sábado, 22 de dezembro de 2012

Para revitalizar é necessário cuidar


 Cláudio Marques*

Em 2012, a Praça Castro Alves já foi fechada completamente em 32 oportunidades. Para shows, comícios, eventos religiosos (católicos e evangélicos) e datas comemorativas de rádios. Nos dias 2, 3 e 4 de novembro, a Globo interditou completamente a Praça Castro Alves para gravar a série O Canto da Sereia, o que voltou a ocorrer nos dias 10, 11 e 15. Com as vias fechadas, o comércio local fica estrangulado. Farmácias, bares, brechós, teatros e o cinema. Os empresários e agentes culturais que se interessam pela região, talvez a mais bela e importante em termos históricos da cidade, se constrangem por ver que não há um estímulo real pela instalação de novos empreendimentos. Desejam revitalizar a praça, de uma forma definitiva, mas entendem que não há a mínima regulamentação e ordenação do solo por parte da prefeitura.
Vale lembrar que todos esses eventos são autorizados previamente pela Sesp (Secretaria de Serviços Públicos e Prevenção à Violência), órgão da prefeitura, e também pelo Iphan, uma vez que se trata de sítio histórico tombado. Já estive na Sesp diversas vezes nos últimos anos na tentativa de sensibilizar diferentes gestores quanto à valorização dos empreendedores locais e não de shows eventuais. A resposta sempre dada é que não há como negar pedidos, pois o desgaste político precisa ser evitado.
O superintendente do Iphan, Carlos Amorim, me deu resposta semelhante na vez em que estive em seu gabinete. Tentei sensibilizá-lo, ainda, pela degradação que passa a Praça Castro Alves toda vez que um palco gigante é montado. As pedras portuguesas ficam soltas, viram arma nas mãos de pessoas encharcadas de cerveja. Carlos Amorim me confiou que entendia todas as minhas colocações, mas que o Iphan já tinha brigas demais pela cidade.
O que me deixa desnorteado é que temos um conjunto arquitetônico e equipamentos incríveis localizados nesse sítio histórico. O Espaço Itaú de Cinema - Glauber Rocha é um caso raro de qualidade e prosperidade no Centro Histórico. Leva milhares de pessoas, mensalmente, para ver filmes brasileiros e blockbusters, numa estratégia de programação reconhecida nacionalmente. Sedia festivais diversos e abre espaços para as produções locais. Os dois mais importantes festivais de cinema da cidade acontecem nesse cinema: o Panorama Internacional Coisa de Cinema e o Cinefuturo, com mais de 100 brasileiros e estrangeiros convidados, além de dezenas de películas raras projetadas.
O Centro Cultural da Barroquinha foi belamente restaurado pela Petrobras, mas ainda aguarda uma programação regular. O Teatro Gregório de Mattos, tão importante para a cultura da nossa cidade, continua fechado, infelizmente. Somados a esses equipamentos, temos ainda o Museu Afro-Brasileiro, na Rua do Tesouro, liderado por Capinan e que em breve estará funcionando. E o Museu de Arte Sacra, já próximo do Dois de Julho, que possui uma coleção permanente que impressiona.
Qual cidade do mundo conta com equipamentos culturais tão interessantes e potentes tão próximos uns dos outros? Com certeza, poucas. Temos um verdadeiro cinturão cultural montado e ainda não percebemos. Vamos sentir falta quando todos esses equipamentos não estiverem mais por lá, pois não há cuidado para que haja a permanência. Talvez uma proposta coerente seja destruir as casas e prédios, colocar tudo abaixo, e transformar o Centro Histórico em um imenso descampado, que abrigue shows sem maiores constrangimentos. Mas o desejo da nossa população é ver os milhares de casarões e salas vazias do Centro Histórico ocupados por moradores, agentes culturais e comerciantes.
É ter uma vida abundante, sofisticada e criativa em um dos lugares-símbolo da nossa história. Precisamos de uma agenda, com eventos importantes pré-marcados (Carnaval, Primeiro de Maio e Dois de Julho) e dar um basta nessas ações predatórias à vida cotidiana do Centro Histórico. Não é possível que, na encruzilhada que abriga Glauber Rocha, Gregório de Mattos e Castro Alves, a cultura não seja privilegiada. Que o novo prefeito esteja atento a esse apelo!
*Cineasta

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