segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Acorda Bahia

Paulo Villa*
"Indignai-vos!" é o título de um livro dirigido aos jovens, de autoria de Stéphane Hessel, de 93 anos. Trata-se de um chamamento a comprometer-se, resistir ao que é inaceitável e a favor da insurreição pacífica. O que motivou o único redator vivo da Declaração Universal dos Direitos Humanos a escrever o livro, fenômeno de vendas, foi a acomodação e indiferença das pessoas ante a perda de princípios e valores, associadas à ditadura do capital e ao retorno de um feudalismo econômico financeiro. Embora tenha uma visão global, o seu conteúdo cai como uma luva ao momento brasileiro, em que existe um silêncio incomodante. Portanto, cabe à sociedade se manifestar.
Não foi difícil trazer o pensamento de Hessel para a realidade portuária da Bahia, onde os portos de Aratu e de Salvador enfrentam um processo de estagnação, com suas capacidades de movimentar cargas saturadas há catorze e sete anos, respectivamente. Ambos freiam o crescimento econômico do estado, na medida em que reduzem as possibilidades de novos negócios, impedem as expansões dos existentes e, o que é pior, comprometem a competitividade dos setores produtivos.
Desde 2005, a Associação de Usuários dos Portos da Bahia - Usuport denuncia esta situação, mas as autoridades a ignoram ou apresentam propostas que não solucionam os problemas. Não dá mais para continuar em silêncio. O aditivo ao contrato de arrendamento do terminal de contêiner no Porto de Salvador não passa de paliativo. Havia dois berços de atracação de navios e assim permanecerá, já que, na realidade, apenas um deles será ampliado, o que permitirá receber navios de maior porte, mas ainda insuficiente para o número de linhas de navegação regulares de que a Bahia necessita. Como efeito, 80% do mercado de transporte marítimo de cargas estão hoje, somente, com dois armadores, quando Salvador já teve mais de doze, entre 1980 e 2002, em conexão direta com todos os continentes.
Em 2009, a Secretaria Especial de Portos anunciou a privatização do Porto de Aratu, para ampliar a sua capacidade, inclusive com a implantação de um novo terminal de contêiner, para atender a Bahia. O anúncio só serviu para atrapalhar e postergar decisões, pois, nada aconteceu até agora. Todos parecem continuar indiferentes às limitações que possam estar sendo impostas à economia regional.
A Bahia deve mudar sua atitude, para que o porto de Salvador tenha o segundo terminal de contêiner e se planejem novos terminais em Aratu ou outro local adequado. A discussão mais substantiva é a forma do estado se beneficiar com o alargamento do Canal do Panamá, a partir de 2015, tendo a visão estratégica para novas rotas marítimas. Para isto, devemos chegar a 2020 com um mínimo de oito berços de atracação de navios na Baía de Todos os Santos.
Enquanto nada se faz, perdemos a oportunidade de crescer de forma mais sustentável, diversificando negócios, criando chances de empreendimentos e empregos para os baianos. Situação inversa ocorre nos estados do Ceará, Pernambuco, Rio de Janeiro, São Paulo e Santa Catarina, que aproveitam oportunidades e desenvolvem seus portos, com novos terminais de contêiner. Se olharmos para fora, por exemplo, a Europa - um continente pronto, para não mencionar a China - são raros os portos que não estão se expandindo de forma arrojada em serviços de contêiner, a exemplo do porto de Marselha, que está construindo três novos terminais simultaneamente.
Impossível continuar com nossos portos combalidos por uma infraestrutura defasada, custos elevados, produtividade baixa e capacidade limitada. A única certeza que temos hoje é a continuidade das limitações portuárias baianas, ao menos, nos próximos três anos, em razão de não haver sido tomada nenhuma atitude até o momento. Não existem razões lógicas que justifiquem a continuidade desse caótico cenário, a não ser o feudalismo citado por Hessel. Portanto, é impossível não se indignar. Acorda Bahia.
*Paulo Roberto Batista Villa, Engenheiro, é Diretor Executivo da Associação de Usuários dos Portos da Bahia - Usuport
Artigo publicado originalmente no jornal A Tarde

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