quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Metrópoles e Cibernética

Lourenço Mueller*
Num sistema econômico excludente ampliando progressivamente os índices de pobreza, convive-se hoje com um fenômeno típico da pós-modernidade, a chamada era digital, causado pela emergência das novas tecnologias da informação e comunicação (TIC), que excluem mais as pessoas, seja pela pobreza, seja pela resistência à mudança na aceitação dessa nova ordem e no aprendizado de procedimentos que permitam o acesso e contato a ambientes virtuais de conhecimento, ao ciberespaço.
As TIC permitem uma gama diferenciada de aplicações ao urbanismo e destaco duas: a reconquista do espaço urbano ‘perdido’ pelo habitante somada à inclusão digital das populações metropolitanas. Na verdade, a mudança produzida por essas novas práticas implica em mudança na própria natureza do espaço, que não é mais apenas físico, mas virtual, cibernético: um ciberespaço. A socialização do conhecimento pode ser feita em comunidades que podem ser cooptadas também “virtualmente”.
Victor Hugo e Henri Lefebvre, em distintas épocas, também pensaram a cidade como um texto. Seria uma questão dimensional? Se a cidade é um texto, a metrópole pode ser um hipertexto, que, em informática é um protocolo de recuperação de dados via computador que permite aos usuários fazer ligações entre informações através de uma variedade de vias e conexões. Os usuários podem organizar aleatoriamente a informação de um modo que esteja de acordo com as suas próprias necessidades. Se cada cidade já é ou está sendo transformada num banco de dados e sua acessibilidade feita através de um site de busca próprio, é lícito supor-se que quase tudo que é real possa ser feito ao nível digital.
A partir das TIC pode-se mapear e armazenar o conhecimento disseminado em bairros e outros assentamentos dispersos na região, utilizando história oral e outros registros narrativos, iconográficos, uma herança que não deixa marcas e permanece inédita no limbo de uma ecologia cognitiva desconhecida, mas geradora de uma cultura local pertinente e imaginária, cuja referência dota os habitantes de uma identidade que valeria a pena ser reconhecida, armazenada, datada, disseminada e discutida, como é o caso das festas de largo ou algumas práticas do cotidiano que estão a desaparecer.
Qualquer comunidade pode-se colocar diante de telão conectado à Internet e mediado por internautas inteligentes, treinados para a comunicação coletiva e a dinâmica de grupos. Criam-se ambientes e esses mediadores de rede mobilizam pessoas para investigarem juntos os assuntos de seu interesse ao mesmo tempo em que socializam esses assuntos entre os participantes. O deslumbramento de ‘navegar’ coletivamente pode superar todas as restrições, socializando as vantagens auferidas pelos poucos que têm acesso à rede apenas em suas máquinas solitárias.
Na diversidade das cidades está o gérmen de sua própria regeneração. Salvador pode ser considerada uma cidade decadente em muitos aspectos, mas é uma cidade viva, de extrema diversidade cultural, e possui a centelha de que fala Peter Hall, para reacender o seu fogo morto. A lógica do ciberespaço constitui-se num desafio que deve ser aceito pelos urbanistas.
Ermínia Maricato identifica o urbanismo se preparando para enfrentar novos paradigmas e pergunta se esses novos tempos vão repetir o processo de submissão à dominação econômica, política e ideológica inspirada em modelos de além-mar ou se esta nova matriz vai ser gerada pela práxis urbana.
Há 60 anos um grupo de intelectuais criou um movimento que é uma proposta de cidade que se autoproduz a partir dos seus habitantes, vivenciando a valorização do lúdico. A animação do espaço urbano impregnava esse movimento, conhecido como ‘situacionismo’, que inseria a arte nas cidades. Hoje, essa ‘construção de situações’ poderia se configurar em programas de computação capazes de gerar ciber-ambientes, espaços apropriados à vivência digital e real.
*Lourenço Mueller é arquiteto e urbanista

