sábado, 11 de abril de 2020

40 dias de quarentena em Roma

Luiz Mott*
Completam-se 40 dias que permaneço no olho do furacão da pandemia. Ao chegar em Roma eram 29 mortes. Hoje, passam de 18 mil. Felizmente a curva de casos do corona virus começa a baixar. Bravo!
Meu velho corpo, que  completa 74 anos agora em maio, continua resistindo bravamente, sem febre nem problemas respiratórios. Torço que eu e voce, meu  leitor\a continuemos longe dessa “miséra”!
Minha volta à Bahia continua sine die. O voo da Iberia marcado para o dia da mentira, foi efetivamente um engodo da empresa de viagens Edestinos, pois cobraram velozmente o valor da passagem e ainda me empurraram um seguro, mas não fizeram nada até agora para encontrar solução alternativa. Tenho outra reserva pela Air Europa para fim de maio, também essa companhia, outra enrolação: seu telefone 0800 irresponsavelmente deixou de atender.
Enquanto isso, vou fazendo das tripas coração e vivendo essa tristeza de estar  na cidade mais interessante do mundo, com dias deslumbrantes de sol primaveril, sem poder usufruir de suas maravilhas arqueológicas e inigualável arte sacra. E o pior é que aumentou o valor das multas (até 3 mil euros, 15 mil reais!) contra quem é pego batendo perna sem justificativa ou muito distante de sua moradia. Autoridades sanitárias da Lombardia e Vêneto, regiões mais afetadas, determinaram o uso obrigatório de “mascherina” na rua. Apesar de milhões de máscaras continuar sendo importadas da China, não se encontram disponíveis à venda: percorri uma dezena de farmácias sem encontrar álcool líquido. Circula um vídeo mostrando diversos prefeitos italianos dando baixa e escorraçando pessoas rebeldes dos parques e jardins. É perm itido le var cachorro prá passear, só pertinho da residência e fazer-se acompanhar de apenas um filho no supermercado. Pegaram essa semana uma velinha que tinha saído onze vezes no mesmo dia pra fazer compras! A maioria das multas é contra motoristas viajando sem justificativa, gente andando de bicicleta ou fazendo cooper, mas sobretudo, pequenos estabelecimentos comerciais funcionando clandestinamente.
Uma autoridade sanitária advertiu na TV às manicures e cabeleireiras que estavam atendendo clientes a domicílio. Frequentadores de festinhas clandestinas foram multados sem apelação, assim como um adolescente que insistia em visitar sua namorada em bairro distante. Irregularidades sanitárias também têm sido punidas: doentes confirmados que não respeitaram o confinamento residencial, moradores de áreas mais contaminadas mudando-se sorrateiramente para outra região, pior ainda, trambiqueiros oferecendo na internet medicamentos não autorizados ou falsificados.
No jornal das 7 da manhã, tem missa diária do Papa. Semana Santa on line... Amém. Aleluia. *Antropólogo e professor da Ufba

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