sábado, 9 de maio de 2015

Bahia perde filho ilustre. Rodolpho Tourinho morre aos 73 anos


Daniel Rittner | Valor
O ex-ministro e ex-senador Rodolpho Tourinho Neto morreu quinta-feira, aos 73 anos, no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, onde estava internado para tratamento médico.
Economista, especializado em administração de empresas, Tourinho seguiu extensa carreira nos setores público e privado, com forte atuação também na função de liderança empresarial de importantes setores econômicos. Foi secretário estadual de Fazenda da Bahia (1991-1998), ministro de Minas e Energia (1999-2001) e senador (2003-2007).
Um dos mais fortes representantes do “carlismo” — corrente política ligada ao ex-governador baiano Antônio Carlos Magalhães —, Tourinho construiu sua carreira política no antigo PFL, depois transformado em DEM. Sempre manteve, no entanto, boa interlocução com adversários que militavam em campos opostos.
Graças ao conhecimento técnico, na área de infraestrutura, aproximou-se da presidente Dilma Rousseff nos últimos anos e foi peça-chave no diálogo entre governo e empresariado para os últimos leilões de concessão de rodovias e aeroportos. Ele vinha exercendo a presidência-executiva da Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base (Abdib), cargo que ocupava até agora.
No setor privado, também havia sido vice-presidente do Banco Econômico, diretor da construtora OAS e gerente-geral da Bahema. Foi ainda presidente-executivo do Sindicato Nacional da Indústria da Construção Pesada (Sinicon) e membro do Conselho Superior Estratégico e do Conselho de Infraestrutura da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).
Rodolpho Tourinho deixa esposa, filhos e netos.

terça-feira, 5 de maio de 2015

Salvador



José de Freitas Mascarenhas*
A cidade de Salvador que tanto amamos é uma cidade estruturalmente pobre: 74,9% da população da sua Região Metropolitana recebia em 2013 até 2 salários mínimos, segundo o IBGE. A cidade ocupava a 17ª posição na classificação das capitais nacionais por rendimento domiciliar médio per capita.
Consequentemente carrega as mazelas da pobreza: em 2012 registrou 16.93 óbitos de suas crianças com até 12 meses de idade por mil nascidos, deixando-a em 24º lugar entre as capitais brasileiras. Florianópolis obteve o primeiro lugar com a metade (8,27) deste valor.
Na área educacional, no mesmo ano, ficou em último lugar entre as capitais com 45,9% dos alunos apresentando idade superior em mais de dois anos em relação à idade ideal para cursar o ensino fundamental da rede pública, segundo o censo escolar do Inep/MEC. No ensino médio este percentual se agrava alcançando 56,1%. O diagnóstico do recente Planejamento Estratégico do Município reconhece esta situação da educação quando aponta que a cidade ocupa o terceiro pior desempenho entre as capitais brasileiras no ensino fundamental com nota 4 no Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) de 2011 e o segundo pior desempenho no ensino fundamental II com nota de apenas 2,8.
O Mapa da Violência de 2014 apresenta para todo o Estado da Baia uma taxa de 41,9 homicídios por cem mil habitantes. Salvador apresentou  60,6.
São certamente dados preocupantes para a cidade  que gostaríamos de ter. Por trás disso encontra-se indelével a marca da pobreza: a baixa renda média da sua população e a reduzida atividade de negócios refletida na insuficiente arrecadação municipal.
Quando se compara nos dados da receita municipal, IBGE/2010 último disponível, itens da arrecadação sobre o patrimônio imobiliário (IPTU,ITBI) ou sobre os serviços (ISS) conclui-se pela coerência da posição de Salvador com os valores apresentados por Recife e Fortaleza. Mas quando essa comparação é feita com os valores da atividade econômica (ICMS), Salvador fica atrás das duas em 29,2% e 30,1%. No que diz respeito ao PIB per capita do ano de 2012 novamente Salvador fica atrás delas em 37,9% e 15,3% respectivamente.
Dados da Secretaria do Tesouro Nacional indicam que Salvador investiu em 2012, 4,3% da sua receita, enquanto Recide investiu 8,9% e Fortaleza 7,5%. Naquele ano a média nacional de investimentos públicos municipais superou a marca de 10%.
Fato notório é que Salvador não conta com com receita industrial compatível com a sua expressão econômica, de vez que na sua Região Metropolitana essa atividade está concentrada em municípios como Camaçari, que em 2012 teve renda per capita 238% superior.
Esta situação induz um efeito circular: a população sem renda suficiente não conta com meios para cuidar da sua qualidade de vida principalmente em saúde e educação e sobrecarrega a demanda por assistência social do município que ao atende-la, restringe o investimento que lhe proporcionaria benefícios e conforto. Não há nenhuma solução mágica que possa romper este círculo imediatamente, exceto através de programas de crescimento da renda ou verbas externas para investimentos.
Nada mudando na política fiscal da Federação restam algumas iniciativas a explorar: estimular a realização de investimentos industriais privados e outros negócios nos limites da cidade. Há setores da indústria que podem conviver bem no ambiente urbano sem provocar maiores danos. O correto no entanto seria especializar a área e equipá-la para abriga-los. No possível oferecendo outros incentivos atrativos aos investidores.
Numa segunda linha continuar investindo na qualificação da cidade para o turismo. Salvador tem reconhecidos predicados para desenvolver o setor: sol, geografia, baía com grande potencial de exploração, diversidade cultural, patrimônio histórico e, como marca , um certo misticismo derivado da presença africana que compõe ambiente propício às atividades artísticas.
Mas que não haja ilusão, o turismo de alto padrão não virá para cá sem que estejam resolvidas questões fundamentais como a existência de segurança plena, museus de qualidade, disponibilidade de diversão, bons hotéis e serviços de padrão adequados. Isso tudo não se consegue a curto prazo.
É bem verdade que a cidade está visivelmente melhor e mais bem cuidada. Melhorá-la sempre é crucial. Maior atenção deveria ser dada ao seu planejamento urbano (PDDU) projetando uma cidade atrativa e moderna para seus habitantes. Elevar sua renda vai depender muito do investimento privado. Que certamente fluirá desde que encontre ambiente favorável e gerador de retorno econômico.