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Wally, A Fera Faiscante

Caricatura de WALY SALOMÃO criada por GENTIL
Minha admiração por Waly (Salomão (é imensa (...). Daí a felicidade em ver homenagens como a biblioteca de Ribeirão Preto e o centro cultural no Rio, realização do grupo Afro-Reggae. Mas e a Bahia? Existe alguma coisa feita aqui para Waly?
ANTONIO RISÉRIO*
Em 2004, andando por Ribeirão Preto, no interior de São Paulo, sob a fuligem de canaviais queimados, vi à distância uma construção de arquitetura inconfundível. Um prédio de João Filgueiras Lima, Lelé. Curioso, fui ver o que o prédio abrigava. E tive uma surpresa que me deixou especialmente alegre. Era a Biblioteca Waly Salomão. Uma homenagem de Ribeirão Preto ao inventivo poeta-guerreiro nascido em Jequié, na Bahia. É claro que Waly mereceu a homenagem.
Meses atrás, no jornal O Globo, vi que estavam na reta final as obras do Centro Cultural Waly Salomão, agora inaugurado, na favela de Vigário Geral, no Rio. E, mais uma vez, Waly merece a homenagem. Pelo que fez e por ser quem foi.
O poeta-escritor que nos deu a prosa de Me Segura Queu Vou Dar um Troço. O poeta-letrista que nos deixou canções como Mel, Cabeleira de Berenice e Vapor Barato.
O poeta-editor que trouxe à luz a revista Navilouca e Os Últimos Dias de Paupéria, reunindo escritos de Torquato Neto.
O poeta-produtor cultural que, com Antonio Cícero, organizou os debates do Banco Nacional de Ideias, trazendo ao Brasil personalidades intelectuais como Horty, Gellner e Todorov, com o qual tive o prazer de debater em São Paulo sobre diversidade cultural.
O poeta-executivo, administrador público, que coordenou aqueles que talvez tenham sido os últimos carnavais baianos culturalmente relevantes.
O poeta-artista visual que nos brindou com a série colorida dos Babilaques.
O poeta que queria ultrapassar barras e bordas, não ser “si-mesmo”, mas tudo que fosse ou significasse um outro. O poeta que sabia e dizia que a memória não passa de uma ilha de edição.
Ao apresentar um livro seu, Armarinho de Miudezas (publicado por Myriam Fraga e Claudius Portugal, em importante coleção editorial da Fundação Casa de Jorge Amado) – cuja lembrança sempre me traz à mente o texto “Bahia Turva”, porrada na pasmaceira da província –, tentei fazer uma síntese de como eu o via, chamando-o “a fera faiscante” (àkàtà yeriyeri, nos orikis iorubanos), em referência ao orixá Xangô, dono de sua cabeça.
Curiosamente, aliás, Xangô é o orixá da retórica, do discurso, da eloquência. O senhor do axé na palavra. E, nesse sentido, Waly, que tinha uma capacidade oral extraordinária, era mesmo uma encarnação total da figura do filho de Xangô. Tinha o dom do improviso, da língua afiada, da frase desconcertante, do achado irônico-humorístico que levava todos às gargalhadas.
Naquela apresentação, entre outras coisas, escrevi: “Não há lugar aqui para o temor, a prudência, a reverência paroquial. Pensamento agudo, voz de trovão, o baianárabe Waly (de walid) é um happening ambulante. Um farsante declarado e colorido num ambiente cultural infestado de beletristas seriosos e cinzentos. Inimigo público número um do meio termo, da mesmice gustativa, Waly é uma verdadeira montanha russa de grossura e de finesse, indo das baixarias de botequim à suprema limpeza do construtivismo de Maliévitch. Sua figura é a hipérbole. O leitor de Rimbaud e Nietzsche circulando pelo morro do Estácio, da Mangueira, ou em meio aos tambores sagrados do candomblé. Curiosidade ibnkhalduniana. Estrada do excesso. Um homem livre como as formas de Arp”.
Minha admiração por Waly é imensa. Dos tempos de minha juventude, quando o conheci chez Caetano Veloso, aos dias em que trabalhamos juntos, com ele na direção do Instituto Nacional do Livro, em Brasília. Waly animava e alegrava nossas vidas na cidade de Lúcio Costa.
Daí a minha felicidade em ver obras-homenagens como a biblioteca de Ribeirão e o centro cultural no Rio, realização do grupo Afro-Reggae.
Mas e a Bahia? Existe alguma coisa feita aqui para Waly? Algum projeto, ao menos? Que eu saiba, não. Waly, na linha de um Gregório de Mattos, dizia, num texto publicado no jornal Folha de S. Paulo, que a verdadeira padroeira de Salvador era “Nossa Senhora do Empata Foda”. Tudo aqui emperra, não anda, não acontece. Acho até que ele deve estar aí em alguma fila, aguardando que antes a Bahia faça uma Casa Dorival Caymmi.
*Antonio Risério, é antropólogo, poeta e escritor

