segunda-feira, 9 de maio de 2016

A Salvador do século XXI

Aninha Franco*
Salvador tem muitas cidades dentro de si, a que abrigou as tribos Tupinambás às margens da baía de Quirimurê, renomeada de Todos os Santos por Américo Vespúcio; a que foi construída por padres de muitas ordens e militares portugueses que dorme, esquecida, nos livros esgotados da coleção Brasiliana; a que o Povo e a Natureza conceberam e Jorge Amado, Dorival Caymmi, Carybé e Pierre Verger capturaram e mostraram ao mundo em Verbo e Imagem, e aquela que nós habitamos no século 20, sempre muito maltratada pelos gestores, arquitetada pelo engenheiro Mário Leal Ferreira e levantada pelo prefeito ACM, com viadutos, pistas asfaltadas e desigualdades assustadoras, cotidiano dos que nela ficaram desde os Anos 1960.
Agora, uma outra Salvador começou a chegar com intervenções em muitos bairros e fortes interferências em dois deles, ambos emblemáticos para sua biografia, o Rio Vermelho e a Barra. O Rio Vermelho acolheu o náufrago Caramuru, o gringo que prefeiturou a primeira cidade, a Tupi-Portuguesa, quando naufragou na Praia de Mairaqiquig, atual Mariquita. E a Barra, marco zero da cidade Portuguesa-Tupi, trazida nas naus de Tomé de Souza, estacionadas no Porto entre fim de março e princípio de abril de 1549, com o projeto de uma Lisboa dentro delas, trazendo Antonio, o coletor de impostos, devorado pelos Caetés na companhia do Bispo Sardinha e da matrona Maria Dias, chegados depois, a matrona encarregada de casar as órfãs portuguesas com os colonos, para fazer uma gente que não seria baiana.
Nesses dois bairros, a Prefeitura Municipal de Salvador instalou as Casas de Jorge Amado, Pierre Verger e Carybé, e pretende, em futuro próximo, instalar a Casa de Caymmi, assentando os Quatro Amigos, saque turístico-artístico genial. A primeira Casa, a de Jorge, inaugurada em 2014, está em pleno funcionamento. As duas Casas que serão inauguradas nos próximos dias, ambas escandalosas, têm as imagens da Baianidade e na quarta Casa, a de Caymmi, haverá seu som.
Na Casa de Verger, além de suas fotos, as dos fotógrafos que escolheram a Bahia como musa, Salvador e seus municípios místicos, os do Recôncavo, os do Sertão, as religiosidades, as fotos do Povo, sempre original e belo, suas cozinhas, suas criações em milhares de figuras com cenário interno de casa do Recôncavo que foi levantada, um dia, para proteger a Cidade, com exibições nas paredes enoooormes, e aquela beleza ao redor que a Baía de Todos os Santos imprime em qualquer lugar que banhe.
A Casa de Carybé foi instalada no Forte de São Diogo com as imagens Carybelianas, sinônimas da Baianidade na Mulata Grande, na Doida dos Cachorros do Largo São Francisco, no Papagaio Fujão, no Ovo da Ema, na Morte de Alexandrina, nos Cangaceiros, Na Garrafa Verde (A hora do cão), Na Lua Cheia, na Cavalgada, nos Orixás. Depois de embelezar a alma e o espírito nelas, pode-se cuidar do corpo no Mercado do Peixe do Rio Vermelho, que está um arraso e merece outro texto para saudar a Salvador do século 21 que chega, esta Cidade linda que, se tratar a desigualdade e a violência com Educação, fará com que todos os habitantes que nela mereceram nascer, possam desfrutar dessa beleza.
*Dramaturga

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