*José de Freitas Mascarenhas é Engenheiro Civil e Conselheiro da Odebrecht. Vice presidente da CNI, presidiu a FIEB de 2009 a 2013

segunda-feira, 4 de maio de 2015

A hora e a vez do Plano Metropolitano

Sylvio Bandeira de Mello e Silva* 
Salvador e sua complexa região metropolitana vivem atualmente um grande desafio: o de produzir em três anos um plano metropolitano de desenvolvimento urbano integrado, atendendo ao disposto no recente Estatuto da Metrópole (lei federal nº 13.089 de 12/01/2015). Com efeito, o referido Estatuto dispõe detalhadamente sobre como devem ser as relações interfederativas no contexto de uma região metropolitana brasileira, complementando, em muitas questões, o que estabelece o Estatuto da Cidade.
É evidente que o referido plano metropolitano a ser produzido tem enorme importância, na medida em que irá buscar a solução de muitos problemas que, em conjunto, interessam a todos os municípios metropolitanos (mobilidade, saneamento, segurança, habitação, saúde, educação, lazer, cultura etc.).
Em seu artigo 10º, o Estatuto prevê também que todos os planos diretores dos municípios metropolitanos devem levar em conta o contexto metropolitano, o que já atinge o Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano (PDDU) de Salvador, em processo de elaboração.
Para tanto, temos que resolver antes, na nossa região, um grave problema político e institucional. O Estado da Bahia criou em 13/6/2014 a Entidade Metropolitana da Região Metropolitana de Salvador (lei complementar nº 41), portanto, antes do Estatuto da Metrópole.
O município de Salvador não só não aderiu como entrou, através do DEM/Democrata, o partido do prefeito, com uma ação direta de inconstitucionalidade no Supremo Tribunal Federal, alegando violação na autonomia municipal, garantida pela Constituição. Espera-se que o julgamento da ação pelo STF seja feito nos próximos meses.
Assim, é preciso resolver logo a pendência judicial com um acordo de alto nível entre o estado e o município de Salvador, levando em conta a novidade do Estatuto da Metrópole. Uma nova lei estadual poderia ser discutida entre o governo do estado e os municípios metropolitanos, substituindo ou alterando a Lei da Entidade Metropolitana.
Isto permitiria acelerar as atividades de planejamento e de governança metropolitana, priorizando os interesses comuns e visando a necessária melhoria da qualidade de vida da população dos 13 municípios da região metropolitana, hoje com mais de 4 milhões de habitantes.
Em tempo, caso o Plano Diretor não seja produzido em três anos, o governador e o prefeito incorrerão em ato de improbidade administrativa (Art. 19º do Estatuto da Metrópole).
Finalmente, é preciso reconhecer, como o fez David Harvey, que, "numa região metropolitana, devemos considerar a formação da política de coalizão, a formação de uma aliança de classes, como base para algum tipo de empreendedorismo urbano" (A produção capitalista do espaço. São Paulo: Annablume, 2005, p. 171).
E o empreendedorismo urbano, integrado ao processo de planejamento aberto, criativo e participativo, é fundamental para o processo de desenvolvimento metropolitano! Quem dará o primeiro passo entre nós?
|* Doutor em Geografia/Université de Toulouse, professor da Ucsal | sylvioms@ucsal.br

sábado, 2 de maio de 2015

Salve mãe Stella de Oxóssi. 90 anos de sabedoria e fé

O Terreiro Ilê Axé Opô Afonjá, uma das mais importantes casas de candomblé do Brasil, celebra os 90 anos de sua matriarca, Mãe Stella de Oxóssi. Localizado no bairro de São Gonçalo do Retiro, em Salvador, o local recebe a festa, marcada para as 19h deste sábado (2), que contará com a presença de representantes de religiões de matriz africana, além de artistas e autoridades. As homenagens à Ialorixá contam com apoio das Secretarias de Cultura do Estado da Bahia, de Políticas para Mulheres, de Promoção da Igualdade Racial, da Administração e da Casa Civil.
Maria Stella de Azevedo Santos – Iya Odé Kayode – nasceu no dia 2 de maio de 1925, na Ladeira do Ferrão, no Pelourinho, em Salvador. Graduou-se em Enfermagem pela Universidade Federal da Bahia, com especialização em Saúde Pública, Stella exerceu a profissão durante 30 anos. Foi iniciada no candomblé por Mãe Senhora, em setembro de 1939, quando tinha apenas 14 anos. Mãe Stella viajou várias vezes para a África, visando aprofundar os conhecimentos sobre a cultura iorubá e foi a primeira Ialorixá a escrever livros e artigos sobre sua religião. Em 1999, em homenagem aos 70 anos de iniciação de Mãe Stella, o Ilê Axé Opô Afonjá foi declarado patrimônio cultural brasileiro e tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN).
Já em 2013, a Ialorixá Mãe Stella passou a ocupar o assento de número 33 da Academia de Letras da Bahia, cadeira esta que tem como patrono o poeta Castro Alves, e já foi ocupada por: Francisco Xavier Ferreira Marques, Heitor Praguer Frois, Waldemar Magalhães Mattos, além de Ubiratan, que era presidente da Fundação Pedro Calmon.  Mãe Stella é colunista do jornal A Tarde e autora de livros como “Meu tempo é agora”, “Òsósi – O Caçador de Alegrias” e “Epé Laiyé- terra viva”. Em 2009, recebeu o título de Doutor Honoris Causa da Universidade do Estado da Bahia (Uneb).
Homenagens
Como defensora da cultura negra, Mãe Stella recebeu vários prêmios, homenagens e condecorações, como o título de Doutor Honoris Causa pela Universidade Federal da Bahia (ao completar 80 anos), o troféu Esso para escritores negros, a comenda Maria Quitéria, o troféu Clementina de Jesus, a comenda da Ordem do Cavaleiro (pelo Governo do Estado da Bahia) e a comenda do Mérito Cultural (pela Presidência da República). Em 2013, foi eleita por unanimidade para a Academia de Letras da Bahia.
*Artigo originalmente publicado no Portal Secult