domingo, 10 de outubro de 2010

A sexta campanha presidencial de LULA

Pedro Malan*
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disputou cinco eleições presidenciais. Na primeira (1989), disputou palmo a palmo com Leonel Brizola o direito de ir para o segundo turno com Fernando Collor. Cerca de uma década e meia depois, já presidente, Lula agradeceu publicamente a Deus por não ter ganho aquela eleição. Porque, reconheceu, não estava preparado para isso.
Na segunda e na terceira tentativas (1994 e 1998), Lula perdeu no primeiro turno para Fernando Henrique Cardoso. Quem sabe um dia, talvez, Lula reconheça que, em ambas as ocasiões, também não estava preparado para governar o País - nem seu partido tinha quadros para tal. Afinal, em 1994 os principais economistas de seu partido lhe asseguraram que o Plano Real era apenas uma tentativa de estelionato eleitoral, que não duraria mais que alguns meses. Em 1998, Lula e o PT não conseguiram convencer o eleitorado de que tinham alguma ideia coerente sobre o que fazer para enfrentar a crise internacional de 1997-1998 e seus efeitos sobre o País.
Na quarta disputa (2002), Lula apareceu totalmente repaginado por uma competente marquetagem política: o irritado líder sindical foi substituído por um novo personagem, com visual, gestos e postura mais tranquilizadores para a classe média e um discurso na linha do "paz e amor". Mas a herança que o PT havia construído para si mesmo na área econômica - a oposição ao Real, ao Proer, à Lei de Responsabilidade Fiscal, bem como seu irresponsável empenho pelo plebiscito (de 2000!) propondo a suspensão dos pagamentos das dívidas externa e interna - levou à necessidade de uma gradual desconstrução dessa herança, iniciada ainda em 2002. Mas houve segundo turno.
A quinta disputa, em 2006, já se deu num contexto internacional e doméstico que, do ponto de vista econômico e social, favorecia enormemente o governo, apesar dos escândalos políticos que marcaram o período e que contribuíram para que Lula, que esperava ganhar no primeiro turno, tivesse, outra vez, de disputar um segundo turno.
O ano de 2010 representa, em mais de um sentido, e na visão de legiões de eleitores, uma espécie de sexta campanha presidencial com Lula na disputa, ainda que agora por meio de interposta pessoa. Foi exclusivamente de Lula a escolha da candidatura oficial. Foi de Lula a decisão de transformar esta eleição num tipo de plebiscito a favor ou contra o seu nome. É de Lula a clara definição da estratégia geral de seu governo, expressa na litania oficial sobre as heranças malditas pré-2003 e no "nunca antes jamais" pós-2003 - que viraram parte do nosso folclore político.
Não adianta vozes sensatas do PT escreverem que "os ganhos obtidos pelo Brasil a partir de 2003 se assentaram sobre avanços e resultados realizados em governos anteriores (...). Fazer tabula rasa destas contribuições seria atentar contra a própria história do País" (Antônio Palocci). Ou: "Não tenho dúvidas de que o Brasil evoluiu positivamente ao longo dos últimos 15 anos" (Paulo Bernardo).
O fato é que essa não é a visão do presidente Lula. Tampouco a de sua candidata, que em entrevista recente nas páginas amarelas da revista Veja respondeu com um categórico "discordo" a uma pergunta exatamente sobre esse tema. E vai em frente, com a ladainha da "herança maldita" e do "nunca antes" - de 2003, este suposto marco zero de uma idealizada nova era.
É forçoso reconhecer que essa esperteza retórica (para a qual faltou oposição política à altura), a persistência de Lula (em média, um discurso por dia útil) e, particularmente, seu gradual aprendizado no governo - e seus recursos - lhe renderam muitos frutos e elevada popularidade. Mas o "imbatível carisma", o "inigualável tirocínio" e a "genialidade política sem par", aos quais legiões hoje tecem loas, não permitiram a Lula ganhar as eleições de 1989, 1994 e 1998 e evitar um segundo turno em 2002 e 2006. O que mudou mais: o homem ou as circunstâncias? A resposta é: ambos.
É claro que as circunstâncias mudaram: além de uma herança não maldita e de uma política macroeconômica não petista (até 2006), nunca será demais repetir - já que este governo decidiu simplesmente ignorar fatos que não lhe convêm (e se apropriar indevidamente de outros quando lhe convêm) - que a economia internacional teve desempenho excepcional no quinquênio 2003-2007. O que contribuiu para a crise que se lhe seguiu, e para a qual estávamos mais bem preparados, porque nos beneficiamos das realizações até ali alcançadas, inclusive por este governo.
É claro que Lula mudou, e está mudando de novo nesta reta final da campanha, que vê como tão sua quanto de sua candidata, não hesitando em assumir agressivamente a linha de frente da campanha, como no recente "pronunciamento à Nação", em meio a um programa no horário eleitoral de seu partido.
O grave não é apenas o achincalhe à Justiça Eleitoral, a perda do "senso de medida" e a noção de que a popularidade lhe permite dizer qualquer barbaridade, como, por exemplo, "a elite brasileira não sabia o que era capitalismo: foi necessário um metalúrgico entrar na Presidência para ensinar como se faz capitalismo" ou "a elite tenta dar golpe a cada 24 horas neste país", referindo-se aos grandes jornais de circulação diária.
Tão grave quanto é o fato de que a crise internacional de 2007-2009, e a necessária resposta dos governos dos países desenvolvidos, foi vista entre nós como configurando não algo temporário e "contracíclico", mas como uma permanente mudança de paradigma, no sentido de demonstrar a necessidade de um papel de muito maior liderança do governo - e de suas empresas, financeiras e não financeiras (existentes e por criar), no processo de desenvolvimento econômico do País. Ainda é forte entre nós a ideia de que dois mais dois podem ser cinco - desde que haja vontade política.
*Economista, foi Presidente do Banco Central e Ministro da Fazenda

