quarta-feira, 29 de abril de 2020
Amsterdam adota modelo de Economia Circular
A economista Kate Raworth adaptou seu modelo de donut para Amsterdã. A abordagem poderá ajudar o município com sua recuperação pós-pandemia. A cidade de Amsterdã lançou sua estratégia Circular 2020-2025, que descreve as ações para reduzir pela metade o uso de novas matérias-primas até 2030.
A cidade pretende ter uma economia completamente circular até 2030.
Como estratégia, Amsterdã tem como objetivo reduzir o desperdício de alimentos em 50% até 2030, dos 41 quilos de desperdício anual de alimentos por pessoa hoje, com o excedente sendo encaminhado para os moradores que mais precisam. Amsterdã implementará requisitos mais rigorosos de sustentabilidade em licitações de construção. Por exemplo, os edifícios receberão um 'passaporte de materiais' para que as empresas de demolição possam determinar se os materiais ainda são valiosos e onde materiais reutilizáveis podem ser encontrados. O primeiro bairro circular da cidade a pilotar essa abordagem está sendo desenvolvido na área de Buiksloterham. O município também quer reduzir o próprio uso de novas matérias-primas em 20% e, até 2030, fazer apenas compras circulares. Isso se aplicará não apenas à aquisição de produtos como material de escritório e equipamentos de informática, mas também a projetos de infraestrutura, como construção de estradas. Amsterdã já está trabalhando com empresas e organizações de pesquisa em mais de 200 projetos de economia circular. Isso inclui um piloto na indústria de tintas e brechós, através do qual a tinta descartada de látex é coletada e processada recentemente para revenda.
“Estamos pedindo às pessoas e às empresas de Amsterdã que adotem uma abordagem diferente da comida, mudem seus pensamentos sobre bens e façam escolhas diferentes em suas vidas e em seu trabalho. Os benefícios dessas mudanças nem sempre serão visíveis imediatamente - alguns podem ocorrer apenas após algumas décadas - ou ocorrerão no outro lado do mundo, onde muitas de nossas matérias-primas são atualmente extraídas No entanto, acrescenta: “Acreditamos firmemente que Amsterdã está à altura do desafio. Amsterdã é uma cidade progressista e liberal que não tem medo de experimentar ou investir no futuro
quinta-feira, 23 de abril de 2020
Napoleão, Bolsonaro e o Covid 19
Armando Avena*
Quando as tropas de Napoleão invadiram a Rússia em 1812, Napoleão Bonaparte comandava o invencível exército da França e desafiava os impetuosos russos para a luta. Mas lutar sem armas contra um inimigo muito mais poderoso seria apenas uma bravata que resultaria em milhões mortos. Por isso, o comandante russo, Marechal Kutuzov, usou a única arma disponível: a racionalidade. E montou uma estratégia: “recuar sem travar batalha”. Assim, quando as tropas napoleônicas chegavam nas cidades russas, prontas para a batalha, elas estavam vazias: o exército e a população recuavam para o interior, não sem antes destruir tudo, deixando as tropas francesas sem água, sem abrigo e sem alimentos. Surpreso e sem poder parar, Napoleão foi em frente buscando desesperadamente a batalha até encontrar o inverno russo. Com suas tropas longe do ponto de partida, sem abrigo ou alimentação, Napoleão foi obrigado a recuar e a medida que o fazia, agora sim, era atacando sem dó nem piedade pela retaguarda. E milhares de soldados franceses morreram, desertaram ou se entregaram. Napoleão havia perdido a guerra.Essa história deve nos guiar na luta contra o coronavírus, um inimigo que, por enquanto, é tão invencível quanto o exército de Napoleão. Contra esse inimigo, a Covid-19, devemos primeiro recuar, e o isolamento é a forma de retroceder, enquanto preparamos nossas defesas. Se fosse capitão do exército russo, o presidente Bolsonaro estaria propondo enfrentar os franceses de peito aberto, “como homem”, numa impetuosidade ridícula, que resultaria em milhares de mortos. Felizmente, agindo como generais, a maioria do prefeitos e governadores do Brasil estão racionalizando a batalha, preparando-se para guerra, que pode levar um pouco mais de tempo, mas resultará na derrota do vírus e com um número menor de vítimas. A estratégia de Kutuzov quase destruiu a economia russa, assim como o isolamento social vai afetar fortemente nossa economia mas, vencida a guerra, ela florescerá, os negócios serão retomados, os países e estados vão recompor suas finanças e os brasileiros voltarão ao trabalho sem ter na consciência milhares de corpos que sequer tem onde ser sepultados. A lembrança da estratégia russa é adequada, no momento em que a população brasileira parece à beira de abandonar o isolamento social. Não podemos permitir isso, não por causa de um Napoleão de hospício, que terá na Covid-19 sua Santa Helena, mas pela dignidade do Brasil que não pode entrar para a história como o país que aceitou a morte do seu povo em troca de uma duvidosa preservação da economia. * Economista e escritor. Membro da Academia de Letras da Bahia