quinta-feira, 30 de abril de 2015

Aeroporto Luiz Eduardo Magalhães será privatizado e duplicado


 O Ministro Eliseu Padilha anunciou ontem que somente três aeroportos serão privatizados na nova rodada de concessões públicas a ser anunciada pela Presidência da República. Serão privatizados os aeroportos de Salvador, Porto Alegre e Florianópolis. Para Salvador, um novo projeto de duplicação do Aeroporto Luís Eduardo Magalhães encontra-se em fase de estudos e adequações na INFRAERO.  
Embora tenha deixado claro que a estatal terá participação menor nas próximas concessões – ficou com 49% da sociedade nas duas rodadas anteriores –, Padilha não detalhou qual será o limite.
Na avaliação do ministro, uma vez que o próximo leilão seja anunciado, haverá um prazo de 360 a 420 dias para a assinatura do contrato. Padilha descartou a licitação em 2015 e lembrou que haverá a necessidade de lançamento de um procedimento de manifestação de interesse (PMI) para a realização dos estudos de viabilidade técnica e econômica. São esses estudos que definem questões como o volume de investimentos exigidos, o valor mínimo de outorga e a duração dos contratos de concessão.
Atualmente, o aeroporto ocupa uma área de 5,7 milhões de m². Com a duplicação passará a dispor de praticamente o dobro com 10 milhões de m². O Ministro admitiu que a não obtenção do licenciamento ambiental para a construcao da nova pista em 2009, “decorreu do entendimento do Inema-Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (à época era o IMA) de que a pista velha teria possibilidade de ampliação, o que tornava injustificável a construção de uma nova pista, à época”.
Para Eliseu Padilha  somente uma nova pista permitirá pousos e decolagens simultâneos e a ampliação do terminal de passageiros. A pista tem extensão prevista em 2,4 quilômetros. Portanto, tendo como perspectiva o ano de 2039.
“Efetivada a duplicação, o aeroporto de Salvador terá capacidade para operar um movimento de até 42 milhões de passageiros por ano." afirmou o Ministro.
 Em 2014 a movimentação alcançou 9,1 milhões, compreendendo um acréscimo de 6,5% em relação ao ano anterior.
Nova pista
Embora conste do Plano Diretor do Aeroporto, elaborado em 1981, a construção da terceira pista para pouso e decolagem de grandes aeronaves em Salvador é fonte de polêmica desde 2009. O projeto previa, então, a utilização de cerca de 80% da Área de Preservação Ambiental Lagoas e Dunas do Abaeté. Os ambientalistas chegaram  a questionar a obra, à época, como “mais um crime ambiental anunciado que envergonha a Bahia”.
Segundo o documento divulgado no período pela Unidunas, “a ampliação do Aeroporto de Salvador extinguiria a quase totalidade do manancial do Abaeté, aterraria 15 lagoas, erradicaria espécies em risco de extinção, além de centenas de espécies vegetais raras, como orquídeas que só acontecem naquele ecossistema."
A construção da segunda pista é estratégica para consolidar Salvador como Hub-aeroportuário do Nordeste e evitaria a construção de um novo terminal na Região Metropolitana, o que provocaria um impacto ambiental muito maior.
A primeira tentativa de construção da segunda pista ocorreu quando o baiano Sérgio Gaudenzi presidiu a INFRAERO, no segundo mandato do governo do presidente Lula. (Ver nota abaixo publicada no Correio da Bahia em 11/02/2008)
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* Confirmada pela Infraero a ampiação do aeroporto de Salvador
Correio da Bahia 11/02/2008


O Aeroporto Internacional Deputado Luís Eduardo Magalhães vai ganhar uma nova pista de pouso e decolagem com 2.400 metros de extensão. De acordo com o presidente da Infraero, Sérgio Gaudenzi(foto), a nova pista vai custar R$ 150 milhões.
As obras estão previstas para terminar até 2010. A nova pista vai substituir a auxiliar, que tem 1.500 metros e deve ser desativada. Com isso, o número de operações de pousos de decolagens deve atingir a capacidade máxima de 59 vôos por hora, 17 a mais do que acontece atualmente.
A construção de uma nova pista e a desativação da auxiliar vai possibilitar também a ampliação do terminal, pois o aeroporto em 2007 já atingiu a sua capacidade máxima de 6 milhões de passageiros.

Outra obra muito importante que já está em fase inicial é o complexo viário Dois de Julho, onde serão constrídos quatro grandes viadutos que facilitarão o acesso ao terminal aeroportuário, acabando de vez com os constantes engarrafamentos na região.


quinta-feira, 23 de abril de 2015

Linha Viva terá edital lançado

A “Linha Viva” , orçada em cerca de R$ 1,5 bilhão terá seu edital publicado nos próximos dias pela Prefeitura Municipal de Salvador. Sua construção será em regime de Parceria Público-Privada (em regime de concessão comum), pelo prazo de 35 anos, considerando sua implantação, operação e exploração econômica. Após o lançamento do edital, os interessados têm 45 dias para elaborar as propostas em uma concessão de 35 anos. A expectativa é de que as obras durem quatro anos. Segundo o prefeito Antonio Carlos Magalhaes Neto, 
"É uma obra fundamental para a cidade, que está estrangulada. Precisamos de obras para facilitar a mobilidade e tirar Salvador do caos". A previsão é de que comporte 160 mil veículo por dia, o que corresponderia a cerca de 40% do trânsito da Paralela. A proposta da Linha Viva é uma via expressa pedagiada, que deverá ligar a Rótula do Abacaxi à CIA-Aeroporto, com extensão de 17,70 km de pista dupla, exclusiva apenas para carros de passeio (nem transporte coletivo, nem bicicleta poderão circular), com três faixas de tráfego por sentido, 10 conexões com o sistema viário existente (viadutos, alças e rampas que conectam a Linha Viva com a Av. Paralela) e 20 ligações viárias simples (viadutos). A via deverá utilizar a faixa de domínio da CHESF, utilizando uma extensa reserva de área da cidade, sendo que a poligonal básica de implantação, segundo decreto de declaração de área de interesse público é de 4,64 milhões m2. Ou seja, 464 hectares serão mobilizados para uma solução de mobilidade privatizada e de modal unicamente rodoviário. O projeto da via atravessa áreas como Saramandaia e Pernambués, desalojando parte da população que reside nestes bairros há cerca de 30 anos. O projeto atravessa também áreas de proteção ambiental, como a represa do Cascão, com 200 hectares de vegetação nativa sob tutela do 19º Batalhão de Caçadores do Exército (19 BC). O Projeto Básico de Engenharia Viária, e os Estudos de Impacto Ambiental (EIARIMA) foram elaborados pela mesma empresa (TTC Engenharia).Dentre as principais reclamações contra o projeto, está a desapropriação dos imóveis. Com relação a isto, téicos da PMS tem afirmado que a a´rea a ser utilizada pela Linha Viva é pública e que os moradores ocuparam ilegalmente, sendo inclusive uma área de riscoembaixo da linha de transmissão da Chesf, de 220 mil volts. oradores deverão ser realocados para lugares próximos".