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Um Arquiteto Myth-Buster

Lucas Portela*
Ele implode mitos, e constrói espaços.
Fui a apresentação do plano de reforma do Mercado de São Miguel, na Baixa dos Sapateiros, apresentado por João Filgueiras da Gama Lima, Lelé – talvez o maior arquiteto vivo do planeta (segundo este que vos batuca, mas Oscar Niemeyer concorda comigo).
O que dizer: plano inteligente, exuberante, e factível. E, principalmente, demole alguns mitos fundamentais sobre a mobilidade urbana de Salvador.
Senão vejamos:
1) Em Salvador tudo é longe – Falso! Como Lelé lembra desde os anos 1980, quando criou suas belas passarelas típicas da Capital Barroca, cá na Reconvexa as coisas estão mais perto do que parecem. Por exemplo, entre o Desterro, em Nazaré, e o Terreiro de Jesus, no Pelourinho, há apenas 500m de distância. Contudo, para ir de um ponto ao outro, percorremos quase 4km. Por que? Porque há o vale da Barroquinha no meio do caminho.
Com isso, Lelé nos anuncia uma dádiva: a construção de uma passarela (possivelmente com esteiras rolantes), ligando o Desterro a Rua das Laranjeiras por cima da Avenida José Joaquim Seabra. E mais: pela primeira vez em quarenta anos, finalmente se construirá um elevador urbano em Salvador – ligando a Baixa dos Sapateiros ao Alto de Nazaré. Será o único elevador urbano público que não é de frente pro mar, mas nas costas da Cidade Velha. E será, claro, panorâmico – porque as vistas urbanas de Salvador, desde as barrocas às modernistas (o Vale do Canela) são tão belas quanto a vista (também ela artificialmente construída) da Baía de Todos os Santos.
2) Salvador não dá pra usar bicicleta – Falso também! Segundo o Gabinete de Gestão do Centro Antigo (
recentemente premiado pela Caixa Econômica Federal como uma das melhores iniciativas públicas do país, e vai concorrer a prêmio semelhante pela ONU em Dubai), o fluxo cicloviário contado entre a Barroquinha e os Dois Leões é maior do que de outras áreas centrais de capitais brasileiras. Maior que o da Lapa carioca, e o Rio de Janeiro tem uma infraestrutura cicloviária parisiense (a de Salvador, sabemos, é haitiana).
Então, porque se nega isso? É um misto de racismo (a população que pedala aqui é pobre e preta), especulação imobiliária, carrocentrismo galopante, e ausência de elevadores. As bikes em Salvador são,
como já dissemos aqui, perfeitas nos vales e nos topos. Entre um e outro é preciso haver elevadores, bondes, e ônibus – ou bicicletários nos sopés onde se as possa guardar e subir andando.
Que mais posso dizer? Que outro mito também se implodiu a si mesmo agora: aquele, criado pela TV Bahia, a Rede Globo local, carlista até os nucleotídeos, de que “O Pelourinho tá abandonaaaaaaaado!”.
Se abandono é ter um prédio cujo funcionamento vai se equiparar ao do Mercadão de São Paulo, com projeto de Lelé que inclui shades e jardins suspensos internos como os de TRE Bahia e do Tribunal de Contas do Estado – se abandono é isso, eu quero mais abandono!

