segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Sustentabilidade e Mobilidade Urbana

Osvaldo Campos Magalhães*
O fenômeno das mudanças climáticas, que tem entre suas causas o aumento das emissões e da concentração de gases de efeito estufa na atmosfera, impõe um enorme desafio a toda sociedade nesta década.
A viabilização em Cancun, México, durante a 16ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, a COP-16, de um Fundo para apoiar as atividades de mitigação e adaptação climática nos países em desenvolvimento, abre uma excelente oportunidade para a discussão e priorização de ações voltadas para a proteção ao meio ambiente e mudanças de paradigmas.
Conforme dados divulgados durante a COP 16 em Cancun, a maior participação nas emissões de CO² no mundo está relacionada aos setores de geração de energia e transportes, sendo que o maior crescimento ocorre no setor de transportes, que já responde por 23% das emissões no planeta.
No Brasil uma das principais fontes de emissão de gases de efeito estufa está relacionada à energia fóssil, consumida no transporte de carga e no transporte urbano.
Infelizmente, o Brasil continua, neste novo milênio, preso ao passado, sem um real projeto de desenvolvimento nacional, e ainda extremamente dependente dos investimentos no parque industrial automobilístico e na exploração e industrialização do petróleo.
No momento em que a “mobilidade urbana” e a questão ambiental passam a integrar, ao lado da segurança pública, da saúde e da educação, questões estratégicas dos debates políticos nas grandes cidades brasileiras, é no mínimo estranha a decisão do governo federal em prorrogar a redução no Imposto sobre Produtos Industrializados, referente à venda de automóveis.
A perplexidade em relação ao fato provocou reações contrárias até mesmo de lideranças governistas no Congresso Nacional: “Ao invés de investir em uma política de inovação tecnológica e em atividades de baixo carbono, o governo estimula o consumo de automóveis, o que torna nossas cidades menos sustentáveis, agravando ainda mais os problemas do trânsito e da mobilidade urbana.” Estas palavras foram proferidas em plenário pelo senador Rodrigo Rollemberg do Partido Socialista Brasileiro.
Talvez o fato do Partido dos Trabalhadores ter suas origens no ABC paulista, berço da indústria automobilística nacional, explique a questão. Ou quem sabe, a necessidade de adoção de medidas que estimulem o crescimento econômico, num momento em que os reflexos da grave crise econômica dos países centrais vêm ameaçando as promessas presidenciais de crescimento econômico em índices próximos aos dos demais países do BRICS.
Os incentivos à indústria automobilística e os subsídios ao preço dos combustíveis, beneficiam o transporte individual, em automóveis, que provocam imensos congestionamentos, poluem nossas grandes cidades e provocam imensos prejuízos econômicos.  Somente na cidade de São Paulo, os prejuízos provocados pelos gigantescos engarrafamentos foram estimados em R$ 36 bilhões ao ano. No Rio de Janeiro, cerca de R$ 12 bilhões (fonte: Isto É Dinheiro, abril/2011).
Com a melhor distribuição da renda ocorrida nos últimos 10 anos e a utilização do controle dos preços dos combustíveis como estratégia de redução dos índices inflacionários, o Brasil, que no passado era exemplo mundial em energia sustentável vem apresentando declínio na produção de Etanol, crescimento nas importações de gasolina e aumento considerável do consumo de combustíveis fósseis.
Com isto, a qualidade de vida nas grandes cidades tem se deteriorado imensamente. Os congestionamentos e a poluição, provocados pelos automóveis, aumentam a sensação de desconforto da população e causam prejuízos aos setores produtivos, como a indústria, o comércio e o turismo.   Estes são alguns dos principais reflexos desta política equivocada de incentivo aos automóveis.
Enquanto as modernas cidades do mundo promovem a derrubada de viadutos, o retorno dos bondes e a revitalização do meio ambiente na área urbana, Salvador continua construindo viadutos e aterrando seus rios. Neste novo milênio, a palavra de ordem deveria ser “Cidades para as pessoas, não para os automóveis.”
Afinal, qual a cidade que queremos deixar para filhos e netos? Uma cidade com praças e jardins ou uma cidade com viadutos e rios aterrados? 
O exemplo recente da construção do corredor de ônibus na avenida Vasco da Gama é eloquente. Ao invés de reproduzir o modelo da avenida Centenário (foto), que privilegiou a construção de uma grande área de convívio humano e lazer optou-se pela completa desfiguração do belo vale, o aterro do seu rio e o corte de suas árvores centenárias.
Ao invés de copiar este anacrônico modelo norte americano de incentivo ao transporte relacionado à energia fóssil, da construção de viadutos, que promove esta invasão no trânsito de automóveis e ciclomotores, deveria o Brasil e suas grandes cidades criarem ou adaptarem soluções inteligentes e criativas como as implementadas em Berlin, Copenhague, Seoul e até mesmo Portland, nos Estados Unidos, que resgataram o transporte público sobre trilhos em bondes modernos, na expansão de um eficiente sistema de metrô e trens urbanos e na implantação de infraestrutura e no incentivo à utilização de bicicletas.
*Osvaldo Campos Magalhães é membro do Conselho de Infraestrura da FIEB e do Movimento Nossa Salvador. Coordenou o PELTBAHIA - Programa Estadual de Logística de Transportes.
 É Engenheiro Civil formado pela Escola Politécnica da Universidade Federal da Bahia, especialista em Portos , Mobilidade e Logística de Transportes. Mestre em Administração,  Escola de Administração da UFBa, com foco em Tecnologia, Competitividade e Estratégia. 

sábado, 22 de dezembro de 2012

Para revitalizar é necessário cuidar


 Cláudio Marques*

Em 2012, a Praça Castro Alves já foi fechada completamente em 32 oportunidades. Para shows, comícios, eventos religiosos (católicos e evangélicos) e datas comemorativas de rádios. Nos dias 2, 3 e 4 de novembro, a Globo interditou completamente a Praça Castro Alves para gravar a série O Canto da Sereia, o que voltou a ocorrer nos dias 10, 11 e 15. Com as vias fechadas, o comércio local fica estrangulado. Farmácias, bares, brechós, teatros e o cinema. Os empresários e agentes culturais que se interessam pela região, talvez a mais bela e importante em termos históricos da cidade, se constrangem por ver que não há um estímulo real pela instalação de novos empreendimentos. Desejam revitalizar a praça, de uma forma definitiva, mas entendem que não há a mínima regulamentação e ordenação do solo por parte da prefeitura.
Vale lembrar que todos esses eventos são autorizados previamente pela Sesp (Secretaria de Serviços Públicos e Prevenção à Violência), órgão da prefeitura, e também pelo Iphan, uma vez que se trata de sítio histórico tombado. Já estive na Sesp diversas vezes nos últimos anos na tentativa de sensibilizar diferentes gestores quanto à valorização dos empreendedores locais e não de shows eventuais. A resposta sempre dada é que não há como negar pedidos, pois o desgaste político precisa ser evitado.
O superintendente do Iphan, Carlos Amorim, me deu resposta semelhante na vez em que estive em seu gabinete. Tentei sensibilizá-lo, ainda, pela degradação que passa a Praça Castro Alves toda vez que um palco gigante é montado. As pedras portuguesas ficam soltas, viram arma nas mãos de pessoas encharcadas de cerveja. Carlos Amorim me confiou que entendia todas as minhas colocações, mas que o Iphan já tinha brigas demais pela cidade.
O que me deixa desnorteado é que temos um conjunto arquitetônico e equipamentos incríveis localizados nesse sítio histórico. O Espaço Itaú de Cinema - Glauber Rocha é um caso raro de qualidade e prosperidade no Centro Histórico. Leva milhares de pessoas, mensalmente, para ver filmes brasileiros e blockbusters, numa estratégia de programação reconhecida nacionalmente. Sedia festivais diversos e abre espaços para as produções locais. Os dois mais importantes festivais de cinema da cidade acontecem nesse cinema: o Panorama Internacional Coisa de Cinema e o Cinefuturo, com mais de 100 brasileiros e estrangeiros convidados, além de dezenas de películas raras projetadas.
O Centro Cultural da Barroquinha foi belamente restaurado pela Petrobras, mas ainda aguarda uma programação regular. O Teatro Gregório de Mattos, tão importante para a cultura da nossa cidade, continua fechado, infelizmente. Somados a esses equipamentos, temos ainda o Museu Afro-Brasileiro, na Rua do Tesouro, liderado por Capinan e que em breve estará funcionando. E o Museu de Arte Sacra, já próximo do Dois de Julho, que possui uma coleção permanente que impressiona.
Qual cidade do mundo conta com equipamentos culturais tão interessantes e potentes tão próximos uns dos outros? Com certeza, poucas. Temos um verdadeiro cinturão cultural montado e ainda não percebemos. Vamos sentir falta quando todos esses equipamentos não estiverem mais por lá, pois não há cuidado para que haja a permanência. Talvez uma proposta coerente seja destruir as casas e prédios, colocar tudo abaixo, e transformar o Centro Histórico em um imenso descampado, que abrigue shows sem maiores constrangimentos. Mas o desejo da nossa população é ver os milhares de casarões e salas vazias do Centro Histórico ocupados por moradores, agentes culturais e comerciantes.
É ter uma vida abundante, sofisticada e criativa em um dos lugares-símbolo da nossa história. Precisamos de uma agenda, com eventos importantes pré-marcados (Carnaval, Primeiro de Maio e Dois de Julho) e dar um basta nessas ações predatórias à vida cotidiana do Centro Histórico. Não é possível que, na encruzilhada que abriga Glauber Rocha, Gregório de Mattos e Castro Alves, a cultura não seja privilegiada. Que o novo prefeito esteja atento a esse apelo!
*Cineasta