domingo, 22 de março de 2015

Mudando a Cultura. Transformando as cidades

Helle Søholt, CEO at Gehl Architects, explains why changing a city’s culture can make it flourish in numerous ways. More important than the way the city looks and feels, is the process it took to get there. City culture can change; it is a matter of what you prioritize. Creating a city that is inclusive, lively, healthy, and sustainable means designing for human needs and inviting for public life to flourish in many different ways. Some keys to this approach include walkability, bikability, public space and public transportation.  

Ricardo Castro. Ensinando e transformando

Natural da cidade de Vitória da Conquista, no sudoeste da Bahia, Ricardo Castro começou a tocar piano com três anos de idade, espontaneamente.
Aos cinco anos, foi admitido em caráter excepcional nos Seminários de Música de Salvador, famosa escola que hoje faz parte da Universidade Federal da Bahia (UFBA). 
Aluno da conceituada professora Esther Cardoso, deu seu primeiro recital aos oito anos de idade. Aos dez, junto com a Orquestra da UFBa, deu o Concerto em Ré Maior de Haydn. Em 1984, Ricardo Castro foi com recursos próprios estudar na Europa. Ingressou no Conservatório Superior de Música de Genebra na classe de virtuosidade de Maria Tipo e na classe de regência de Arpad Gerecz. 
Ao conquistar os primeiros lugares dos concursos Rahn em Zurique em 1985 e Pembaur em Berna em 1986, recebeu do conservatório de Genebra, em 1987, o "Premier Prix de Virtuosité avec Distinction et Félicitations du Jury". 
Neste mesmo ano foi vencedor (ex-aequo) do Concurso Internacional da ARD de Munique, contribuindo assim para o primeiro impulso na sua carreira internacional. 
Pouco depois completou seus estudos de piano em Paris com Dominique Merlet. Em 1993, Ricardo Castro recebeu o primeiro lugar no prestigioso "Leeds International Piano Competition" na Inglaterra, marcando a história da competição por ter sido o primeiro vencedor latino-americano desde sua fundação em 1963. 
Radicado na Suíça, já foi convidado para dar concertos no exterior com orquestras como BBC Philharmonic de Londres, English Chamber, Academy of St. Martin in the Fields, City of Birmingham Symphony, Tokyo Philharmonic, Orchestre de la Suisse Romande e Mozarteum de Salzburg. Entre os regentes com quem já colaborou no exterior estão Sir Simon Rattle, Yakov Kreizberg, John Neschling, Kazimierz Kord, Gilbert Varga, Alexander Lazarev e Michioshi Inoue. 
Suas apresentações e gravações são aclamadas pela crítica internacional. Atualmente, Ricardo Castro é Diretor Geral e Artístico dos Núcleos de Orquestras Juvenis e Infantis do Estado da Bahia (Neojibá), que fundou em 2007. 
O Neojibá foi inspirado na Fundación del Estado para el Sistema Nacional de las Orquestas Juveniles e Infantiles de Venezuela – mais conhecido simplesmente como El Sistema. Criado em 1975, El Sistema foi considerado pelo maestro Simon Rattle, diretor artístico da Filarmônica de Berlim, como "o maior acontecimento da música clássica no mundo inteiro", e dele fazem parte 350 mil jovens e crianças e mais de 180 orquestras distribuídas por toda a Venezuela. 
A Orquestra Juvenil da Bahia (Youth Orchestra of Bahia), um dos grupos que integram o Programa Neojibá, realizou uma bem-sucedida turnê pela Europa em 2010 . 
Em 21 de maio de 2011, apresentou-se no Royal Festival Hall de Londres, com o pianista chinês Lang Lang. Ainda em agosto do mesmo ano, a Orquestra tocou no Victoria Hall de Genebra e na abertura do Festival Young Euro Classic no Konzerthalle de Berlim, sempre sob a regência de Ricardo Castro. 
Depois das apresentações nos EUA em fevereiro de 2014, com aclamada recepção de público e crítica, a Orquestra Juvenil da Bahia realizou a sua quarta viagem à Europa, entre 5 e 17 de setembro. Sob a regência do maestro Ricardo Castro, o grupo formado por 130 instrumentistas de 14 e 29 anos de idade passará por sete cidades na Itália, na Inglaterra e na Suíça, onde será a primeira orquestra residente em um festival europeu – o de Música Clássica de Montreux-Vevey.

segunda-feira, 16 de março de 2015

Uma luz para Fernando Coni Campos

 Sobre "Viagem ao Fim do Mundo" (1968), primeiro longa-metragem completo de Fernando Coni Campos, o crítico Jean-Claude Bernardet assim escreveu em junho: "Quando vi o filme pela primeira vez, percebi que não havia nada semelhante no panorama cinematográfico brasileiro, que ele abria perspectivas em direção ao cinema-ensaio, à possibilidade de elaborar ensaios em filmes, que o pensamento no cinema não precisava se ater à ficção, que o pensamento no cinema podia recorrer à ficção, entre outros instrumentos".  
Esse olhar tardio de um nome tão forte da reflexão crítica, como Bernardet, é indício máximo do quanto a obra de Coni Campos passou marcadamente na historiografia da produção brasileira, mas foi simplesmente esquecida - ou omitida - nas últimas décadas.