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Adeus, Belo Monte

Osvaldo Campos Magalhães*
Qualquer que seja o resultado das eleições presidenciais, uma coisa é quase certa, projetos como Belo Monte e trem-bala devem ir para a “geladeira”.
Os expressivos 20 milhões de votos obtidos pela líder ambiental Marina Silva já estão alterando a agenda política e o programa de governo do potencial aliado, seja ele qual for.
Conforme anunciado, Serra já escalou o ex-presidente FHC, e Dilma, o governador Jaques Wagner, para uma aproximação com a candidata e o Partido Verde. Tudo leva a crer que o apoio explícito e engajado de Marina será decisivo no 2º turno.
A grande vitória política de Marina Silva foi a inclusão da questão ambiental e da sustentabilidade na agenda política nacional, e projetos como Belo Monte e trem-bala terão que ser repensados e até mesmo arquivados.
Os exemplos da Inglaterra e Alemanha comprovam o grande potencial econômico de parques eólicos no mar e no continente e deverão, ao lado da geração solar, que tem EUA e Austrália como paradigmas, substituir os megaprojetos que só beneficiam as grandes empreiteiras e agridem o meio ambiente.
Pena que Marina e o PV ainda não entenderam o sentido das mensagens emitidas por Sir James Lovelock, um dos maiores cientistas ambientais vivos, que, nos livros Gaia Cura para um Planeta Doente e A Vingança de Gaia, demonstra as vantagens da energia nuclear, que, segundo Lovelock, se constitui atualmente na única alternativa dos seres humanos para evitar o aquecimento global causado pela emissão de CO².
De qualquer modo, enquanto os Verdes brasileiros não assimilarem esta nova realidade da geração de energia a partir de usinas termelétricas movidas a urânio enriquecido, ao menos teremos agora maiores incentivos para uma política nacional de incentivo à geração solar e eólica.
Este certamente será um fator que fará Marina sair da neutralidade política no 2º turno, seguindo os passos dos Verdes da Alemanha que, pragmaticamente, conseguiram nas últimas décadas introduzir nas políticas públicas do governo alemão a agenda da sustentabilidade.
* Editor deste blog, é Engenheiro e Mestre em Administração - Especialista em tecnologia e competitividade

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Não stopem, não stopem!!!

Gil Vicente Tavares*
Acabei de voltar do enterro de Haydil Linhares. Aos poucos, uma geração de personalidades da cena baiana vai de despedindo dessa vida. Jurema Penna, Nilda Spencer, Wilson Mello, Álvaro Guimarães, Maria Manuela, e mais alguns que eu possa ter me esquecido; todos provenientes de um momento de euforia no teatro baiano, com o surgimento da Escola de Teatro da UFBA, a dissidência do Teatro dos Novos, inauguração do Vila Velha, as grandes montagens de Martim Gonçalves, década de 50, 60...
Haydil foi dramaturga e atriz. Conseguiu, ao menos, em vida, ter suas peças publicadas pela editora P55 em parceria com uma iniciativa do Teatro Vila Velha; que detém um bom acervo de fotos e peças de Haydil e da nossa história, mas que por questões que não sei e não vem ao caso, agora – estrutura, grana, organização, falta de tempo – não podem ainda ser disponibilizadas.
Foi atriz de grandes espetáculos, de momentos marcantes da nossa história, e veio dela a frase que deu título a um espetáculo dirigido por João Augusto, que, segundo Glauber Rocha – na altura – foi mais tropicalista, entusiasmante e marcante até que O rei da vela, de Zé Celso; marco do teatro nacional. Em determinado momento, ia haver alguma invasão, confusão, não lembro bem, e de improviso Haydil entrou gritando “stopem, stopem”, subvertendo o inglês, pluralizando antropofagicamente a palavra.
Durante o enterro, fui vendo meus mestres, minhas referências, todos juntos, cabeças grisalhas, conversando, e aquilo foi me dando uma emoção diferente. Venho me dando conta que um dos grandes problemas do nosso teatro é que, ao invés de se passear pelos terrenos férteis da nossa história e fazer nascer dali frutos novos provenientes de raízes saudáveis, seguidamente sepulta-se o passado.
Qual não é meu entusiasmo ao percorrer a história do teatro em Salvador (não a Selvador a que sempre me refiro) e ir descobrindo cada vez mais coisa, mais nomes, mais montagens, mais feitos históricos. É bom se saber parte de uma tradição, construída por muitos que ainda estão aí, lutando pra serem reconhecidos, tendo que escrever projeto pra editais e leis que privilegiam um discurso pseudo-novo, mas que no fundo é mais velho que eles mesmos. E vi, ali, muita gente que parou, que desistiu, que de tanto levar porrada jogou a toalha.
Em 2005, dirigi O despertar da primavera, de Wedekind. Seis anos depois de formado, trabalhei com gente mais nova que eu. Até aquele momento, eu fazia questão de ser uma rêmora comendo os restos dos tubarões que estavam à minha frente. Trabalhei com os grandes atores de Salvador pra aprender com eles e amadurecer como diretor. Teatro se aprende vendo e fazendo, e, principalmente, vendo e fazendo com gente mais velha. Era essa a proposta de Martim Gonçalves, expulso pela província por querer profissionalizar o amadorismo confortável dos que preferem ganhar seu pouco e fazer qualquer coisa, a ter que enfrentar o mercado e uma profissionalização que traz, consigo, apuro técnico, escolhas certeiras, dedicação e seriedade.
Não há maior burrice do que renegar o velho e se auto-intitular “o novo”. O imperador da língua portuguesa, Antonio Vieira, dizia; “o novo é o velho revisitado”. Haydil se foi sem ser reconhecida pelas novas gerações que, aos poucos, vão desconhecendo cada vez mais de perto seus pares. Profissionais recentes, atuantes, são ignorados pelos alunos de teatro, as referências são cada vez mais pobres e limitadas.
A despeito das discussões sobre antes e agora (e recomendo dar uma lida nos meus artigos;
http://teatronu.blogspot.com/2010/07/memorias-de-um-teatro-desandado-i.html, http://teatronu.blogspot.com/2010/07/memorias-de-um-teatro-desandado-ii.html, http://teatronu.blogspot.com/2010/07/memorias-de-um-teatro-desandado-iii.html), pude aprender muito com esses todos que se foram e muitos que ficaram e estão num limbo por culpa própria, por culpa das circunstâncias, por culpa de gestões, de “grupos políticos”, seja lá porque culpa for.
Aos gestores, empresários, diretores, administradores, novos artistas, eu peço; stopem, stopem com o anulamento de pessoas que solidificaram nosso teatro. Precisamos aprender com nosso passado e é preciso viabilizar esse acesso, esse diálogo, estimular essa “velharada” a compartilhar seu conhecimento, seus erros e acertos, sua experiência.
Não posso dizer à “velharada”; stopem, stopem de morrer. Mas ao menos peço que não stopem, stopem de produzir, de dialogar. Eu, de minha parte, tenho muito, ainda, o que aprender com eles, com vocês. Como aprendi com Alvinho, Jurema, Nilda, Melão e Haydil; que devem estar fazendo um rebucetê em algum canto por aí, porque esse povo não valia nada.
E viva o Teatro.
* Dramaturgo, ator e musico

