quinta-feira, 26 de maio de 2016

Obras selecionadas de Caribé

E CARYBÉ
©Instituto Carybé
Musicando, de Carybé  - [Pinacoteca ©Carybé]


Meninos brincando, de Carybé  - [Pinacoteca ©Carybé]


O ovo da Ema, de Carybé (1976)  - [Pinacoteca ©Carybé]

A morte de Alexandrina, de Carybé (1953) - [Pinacoteca ©Carybé]


As Baianas, de Carybé  - [Pinacoteca ©Carybé]


Puxada de Rede, de Carybé [Pinacoteca ©Carybé]


Sem título, de Carybé  - [Pinacoteca ©Carybé]


Iyami Oxorangá, de Carybé (1966 e 1971)  - [Pinacoteca ©Carybé]


Oxalá, de Carybé (1965)  - [Pinacoteca ©Carybé]

As Romanas, Carybé (1980) - [Pinacoteca ©Carybé]

Bahia,  de Carybé (1971) - [Pinacoteca ©Carybé]

Bahia, de Carybé - [Pinacoteca ©Carybé]


Bahia, de Carybé - [Pinacoteca ©Carybé]


Orixás, de Carybé - [Pinacoteca ©Carybé]


Candomblé, de Carybé (1983)  - [Pinacoteca ©Carybé]


Cangaceiros, de Carybé - [Pinacoteca ©Carybé]


Mulheres, de Carybé  - [Pinacoteca ©Carybé]


Cangaceiros, de Carybé (1997) - [obra inacabada deixada por Carybé]
Acervo Estúdio Carybé


A Garrafa Verde (ou A Hora do Cão),  de Carybé (1979)

Baianas, de Carybé - [Pinacoteca ©Carybé]


Canoeiros, de Carybé - [Pinacoteca ©Carybé]


Capeira, de Carybé  - [Pinacoteca ©Carybé]


sem título, de Carybé - [Pinacoteca ©Carybé]


sem título, de Carybé - [Pinacoteca ©Carybé]


sem título, de Carybé - [Pinacoteca ©Carybé]


Músicos, de Carybé - [Pinacoteca ©Carybé]


Noturno na Praia, Carybé 1971 - [Pinacoteca ©Carybé]


Porto, de Carybé - [Pinacoteca ©Carybé]


Cavalgada, de Carybé - [Pinacoteca ©Carybé]


Cavalgada, de Carybé - [Pinacoteca ©Carybé]


Cavalgada, de Carybé - [Pinacoteca ©Carybé]


Cavalgada, de Carybé - [Pinacoteca ©Carybé]


Ventania (obra inacabada), de Carybé (1997)  - [Pinacoteca ©Carybé]
Acervo Estúdio Carybé


Travessia, de Carybé  - [Pinacoteca ©Carybé]


sem título, de Carybé - [Pinacoteca ©Carybé]


sem título, de Carybé - [Pinacoteca ©Carybé]

sem título, de Carybé - [Pinacoteca ©Carybé]

sem título, de Carybé - [Pinacoteca ©Carybé]


sem título, de Carybé - [Pinacoteca ©Carybé]


O papagaio fujão, de Carybé - [Pinacoteca ©Carybé]


Pelourinho (Bahia), de Carybé - [Pinacoteca ©Carybé]
Porto, de Carybé - [Pinacoteca ©Carybé]


Mulata, de Carybé (1977) - [Pinacoteca ©Carybé]


Índios, de Carybé - [Pinacoteca ©Carybé]


Lampião, de Carybé - [Pinacoteca ©Carybé]


Igreja,  de Carybé - [Pinacoteca ©Carybé]


Mãe e filho,  de Carybé - [Pinacoteca ©Carybé]


Marinheiros (inacabado)  -  Sailors (unfinished), Carybé
 (1997) - [Pinacoteca ©Carybé] Acervo Estúdio Carybé


Guerra dos Emboabas, de Carybé  - [Pinacoteca ©Carybé]


Mulatas,  de Carybé - [Pinacoteca ©Carybé]


Vilarejo em festa, de Carybé - [Pinacoteca ©Carybé]


Frevo, de Carybé - [Pinacoteca ©Carybé]

Caribé entrevistado por Clarice Lispector



Carybé - (foto: Acervo ©Instituto Carybé)
O feitiço da Bahia começa pela cozinha. Você só se alimenta de comidas sagradas.”



E eu que tinha como um dos objetivos da viagem à Bahia dialogar com Carybé, terminei conseguindo-o no Rio...? Ele esteve dois meses na Europa e passava 
por aqui, rumo a Salvador. E eu o tive à minha frente com seu ar dos mais humanos que já senti: é uma pessoa de fato.