"Ele é um dos segredos mais bem guardados do cinema brasileiro", afirma Ewerton Belico, curador da retrospectiva de Fernando Coni Campos .
Coni foi um foguete também em vida. Nasceu em 1933, na cidade baiana de Conceição do Almeida, filho do médico Owaldo Campos e da professora Isabel Coni. Irmão mais velho de seis mulheres, Sonia, Solange, Lia, Simone, Selma e Cristina, casou-se com Talula Abramo, com quem teve dois filhos, Pedro Abramo e Luiz Abramo. Com a segunda esposa, Eloá Jacobina, teve Helena e Rubens. Morreu em 1988, no Rio de Janeiro, aos 55 anos. Foi escritor, designer, pintor e diretor de sete longas e aproximadamente 11 curtas.

Atuando no interregno entre o Cinema Novo e o Cinema Marginal (ou seja, a partir de meados dos anos 1960 e avançando pelos 70), não se vinculou nem se identificou a nenhum dos movimentos. Um pouco à maneira de Luís Sérgio Person ("São Paulo S.A" e "O Caso dos Irmãos Naves"), fez seu cinema como bem quis e arriscou-se numa autoralidade radical, que mereceu do colega (e ex-assistente) Julio Bressane a definição de um cinema "debruçado sobre si mesmo, se refletindo".

Seguindo com seu trabalho no auge da ditadura militar, Coni Campos enfrentou a censura e teve proibido "Um Homem e sua Jaula" (1969), nunca lançado. Será a pepita do forumdoc, que programou o filme quase como um acontecimento - o que de fato é.

Além deste - e do seminal "Viagem ao Fim do Mundo" (considerado sua obra-prima), que se caracteriza, segundo Belico, por resolver esteticamente uma expressão pessoal, traduzindo tensões que permeiam o filme dentro de um estilhaçamento de referências -, há ainda "Ladrões de Cinema" (1977), que traz Jean-Claude Bernardet como ator, e "O Mágico e o Delegado" (1983), dentre outros longas e curtas. 
"Sem aceitar regras impostas de fora, fez filmes do seu tempo, no melhor sentido que a expressão pode ganhar", registra o crítico Daniel Caetano na orelha do livro "Cinema: Sonho e Lucidez" (editora Azougue), uma compilação de textos escritos pelo ou sobre o cineasta. Na publicação, vê-se um conjunto de nomes tributários ao diretor, como Bressane, Paulo César Saraceni e Arnaldo Jabor.Rever filmes em contextos diferentes sempre traz novidades insuspeitadas.
*MARCELO MIRANDA - Jornal OTempo

Viagem ao fim do mundo
Assistir ao filme 47 anos depois da sua finalização e exibição é no mínimo curioso. Não que a impressão tenha se esvaído, longe disso. O filme ainda continua a ser uma estimulante e alegre viagem pelos confins de um determinado momento na história de um país e de um mundo. mas, da mesma forma que a Lua, o filme tem uma parte iluminada e uma outra parte densa, escura, opaca. Pois Viagem ao Fim do Mundo é uma fotografia em polaróide de um momento fugaz (como todos), mas acolhendo nela uma profundidade de campo absurdamente grande que tenta guardar dentro dela não só o tempo presente, mas ao mesmo tempo o imediatamente anterior, o passado longínquo e indo até o fim dos tempos, onde todas as temporalidades se confundem e o início coincide com o fim.
A estrutura narrativa emula essa busca. Um homem maduro (Jofre Soares), um jovem (Fábio Porchat), uma moça (Karin Rodrigues) e uma jovem senhora (Tallulah Campos, primeira esposa de Coni Campos) entram num avião. O filme transcorrerá no espaço de tempo em que eles entram no avião, decolam, voam, aterrissam e dirigem-se, separadamente, cada um para sua casa. Mas dentro desse tempo, um átimo se comparado mesmo com o decorrer de um simples dia, Fernando Coni Campos tenta capturar a essência da vida inteira desses personagens, e através deles uma essência mais ambiciosa, a do tempo em geral: ir ao fim do mundo através da experiência de ler um livro, ir ao tempo dos conceitos que pautam nossas crenças, recorrer à temporalidade da imaginação como expediente para fugir da frustração sexual...
Mas o que parece acima de tudo interessar a Coni Campos nesse filme vai em outra direção: é o peso do tempo, o modo como cada um emprega seu tempo e se embaraça em usá-lo. Uma viagem de avião de hora e meia: não poderia haver melhor cenário para um embate ontológico entre um tempo que jamais passa – afinal, é tempo demais para ficar sem fazer nada – e o tempo que sempre transcorre – da mesma forma, é impossível em tão pouco tempo construir qualquer laço forte. Eternidade e finitude, dois lados de uma única e mesma moeda. Angústia com o tempo – afinal, há momentos que gostaríamos de ver sempre eternizados e outros que gostaríamos que passassem como uma manada de búfalos, pisoteando todas as nossas frustrações. Por trás de tanta curiosidade com os novos tempos, o embate não é vencido: a freira não consegue resolver sua relação com a instituição à qual faz parte (apesar de manter-se intimamente fiel a sua fé), o homem que recorre à imaginação para despir as mulheres do avião não consegue ter relações com sua mulher, a garota propaganda volta para casa e para o marido a quem engana (tem um breve instante amoroso com o jovem do avião) para viver sua cômoda vida de desentusiasmo controlado. Se os personagens não conseguem vencer o tempo, ao menos ao filme é dada uma segunda chance: a seqüência final com a música de despedida e o planeta em cromaqui. Nem tanto o triunfo da arte sobre o tempo, mas uma tentativa de restituir o equilíbrio emocional da balança: não é só porque nossos personagens não conseguiram que devemos desistir dessa empreitada.
Se existe, contudo, além disso tudo algo que é apaixonante em Viagem ao Fim do Mundo, é a estrutura de composição do filme. Pois Viagem é radicalmente diferente de tudo que estava sendo feito no momento em cinema (exceto talvez por Godard, mas esse lado naquele momento ainda permanecia bastante pouco comentado em relação a suas outras revoluções formais). Fernando Coni Campos realiza em seu primeiro longa-metragem um filme inteiramente constituído de colagens. Chesterton, Machado de Assis, Hélio Pellegrino, T.S. Eliot. Cinejornais, revistas de atualidades, livros, músicas. E, mais impressionante, uma personagem que fala unicamente pelos escritos de Simone Weil (antecipação em anos dessa moda literária que utiliza como personagens os grandes escritores em situações prosaicas). Menos um descontrolado amotoado de citações do que a construção de uma tessitura de retalhos que constróem um novo significado a partir de signos já existentes, Viagem ao Fim do Mundo é um filme experimental na forma (além de ser todo feito de recortes ainda abre espaço para pequenas historinhas – como a provocação sobre Cuba – sem qualquer ligação com a tênue narrativa que se esboça) e instigante naquilo que tem a dizer. Genuína preciosidade, e é uma pena que sua voga esteja hoje restrita a um pequeno número de cinéfilos entusiastas.
Ruy Gardnier