UFBA se despede de Vivaldo Costa Lima

Peter Fry*
O antropólogo Vivaldo da Costa Lima, Professor Emérito e docente aposentado da UFBA, um dos fundadores do Centro de Estudos Afro-Orientais (CEAO), um dos principais estudiosos da cultura africana na Bahia, ao lado do francês Pierre Verger, faleceu na madrugada de quarta-feira (22 de setembro), na Fundação Baiana de Cardiologia, onde estava internado. O sepultamento foi no Cemitério do Campo Santo.
Vivaldo foi também diretor do Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (IPAC), sendo um dos principais responsáveis pelas obras de recuperação do Pelourinho.
Nasceu em Feira de Santana, Bahia, no dia 10 de abril de 1925. Graduou-se em Odontologia, profissão que exerceu por pouco tempo, como resultado de sua paixão pelos estudos antropológicos.
Sofisticadamente erudito e conhecedor do pensamento antropológico de matriz europeia, compartilhou com George Agostinho da Silva a criação do Centro de Estudos Afro-Orientais da UFBA em 1959.
Cedo seguiu para a África, onde tornou-se Leitor de Estudos Brasileiros, na Universidade de Ibadan, na Nigéria e na Universidade de Gana. Em 1966, substituiu o professor Thales de Azevedo, na cadeira de Antropologia, na Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da UFBA.
Vivaldo não seria apenas o acadêmico, ele queria interferir na realidade e assim tornou-se fundador e Diretor da Fundação do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia, inicialmente voltada para a restauração e valorização do Pelourinho em Salvador.
Foi responsável por romper com a mentalidade de restauração do patrimônio urbano com exclusão social, criando no Pelourinho o que denominava uma “universidade do fazer”, aliando teoria e prática, envolvendo uma equipe multidisciplinar composta por arquitetos, educadores, restauradores, assim como antropólogos e médicos, entre outros profissionais.
Mais que um professor, Mestre de Gerações, pois, como repetia: ensinar, transmitir conhecimento era fundamental a sua vida. Suas aulas, palestras, conferências sempre foram conduzidas com rigorosa indisciplina.
Cada texto, cuidadosamente elaborado com se fosse para ser submetido a um periódico de primeira linha, tinha sua leitura intercalada por comentários e referências que aprofundavam cada frase, cada ideia, cada achado, impressionando a todos que o ouviam e prendendo a atenção de estudantes, colegas, leigos. Todos mimetizados por sua retórica e sempre perfeitamente colocados comentários, com pitadas de ironia e tempo perfeitamente calculado para aguçar a curiosidade intelectual dos que o ouviam.
Aulas memoráveis, em todos os sentidos, até no destempero das palavras e imprevisibilidade do curso que tomariam!…. Todas, contudo, críticas, instigantes, desafiadoras!…
Continuam a reverberar nos ouvidos e sentimentos dos que foram docemente desafiados e agredidos por suas ideias. Personalizava a relação com cada estudante, perguntava e comentava sobre suas genealogias, relações familiares, ascendentes e descendentes; ao encontrar seus amigos e ex-alunos a pergunta sobre a família, pais, irmãos, esposas, filhos era feita de maneira sempre esperada, mas, surpreendente.
Em 2005, quando completou 80 anos foi homenageado por seus discípulos com a realização de um evento que trouxe a Salvador vários de seus amigos e admiradores para falar sobre seu trabalho. Agradeceu a homenagem com a magistral e inesquecível conferência em que reconstruiu a história social da alimentação na Bahia com o Acarajé como parte da culinária afro-baiana.
Foi homenageado com título de Professor Emérito pela UFBA e recebeu a Medalha Roquette Pinto da ABA por sua destacada contribuição para o campo da Antropologia.
Avesso a finalizações, escreveu e re-escreveu muito, mas privou os que conheciam e desejavam ler seus trabalhos de fazê-lo publicando só esparsamente e, quase sempre, textos “tomados” de suas mãos por outros que, muitas vezes, contra sua vontade pois sempre considerava todos inacabados, os levaram a publicação.
Destaca-se de sua produção intelectual o clássico sobre a Família-de-santo no Candomblé Gêge Nagô que tem reconhecimento nacional e internacional.
Nos últimos anos dedicou-se aos estudos de Antropologia da Alimentação, temática que dominava como poucos. Preparava vários livros para publicação através da Editora Corrupio.
*Peter Fry , é antropólogo e professor da Ufba