Clarice Lispector – Seu nome é mesmo Carybé?
Carybé – Fui registrado como Hector Bernabó. Carybé é meu nome de artista.

Clarice Lispector – Você é argentino de nascimento, mas brasileiríssimo e, ainda por cima, baianíssimo de coração. Comuo é que você explica seu amor, aliás correspondido plenamente, pelo Brasil?
Carybé – É simples: saí da Argentina ainda criança de colo; depois fui para a Itália (meu pai era italiano) e aos oito anos vim para o Rio. E ainda por cima minha mãe era gaúcha. Quanto à Bahia, foi um namoro comprido. Conhecemo-nos em 1938. Fiquei com a ideia fixa de morar na Bahia e voltei lá por duas vezes, sem poder
 concretizar meu desejo. Até que uma carta vergonhosamente elogiativa de Rubem abriu-me as portas da Bahia na pessoa de Anísio Teixeira, no governo de Otávio Mangabeira. E me deram a tarefa de desenhar durante um ano as coisas da Bahia. Esse ano se estendeu pelos 19 em que estou lá.

Clarice Lispector – Agora, Carybé, você vai por favor me explicar o fascínio da Bahia a que também sucumbi, tanto que só penso em voltar e passar pelo menos um mês trabalhando por lá.
Carybé – Minha linha era sempre uma aventura sul-americana. Fui para o Peru, para a Bolívia, para o Chaco argentino, onde morei com os índios. Mas a Bahia ganhou o campeonato porque é uma cidade viva. Em geral as cidades que têm história, arquitetura – enfim, que viveram desde o começo da América – são cidades-museus. Mas a Bahia tem arte e arquitetura modernas, um povo alegre, simpático, sobretudo bom, ao mesmo tempo que fortalezas, catedrais e o mar que é maravilhoso.

Clarice Lispector – Poucas vezes vi mar mais bonito e mais audacioso que o da Bahia.
Carybé – Salvador é uma cidade que parece encomendada para artistas plásticos, para escritores, cineastas. Enfim, tudo lá é uma espécie de incubadeira para essa gente.

Figuras na praia, © Carybé 1955
Clarice Lispector – É o que eu senti, Carybé: como se uma sereia me chamasse com o seu feitiço.
Carybé – Agora, Clarice, você disse a palavra certa: feitiço. O feitiço é vivo, começa pela cozinha.
Você se alimenta de comidas sagradas. Por exemplo, acarajé é comida de Iansã, que é um orixá-fêmea dos ventos e das chuvas. O caruru é o amalá de Xangô. E quase todos os pratos típicos baianos são a comida dos orixás (santos do candomblé). Depois tem arvoredos que são a morada de encantados (orixás também). E a música de Caymmi, Caetano Veloso, Gil, Tom Zé e muitos outros. Tem sol, tem pescadores, tem o diabo... que não é bem diabo, é Exu, o diabo do candomblé que é de uma travessura diferente da dos outros diabos e, sendo bem tratado, torna-se um amigo inestimável.

Clarice Lispector – No começo de sua carreira como pintor, é verdade que você desenhava muito os botos?
Carybé – Eu trabalhei muito em jornal para poder ter dinheiro e ilustrava livros. Até que pouco a pouco pude me sustentar exclusivamente com a pintura. Isso se deu na Bahia, o lugar onde eu menos imaginava que pudesse viver só de arte.

Clarice Lispector – Mas... e os botos?
Carybé – Os botos, quando mais contato tive com eles, foi ilustrando um livro de Newton Freitas sobre lendas amazônicas. E também numa viagem longa que fiz pelo Amazonas, onde os bichinhos pulavam acompanhando as alvarengas (canoas imensas) e os navios-gaiola. Nunca vi um transformado em pessoa...

Duende da montanha, © Carybé, 1942
Clarice Lispector – Você hoje é chamado pelos ingleses de “o pintor dos cavalos”. E eles compraram nada menos que 40 telas suas... Como eu tenho alucinação por cavalos de todas as espécies, queria saber se você também tem.
Carybé – Tenho, sim, Clarice, é o animal de que eu talvez mais goste. Viajei muito em companhia deles. Agora a coisa de “pintor de cavalos” foi devido ao presente que a Bahia ofereceu à rainha da Inglaterra. Sendo ela também apreciadora de cavalos, o embaixador Russell sugeriu que lhe fosse dado um quadro meu onde figuravam montarias. Agora fiz uma exposição em Londres; em novembro farei outra na Tryon Gallery, com tema indicado, cavalos. Concorrerei com pintores de umas oito nações: ingleses, mexicanos e australianos, entre outros.