terça-feira, 10 de março de 2015

Filósofo e Peregrino - Na Via Francígena, da Inglaterra a Roma em 3 meses

Logo mais , a partir das 19 horas, na livraria Saraiva do Shopping Salvador, será realizada uma seção de lançamento do livro na Bahia.
A busca por respostas a questões essenciais da vida levou o filósofo soteropolitano Marcos Bulcão a empreender uma jornada hercúlea, percorrendo quatro países, visitando 77 cidades numa extensão de 2065 km em 86 dias.
O livro “O Filósofo Peregrino”, é o relato desta aventura desejada, planejada e executada por este jovem e irrequieto filósofo, levado a conhecer seus limites físicos, enquanto se tornava o primeiro brasileiro a completar a Via Francígena.
Espécie de diário de viagem, onde os pensamentos e reflexões surgidos a cada momento são relatados sob o vigor do esforço físico e mental, o livro nos leva a conhecer esta antiga rota romana, com mais de 1900 anos, que se torna via de peregrinação no século X, e, redescoberta em 1985 pelo arqueólogo italiano Giovanni Caselli, adquiriu status de “Itinerário Cultural Europeu” em 1994.
Inusitado relato que cativa adeptos de esportes de aventura e de textos filosóficos, o livro prende a atenção do leitor que percorre rapidamente as 367 páginas, repletas de curiosidades históricas e culturais e reflexões de um filósofo sobre as grande questões existenciais. 
Livro de estreia do autor em literatura de não ficção, este relato de reflexões e pensamentos nos possibilita acompanhar esta longa jornada, repleta de emoções, encontros e descobertas entre os caminhos e cidades visitadas por Marcos (foto). 
Se constituindo também em excelente guia para futuros peregrinos da Via Francígena, com dicas sobre preparação física, logística, equipamentos e, enriquecido por mapas, fotografias, informações, reflexões e inquietações deste filósofo e aventureiro de mente sempre inquieta, em busca de desafios, descobertas e novos conhecimentos que generosamente nos são transmitidos pelo autor.

*Osvaldo Campos Magalhaes é o criador e editor do blog “PensandoSalvador do Futuro”

domingo, 8 de março de 2015

Maria Bethânia canta no aniversário de Salvador


Maria Bethânia será a grande atração na programação que vai comemorar no próximo dia 29 o aniversário de Salvador, em show no Farol da Barra.

O público vai poder assistir ao show “Abraçar e Agradecer” com o qual a cantora comemora 50 anos de carreira.
Na festa, promovida pela Prefeitura de Salvador, terão ainda cinco palcos espalhados pela cidade. Além da Barra, foram contemplados a Boca do RioPeriperi, Cajazeiras e no Centro, na Praça Castro Alves.
A programação tem início no dia 27.
Abraçar e Agradecer
Depois de cinco shows no Rio de Janeiro no primeiro mês de 2015, a cantora Maria Bethânia retoma a turnê comemorativa pelos 50 anos de carreira com shows em Brasília e em Salvador, no aniversário da cidade. A artista também levará o show “Abraçar e agradecer” para São Paulo, Porto Alegre, Curitiba, Belo Horizonte, Recife. Também estão previstas duas apresentações em Portugal, nas cidades de Lisboa e Porto. O repertório do show inclui “músicas de todos os tempos”, inéditas ou não na voz dela. Entre os destaques estão grandes sucessos da carreira e composições de nomes como Caetano veloso, Chico Buarque, Dorival Caymmi, Gonzaguinha, Roque Ferreira e Paulo César Pinheiro. Composições do álbum “Meus quintais”, lançado em 2014, também fazem parte da lista. O show inclui ainda músicas como “Dindi”, de Tom Jobim e Aloysio de Oliveira, “Xavante”, de Chico César, “Casa de caboclo”, de Paulo Dalfilim e Roque Ferreira. Bethânia se apresenta ao lado de Jorge Helder (regência e contrabaixo), João Carlos Coutinho (piano e acordeom), Paulo Dafilim (violas e violão), Pedro Franco (violão, bandolim e guitarra), Marcio Mallard (cello), Pantico Rocha (bateria) e Marcelo Costa (percussão). 
Primeiro show
A cantora Maria Bethânia subiu ao palco pela primeira vez no dia 13 de fevereiro de 1965, no Teatro Opinião, em Copacabana, no Rio de Janeiro. Aos 17 anos, ela substituiu Nara Leão, que cumpria agenda de espetáculos na casa, por indicação da própria artista.
Augusto Boal dirigiu o show, criado por Oduvaldo Vianna Filho (Vianinha), Ferreira Gullar, Paulo Pontes e Armando Costa. A cantora se apresentou ao lado de Zé Keti e João do Vale.

sábado, 24 de janeiro de 2015

A desastrada cultura do M.D.C.