domingo, 3 de outubro de 2010

O Trânsito e a Cidade I

Gil Vicente Tavares *
Às vésperas da eleição, uma enorme vontade de falar sobre a pobreza política que nos assola me veio à mente. Mas o nível de ridículo a que se chegou a política, e a forma vulgar como o assunto passou a ser tratado desmereceram, pra mim, um espaço de discussão.
Enquanto pensava nisso, andava pela cidade de carro com uma reflexão que há tempos venho amadurecendo sobre um comparativo entre a relação do homem com o trânsito e com a cidade. Mais animado ainda fiquei quando soube de um novo livro do antropólogo Roberto DaMatta tratando sobre o tema.
Gentileza gera gentileza. E esse é um dos fundamentos do trânsito que são mais desrespeitados. O soteropolitano dificilmente desacelera o carro pra alguém sair da garagem ou pra que alguém passe em sua frente por necessidade de entrar numa rua ou retorno. Parece que fere a masculinidade (tanto do homem quanto da mulher, no sentido figurado do termo) de quem dirige. Ser ultrapassado, dar passagem é humilhante. Você pode não estar com pressa, pode até andar a 60km/h, mas ao ver a possibilidade de ser ultrapassado, a chance de dar passagem, a situação de alguém saindo da garagem, acelera-se a 80km/h sem piedade.
O descompromisso com o outro também é evidenciado ao não se ligar o pisca alerta para se mudar de pista, entrar nalguma rua ou estacionar. Esse aviso serve a quem vem atrás, ao pedestre que aguarda algum sinal pra saber se pode atravessar, e é comumente ignorado porque o soteropolitano é esperto, ágil e o outro que se dane; faço minha manobra a hora que eu quiser e quem bate no fundo perde a razão e quem morre atropelado é o outro.
Não existe coisa mais irritante, também, do que ver o motorista que, numa pista de 70km/h, anda a 50km/h na pista da esquerda; que é a de velocidade. As pessoas além de descumprirem uma regra, ainda se colocam na postura de “olha como esse irresponsável quer correr, enquanto eu estou correto em dirigir lentamente”. Ora, a pista da esquerda é para ultrapassagem e para a mais alta velocidade permitida pela placa do local. E para completar, diversos são os motoristas que só resolvem passar pra pista correta – a que ele vai precisar estar para entrar numa rua, pra fazer um desvio, pra estacionar – na última hora. Com isso, o trânsito é amarrado. São seguidos os engarrafamentos aparentemente inexplicáveis oriundos de maus e/ou irresponsáveis condutores.
Abrir a janela do carro pra jogar papel fora nem se fala. Parece que o sujeito se sente em seu mundo, dentro do veículo, e o exterior é um limbo abjeto e que não lhe pertence. Se começarmos a somar a isso tudo o excesso de buzinadas inúteis, o não parar na faixa de pedestre, os gestos obscenos dos machões que fazem irresponsabilidades no trânsito e se sentem mais machões ainda quando ofendem além de ser irresponsáveis, a lista começa a aumentar. O desrespeito aos semáforos, às faixas de pedestre e a esperteza daqueles que decoram onde ficam os radares pra poder andar noutros trechos acima da velocidade permitida são coisas tão graves e óbvias que nem preciso discorrer sobre elas. E aí pensamos no ouvir som alto em locais públicos, estacionar em qualquer canto obstruindo calçadas e desrespeitando placas, e soma-se a isso tudo a irresponsabilidade do pedestre.
*Dramaturgo, poeta e ator

