quarta-feira, 7 de julho de 2010

A Bahia no contexto nacional

Como a Bahia se acomodou no contexto da nação brasileira?
Edivaldo M. Boaventura*
Em uma nação continental, como é o Brasil, formam-se regiões tão extensas que são mais países. O Nordeste, por exemplo, corresponde em tamanho à Argentina. A federação republicana dos estados membros possibilitou-nos a convivência nacional. Há, entretanto, a considerar as relações do Estado-federado com a região, no nosso caso com o Nordeste, assim como o seu relacionamento com a União.
Como a Bahia se acomodou no contexto da nação brasileira?
Não faz muito, pediram-me que falasse como presidente da Academia de Letras da Bahia – que responsabilidade monumental – a diplomatas sul-americanos sobre a Bahia em relação ao Brasil. Temática ampla e difícil de ser abordada. Informei logo que tínhamos o sexto PIB, acostado ao de Santa Catarina e entrei pelas dimensões espaciais e temporais, históricas e antropológicas, na tentativa, talvez, de marcar a diferença. Olhando o mapa do Brasil, temos uma visão de como a Bahia se arredondou. Bahia e Minas constituem os estados centrais por excelência com expressiva representatividade nacional. Ambos têm múltiplas vizinhanças. A Bahia possui a maior costa marítima e o maior número de estados limítrofes: Sergipe, Alagoas, Pernambuco, Piauí, Tocantins, Goiás, Minas Gerais, Espírito Santo, oito no total. A vizinhança ostenta a nossa portentosa estadualidade. Com muitos desses vizinhos temos históricos e lendários limites. Com Sergipe, o sinal divisório é o Rio Real. Mas qual Rio Real? Dizem os sergipanos que é o Rio Itapicuru. Em reprimenda a Pernambuco, pela Confederação do Equador, ficamos com a comarca do São Francisco, que Minas não aceitou. A propósito dessa perda de território, existe uma ação judiciária,no Supremo Tribunal Federal, cujo advogado era Barbosa Lima Sobrinho. A região da antiga estrada de ferro de Caravelas ficou para Minas, no papel, pois continua Bahia. No que diz respeito ao Estado do Espírito Santo, a expansão da lavoura do cacau agregou à Bahia o município de Mucuri. Assim, o nosso Estado se alongou. Gilberto Freyre dizia que a Bahia era gorda e Pernambuco, magro. E Luiz Viana Filho, do alto de sua sabedoria política, nunca admitiu a menor discussão a respeito de nossas divisas.
Se tomarmos o mapa da América do Sul, o Brasil forma um primeiro arco voltado para o Atlântico, que vai do Amazonas ao Rio Grande do Sul, de costas para os Andes. Pois bem, dentro desse arco maior, forma-se um menor igualmente voltado para o mar, que começa no extremo sul de Pernambuco, costeia Tocantins e Goiás, passa por Minas e fecha no Espírito Santo; é a Bahia. Uma velha lenda indígena descrevia o Brasil como uma pomba, sendo o seu coração a Baía de Todosos-Santos. Virada para o Atlântico, a Bahia possui 1.000 quilômetros de costa. Como ocupá-la? O capitalismo internacional – portugueses, espanhóis e suecos – adquire grande glebas. Um cordão de areia branca acompanha o litoral.
A dimensão geográfica junta-se à histórica. O descobrimento do Brasil é uma manifestação das grandes correntes marítimas que chegam infalivelmente ao sul da Bahia, comprovam os modernos navegadores à vela. Ao “achamento” do Brasil, na Bahia, segue-se a primeira capital ou capital da maior parte do País, pois havia também o Estado do Maranhão.
Dois estados colados pelo Império unitário. A nossa independência foi resistente e heroica, pois os lusitanos tinham arraigados interesses comerciais em Salvador.
Com todas as nossas frustrações históricas, recriamos pela música e pelas letras. Jorge Amado escreveu-me em um cartão indelével: “Ruy e Castro Alves são os dois polos da cultura baiana”. Ele, o sempre amado Jorge, é o terceiro polo, nacional e internacional, como Ruy, o formulador da política multilateral brasileira. Com o tempo construímos um currículo para gastronomia. Uma cozinha para cada festa. Dendê para a Páscoa. Milho para o São João com o clássico licor de jenipapo. Assados nos encontros familiares com carneiro e bode dos sertões euclidianos.
Bahia com H, com o B do Brasil, com 1.000 quilômetros de praia. Bahia sertaneja, grapiúna, sãofranciscana...
* Educador, escritor, Presidente da Academia de Letras da Bahia. É Diretor Geral do Jornal A Tarde
Artigo originalmente publicado no jornal A Tarde

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