Paulo Ormindo de Azevedo* 
Contava-me um sócio de uma construtora média que encontrou no escritório um colega que se inscrevia para uma vaga. Pediu para ver o currículo e perguntou por que ele não mencionava os cursos e os títulos de pós graduação. – “Porque preciso do emprego e se os menciono não serei nem entrevistado”. Contando isso a um grupo de amigos eles disseram que seus filhos foram aconselhados a fazer o mesmo. A grande empresa está trocando profissionais qualificados por recém formados porque ganham menos e se sujeitam a tudo. Por falta de tecnologia nossa indústria perdeu competitividade e nossas exportações são cada vez mais de commodities sem valor agregado. 
Licitações milionárias são feitas com projetos-básicos sem engenharia. Quando uma refinaria orçada em US$ 2 bilhões, como a Abreu e Lima, chega a US$18 bi e não está na metade não é só corrupção, é incompetência e descontrole total. Cerca de 80% de suas obras foram feitas em regime diferenciado de contratações RDC, onde não se pede nem projeto-básico. Hugo Chaves se deu conta a tempo e tirou o cavalinho, ou melhor a PDVSA, da chuva. Raul Castro não fez o mesmo porque cavalo dado não se olha o dente. 
Neste mesmo regime a Copa de 2014 custou a soma das três últimas e nenhuma das obras de mobilidade ficou pronta. É inadmissível que um viaduto caia antes de inaugurado e dois outros estejam interditados (B.H. e Cuiabá) ameaçando cair. O desabamento de um túnel na transposição do São Francisco foi considerado pelo fiscal uma ocorrência normal neste tipo de obra. Isto ocorre porque os órgãos públicos funcionam com contratados REDA, não abrem concurso e poucos têm planos de carreira.
Nossas universidades estão cheias de professores substitutos, temporários e sem experiência. Para um professor chegar a titular, hoje, não precisa mais fazer concursos de progressão, nem haver vaga, basta ser doutor, ter tempo de serviço e apresentar um memorial. Muitos desses doutores depois do título não escreveram um só artigo. Não é de estranhar que o Brasil, com quase a metade da população da América Latina, não tenha um Nobel, enquanto os hispânicos têm vinte. 
A meritocracia foi abolida do serviço público. Seu sucedâneo é o aparelhamento e a improvisação. O planejamento público foi reduzido ao orçamento. Uma colega funcionaria me disse que fez uma atualização em gestão e comentou com o professor a falta de planejamento das obras. O professor disse que planejamento de estado é coisa do passado, da ditadura. “Estamos fazendo hoje mais planejamento que nunca. As empreiteiras planejam e trazem os projetos-básicos com as licenças ambientais já aprovadas para licitar”. As cinco irmãs não dão prego sem estopa, são todos projetos carimbados. O resultado são obras ruins, superfaturadas, aditadas e desarticuladas. Muitas não servem para nada e foram abandonadas. 
Jorge Amado tinha razão, este é o país do carnaval. Nessa linha não vamos a lugar nenhum. Precisamos superar o complexo de vira-lata e a pratica dolosa do M.D.C. - mínimo denominador comum – e perseguir a excelência e a eficiência para erradicarmos a pobreza e construirmos uma nação desenvolvida. Joãozinho Trinta também tinha razão.
*Arquiteto e professor titular da UFBa

terça-feira, 20 de janeiro de 2015

Um inventor de si mesmo


Mario Nascimento*
A leitura d’O Filósofo Peregrino impactou-me como uma invenção – e também um convite à invenção – de um caminho próprio de vida, de um ser humano com seus desejos muitas vezes conflitantes, com suas hesitações, suas escolhas muitas vezes forçadas pelas contingências e, especialmente, com sua força e coragem para realizar um desejo fortemente decidido. 
Em vários momentos o vimos enfrentar as tentações de desviar-se de seu desejo – quando enganar aos outros seria facílimo –, mas sendo impossível enganar a si mesmo, o filósofo peregrino não cedeu do seu desejo! Para muitos, um desejo louco, para outros um desejo admirável, para outros…
Vimos assim o filósofo peregrino buscar o seu desejo singular, com todas as nuances possíveis, buscando libertar-se da dependência dos outros – parentes, amigos, sociedade em geral –, e tornar-se capaz de prescindir da aprovação dos outros, autorizando-se a si mesmo.
Algo também marcante na leitura foi constatar que o filósofo peregrino tem um corpo, e se este corpo possui força, tem também muitos limites, expressa e produz prazeres, mas também expressa e produz sofrimentos, possui inclusive necessidades imperiosas…
Também produziu ressonâncias o fato de o filósofo peregrino ter se defrontado com o prazeroso da vida, no encanto do encontro com o outro, na troca de experiências, na gentileza, na solidariedade… e também com o doloroso dos atos humanos, através da noticia dos atos de terrorismo, a morte de inocentes, o horror do fanatismo…
Uma pequena história destacou-se para mim. O encontro do filósofo peregrino com o peregrino alemão, uma experiência enriquecedora e prazerosa a princípio, mas que em seguida gera um conflito, conflito de desejos. O alemão demonstra desejo de prosseguirem juntos, mas o desejo do filósofo peregrino aponta na direção oposta… Dilema posto, qual a escolha, qual desejo satisfazer? Naquele momento, o filósofo peregrino decide pelo próprio desejo, abdicando da escolha sacrificial de aceitar a proposta do alemão, tendo coragem de parecer ‘mau’ aos olhos do outro, mesmo se com o cuidado de agir, na medida do possível, com delicadeza ao indicar ao alemão que caminhos diferentes lhes esperavam…
*Psicanalista 