VASCO DA GAMA X CENTENÁRIO.


Almir Santos*
Não se trata de uma partida de futebol, mas duas obras realizadas em Salvador em padrões diferentes. Frustrante. O que se esperava da Avenida Vasco da Gama era um projeto semelhante ao da Avenida Centenário, com áreas de lazer, pista do Cooper e um eficiente tratamento paisagístico, como falou de cátedra o Arquiteto e Professor Paulo Ormindo de Azevedo no seu artigo publicado no jornal A TARDE( edição do 09/12/2012).  Uma pequena observação: As frondosas árvores referidas no artigo, não são nativas, pois foram plantadas ao longo da nova pista, sentido centro que datam dos anos 70.
No final da gestão de João Henrique, o que se fez foi a execução de um projeto pobre que mais valorizou um dúbio BRT, do que o homem.
Por muitos anos a Vasco conservou sua paisagem bucólica, rasgada pela linha 15 dos bondes da Companhia Circular, bem como a 29-Vila América. Do folclore, dos seus terreiros, do Nelson Malvadeza, que cortava os passageiros que viajavam nos estribos dos bondes com sua afiada navalha.
A Vasco da Gama recebeu a seu primeiro asfalto, numa pista de sete metros ao lado da linha do bonde nos anos 50, quando foi implantada uma linha de ônibus Volvo a diesel. Uma novidade para a época.
Só nos anos 70 ganhou a configuração atual com duas pistas de três faixas, no trecho, ora “requalificado” entre o Dique e a Rua Conselheiro Pedro Luiz.
Avenida Vasco da Gama, Antiga Estrada Dois de Julho.
Dois de Julho. Um nome predestinado a não ficar na história. Primeiro foi a estrada, depois o Campo Grande que por muito tempo foi camada de Praça Dois de Julho, depois o Aeroporto e agora, na contra mão da história fala-se em mudar o tradicional Largo Dois de Julho, para Praça Santa Tereza.
Falta do que fazer.
* Almir Santos é Engenheiro Civil, especialista em Transportes Públicos e Logística de Transportes. Participou da elaboração do PELTBAHIA, Programa Estadual de Logística de Transportes.