Clarice Lispector – Você trabalhou durante sua recente viagem pela Europa? Tomou notas?
Carybé – Fiz umas crônicas ilustradas para o Jornal do Brasil e para A Tarde, da Bahia. Mas o principal trabalho foi ver. Os olhos são a ferramenta da gente. (Os olhos de Carybé são de um castanho-dourado, bem atentos às coisas que o rodeiam: não há perigo de lhe escaparem visões.) E agora estou doido para chegar à Bahia para ver o que acontece.

Clarice Lispector – Chegando lá, qual é a primeira coisa que você pretende fazer?
Carybé – Tomar contato com minhas latas, meus pincéis, e ver o que vai fermentar ou já fermentou das coisas que vi.

Clarice Lispector – Sobretudo o que é que você viu pela Europa?
Carybé – Por exemplo, vi Londres, que foi uma surpresa para mim. É uma espécie de reinado da juventude, da liberdade de viver e de criar. E, depois, a porta de São Pedro, de Giacomo Manzu, as catedrais romanas e góticas, e sobretudo o povo da Espanha, da França, da Itália, da Inglaterra. Essa é a coisa de que eu mais gosto: povo, gente. Em Sevilha, por exemplo, houve um paralelo entre a tragédia e a alegria: a tragédia da Semana Santa e a alegria desbordada na Feira dessa cidade – o mesmo povo com sentimentos opostos. Na Feira é uma alegria de doidos, as moças a cavalo, vinho, castanholas, bailes. Na Semana Santa, o soturno, uma atmosfera de Idade Média, com penitentes e véus negros cobrindo cabeças de mulheres, o canto mais sentido do mundo, que são as saetas que o povo canta para Jesus e Maria.

Enigma das nuvens, © Carybé, 1942
Clarice Lispector – O rosto humano lhe interessa para desenhar?
Carybé – Me interessa demais até, mas não sou retratista. O que mais eu apreendo são gestos do corpo todo, movimentos, maneira de sentar, de andar, de carregar coisas, enfim, a vida humana e a dos bichos. Eu adoro bichos.

Clarice Lispector – Você tem muitos amigos na Bahia – isto é, amigos que você frequenta?
Carybé – Eu graças a Deus não tenho inimigos. Sou muito amigueiro e tenho amigos um pouco pelo mundo todo.

Clarice Lispector – Posso dagora em diante ser considerada por você também sua amiga?
Carybé – Você é minha amiga há muitíssimos anos através de Inês Besouchet, do Marino-Macunaíma, do Jorge Amado, da Zélia, do Rubem e outros amigos comuns. E sobretudo por ter lido o que você já escreveu.

Clarice Lispector – O que me diz você na Bahia dos músicos, pintores, escritores?
Carybé – Está tudo no ar. Não no ar da tevê, como se diz agora, mas no ar mesmo, no sol, e no povo. Na Bahia não há grupos em choque: cada um trabalha como acha que deve ser. Eu penso que é isso que dá essa atmosfera de criação que se respira lá e que nos inspira. É uma coisa misteriosa, Clarice, porque os plásticos, os músicos, os escritores, os poetas brotam com facilidade e com amizade mútua.

Clarice Lispector – Há quantos anos você pinta, Carybé?
Carybé – Tenho 58 anos, pinto desde os 15. Faça a conta.

Clarice Lispector – Por que você escolheu o pseudônimo de Carybé?
Carybé – Tenho um irmão que também é pintor e dava confusão os dois com o mesmo nome. Aí procurei um pseudônimo. Veja você, eu era escoteiro do Clube do Flamengo e pertencia a uma patrulha na qual todos tinham nomes de peixes. E eu era o peixe carybé. Achei o nome sonoro e curto, e adotei-o. E não diga nada a ninguém, mas o carybé é uma piranha ...

Clarice Lispector – Estou aqui morrendo de inveja de você que vai amanhã, tão expressivamente apressado, pra Bahia...
Carybé – Se você quer ir à Bahia para escrever é preciso duas coisas: muita vontade de sua parte, e nós lá pedirmos a Exu que abra os caminhos para a sua ida...