Marcos Bulcão nasceu em Salvador, Bahia.
 "O Filósofo Peregrino" é seu primeiro livro de não ficção.
É doutor em Filosofia pela Universidade de São Paulo (O Realismo Naturalista de Quine: Crença e Conhecimento sem Dogmas, 2005 - Graduou-se em Filosofia pela Universidade de São Paulo (1995), tendo feito seu mestrado em Teoria Psicanalítica na Université de Paris VIII (La Constitution de la Réalité chez le Sujet - Diplômes D'études Approfondies, 1998 
Tem experiência nas áreas de Psicanálise e Filosofia, com ênfase em Epistemologia da Psicanálise e Teoria da Ciência, atuando principalmente nos seguintes temas: psicanálise, mente, epistemologia, filosofia da linguagem, ciência e Quine. Publicou dois livros A Constituição da Realidade no Sujeito (EDUFBA: 2007) e O Realismo Naturalista de Quine (UNICAMP/CLE: 2008) além de capítulos de livros e artigos em revistas especializadas. Um terceiro livro está no prelo: Enigmas Freudianos O Problema da Consciência e outros Paradoxos (Fonte: Currículo Lattes)

quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

Brasília, cemitério da esperança

Edson Mahfuz*
Que eu saiba existem poucas obras com a carga negativa do livro Cemitério da Esperança, que  apresenta uma péssima imagem do Brasil e especificamente de Brasília. O mais curioso disso é que, embora o livro deixe um gosto amargo na mente do leitor, há pouco nele que deva ser refutado e muito com o que se pode concordar. É interessante que tenha que surgir um estrangeiro para tecer críticas tão contundentes ao país e sua capital. No Brasil, falar mal de Brasília e de seus dois artífices principais é tabu..
Benjamin Moser parece crer que a monumentalidade é sempre negativa em arquitetura e urbanismo, principalmente porque a associa à grande escala e a obras construídas por regimes totalitários. Mas pode-se ver a monumentalidade como algo diferente. Há pelo menos 60 anos a cidade tradicional é entendida como sendo constituída por dois elementos essenciais: o tecido urbano composto pelos edifícios dedicados à moradia, ao trabalho, aos serviços, etc, que representa a maior parte da cidade, e seus monumentos, aqueles edifícios que possuem importância coletiva por representarem as instituições humanas: escolas, igrejas, prédios administrativos, culturais etc. Esse é um modo de ver o monumental que não o associa com a opressão; pelo contrário, nesse sentido os monumentos ajudam a definir a identidade individual.
O autor parece também se incomodar muito com cidades organizadas de acordo com sistemas formais regulares, muitas vezes derivados de precedentes clássicos. A regularidade e unidade do esquema geral é algo comum nos poucos casos em que se criou cidades do zero (Palmanova, Karlsruhe, Washington, Canberra, Brasília) ou quando tentou-se introduzir ordem e estabelecer conexões em tecidos urbanos medievais (A Roma renascentista, Paris e Bath no século 18 etc.) porque é preciso criar uma ordem clara inteligível sobre a qual a cidade possa ir se desenvolvendo. A dinâmica urbana normalmente se encarrega de suavizar a rigidez inicial, coisa que nunca aconteceu em Brasília pois sempre se a considerou uma obra-prima intocável, até o ponto que acabou mumificada pelo tombamento realizado pela Unesco.
O desenho de Brasília é um híbrido de um esquema geométrico de origem clássica com uma disposição de atividades influenciada pelo pior pensamento urbanístico do modernismo, que pregava a separação física das atividades componentes de uma cidade. O urbanismo de Brasília é em parte a materialização de idéias de um grupo influente de arquitetos modernos, reunidos no chamado CIAM – Congresso Internacional de Arquitetura Moderna – que nunca conseguiram entender o que faz uma cidade ter vitalidade, embora quase todos vivessem em capitais européias, que são lições vivas de urbanismo.
O pensamento urbanístico atual coincide sobre um certo número de valores que caracterizam os melhores lugares do mundo, muitos deles com séculos de existência: alta densidade, concentração, mistura de atividades, possibilidade de alcançar a pé as necessidades básicas do ser humano e  transporte coletivo de qualidade.
Brasília é o oposto de tudo isso. É uma cidade espalhada – espacialmente rarefeita – em que as principais atividades estão separadas: vive-se aqui, trabalha-se lá, compra-se acolá. Caminhar em Brasília não faz sentido, a não ser para fazer exercício mas mesmo assim não se tira muito prazer disso porque o cenário muda pouco e não há quase nada para ver. Ao contrário de bairros que podem ser encontrados em todas as principais cidades brasileiras, os térreos em Brasília não oferecem atrações para o caminhante, são áreas sem vida das quais queremos logo fugir.
O problema de Brasília não é o se tamanho em si, mas sua escala em relação ao ser humano. A capital brasileira parece ter sido projetada apenas com a escala maior em mente. Desde o chão Brasília é um desastre, pois a escala do pedestre foi ignorada. Esse abandono da escala humana constitui o que é conhecido entre os urbanistas como “A Síndrome de Brasília”, presente em lugares onde as distâncias entre edifícios são enormes e nada de interessante acontece no nível térreo.
Voltando à imagem anterior, Brasília pode ser descrita como um conjunto de monumentos sem tecido urbano que confira significado a eles. O conjunto de superquadras não constitui um tecido, pela distância entre os edifícios e o fato de que não se comunicam entre si. Moser está correto ao afirmar que a chance de Brasília tornar-se uma cidade real estaria na sua densificação, na ocupação dos seus gigantescos espaços vazios, mas isso não acontecerá pois a cidade foi congelada como monumento cultural, indo de encontro à dinâmica natural de qualquer cidade, que a leva a transformar-se constantemente. A essa hipotética densificação deveria ser acrescentada a inserção de usos diferentes e complementares nos setores monofuncionais.
Ao longo do texto, Moser comete um erro muito comum, pois parece acreditar que Oscar Niemeyer é o autor do plano urbanístico de Brasília, sem nunca mencionar seu verdadeiro autor, Lúcio Costa. Niemeyer é o autor dos principais edifícios da cidade, tendo atingido ali o auge da sua carreira, mas não se sabe que tenha tido qualquer influência sobre o projeto de Costa.
Com seu ataque frontal a Brasília e às atitudes mentais que levaram a ela, Moser nos presta um serviço. Se Brasília não pode mais ser salva, que pelo menos sirva de exemplo negativo, impedindo-nos de continuar cometendo os mesmos erros.
* Edson Mahfuz é arquiteto e professor titular de Projetos na Faculdade de Arquitetura da UFRGS.