Aleluia adianta o que vai ser feito para destravar a cidade de Salvador

Osvaldo Lyra e Paulo Roberto Sampaio*
Publicada em 17/12/2012 01:32:39
Foto: Cristiana Serra/Tribuna da Bahia
José Carlos Aleluia e ACM Neto
Anunciado na última sexta-feira (14) como secretário de Urbanismo e Transportes da prefeitura de Salvador, José Carlos Aleluia relata à Tribuna quais são suas expectativa para os primeiros momentos à frente da pasta, falando, inclusive, sobre medidas pouco populares envolvendo ambulantes que devem ser tomadas em parceria com a Secretaria de Ordem Pública para ordenar o trânsito na capital baiana. 
Apostando na renovação da administração, Aleluia, que entrega a presidência do DEM-BA nos próximos dias, assegura que a prefeitura será formada por perfis técnicos e revela uma dificuldade: formar uma equipe para gerenciar pessoas. “É muito mais fácil você dar todo o suporte na área técnica, seja na área de desenvolvimento urbano, seja de transporte ou trânsito. O mais difícil é você encontrar alguém com capacidade gerencial”. Para Aleluia, tem que haver uma harmonia, a busca por um conceito de desenvolvimento metropolitano, “que no Brasil não pegou, mas que precisa pegar”.
Segundo o democrata, o primeiro desafio do prefeito ACM Neto será mostrar que existe uma administração nova, que existem novos valores na prefeitura em relação a valores que vão ditar a relação com a comunidade. E nessa conta, a iniciativa privada será chamada a participar. “Quem for fazer investimentos de vulto na cidade vai ter que sentar com a prefeitura para fazer investimentos de vulto no sistema viário”. 
Questionado sobre o assunto, o novo secretário defendeu o metrô de seis quilômetros e disse que o bilhete único deverá envolver os moradores de Lauro Freitas e de toda a Região Metropolitana. Além disso, conheça também a perspectiva do democrata para o relacionamento com os governos federal e estadual, que deve ser de harmonia, segundo ele.
Tribuna – Como está o processo de transição do governo? Está tudo pronto para começar a gestão do Democratas em 1º de janeiro?
José Carlos Aleluia
 – Nós estamos trabalhando. O prefeito foi muito feliz em colocar o ex-governador Paulo Souto como coordenador da transição. Paulo Souto é um homem extremamente organizado, profundo conhecedor do serviço público e conseguiu formar uma equipe que está levantando as posições dos diversos órgãos da prefeitura para que nós possamos ainda neste fim de ano – faltam poucos dias para acabar o ano –, nos preparar para dar uma partida para mostrar que existe uma administração nova a partir de 1º de janeiro.
Tribuna – Na visão do senhor, quais são os principais desafios do prefeito eleito ACM Neto?
Aleluia
 – O primeiro deles é mostrar que existe uma administração nova, que existem novos valores na prefeitura em relação a valores que vão ditar a relação com a comunidade. Uma prefeitura que vai entender a sua posição de administradora da cidade. Não só administrar o dia a dia, mas, de forma evidentemente participativa, pensar o futuro da cidade. O futuro prefeito certamente vai fazer uma administração voltada para o dia a dia, mas também muito voltada para o futuro. E o futuro significa pensar Salvador em 2030, 2040, que são coisas que aparentemente beiram a ficção, mas as experiências que eu tive no passado em pensar o futuro ainda hoje são muito gratificantes. Eu me recordo quando na década de 1980 pensava Salvador, em termos de energia elétrica naquela época, no século XXI. E hoje quando eu passo, vejo obras sendo feitas, imagino que aquelas obras foram pensadas, foram planejadas, os terrenos foram comprados – agora mesmo vai ser inaugurada uma estação da Coelba ali próximo ao Shopping Paralela, que o terreno foi comprado no começo dos anos 1980, fim dos anos 70. Havia uma tendência para que a cidade se expandisse para aquela área quando nós chegamos na diretoria dizendo que tinha a necessidade de fazer uma subestação ali, em 1980, todo mundo achava que nós estávamos lendo bastante livros de ficção. E a realidade está chegando, a cidade realmente está crescendo, está se adensando – na minha opinião precisa se adensar mais em questão de facilitar o empreendimento imobiliário. Às vezes as pessoas pensam que criar obstáculos para investimento imobiliário é positivo. Não, não é positivo. Se você cria obstáculo para o empreendimento imobiliário, se você encarece o empreendimento imobiliário, você distancia as pessoas do seu apartamento, do seu sonho de casa. Algumas cidades do mundo têm errado muito na questão das limitações de construção. Quando você limita demais, você de certa forma satisfaz o egoísmo de quem está instalado, mas coloca para as franjas da cidade, para os subúrbios cada vez mais distantes, pessoas que gostariam de morar em outro lugar. É necessário entender a cidade como um todo, dar independência aos seus bairros. É uma tendência moderna também que as pessoas possam resolver as suas coisas onde moram. Você imaginar que todas as coisas dos residentes de Cajazeiras têm que ser resolvidas vindo ao centro da cidade, ao centro antigo, é um erro. Deveremos resolver quase tudo lá, é uma tendência moderna, para que ele resolva algumas coisas andando, e tudo seja mais fácil. Porque tudo na vida das pessoas – e a cidade é gente, não é prédio, não é rua, é gente – se resume em como ocupar o dia. Se você tem um dia, onde você gasta quatro horas no deslocamento e o deslocamento não é prazeroso, você tem quatro horas de tormenta. Quatro horas que poderiam ser do trabalho ou, muito mais importante ainda, do lazer da família. Esse é um desafio, e o prefeito está muito consciente disso.
Tribuna – A reforma administrativa aprovada pela Câmara de Vereadores formatou um conceito diferente para a gestão da cidade. Na visão do senhor, qual o perfil da próxima administração municipal?
Aleluia
 – Um perfil técnico, onde o prefeito escolheu pessoas que têm vinculações partidárias, como eu por exemplo, mas não escolheu porque o partido pediu. O prefeito não tinha nenhuma necessidade de escolher ninguém do Democratas e escolheu a mim. Ele não tinha obrigação de escolher nenhum dos escolhidos, que têm condições de preencher os cargos.
Tribuna – Há pouco o senhor falava de uma visão desenvolvimentista para a cidade. Tudo o que se tenta fazer aqui se esbarra ou na insegurança jurídica ou em alguns órgãos que criam sempre obstáculos. O prefeito eleito está preparado e o senhor também pensa da mesma forma que é importante lutar para criar alternativas reais para a cidade, mesmo que isso venha a contrariar um probleminha aqui ou outro ali?
Aleluia
 – Nós temos que criar o aparato jurídico para resolver esse problema. Nós temos que ter o que for necessário, vamos ter que aprovar leis e a Câmara dos Vereadores certamente vai entender isso. O que você está levantando é um dilema das cidades grandes. Você vê ao longo do século XX, as cidades grandes, muitas delas foram estranguladas porque havia sempre movimentos que impediam a renovação da cidade. Uma coisa é você preservar o que é patrimônio histórico. Outra coisa é você preservar o que é importante para o ecossistema. Outra coisa é você ter uma visão meramente romântica do que é o ambiente urbano. O ambiente urbano é um ambiente ecologicamente correto, porque é muito mais favorável ao meio ambiente você usar o espaço urbano para as pessoas morarem do que fazer um o discurso de uma vida toda ela sustentada em quatro rodas. O que eu defendo é uma cidade andável, o que não significa que você pode andar a cidade toda. Mas uma cidade onde as pessoas se desloquem, grande parte das suas coisas – e existe uma literatura farta, pois a maior parte da literatura sobre urbanismo publicada no passado vem toda nessa direção, das cidades andáveis – e as cidades antigas e grandes que seguiram no caminho da modernização terminaram cidades andáveis. Só no Brasil, você tem o Rio de Janeiro, com bairros como a Tijuca, como Ipanema, Leblon, Copacabana e até bairros na Zona Norte, que são bairros andáveis onde as pessoas vivem nos bairros. As pessoas vão às compras no bairro, vão ao médico no bairro, tem tudo lá, shoppings, clube e eventualmente se deslocam para ir à praia ou para ir a algum evento esportivo, cultural. Ou até para o trabalho. Mas não precisa deslocar toda a massa urbana todo dia. Eu acho que esse tema é importante, é entender a modernidade ambiental. Um prefeito em Londres, tido como um ambientalista ferrenho, foi o homem que terminou, por ser ambientalista, entendendo que Londres tinha que mudar a filosofia. E permitindo uma ocupação maior de Londres. Nova York da mesma forma, quando você conseguiu se libertar da ideia de que tudo era histórico. Se tudo é histórico é como se você tivesse um guarda-roupa e todas as suas roupas fossem históricas. Ou seja, você jamais poderá usar uma roupa nova porque a roupa velha está ali, sempre ocupando espaço. Então para se usar uma roupa nova, tem que mudar a roupa velha. São Paulo está fazendo isso agora muito. Curitiba tem feito isso muito. Belo Horizonte tem se modernizado.
Tribuna – E como isso vai acontecer em Salvador?
Aleluia 