Carybé, 1970 (foto: Klaus Meyer)

Clarice Lispector – Depois que terminei e publiquei romance mais recente, Uma Aprendizagem ou o Livro dos Prazeres, estou inteiramente vazia de inspiração. Mas nisso de inspiração também conto com Exu, que já é meu amigo do peito e vai me ajudar em tudo, entendeu? Exu é poderoso.
Carybé – Pintor nascido na Argentina. Nome artístico de Hector Julio Paride Bernabó. Radicou-se, inicialmente, no Rio de Janeiro depois de ter vivido na Itália até os oito anos de idade. Fixou-se definitivamente na Bahia a partir de 1950, naturalizando-se sete anos depois. Suas obras traduzem a baianidade expressa nas cenas cotidianas e no folclore popular. Destacou-se pela criação de murais, hoje expostos em São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia, Montreal, Buenos Aires e Nova York. Fez ilustrações de obras literárias, como O sumiço da santa, de Jorge Amado.
E CARYBÉ ©Instituto Caribé

sexta-feira, 20 de maio de 2016

Cidade das Bicicletas - Como Copenhague se tornou referência quando o assunto é qualidade de vida

Natália Garcia*
Faltavam dois dias para minha viagem à capital dinamarquesa, primeira parada do Cidades para Pessoas, e fomos juntas “passear pela cidade” no Google Street View. Nós duas estávamos acostumadas a pedalar em São Paulo e parecia de mentira aquela cidade cheia de ciclovias e com quase nenhum trânsito. A expectativa para conhecer Copenhague e experimentar pedalar por lá só aumentou.
Assim que cheguei ao aeroporto, a primeira surpresa:  É tão fácil chegar ao aeroporto de trem ou ônibus e ele fica tão próximo do centro da cidade (10 quilômetros) que simplesmente não compensa ir para lá de carro. Assim que passei pelas portas automáticas de vidro, encontrei um estacionamento para bicicletas
estacionamento de bicicletas no aeroporto Kastrup, em Copenhague
Também não demorei a descobrir que as bicicletas são o único transporte público gratuito da capital dinamarquesa. Há vários pontos de bicicletas públicas espalhados pela cidade: você pode retirar uma delas, usar até onde quiser e devolver em outro ponto. É parecido com os sistemas adotados em Paris, Barcelona e Londres, com a vantagem de que não é preciso fazer nenhum tipo de cadastro, ter cartão de crédito, ser habitante da cidade ou deixar um cheque caução. Tudo o que você precisa é de uma moeda de 20 kronos (que vale R$ 6) inserida no cadeado da bicicleta e ela está livre para usar. Ao devolvê-la em outro ponto, você recebe sua moeda de volta. Sim, há problemas de vandalismo. O chefe do departamento de bicicletas da prefeitura, Andreas Røhl, estima que 15% delas sejam depredadas e precisem ser consertadas todo mês. Ainda assim, o serviço continua sendo gratuito – e é usado principalmente por turistas, já que 95% dos moradores da cidade possuem bicicleta própria.
Cycle Chic
Antes mesmo de pesquisar dados sobre o uso diário de bicicletas pela cidade, uma olhada pelas principais avenidas já mostra que esse é o meio de transporte mais utilizado por lá. Copenhagen, aliás, inaugurou o movimento mundial Cycle Chic – de gente que pedala arrumadinha. A ideia é: “esse é o meu meio de transporte, então vou utilizá-lo com minha roupa de trabalho mesmo”. Daí que mulheres com vestidos e saltos enormes e homens de terno e gravata pedalam em direção ao escritório todos os dias. Inclusive quem trabalha na sede prefeitura, que fica em um prédio antigo bem no centro da cidade. Na área externa do prédio fica esse estacionamento de carros:

estacionamento de bicicletas da prefeitura de Copenhague

Depois dessa experiência prática, fui à teoria: pesquisei os dados da divisão modal na cidade. A prefeitura de Copenhague apura dois tipos de dados: a divisão modal do total de viagens e a divisão modal das viagens do dia-a-dia, feitas para a escola e para o trabalho. Nesse segundo grupo, das viagens do dia-a-dia, ainda há uma subdivisão entre os moradores do centro expandido da cidade e os moradores de toda a região metropolitana da capital dinamarquesa. Você pode ver essa divisão no mapa abaixo.
cidade de Copenhagen
As regiões identificadas como City Center, Amalienborg Nyhavn e Christianshavn compreendem o que a prefeitura considera como centro expandido e, juntas, possuem uma população de 50 mil pessoas. A região metropolitana compreende todos os bairros assinalados e possui um total te 550 mil habitantes, em uma área de 88.25 km2. É uma cidade bem pequena (tem a mesma população que os bairros paulistanos Pinheiros e Lapa somados).
Viagens do dia-a-dia
Considerando a população do centro da cidade, a divisão modal é a seguinte:
viagens do dia-a-dia de população do centro expandido
Agora, se a população total de toda a região metropolitana de Copenhagen for considerada, a divisão passa a ser essa:
viagens do dia-a-dia e toda Copenhague
Por fim, considerando todas as viagens feitas e a população total da região metropolitana, temos esse terceiro gráfico:
total de viagens de toda Copenhague
Esse é o único caso em a bicicleta não ganha, perde para o carro. Mas é preciso pensar que os carros são muito  utilizados em viagens de fins de semana para fora da cidade, por isso o percentual aumenta tanto. Ainda assim, é fácil de concluir que a bicicleta é o mais importante modal da cidade. E continua sendo mesmo nos meses de inverno, quando 70% dos usuários de bicicleta continuam pedalando.
ciclistas no inverno de Copenhague
E a prefeitura faz questão de garantir que continue sendo assim. Não só porque as pessoas ficam mais felizes pedalando, mas porque é economicamente melhor para a cidade. Um carro emite poluentes (o que causa danos de saúde pública), gera mais acidentes e precisa de uma manutenção mais cara na infraestrutura. As ciclovias, por outro lado, são mais baratas, atraem mais turistas, fazem com que as pessoas se exercitem e fiquem mais saudáveis e as bicicletas não emitem poluentes – os gastos com saúde pública caem bastante. A prefeitura colocou todas essas variáveis em uma equação e concluiu que, a cada quilômetro pedalado, a cidade GANHA o equivalente a R$ 0,70, enquanto que a cada quilômetro percorrido por um carro, a cidade PERDE R$ 0,30.
* Natália Garcia é jornalista e editora do Blog Cidade para as Pessoas