sábado, 2 de outubro de 2010

Trânsito e cidade II


Gil Vicente Tavares *
Em Salvador, as pessoas atravessam em qualquer lugar, correm risco de morte, mas estampam o sorriso esculhambado e faceiro que tanto encanta turistas e folcloristas irresponsáveis, sorriso que devia continuar estampado no rosto mesmo depois de um atropelo. Mas, a partir do momento de um “tá lá um corpo estendido no chão”, o motorista passa a ser o criminoso e o pedestre a vítima. Começam fábulas sobre as irregularidades de velocidade, etc, sobre o motorista; nos casos onde este sequer tem culpa. As culpas dos condutores são discorridas acima.
Outro problema sério decorrente disso é que a cidade se enche de semáforos, que tornam o trânsito lento, devido aos protestos de seguidos atropelos em locais com passarelas. O soteropolitano quer ser esperto, tem preguiça de atravessar uma passarela numa pista de alta velocidade, e ainda protesta se ocorre atropelo. Aí, queimam pneu, põem faixa, gritam, e vencem numa subversão da lógica que é simples; seguir a ordem pra não sofrer com a infração. Mas a irregularidade baiana vence.
Vivemos numa cidade cada dia mais feia. Numa cidade onde as opções de voto são ridículas, políticos desinformados, ignorantes, com discursos prontos sobre segurança, saúde e educação, mas sem propostas efetivas e inteligentes; pra não falar da cultura. Entrevistei três prefeituráveis, há dois anos, e foi uma lástima. Eles não sabiam absolutamente nada sobre cultura e arte em Salvador, nem tampouco sabiam o que fazer com o potencial incrível que essa cidade tem através de seus músicos, atores, artistas plásticos, cineastas, etc.
Mas temos sempre que lembrar que políticos não brotam do chão (se brotassem, seria do esgoto). Eles são cidadãos que têm a mesma atitude que nós todos, soteropolitanos, temos no trânsito. E que refletem, exatamente, a falta de cidadania, de gentileza, de preocupação com o espaço público, com a boa convivência, com o respeito, o desenvolvimento, a civilidade.
Nosso comportamento no trânsito reflete metonimicamente nossa pobreza cidadã. E assim vamos atropelando a possibilidade de uma civilização menos injusta, menos individualista, menos irresponsável. E assim vamos sendo atropelados por políticos que não dão sinal, atravessam fora da faixa, não respeitam o outro, andam lentos na pista de velocidade, e Salvador vai sendo a selva, a Selvador que tanto falo.
*Dramaturgo, escritor e ator

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Bye Bye Salvador

Foto: Osvaldo Campos, a bordo do EMB 195 da Azul, no Voo Campinas - Salvador
Osvaldo Campos*
Desde 1973, e lá se vão 37 anos, Salvador tem sido minha cidade do coração. Nascido em Castro Alves e criado até os 17 anos em Brasília, estou me afastando da minha amada e querida Salvador.
Protesto contra o "mar de lama" , a incompetência do nosso Alcaide e dos nossos Edis, do domínio do Capital Imobiliário , do SETEPS e das empresas de transportes urbanos nas decisões e nos investimentos na cidade (BRT, Espigões na Orla e na Paralela).
Os escândalos do metrô (operação Castelo de Areia), do Transcon, nossa orla abandonada e entregue à especulação imobiliária, a violência e a miséria, e........tragégia final...os terriveis engarrafamentos, de fazer inveja a São Paulo e Rio.
A partir de segunda, dia 04, passo a morar e trabalhar em São Paulo, onde, ao menos, a Sociedade Civil se organiza e luta pela melhoria da qualidade de vida.
(Na foto o famigerado " Le Park, prêmio ADEMI de melhor projeto??????? - Selva de Pedra numa Paralela já saturada. E a responsabilidade social dos nossos empresários???
Com a palavra o presidente da Ademi, o amigo Nilsinho Sarti Silva e o empresário do ano Ademi - Toninho Andrade da Cyrela -Andrade mendonça , responsável pelo projeto).
sExemplo Oded Grajew, "Movimento Nossa São Paulo", Marcia de Luca, "Dia da Yoga pela Paz", Claudio Abramo, "Transparência Brasil" , e dezenas de outros movimentos organizados, que vem transformando e melhorando a qualidade de vida na "terra da garoa".
Infelizmente, este blog entra em recesso , próximo de atingir 50.000 acessos.
Obrigado a todos pelas contribuições, sugestões e críticas.
Estarei a partir de segunda -feira, trabalhando na FIESP- gerência de infra-estrutura.
Até breve.
Osvaldo Campos Magalhães
* Editor e criador deste blog, que em outubro será suspenso temporariamente.
P.s. Na foto, Estação de Metrô do Bairro da Liberdade em São Paulo.
Fotos: Osvaldo Campos