– A primeira coisa que você tem que fazer quando você quer mudar alguma coisa é procurar enxergar o futuro, que cidade eu quero. Então eu vou tentar, conversando com arquitetos e urbanistas, isso é uma coisa multidisciplinar, vou tentar construir um cenário da Salvador do futuro. Por isso que o prefeito colocou transporte junto de urbanismo. Porque esse cenário tem que ser o cenário da vida das pessoas, e como gente se desloca precisando de transportes, você tem que fazer o planejamento urbano caminhar ao lado de transportes. Não é só fazer avenidas, avenidas, avenidas... É um plano de habitação, de vida, de qualidade de vida. Tendo uma boa visão de planejamento, você tem uma visão do que fazer no curto prazo. Eu diria que, no curtíssimo prazo, o mais importante é o operacional. Isso vale para todas as áreas da prefeitura. Você não constrói nada no espaço de tempo zero. Ou seja, um mês, dois meses, três meses você não constrói nada. Você tem é que operar a cidade, operar no sentido que a prefeitura é a responsável pela operação. Fui para o evento em que o prefeito apresentou o nome dos secretários e fui pela Avenida Sete. Foi difícil pelo seguinte: a Avenida Sete não é uma avenida estreita, mas é uma avenida obstruída, onde os carros estão parados nos dois lados, em alguns lugares proibidos, as pessoas que querem parar, elas param para saltar na terceira faixa e as pessoas não usam o passeio porque está ocupado, então as pessoas têm que usar a rua. Então é evidente que isso faz com que o trânsito ande muito lento. E alguns secretários terminaram chegando tarde. Você pergunta: há necessidade em fazer um grande investimento naquele circuito da Praça da Sé, da Rua Chile, da Avenida Sete? Não, não há necessidade de grande investimento. Há a necessidade de ordenar a cidade, ordem no sentido de que as pessoas possam andar tranqüilamente, revitalizar o comércio. É um equívoco achar que o funcionário da loja ou o dono da loja chegar de manhã estacionar o carro na porta da sua loja, ocupar o espaço, ele vai melhorar o desempenho do comércio dele. Pelo contrário, ele vai matar o comércio dele. As pessoas não vão lá porque está desorganizado. Para melhorar o comércio, você organiza. As pessoas vão continuar indo lá como vão no shopping. Portanto é uma questão de tranquilidade. As pessoas reclamam: “Ah, mas não tem onde estacionar”. É um problema que se resolve. As pessoas quando saem de casa têm obrigação de pensar aonde vão deixar o carro. Elas sabem aonde vão. Se alguém chegar numa grande cidade do mundo e alugar um carro, vai pagar o hotel do carro. Não vai ter outro jeito. Porque o veículo individual é uma coisa maravilhosa, todo mundo adora, eu gosto, mas, ele tem que entender, que aquele é o lugar onde outros vão circular.
Tribuna – O senhor vai assumir a Secretaria de Urbanismo e Transportes. Como o senhor pretende tocar a pasta, qual será o ritmo que pretende empreender?
Aleluia 
– O primeiro grande problema é formar a equipe. Eu estou procurando pessoas com capacidade gerencial, eu acho que o problema é gerencial. É muito mais fácil você dar todo o suporte na área técnica, seja na área de desenvolvimento urbano, seja de transporte ou trânsito. O mais difícil é você encontrar alguém com capacidade gerencial. Para formar a equipe, para motivar a equipe, os poucos contatos que eu tive com a equipe da administração municipal, eu diria que, se alguém me perguntasse, qual o legado que você gostaria de deixar e que eu deixei nos lugares onde passei: uma equipe motivada. Orgulhosa de servir ao público. Onde os funcionários pudessem chegar em casa e dizer à mulher, aos filhos, ao sogro, à sogra, ao cunhado, no fim de semana: eu tenho orgulho de trabalhar na prefeitura de Salvador.
Tribuna – Qual o maior desafio e já tem em mente o que fará para destravar o complicado trânsito da cidade?
Aleluia 
– Eu não sei se vou conseguir destravar, mas certamente vai aumentar a velocidade de circulação. Em simples operação, operação correta do trânsito. Eu sou engenheiro eletricista, em eletricidade as coisas acontecem diferente do trânsito. Em eletricidade quando você sobrecarrega um condutor, ele sobreaquece, engarrafa a transmissão de energia e pode chega a partir. Então eu sei muito bem o que é a gravidade do que é uma sobrecarga. E tem que evitar a sobrecarga. E você evita a sobrecarga muitas vezes com soluções meramente operacionais. Algumas vezes com soluções de intervenção, de fazer um novo circuito de operação, e isso vai ser feito, mas no tempo. De imediato nós não faremos nada, mas nós vamos chamar a iniciativa privada para trabalhar conosco.
Tribuna – De que forma?
Aleluia 
– Quem for fazer investimentos de vulto na cidade vai ter que sentar com a prefeitura para fazer investimentos de vulto no sistema viário. Porque senão não adianta fazer um investimento grande, um edifício, um grande shopping qualquer, grande empreendimento qualquer se aquele empreendimento não se inserir bem no circuito da cidade. Ele vai parecer um corpo estranho na cidade. Vai piorar a vida da cidade. Acho que tudo isso tem que resolver, não pode deixar que as pessoas façam investimento de forma desordenada.
Tribuna – Durante a campanha, os nervos ficaram à flor da pele, mas, passada a campanha, o palanque foi desarmado e o prefeito inclusive já esteve com a presidente Dilma [Rousseff]. O senhor passou tanto tempo em Brasília e conhece a fundo o poder, qual a sua expectativa? Ela vai ser realmente uma parceira da cidade ou ela vai adotar uma postura ‘aos amigos tudo e aos inimigos a lei’, o que for legado da cidade ela libera, o que não for, vai ter que lutar?
Aleluia
 – Eu sou otimista com relação a esse trabalho conjunto do governo municipal com o governo federal e com o governo estadual. Não é por outro motivo que o prefeito escolheu ir à presidente em companhia do governador. E a presidente sabe que para a preservação da sua boa imagem, confirmada em pesquisa nacional e que se confirma também em Salvador, e, para a própria visão do governo do estado, é importante que haja um trabalho conjunto. Não adianta continuar no palanque. O prefeito já desceu do palanque, o governador desceu no primeiro dia, tenho que reconhecer isso. O governador, logo que saiu o resultado das urnas, disse que queria trabalhar em conjunto e assim tem sido. Eu já tive reuniões com várias pessoas do governo, discutindo assuntos relevantes da cidade, para a região metropolitana, e acho que o caminho é esse. Nem sempre se chega a um acordo, mas o princípio é o de buscar o entendimento com o objetivo comum que é servir ao cidadão. Que deu uma ordem para os dois. O mesmo cidadão que elegeu Neto elegeu Wagner [Jaques Wagner] e elegeu Dilma. Ele ordenou que todos se entendessem. E é essa a obrigação que nós temos.
Tribuna – A gente estava falando da questão do transporte e muitos especialistas apontam a necessidade de priorizar o transporte de massa, o transporte público. Como o senhor pretende lidar com o sucateamento dos ônibus, a inexistência do metrô, como o senhor vai lidar com essa situação, da falta de serviço público de qualidade na área de mobilidade?
Aleluia
 – O metrô nós temos em condição de operar. Estamos conversando com o governo do estado e o governo tem interesse em ter sob sua administração tanto o metrô atual quanto o metrô novo que eles planejaram para a Avenida Paralela. E nós não temos nenhum obstáculo. Apenas entendemos que vamos trabalhar nesse sentido que o sistema de ônibus também tem que se modernizar. O sistema de ônibus também tem que responder à modernização. E para isso nós temos que fazer o quê? Nós temos que fazer o concurso. Os contratos com as empresas de ônibus são precários e quem tem contrato precário faz investimentos precários. Nós vamos exigir – e certamente eles terão o maior interesse em fazer isso – que haja uma competição, haja uma reorganização. Nós vamos sentar para fazer isso. Não é razoável trabalhar com o número de empresas sem nenhum comando da prefeitura. É ruim para as próprias empresas que em algumas horas, em algumas avenidas importantes,tem toda a faixa reservada para ônibus, uma verdadeira fila de ônibus. Eu já cheguei a contar 40 ônibus, um enfileirado ao outro, esperando para parar no ponto. Nós temos que encontrar solução. O Brasil tem experiência muito boa nisso. Belo Horizonte avançou muito, Curitiba é referência no mundo e São Paulo também avançou. Claro que São Paulo avançou mais com o metrô e Salvador tem a promessa de um metrô de grande pressão na Paralela. Eu sou daqueles que, mesmo antes de ser mencionada a possibilidade de eu ser secretário de Transportes, eu sempre disse que o metrô de seis quilômetros é extremamente importante, desde que se entenda que ninguém compra passagem de metrô de seis quilômetros. Mas também compra passagem de metrô nas cidades modernas. As pessoas compram passagem de transporte. Elas querem tomar o ônibus e soltar em Paripe sem pagar duas vezes. Foi esse o tema de campanha. O prefeito ganhou dizendo que ia trabalhar no bilhete único e nós vamos trabalhar no bilhete único. Em São Paulo as pessoas tomam vários transportes. Em média, em São Paulo, cada passagem que é vendida a pessoa usa 1,6 viagens. Não chega a duas viagens. É normal isso. O que não pode é o indivíduo que mora, por exemplo, na Caixa D’Água ter que andar até o Largo do Tamarineiro porque ele tem que pegar um ônibus que vai passar na Antônio Carlos Magalhães. Para ele pegar um ônibus da Caixa D’Água no Largo do Tamarineiro e saltar, ele paga outra passagem. Isso é irracional. Nós vamos chamar os donos de ônibus. Nós não queremos impedir, eu sou um homem que entendo a necessidade das empresas serem eficientes, serem lucrativas para reinvestir no negócio e tirar os seus lucros. Agora, é necessário ter um comando, que tem que ser da prefeitura.
Tribuna – O prefeito ACM Neto sinalizou que iria fazer a licitação dos ônibus e que iria exigir a contrapartida dos empresários justamente para fazer intervenções em viadutos, em corredores de ônibus. Em quanto tempo o senhor acredita que seja possível sentir, pelo menos, um alívio no trânsito e uma melhoria no serviço de transporte público?
Aleluia