sábado, 14 de maio de 2016

Acabou Chorare, foram anos de espera

Pedro Tourinho*
Anos em que acompanhávamos fervorosamente a carreira de cada um deles, íamos como em romaria para cada um dos shows, curtíamos todos os momentos, todas as músicas novas e inéditas, e chorávamos no Mistério do Planeta do bis, quando a Menina Dançava e no Tinindo Trincando de cada música do repertório.
Anos em que o horário em que Baby passava com seu trio no carnaval não coincidia com o horário do trio de Moraes, de Paulinho Boca, e de Pepeu. Aliás, anos em que esperávamos o Encontro dos Trios, na expectativa de que fosse também a possibilidade de um reencontro dos nossos novos baianos.
Anos em que nós, fãs, buscávamos pistas como num mapa do tesouro cósmico, juntávamos peças de um quebra cabeça amoroso e sonoro, cantávamos juntos e nos reconhecíamos na paixão de outros fãs, como uma tribo gigantesca louca para se reunir em qualquer evento ou possibilidade que chegasse o mais próximo possível do que foram os anos 70 dos Novos Baianos.
Nos últimos anos, a expectativa só aumentou. Moraes faz turnê em homenagem aos 40 anos do Acabou Chorare, Baby volta aos palcos com um espetáculo que arrastou multidões, encantou a crítica e junto com Pepeu faz um dos shows mais importantes da história do Rock in Rio. Pepeu, por sua vez, anuncia turnê dos seus 50 anos de carreira. Paulinho Boca, militante do carnaval sem cordas, mantém a chama viva fazendo shows em
todo canto, Galvão solta o verbo em livros e posts pelo mundo digital e Jorginho, Dadi e Didi seguem tocando para grandes multidões pelo país.
Depois de tantas décadas, os Novos Baianos estão mais ativos, significantes e significativos do que nunca, assim como seu público, que não pára de crescer e de se renovar a cada geração. Em tempos tão sombrios, o momento cósmico, afetivo e artístico desse reencontro nunca foi tão fundamental.
E a espera acabou, como disse Moraes, “o destino fez seus planos, os laços das idéias e dos ideais nos fizeram irmãos. Somos um todo, a soma das partes, no oficio das artes. Por mais que a vida nos leve por caminhos diversos, o tempo se incumbe de promover encontros e reencontros. É bom que assim seja, pois quando acontece, é de forma intensa e verdadeira”.
No dia 15 de Maio de 2016, teremos Moraes Moreira, Baby, Pepeu Gomes, Paulinho Boca, Galvão, Jorginho, Dadi e Didi juntos em toda verdade e intensidade num grande reencontro com o público na reinauguração da Concha Acústica de Salvador. Com um repertório baseado em Acabou Chorare e Novos Baianos F.C, e possivelmente algumas surpresas, o show será o primeiro reencontro de todos eles em mais de 20 anos.
Se haverá outros shows? Se será uma apresentação ou o início de uma turnê, ainda não se sabe. *Não, não é uma estrada, é uma viagem, tão, tão viva quanto a morte, não tem sul nem norte, nem passagem.* E o mais importante: - *Não olhe, ande.  *Na qualidade de fã, baiano e brasileiro, fica o agradecimento, a expectativa e a única certeza: domingo, na Concha, é ferro na boneca!
*Pedro Tourinho é CEO da NoPlanB

