência. Começou timidamente usando pé de pato, que deixou de usá-lo por mim incentivado e hoje me deixa pra trás nas nossas incursões. Educado, gozador, sempre bem humorado. E os ambulantes? Creusa vende Salgados, Eva, uma professora primária, concluiu a faculdade vendendo sanduíche natural na praia. Admirável. Antônio Carlos vende a melhor empada. Contenta-se em vender 50/70 por dia. Entre os artesões a mineira Kênia pinta seus azulejos com motivos baianos em frente aos clientes e o paulista Ronaldo vende seu artesanato em coco. Bom de conversa, fala um português corretíssimo. O segredo? Devora dois livros por semana. Há ainda os vendedores de sorvetes, queijo coalho, amendoim, castanha... Há vendedoras de biquínis, saídas de praia, chapéus, confecções, artesanato em geral e, como não podia deixar de ter, berimbaus João do Camarão é diferenciado. Vende cantando, exibindo seus dentes impecavelmente brancos, sua composição. Que gogó! Tenho o seu CD:

Eu sou João, João do Camarão
O bicho de perna, sem orelha e sem cabeça
Você quer comer camarão?
Camarão é do João.
Você quer comer camarão?
Camarão é do João.
Vamos que vamos...
Vamos comer o bichinho?
Camarão no espetinho.
Vamos comer o bichinho?
Camarão no espetinho
Um por do sol sem igual, quando os presentes gritam, assoviam, aplaudem batem palmas Uma praia colorida. Uma festa permanente.
Porto da Barra. Uma dádiva da natureza.

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