 – Espero que o alívio venha num curto espaço de tempo. Nos primeiros três meses eu espero que haja isso. A mudança vai exigir a concorrência e nós vamos fazer, que depende do entendimento que nós vamos ter com o estado. Nós vamos ter que ter um trabalho articulado com o estado. Não é razoável que exista essa descoordenação que existe hoje entre os transportes de Lauro de Freitas e os transportes de Salvador. O prefeito não falou isso porque está fora da área dele, mas é razoável que se imagine que o bilhete único envolva também o cidadão de Lauro de Freitas, que o bilhete único venha também envolver o cidadão de Simões Filho e envolver todo cidadão da Região Metropolitana de Salvador. Isso exige apenas boa vontade e determinação. A determinação o prefeito já deu.
Tribuna – Tem alguma área que o senhor tocará como prioridade na questão do trânsito, da fluidez da cidade? Na primeira semana, o senhor sentado na cadeira, qual o seu foco para o mês de janeiro à frente da pasta?
Aleluia 
– Deixar as ruas para os carros circularem. As ruas são para carros circularem, para os veículos circularem, preferencialmente para os ônibus circularem, não necessariamente criando dificuldades para os outros veículos. Rua não é para outra finalidade que não seja circular o transporte. E os passeios para os pedestres, isso é importante. Passeio não é para carro.
Tribuna – E o que fazer diante da constatação de que Salvador não tem estacionamento suficiente, inclusive nas ruas...
Aleluia
 – Eu sou muito pragmático. Se não tem estacionamento num determinado lugar, não vai de carro. Essa é a solução. A prefeitura não vai criar estacionamento. Estacionamento é um problema do dono do carro com o dono do estacionamento. Se a prefeitura desejar criar estacionamento, ela não vai ter dinheiro para isso. Não tem dinheiro para construir estacionamento, até porque eu não sei explorar. Hoje, estacionamentos são negócios. Certamente aparecerão pessoas interessadas nisso. Você vai em qualquer cidade grande do mundo, você não encontra estacionamento na rua. Nas cidades médias, de um modo geral, o indivíduo pode estacionar na sua porta e tem que tirar licença. Estaciona na porta quem é morador. Eu fui visitar a minha filha que estava morando em Boston (EUA) e ela me disse que não podia botar o carro na porta porque ainda não tinha se inscrito na prefeitura. “Eu estou esperando e semana que vem eu vou me inscrever e a placa do carro e vou poder colocar na minha porta”. Isso é muito normal, mesmo numa rua sem movimento. Carro não é para ficar na rua. Eu não sou contra carro, mas não tem que ficar na rua. Pode ficar na rua? Pode no estacionamento rotativo, no estacionamento numa área que não afete a vida dos outros. Há um conceito que é o conceito de terminalidade. Eu não posso, eu não tenho o direito de, por exemplo, usando uma linguagem que as pessoas entendem, acender uma fogueira na porta da minha casa com pneu. Porque eu vou poluir o ambiente, o piso. Vou fazer uma série de coisas que podem até parecer prazerosas para o incendiário, mas assolam a vizinhança. Essas penalidades têm que ser levadas em conta.
Tribuna – Dentro dessa linha, uma coisa chama atenção. Não vai ser da sua área, mas indiretamente sim. Como é que vai lidar com a ocupação dos passeios pelos ambulantes? Isso também interfere no trânsito.
Aleluia 
– Vamos ter que ordenar. Essa é uma questão da secretaria que foi indicada. Evidente que isso não afeta necessariamente o trânsito. Alguns casos o ambulante fica entre o passeio e a rua, nesses casos afetam o trânsito e nós vamos ter que regulamentar, em articulação com a Secretaria de Ordem Pública, mas é claro que, no momento em que você tem uma calçada que está inteiramente tomada pelo comércio, e não só pelo comércio informal, é pelo comércio formal – se você andar pela cidade você percebe que em alguns casos o dono da loja para se proteger ou não termina também instalando a sua loja no passeio. Para ele é muito melhor ele instalar a sua loja no passeio do que deixar um terceiro. Essas coisas todas com diálogo. Preservando, evidentemente, que se cause para os ambulantes que precisam sobreviver, mas que precisam ser ordenados, e a secretaria vai tratar disso.
Tribuna – Há alguma possibilidade da cidade ser pensada por cima? O fluxo da cidade ser pensada de uma forma macro e não isolada, como, por exemplo, a Pituba, a Paulo VI. Existe a necessidade de transformar aquilo numa via única, além dos postos da orla?
Aleluia
 – Você tem programas de computador hoje, digitais, para simular fluxo de carros na cidade. A cidade e o bairro não podem ser tratados de forma isolada, até porque o bairro não é isolado, está interconectado. E é preciso fazer simulações e para isso nós vamos usar especialistas, se puder usar as universidades, isso é muito bom, e a partir das simulações fazer intervenções.
Tribuna – O senhor acredita que o prefeito ACM Neto conseguirá construir uma maioria folgada na Câmara que lhe dê possibilidade de aprovar projetos importantes e até medidas mais duras nesse começo de governo?
Aleluia
 – Eu acredito que sim, o prefeito vai construir uma maioria, sobretudo porque ele vai refletir muito sobre os projetos que vai apresentar e os vereadores sabem muito bem que a sociedade está acompanhando o seu trabalho. O mais importante que pode existir é transparência. Que as pessoas possam acompanhar o trabalho da Câmara. Que o vereador tenha que explicar quando ele votar contra alguma coisa.
Tribuna – Projetos polêmicos que foram votados essa semana, como o PDDU, a Lei de Ordenamento do Uso e da Ocupação do Solo (Louos), como o Aeroclube. Como o senhor avalia polêmicas como essas? Serão danosos para a cidade esses projetos?
Aleluia
 – Eu não tenho nenhuma informação de nada desastroso. Eu li o PDDU, nós poderíamos até avançar um pouco mais, talvez tenha que avançar mais no futuro. A questão, por exemplo, do Aeroclube tem que ter solução, acho que ninguém faz investimento assim. Todo mundo sabe que o Aeroclube é um projeto que se inviabilizou. Então para fazer um novo investimento lá, teria que fazer um novo projeto, que foi o que a Câmara de Vereadores fez corretamente e espero que funcione.
Tribuna – O que a cidade pode esperar de José Carlos Aleluia à frente da Secretaria de Urbanismo e Transportes, já que estará à frente de um dos maiores gargalos da cidade?
Aleluia 
– Vou ter muita determinação, muita disposição para enfrentar o desafio, que é um desafio da sociedade. Eu sou apenas um condutor disso. Vou ter apoio do prefeito e espero ter o apoio da grande maioria dos vereadores e ter o apoio da sociedade. Eu vou estar com as minhas portas abertas, com as minhas redes sociais disponíveis, meus ouvidos atentos para todas as sugestões que podem ser apresentadas. Agora meu maior problema é, hoje, formar a equipe.
Tribuna – E os bairros, vão ser tratados de que forma nessa questão da mobilidade urbana?
Aleluia 
– Sobretudo os bairros não podem ficar isolados, como Cajazeiras é hoje. Cajazeiras é um caso específico de como um bairro fica isolado. Eu estive em Pernambués na semana passada. O acesso a Pernambués é apertado, mas não dá para ter carro estacionado de um lado e carro estacionado do outro. Simplesmente é o mesmo problema. As ruas não são em nenhum lugar do mundo capazes de suportar estacionamentos e trânsito. Você tem que escolher se o carro vai trafegar ou se vai estacionar. Ou seja, você tem a necessidade de se ordenar. Simples. Você vê que o problema é simples. É uma questão de educação. As pessoas têm que se reeducar.
Tribuna – E como criar essa possibilidade para a população de estacionar os seus carros se hoje não há esse espaço disponível?
Aleluia
 – As pessoas têm que entender que, se não há espaço disponível, não levem os seus carros. Pode ter o carro, mas não pode levar o carro para onde não tem espaço para estacionar disponível. Você não pode estacionar ao longo da Paralela num dia de domingo porque não deixa os outros transitarem. “Ah, porque não tem espaço”. Tem que achar um lugar. Talvez um lugar mais distante. As pessoas talvez não querem andar. Muitas vezes o comerciante quer colocar o carro na porta da loja dele. Se fosse num lugar que não fosse na avenida, será que não seria melhor um estacionamento rotativo? Onde o cliente estacionasse, pagasse um pequeno valor simbólico para a prefeitura e saísse depois? São coisas que devem ser administradas.
Tribuna – Qual a sua opinião sobre a Linha Viva?
Aleluia 
– É um projeto que me agrada muito e eu sempre imaginei isso. Em Brasília eu discuti muitos projetos usando as faixas de servidão. Eu fui presidente da Chesf e diretor da Coelba, as duas têm faixas nessa área. E sempre foi um problema, tanto pra Chesf quanto para a Coelba, você manter a faixa de servidão desocupada. Muita coisa foi invadida, mas muita coisa ainda está desocupada. Eu acredito que boa harmonia entre uma via pública e as linhas de transmissão pode ser muito bom para a prefeitura, para as pessoas que vão se mover, uma nova via de desenvolvimento da cidade. E, para as empresas de eletricidade, diminui o trabalho de fiscalização. As empresas mantêm um batalhão para fiscalizar as faixas para que não sejam invadidas. Um bando de advogados, um bando de fiscais para fazer isso. Tem que se pensar inclusive em Lauro de Freitas. Porque muitas vezes os engarrafamentos são exportados de uma cidade para outra. Hoje é muito comum de você chegar no aeroporto e muito antes de poder acessar o aeroporto já ter engarrafamento porque o acesso a Lauro de Freitas está estrangulado. Tem que haver toda uma harmonia, um conceito metropolitano, que no Brasil não pegou, mas que precisa pegar.