quarta-feira, 11 de maio de 2016

O Senhor das Artes

O galerista Paulo Darzé se considera um “vovô” no segmento em que atua. Afinal já se vão 33 anos de galeria, o que faz dele um dos profissionais mais experientes do país. Filho de pais libaneses, mas nascido em Salvador, Paulo começou a se interessar por arte na loja de móveis do pai, onde alguns artistas plásticos iam para fazer permuta de móveis por arte. Essa era uma prática, digamos, comum nos anos 50, 60, quando artistas como Carybé e Floriano Teixeira já tinham uma grande produção artística, porém consumida apenas por uma elite cultural que já apostava na arte moderna. Na entrevista que Paulo concedeu ao Blog Salvador em um Click, na galeria que leva seu nome, numa tranquila transversal do Corredor da Vitória, ele conta como tudo começou e um pouco mais. Vale a pena saber!
Porque e quando você começou a se interessar por arte?Paulo Darzé: Meu pai tinha uma loja de móveis e alguns artistas o procuravam para fazer escambo de móveis x telas. Em frente à loja de meu pai tinha a loja de Leo Grossman, que eu frequentava, onde tinha trabalhos de Carybé, Floriano e outros aristas. Então conheci Luiz Caetano Queiroz, que fazia leilões de arte no Othon (Bahia Othon Hotel) e comecei a colocar algumas peças. Fiquei sócio de Luiz Caetano, até que comprei a parte dele e mudei o nome da galeria para Escritório de Arte da Bahia. Durante 10 anos fiquei no Salvador Praia Hotel, até que o hotel solicitou as lojas e fui para a Graça. Foi quando mudei o nome para Paulo Darzé Galeria de Arte. Hoje o nome é Paulo Darzé Galeria.
Tempos e Linguagens
A Paulo Darzé Galeria é palco de grandes exposições
O seu gosto pela arte contagiou sua família?
P.D.: Totalmente, minhas filhas adoram! O interesse nas viagens para o exterior mudou de shoppings para museus!
Há quanto tempo a galeria existe?
P.D.: Há 33 anos, sou vovô nesse ramo! Não tem no Brasil 20 galerias com esse tempo de atividade. Me sinto um vencedor por ter passado por algumas crises e sobrevivido, como espero sobreviver também a esta que estamos passando.
Quantos artistas a galeria representa hoje?
P.D.: 22 artistas.
De onde são esses artistas, somente da Bahia ou de outros estados também?
P.D.: Do Brasil inteiro, mas a maior concentração de artistas é do Rio de Janeiro e São Paulo. Tunga é pernambucano e mora no Rio, Antonio Dias é paraibano e também mora no Rio, Florival Oliveira é de Riachão do Jacuípe e veio pra Salvador, Iuri Sarmento é mineiro, morou aqui, mas agora mora em São Paulo…
Tunga
Obras de Tunga
Quantas exposições a galeria faz por ano?
P.D.: Uma média de quatro exposições por ano. Já fiz, cinco, seis, mas a média é quatro, que multiplicado por 33 anos dá quase 150 exposições.
Sempre tem uma exposição em cartaz? Qual a exposição do momento?
P.D.: Sim, sempre tem. A exposição que está na galeria agora é de João Farkas, que vem de uma família tradicionalíssima em arte. João é filho de um grande fotógrafo, Thomas Farkas. Quando não temos exposições individuais temos mostra do acervo dos artistas que representamos.
João Farkas 2
Exposição ‘Trancoso’, de João Farkas está em cartaz na Paulo Darzé Galeria
Qual a exposição de maior sucesso – de público e comercialmente falando – que a galeria já realizou?
P.D.: De público, teve algumas. A inauguração deste espaço, com Mariozinho Cravo (o fotógrafo Mário Cravo Neto), a de Bel Borba, que parou a Vitória. Comercialmente, a exposição de Tunga, de Antonio Dias e muitas outras. Na de Carybé, na inauguração da Graça, os empresários quase se estapeavam, queriam pagar mais. Há anos ele não fazia uma exposição. Em vida ele fez quatro comigo. Fiz exposição de todos os modernistas, Calasans, Carlos Bastos, Carybé…
Quais os artistas baianos em ascensão?
P.D.: Muitos! Todos os que trabalhamos: Florival Oliveira, Caetano Dias, Paulo Pereira, Vauluízio Bezerra, Bel Borba, Iuri Sarmento, Christian Cravo. O artista em maior ascensão na Bahia é Marepe, que não trabalha comigo e com nenhuma outra galeria local, trabalha com galeria de São Paulo.
Tempos e Linguagens 2
A mostra ‘Tempos e Linguagens’ reuniu diversos artistas representados pela galeria
Você está sempre de olho em gente nova ou prefere manter um número restrito de artistas representados pela sua galeria?
P.D.: Nós estamos sempre abertos, o mercado de arte é como bicicleta, não pode parar! Sempre inovando, se reinventando, cada geração tem um comportamento diferente. Minha filha fez curso na Sotheby’s, em Londres, fez mestrado em arte contemporânea, tem um olhar bastante diferente do meu, um olhar vanguardista. O que não pode faltar é seriedade no mercado.
O que determina a sua aposta em um artista, gosto pessoal ou técnica?
P.D.: Nem uma coisa nem outra. O que conta é o currículo do artista, a seriedade da produção, associado, claro, ao gosto pessoal.
Vale a pena participar de eventos como a SPArte ou ArtRio?
P.D.: Muito, porque a galeria tem muita visibilidade. No período curto de cinco dias, 20 mil pessoas passaram pela SPArte e todos com o mesmo foco: arte. Mas as vendas foram um fiasco por conta da crise. Fizemos dois estandes, um em homenagem a Carybé, com mais de 40 obras, e o outro com os artistas que representamos.
Mário Cravo Neto
A exposição de Mario Cravo Neto foi uma das mais concorridas
A crise afetou o mercado de arte?
P.D.: Um pouco. Mas agora está na hora de comprar, pois o mercado está em baixa, caiu em 30%.
Que conselho você daria para quem quer começar uma coleção de arte?
P.D.: Procurar um profissional estabelecido no ramo para não comprar gato por lebre! Sempre procurar artistas que já tenham uma carreira.
O que deve ser levado em consideração na compra de uma obra de arte?
P.D.: Primeiro, se agrada ao seu olhar e depois ver se o artista já tem uma carreira consolidada ou uma boa projeção para o futuro, se dará continuidade ao seu trabalho ou se é “artista de fim de semana”. Mas em primeiro lugar, tem que gostar de arte.
João Farkas
O amplo espaço da Paulo Darzé Galeria
Arte tem que combinar com o sofá e o tapete?
P.D.: Nunca
O que você acha do grafite?
P.D.: É uma tendência natural hoje. Temos muitos brasileiros reconhecidos no mundo todo, como Os Gêmeos, que são top!
Das linguagens das artes plásticas, qual a sua preferida?P.D.: Arte contemporânea. Eu gosto de viver o meu tempo, o meu hoje. Gosto de olhar para um artista e ver que daqui a cinco, dez anos ele será reconhecido. Mas eu sou profissional e tenho o olhar .
* Entrevista concedida ao Blog Salvador em um Click