*Editores do jornal Tribuna da Bahia
Colaboraram: Fernanda Chagas e Fernando Duarte

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Livro comemorativo aos 100 anos do jornal A TARDE é lançado hoje em Salvador

Daniela Castro*
Quem se habilita a elencar os acontecimentos mais importantes do último século? Trata-se de uma tarefa árdua, especialmente quando a calculadora nos dá a dimensão de quanto tempo se passou. Cem anos significam 1.200 meses, sendo 300 bissextos. Para quem gosta de números mais volumosos, podemos falar em 41.100 dias. E, como todos eles ganharam registro em A TARDE, o jornal se antecipa em assumir a missão. O resultado está impresso nas 200 páginas do livro Um Século de Jornalismo na Bahia: 1912-2012, que ganha lançamento para convidados, nesta quinta-feira, 20, às 19h30, no Palacete das Artes (Graça). "Na verdade, esta bíblia do jornalismo baiano é uma homenagem à Bahia e aos baianos, que sempre prestigiaram A TARDE, transformando-a em líder de mercado", comenta Ranulfo Bocayuva, jornalista e neto do fundador, Ernesto Simões Filho. "O público poderá ter acesso a cem anos intensos e interessantes de história testemunhada pelo jornal", acrescenta o jornalista, que coordena as comemorações do centenário do jornal, iniciadas em setembro com a exposição Um Século de Inovações. Evolução - Na editora Solisluna, coube à equipe comandada por Valéria Pergentino peneirar o vasto material garimpado no Centro de Documentação de A TARDE, além de arquivos públicos. "Não deu para contemplar tudo, é um relato resumido que privilegia os principais fatos noticiados pelo jornal. Mas é interessante observar a evolução gráfica e tipográfica", destaca a editora de conteúdo. Na direção de arte, Valéria contou com a parceria do artista gráfico Enéas Guerra. "O resultado ficou ótimo porque une jornalismo e história e virou um livro de pesquisa. É para o jornalismo da Bahia se orgulhar", defende Guerra. Para viabilizar o projeto - uma imponente publicação com capa dura e tratamento gráfico de alta qualidade - foi necessário empreender uma verdadeira tour de force. "A edição deste livro representava um desafio imenso. Queríamos transmitir para o leitor o 'clima' de cada década, apresentando não apenas fatos relevantes, mas também curiosidades. É claro que seria impossível abranger todos os eventos, mas conseguimos um panorama bastante rico e diversificado", diz Maurício Villela, coordenador do Cedoc. História em décadas - Após cumprir o desafio de pinçar os acontecimentos que iriam estampar as páginas do livro, era o momento de colocar o texto em mãos confiáveis. Os dez capítulos, um por década, são da lavra do jornalista e escritor Carlos Ribeiro. "Escrever sobre os principais acontecimentos do mundo, da Bahia e do Brasil, pela ótica do jornal, é, talvez, a melhor forma de homenageá-lo", orgulha-se. Ao fundador Ernesto Simões Filho foi dedicado um capítulo exclusivo, assinado pelo acadêmico e professor Edivaldo Boaventura. "Quero chamar a atenção para seu lado inovador. Dr. Simões é muito conhecido por seu lado jornalístico e político, mas ele também foi um grande empreendedor", destaca o ex-diretor geral de A TARDE. Incentivo à cultura - Um Século de Jornalismo na Bahia: 1912-2012 conta com patrocínio da Ferbasa (Companhia de Ferro Ligas da Bahia). "O livro é um complemento da exposição e queremos que fique como um registro. A expectativa é a melhor possível porque este projeto sedimenta nossa parceria com o Grupo A TARDE", lembra Andre Brasileiro, diretor da Rede Educare, proponente do projeto junto às leis de incentivo à cultura.
*O lançamento do livro ocorrerá no Palacete das Artes, Rua da Graça, 289, (antigo Museu Rodin), somente para convidados.

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Economia criativa: Ideias que valem ouro


 Se no passado recente o que fazia girar a economia eram parques industriais gigantescos, com capital investido em máquinas e funcionários e produção contada em milhares de produtos, hoje existe um vasto mercado em que as ideias geniais valem dinheiro. Essa é a base do conceito da economia criativa, que ganha força no Brasil. Segundo dados das Nações Unidas, 8% do PIB mundial é gerado por negócios em torno de música, literatura, design, moda, desenvolvimento de softwares, artesanato. Esse patrimônio cultural é chamado de intangível, mas os ganhos obtidos por meio dele são bem concretos. 

Que o diga Steve Jobs, fundador da Apple, que chegou a faturar quase 26 bilhões de dólares. Da mesma forma, o garoto americano Mark Zuckerberg criou há oito anos o Facebook, a maior rede social do mundo; sua empresa virtual está avaliada em cerca de 100 bilhões de dólares! Negócios como esses e toda a discussão sobre direitos de propriedade intelectual foram "previstos" pelo economista inglês John Hawkins, autor de The Creative Economy - How People Make Money from Ideas (A economia criativa - como as pessoas ganham dinheiro com ideias), de 2001, um dos primeiros livros sobre o assunto. 
No Brasil, também são muitos os exemplos de pessoas criativas à frente de negócios rentáveis e marcas reconhecidas mundialmente pela qualidade e originalidade. Quando o chef Alex Atala - cujo restaurante, o D.O.M., acaba de ser eleito o quarto melhor do mundo - tempera seus pratos com priprioca, um tipo de capim da Amazônia, ele está fazendo economia criativa. "O elo entre natureza e cultura é a comida. É preciso cozinhar e comer como cidadão", costuma dizer ele, que desbravou a culinária nacional viajando pelos sertões e conhecendo as comunidades que produzem os ingredientes empregados em suas criações gastronômicas. Assim chamou a atenção para si mesmo, para o país e gerou renda para centenas de pessoas, que permanecem em seus lugares de origem. Quem vai a seu restaurante, em São Paulo, vive uma experiência única, e esse fator, tão subjetivo, também gera concretamente dinheiro, emprego e oportunidade para todos os envolvidos. 
"A economia criativa valoriza mais o processo do que o produto", sintetiza Claudia Leitão, que está à frente da recém-criada Secretaria da Economia Criativa do Ministério da Cultura (Minc). "São prioridades a inclusão e a cooperação. A criatividade brasileira, embora impalpável, é uma das nossas maiores riquezas e pode ser um caminho para o desenvolvimento do país e de todos os envolvidos. Um exemplo: do Oiapoque ao Chuí, as brasileiras bordam. Uma de nossas missões é desenvolver políticas públicas que estimulem e organizem a produção e a comercialização do bordado, para sustento dos autores e também para projetar nossa cultura", diz ela. 
Alguns visionários perceberam esse tesouro e fizeram dele matéria-prima de suas produções notáveis. Um dos pioneiros foi o artista plástico Renato Imbroisi, que, há mais de 30 anos, cria peças incluindo no processo artesãs têxteis de Muquém, pequeno município de Minas Gerais. Seu trabalho é reconhecido na Europa, na África e no Japão. Também é o caso da designer de joias e bijoux Mary Arantes, nascida no Vale do Jequitinhonha; sua marca, Mary Design, emprega artesãos de vários lugares, orientados por ela. A jovem Mana Bernardes, artista plástica carioca cujas joias feitas com material reciclado foram premiadas aqui e no exterior, acredita que para o designer não basta criar. "É ele quem também desenha a forma de trabalhar e o desenvolvimento das pessoas, respeitando potencialidades individuais e conectando pontos em comum. Isso é economia criativa", define ela. 
Com políticas públicas eficientes, esses e outros criadores poderiam fazer mais e incluir mais gente e mais conhecimento em suas obras. "Ocorre que a economia criativa por aqui ainda é incipiente", afirma Rubens Ricupero, economista, diplomata e representante permanente do Brasil na ONU. Ele acredita que o novo modelo contribui para o desenvolvimento, mas não trata o assunto com euforia. As nações com melhor educação, como Austrália (onde surgiu o conceito, na década de 1990) e Inglaterra, têm mais chance de produzir ideias geniais e mantê-las rentáveis, mesmo porque o governo facilita a produção e isenta de impostos os produtos do entretenimento. Já nos países pobres e emergentes, a realidade é outra. "Eu estava na ONU quando esse conceito começou a ser transposto para outros países, em 2000. A ideia era principalmente fazer com que a música gerasse renda na Jamaica e em Cuba, onde há muitos talentos, mas ganha-se pouco com isso; os melhores músicos acabam deixando seus lugares de origem. O Brasil, porém, tem potencial para incrementar a indústria do entretenimento. Basta ver nossa experiência bem-sucedida da exportação de novelas", lembra o economista. Em 2011, as tramas globais tiveram faturamento recorde: 11 bilhões de reais, quase dez vezes mais do que o total investido pelo Minc em projetos culturais. 
O Brasil vive um bom momento para que os talentos e novos negócios desabrochem. Entre 2005 e 2011, as despesas com lazer aumentaram 40,7%, como mostra uma pesquisa da Cetelem-BGN, empresa que analisa perfis do consumidor brasileiro. O novo cenário nacional, com crescimento da classe média e mais acesso a bens materiais e culturais, estimulou o nascimento de novas empresas, como a XYZ Live. Criada pelo Grupo ABC, do publicitário Nizan Guanaes, a companhia surgiu em abril do ano passado e realizou megashows de Eric Clapton, Iron Maiden e Shakira, além de eventos esportivos, como o X-Fighters. A expectativa é atingir a receita de 600 milhões de reais até 2015. No Rio de Janeiro, o site queremos.com.br, criado por jovens apaixonados por música, capta recursos para realizar shows de bandas que, sem essa iniciativa, não chegariam à cidade - por exemplo: James Blake, Little Dragon, Mogwai. Eles calculam os custos de produção e, por meio das redes sociais, arrecadam o dinheiro e vendem os ingressos, tudo virtualmente. A cidade também ganha com isso, pois incrementa o lazer e atrai turistas. 
AS CIDADES INOVADORAS 
Iniciativas como essa, aliás, podem transformar uma cidade comum numa cidade criativa.A economista e urbanista Ana Carla Fonseca Reis, organizadora do livro Cidades Criativas, Perspectivas (Câmara Brasileira do Livro), em parceria com Peter Kageyama, explica: "A conexão entre os bairros e os moradores de diferentes lugares, a inovação que essa pluralidade é capaz de gerar e as expressões culturais caracterizam uma cidade considerada criativa". Isso vai além de ter uma agenda cultural ativa e ser um polo turístico; trata-se de um lugar com soluções inovadoras para problemas urbanos. "Um exemplo é o bairro do Candeal, em Salvador, que era uma área muito vulnerável antes dos projetos sociais implantados por Carlinhos Brown para ensinar música a crianças e jovens. O trabalho chamou a atenção das autoridades e levou para lá água encanada, saneamento, luz; a escola melhorou. A cultura pode contribuir para oferecer mais qualidade de vida", cita a secretária Claudia 
Leitão. Outro exemplo é Paraty, que há dez anos afastou o fantasma da decadência e atraiu os olhos do mundo ao realizar a Festa Literária de Paraty, a Flip. 
LIBERDADE = AUTOESTIMA 
A economia criativa propõe também uma mudança de mentalidade e começa a derrubar crenças arraigadas. A primeira é de que cultura é gasto, não investimento. A segunda, de que arte e dinheiro não se misturam ou que gente criativa é incompetente para lidar com o lado prático da vida. Hoje não basta dirigir o seu filme, tocar bem, produzir um disco ou simplesmente publicar livros: cada vez mais, os autores são convocados a administrar seus recursos, controlar suas produções e divulgar suas obras. Esse é o tempo da simultaneidade, de assumir várias funções para ganhar fãs, leitores, espectadores, territórios - enfim, cumprir o fluxo produtivo completo, com domínio do processo e mais autonomia. Isso também é um aspecto do desenvolvimento. Como apontou Amartya Sen, economista indiano que ganhou o Prêmio Nobel em 1998, "desenvolvimento é criação de liberdades". Tradução: um país desenvolvido não é só aquele que tem índices altos de crescimento, mas o que gera cidadãos capazes de tomar as próprias decisões. Essa capacidade de autogerenciamento e a possibilidade de fazer o que se gosta tendo a sobrevivência garantida influem na autoestima de um povo. "Trazem realização, dignidade e geram menos injustiça. Somos favorecidos pela nossa diversidade", diz Claudia Leitão, que estima um prazo de 20 anos para sentirmos os efeitos dessa transformação de corações, mentes - e bolsos. 
* Com reportagem de Karla Spotorno

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Bogota que anda, se encontra, participa - Um exemplo para Salvador

André Fraga*
Cheguei na capital Colombiana em um sábado a noite para me hospedar no bairro de La Candelária, o centro histórico deles. Por ser centro da cidade, imaginei que o dia seguinte, domingo, seria “morto” para saber como vivem os bogotanos e como funciona a cidade. Saí do hotel que estava e passei a caminhar por ruas pouco movimentadas em direção à Plaza Bolívar e ao virar a primeira esquina me deparei com uma multidão de pessoas, famílias, casais e grupos de amigos aproveitando o domingo em uma das principais ruas da cidade, que estava fechada e foi entregue a pedestres e bicicleteiros.
 Durante a semana percebi que a Carrera 7 tem essa parte fechada definitivamente se transformando em um grande calçadão no que é chamado de Revitalizacion de la carrera 7. Nos cinco dias que fiquei em Bogotá fiz questão de acompanhar de perto o cotidiano da cidade para entender e confirmar o que fez a cidade sair das páginas policiais dos anos 90 e assumir papel de liderança em sustentabilidade e participação cidadã. A primeira impressão é a de uma cidade que caminha, que se encontra. E isso é essencial para que cidades se resgatem. Mesmo que a Colômbia passe por um momento parecido com o brasileiro, em que a facilidade de crédito entope as cidades de automóveis e ameaça jogar por terra um trabalho que vem sido construído por décadas e tinha como objetivo eliminar o uso do carro particular até 2015. 
Tudo começou no final da década de 1990 quando o poder público e a sociedade civil passaram a atuar de forma complementar. Enquanto o prefeito e sua equipe organizaram um plano de desenvolvimento para a cidade priorizando as pessoas e a qualidade de vida, a sociedade civil passou a acompanhar e monitorar o avanço de indicadores sociais, ambientais e econômicos, ou seja, a sustentabilidade urbana local.  Mobilidade urbana, segurança pública, qualidade de vida e educação em uma cidade que prioriza as pessoas e encontros foram as quatro linhas de atuação básicas adotadas para o inicio da mudança estrutural que a cidade precisava. Então, os resultados começaram a aparecer. 
A política de mobilidade se alicerçou no aperfeiçoamente do sistema de ônibus originado em Curitiba. O Transmilênio mais parece um metrô pela forma como funciona: estações de embarque e transbordo que cortam as principais avenidas, ônibus bi ou tri articulados que informam as próximas estações e possuem climatização. O sistema tirou de circulação 7.000 ônibus particulares pequenos, o que na prática significou a redução em mais de 50% das emissões de gases de efeito estufa na cidade, o que consequentemente, melhorou a qualidade do ar na cidade. Em 2008 o Transmilênio foi o único grande projeto de transporte público aprovado pela ONU para gerar e vender créditos de carbono. 
As estimativas são de que esses créditos já tenham rendido entre 100 e 300 milhões de dólares a capital colombiana.  Mas não foi só o Transmilênio que mexeu com a mobilidade da cidade. Desde 1998 mais de 300km de ciclovias foram construídas ligando o subúrbio ao centro e uma forte campanha pelo uso das bicicletas foi organizada. Além disso há o rodízio de placas de automóveis particulares. 
Outro foco, a segurança pública, foi tratado de forma prioritária. O orçamento da pasta dobrou e mudanças jurídicas foram implementadas com punições severas para corrupção policial. Resultado: em 2012 Bogotá registrou o menor índice de homicídios dos últimos 27 anos. A qualidade de vida foi melhorando e teve um outro incentivo: 1 milhão de metros quadrados de novas praças, parques e áreas de lazer foram abertos, algumas no lugar de cortiços e antigos pontos de tráfico. Bibliotecas e centros culturais foram levantados e estruturados em bairros pobres e violentos.
Aliado a tudo isso uma rede social se formou e criou o movimento Bogotá Como Vamos que passou a monitorar os indicadores e a cobrar mais ação dos governantes, levando em conta a percepção das pessoas. O movimento impactou a Administração Distrital que passou a prestar contas de suas ações e orientar a gestão por resultados. Da mesma maneira que o Governo é retroalimentado e utiliza essas informações para definir prioridades e auto avaliar a gestão. Hoje é possível avaliar a percepção do cidadão acerca das mudanças implementadas na cidade desde 1998. O modelo já foi exportado para diversas cidades da Colômbia e do mundo. Em 2000 e 2002 o projeto foi premiado pela ONUHábitat entre as Melhores Práticas para a Melhoria da Qualidade de Vida.
Fica aí um bom exemplo para Salvador. Aqui não se caminha mais. Aqui não se encontra mais. Richard Florida, um dos expoentes da teoria da Economia Criativa e do renascimento de cidades, mostra em seus estudos que as cidades que ressurgem das cinzas ou se mantém na dianteira dos processos de inovação, assim fazem justamente por fomentar encontros e diversidade. É essa permanente troca que propicia inovação e criatividade, dois elementos que sempre nos diferenciaram, que sempre nos colocaram na dianteira da Nação.
* Engenheiro Ambiental, presidente do Partido Verde/Salvador