segunda-feira, 9 de maio de 2016

A Salvador do século XXI

Aninha Franco*
Salvador tem muitas cidades dentro de si, a que abrigou as tribos Tupinambás às margens da baía de Quirimurê, renomeada de Todos os Santos por Américo Vespúcio; a que foi construída por padres de muitas ordens e militares portugueses que dorme, esquecida, nos livros esgotados da coleção Brasiliana; a que o Povo e a Natureza conceberam e Jorge Amado, Dorival Caymmi, Carybé e Pierre Verger capturaram e mostraram ao mundo em Verbo e Imagem, e aquela que nós habitamos no século 20, sempre muito maltratada pelos gestores, arquitetada pelo engenheiro Mário Leal Ferreira e levantada pelo prefeito ACM, com viadutos, pistas asfaltadas e desigualdades assustadoras, cotidiano dos que nela ficaram desde os Anos 1960.
Agora, uma outra Salvador começou a chegar com intervenções em muitos bairros e fortes interferências em dois deles, ambos emblemáticos para sua biografia, o Rio Vermelho e a Barra. O Rio Vermelho acolheu o náufrago Caramuru, o gringo que prefeiturou a primeira cidade, a Tupi-Portuguesa, quando naufragou na Praia de Mairaqiquig, atual Mariquita. E a Barra, marco zero da cidade Portuguesa-Tupi, trazida nas naus de Tomé de Souza, estacionadas no Porto entre fim de março e princípio de abril de 1549, com o projeto de uma Lisboa dentro delas, trazendo Antonio, o coletor de impostos, devorado pelos Caetés na companhia do Bispo Sardinha e da matrona Maria Dias, chegados depois, a matrona encarregada de casar as órfãs portuguesas com os colonos, para fazer uma gente que não seria baiana.
Nesses dois bairros, a Prefeitura Municipal de Salvador instalou as Casas de Jorge Amado, Pierre Verger e Carybé, e pretende, em futuro próximo, instalar a Casa de Caymmi, assentando os Quatro Amigos, saque turístico-artístico genial. A primeira Casa, a de Jorge, inaugurada em 2014, está em pleno funcionamento. As duas Casas que serão inauguradas nos próximos dias, ambas escandalosas, têm as imagens da Baianidade e na quarta Casa, a de Caymmi, haverá seu som.
Na Casa de Verger, além de suas fotos, as dos fotógrafos que escolheram a Bahia como musa, Salvador e seus municípios místicos, os do Recôncavo, os do Sertão, as religiosidades, as fotos do Povo, sempre original e belo, suas cozinhas, suas criações em milhares de figuras com cenário interno de casa do Recôncavo que foi levantada, um dia, para proteger a Cidade, com exibições nas paredes enoooormes, e aquela beleza ao redor que a Baía de Todos os Santos imprime em qualquer lugar que banhe.
A Casa de Carybé foi instalada no Forte de São Diogo com as imagens Carybelianas, sinônimas da Baianidade na Mulata Grande, na Doida dos Cachorros do Largo São Francisco, no Papagaio Fujão, no Ovo da Ema, na Morte de Alexandrina, nos Cangaceiros, Na Garrafa Verde (A hora do cão), Na Lua Cheia, na Cavalgada, nos Orixás. Depois de embelezar a alma e o espírito nelas, pode-se cuidar do corpo no Mercado do Peixe do Rio Vermelho, que está um arraso e merece outro texto para saudar a Salvador do século 21 que chega, esta Cidade linda que, se tratar a desigualdade e a violência com Educação, fará com que todos os habitantes que nela mereceram nascer, possam desfrutar dessa beleza.
*Dramaturga

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

Deficiências na gestão do turismo na Bahia

Osvaldo Campos Magalhães*
Cidade com enorme potencial turístico, com características culturais e naturais únicas no Brasil, Salvador vem sofrendo com a deficiência e precariedade de dois de seus mais importantes equipamentos de apoio ao turismo.
Tendo movimentado em 2015, 9.1 milhões de passageiros entre embarques e desembarques nacionais e internacionais, o aeroporto internacional de Salvador, ao longo dos três últimos anos, foi o que apresentou o pior desempenho nas pesquisas realizadas pela Secretaria de Aviação Civil.   Apesar do enorme potencial de atratividade para o setor privado, o aeroporto de Salvador, inexplicavelmente, não foi incluído nas duas primeiras rodadas de concessões de aeroportos do Brasil. Enquanto os principais aeroportos do Brasil receberam vultosos investimentos na ampliação de suas infraestruturas físicas e modernização e melhoria da gestão, resultado da participação de parceiros internacionais com comprovada experiência e sucesso na gestão da infraestrutura aeroportuária, o aeroporto de Salvador permaneceu subordinado à caótica gestão da Infraero.
A Infraero nos últimos 20 anos sofreu com a forte ingerência política e a partidarização de sua gestão. Se esta ingerência política beneficiou Recife, onde um moderno terminal aeroportuário foi construído, graças a influência de um presidente pernambucano da Infraero, por outro lado, prejudicou imensamente Salvador, que acaba de perder para Fortaleza e Recife a concentração de voos no Nordeste das duas maiores empresas de transportes aéreos, a TAM e a GOL.
A mesma ingerência política que descaracterizou a outrora eficiente Infraero, também vem prejudicando imensamente a gestão do turismo na Bahia. Tanto a Bahiatursa como a Secretaria Estadual de Turismo vem sendo geridas por políticos sem qualquer experiência anterior com o setor, o que vem comprometendo esta importante atividade econômica. 
Abraço simbólico em defesa do Centro de Convenções, realizado por representantes do Trade Turístico 
O lamentável estado do Centro de Convenções de Salvador é a maior prova deste fato.
Enquanto o mercado brasileiro de eventos cresce a uma média de 14% ao ano, na Bahia,  a atividade está comprometida.
Detalhe que há apenas dez anos, o equipamento foi vencedor do Prêmio Caio 2005, considerado um Oscar do setor de eventos. 
Dados da Organização Mundial do Turismo indicam que a atividade de feiras e congressos movimenta mais de 50 segmentos, como transporte, hospedagem, lazer, alimentação e comércio. Sendo Salvador uma cidade sem indústrias e dependente do setor de serviços equipamentos como o Centro de Convenções e seu aeroporto jamais poderiam ter sido sucateados e relegados a segundo plano.

Como reflexo destes fatos, Salvador deixou de atrair novos investimentos na sua hotelaria e pode inclusive perder dois de seus mais importantes equipamentos hoteleiros.
Necessário se faz que o governo do Estado da Bahia reconheça sua responsabilidade na crise que atravessa o setor de turismo na Bahia e promova as mudanças necessárias na gestão desta importante atividade econômica.
 *Engenheiro e Mestre em Administração. Membro do Conselho de Infraestrutura da FIEB
** Ilustração: Cau Gomes - Foto A Tarde