domingo, 16 de dezembro de 2012

Jornal A Tarde - 100 anos

Nelson Cadena*
Era para o jornal circular em 12 de outubro de 1912, mas na hora H a máquina enguiçou, um prelo usado alugado por Ernesto Simões Filho à Tipografia Reis & Cia. O jornalista providenciou um mecânico, fez os reparos necessários, adiou a logística de distribuição e em 15 de outubro editou o exemplar número um; a sede do jornal ficava num pequeno prédio de dois andares da rua Manoel Vitorino, não existe fotografia dele, apenas uma aquarela de Mário Paraguassu. 
A Tarde não era um nome original. Em agosto de 1901 circulara em Salvador um jornal registrado com esse título que teve vida curta. Mas não foi referência para Simões Filho que teve como modelo o jornal “A Noite” do Rio de Janeiro, propriedade de Irineu Marinho, pai do Roberto Marinho, fundador da Rede Globo. O jornalista baiano inspirou-se no nome e no visual. Foi denominado A Tarde por que sua circulação era vespertina. Do jornal caríoca, então tido como o mais moderno do país, Simões Filho assimilou a prática do olho da noticia, do lead e do destaque às fotografias nas matérias de primeira página.A Tarde nasceu num contexto político conturbado do qual o seu fundador tinha sido um dos protagonistas: a eleição de J. J Seabra ao Governo do Estado, que não teve oposição em função das sequelas do bombardeio da Bahia de 10 de janeiro de 1912. Simões Filho apoiara Seabra, mas A Tarde logo entraria em rota de colição com o governo. Nascia também num contexto de mídia competitivo. Seis jornais circulavam em Salvador, naquele tempo: Jornal de Noticias, Diário da Bahia, Diário de Noticias, Gazeta do Povo, A Bahia e Diário da Tarde.Tarde surpreendeu os soteropolitanos pela sua qualidade gráfica que era o seu diferencial em relação à concorrência. E continuou a melhorar o produto, adquirindo em 1913 uma impressora Koening-Bauer, de fabricação alemã. Na sequência montou uma clicheria; foi o primeiro jornal baiano a ter em suas próprias oficinas um processo de estereotipia. E mais tarde, em 1920, instalou o primeiro linotipo da imprensa baiana, introduzindo o processo de composição a chumbo quente, então inovador.
 A máquina chegou no porto de Salvador, procedente de Nova Iorque, com John Oldman, o técnico encarregado da montagem e treinamento.m 1930 o jornal concluía a obra do prédio que foi sua sede durante mais de quarenta anos, um edificio de sete andares construido na Praça Castro Alves pela firma Kenitz & Cia em tempo recorde, menos de dois anos. As fotos que ilustram este post são daquele tempo e até recentemente inêditas, duas delas publicadas no Almanaque Bahia de Comunicação 2012 em matéria de minha autoriaMostram a maquete do prédio, o bate-estaca da pedra fundamental por Alfredo Marback, diretor do jornal, e a inauguração solene com Dom Augusto abençoando as instalações.
*Nelson Cadena é jornalista e escritor. Pesquisador das áreas de comunicação e história da Bahia há mais de 30 anos. Escreve para o Jornal Propmark, Revista Propaganda, Jornal Correio, Revista Imprensa e no site do Sinapro-Bahia. Idealizador e editor do maior site de pesquisa sobre comunicação do Brasil (www.almanaquedacomunicacao.com.br). Autor dos livros: Brasil. 100 Anos de Propaganda; e 450 Anos de Propaganda na Bahia.

sábado, 15 de dezembro de 2012

Fim de ano em 07 constatações

 Fernando Guerreiro*
Dezembro chegou e com ele sofrimentos e torturas inevitáveis. Vc vai viver pelo menos algumas delas:
AMIGO SECRETO – Quem suporta esta brincadeira infeliz, inventada e repetida a exaustão por grupos de pessoas sem muita intimidade e absolutamente sem criatividade? A possibilidade de vc receber algo de útil nesta troca de presentes é zero. Quando convidado pule fora alegando algum trauma de infância, ou simplesmente uma viagem de urgência. 
CONFRATERNIZAÇÃO – Com certeza vc vai parar num restaurante que vc não gosta rodeado de pessoas com as quais você tem pouca intimidade e ainda será obrigado a fazer cara de feliz e satisfeito o tempo todo. Argumente que está com uma indisposição estomacal terrível e fique em casa tomando um vinho com amigos do peito.
SHOPPING CENTER – Invariavelmente lotados os centros de compras se transformam em verdadeiros infernos de Dante nesta época do ano. Lojas entupidas, empurra empurra, horas para achar uma vaga no estacionamento, sem falar no susto ao se deparar com uma galera saída não se sabe de onde que só dá as caras na sua loja preferida nesta época do ano. Compre na loja do bairro ou na sacoleira mais próxima.
BAZAR DE NATAL – Alguém conhece algo mais inútil e contra producente do que um bazarzinho de ultima hora? Por mais caridosas que sejam as realizadoras, o que se vende é de uma pobreza lamentável. Criatividade passa longe e você pode argumentar que já ajudou o orfanato do bairro.
CORAIS NATALINOS – Invariavelmente de branco, sacudindo o corpo de um lado para outro como velas do além, estes corais deveriam ser banidos da terra. Repertório pavoroso e invariável desafinação completam a tragédia. Ao avistar um saia correndo sem o mínimo pudor. Garanto que as pessoas de bom senso vão lhe acompanhar.
SIMONE – É a cantora sim e seu CD fatídico. Como poderíamos apagar para sempre estas gravações? As versões são ruins de arrepiar e os arranjos inadimissíveis. Já foi gravado há mais de uma década, enterrou a carreira da cantora e volta como um fantasma nesta época do ano.
DEPRESSÃO – Depois de tudo isso vem uma sensação terrível de solidão e a depressão é inevitável. Evite fazer uma lista de coisas não realizadas durante o ano e lembrar de amigos e parentes que se foram. Esqueça os pisca pisca sonoros, as guirlandas chinesas, os bons velhinhos de shopping. E cuidado para não começar o ano com vários quilos a mais, como conseqüência de descontroles alimentares com roscas, panetones e afins.
Querido leitor, ou você se diverte com tudo isso ou pula fora da histeria geral buscando o verdadeiro sentido da festa de natal. Ou torce para janeiro chegar logo!
*Fernando Guerreiro é diretor teatral e escritor
Artigo publicado originalmente no Correio da Bahia - 14/12/2012