Quando as tropas de Napoleão invadiram a Rússia em 1812, Napoleão Bonaparte comandava o invencível exército da França e desafiava os impetuosos russos para a luta. Mas lutar sem armas contra um inimigo muito mais poderoso seria apenas uma bravata que resultaria em milhões mortos. Por isso, o comandante russo, Marechal Kutuzov, usou a única arma disponível: a racionalidade. E montou uma estratégia: “recuar sem travar batalha”. Assim, quando as tropas napoleônicas chegavam nas cidades russas, prontas para a batalha, elas estavam vazias: o exército e a população recuavam para o interior, não sem antes destruir tudo, deixando as tropas francesas sem água, sem abrigo e sem alimentos. Surpreso e sem poder parar, Napoleão foi em frente buscando desesperadamente a batalha até encontrar o inverno russo. Com suas tropas longe do ponto de partida, sem abrigo ou alimentação, Napoleão foi obrigado a recuar e a medida que o fazia, agora sim, era atacando sem dó nem piedade pela retaguarda. E milhares de soldados franceses morreram, desertaram ou se entregaram. Napoleão havia perdido a guerra.Essa história deve nos guiar na luta contra o coronavírus, um inimigo que, por enquanto, é tão invencível quanto o exército de Napoleão. Contra esse inimigo, a Covid-19, devemos primeiro recuar, e o isolamento é a forma de retroceder, enquanto preparamos nossas defesas. Se fosse capitão do exército russo, o presidente Bolsonaro estaria propondo enfrentar os franceses de peito aberto, “como homem”, numa impetuosidade ridícula, que resultaria em milhares de mortos. Felizmente, agindo como generais, a maioria do prefeitos e governadores do Brasil estão racionalizando a batalha, preparando-se para guerra, que pode levar um pouco mais de tempo, mas resultará na derrota do vírus e com um número menor de vítimas. A estratégia de Kutuzov quase destruiu a economia russa, assim como o isolamento social vai afetar fortemente nossa economia mas, vencida a guerra, ela florescerá, os negócios serão retomados, os países e estados vão recompor suas finanças e os brasileiros voltarão ao trabalho sem ter na consciência milhares de corpos que sequer tem onde ser sepultados. A lembrança da estratégia russa é adequada, no momento em que a população brasileira parece à beira de abandonar o isolamento social. Não podemos permitir isso, não por causa de um Napoleão de hospício, que terá na Covid-19 sua Santa Helena, mas pela dignidade do Brasil que não pode entrar para a história como o país que aceitou a morte do seu povo em troca de uma duvidosa preservação da economia. * Economista e escritor. Membro da Academia de Letras da Bahia
sábado, 11 de abril de 2020
40 dias de quarentena em Roma
Luiz Mott*
Completam-se 40 dias que permaneço no olho do furacão da pandemia. Ao chegar em Roma eram 29 mortes. Hoje, passam de 18 mil. Felizmente a curva de casos do corona virus começa a baixar. Bravo!
Meu velho corpo, que completa 74 anos agora em maio, continua resistindo bravamente, sem febre nem problemas respiratórios. Torço que eu e voce, meu leitor\a continuemos longe dessa “miséra”!
Minha volta à Bahia continua sine die. O voo da Iberia marcado para o dia da mentira, foi efetivamente um engodo da empresa de viagens Edestinos, pois cobraram velozmente o valor da passagem e ainda me empurraram um seguro, mas não fizeram nada até agora para encontrar solução alternativa. Tenho outra reserva pela Air Europa para fim de maio, também essa companhia, outra enrolação: seu telefone 0800 irresponsavelmente deixou de atender.
Enquanto isso, vou fazendo das tripas coração e vivendo essa tristeza de estar na cidade mais interessante do mundo, com dias deslumbrantes de sol primaveril, sem poder usufruir de suas maravilhas arqueológicas e inigualável arte sacra. E o pior é que aumentou o valor das multas (até 3 mil euros, 15 mil reais!) contra quem é pego batendo perna sem justificativa ou muito distante de sua moradia. Autoridades sanitárias da Lombardia e Vêneto, regiões mais afetadas, determinaram o uso obrigatório de “mascherina” na rua. Apesar de milhões de máscaras continuar sendo importadas da China, não se encontram disponíveis à venda: percorri uma dezena de farmácias sem encontrar álcool líquido. Circula um vídeo mostrando diversos prefeitos italianos dando baixa e escorraçando pessoas rebeldes dos parques e jardins. É perm itido le var cachorro prá passear, só pertinho da residência e fazer-se acompanhar de apenas um filho no supermercado. Pegaram essa semana uma velinha que tinha saído onze vezes no mesmo dia pra fazer compras! A maioria das multas é contra motoristas viajando sem justificativa, gente andando de bicicleta ou fazendo cooper, mas sobretudo, pequenos estabelecimentos comerciais funcionando clandestinamente.
Uma autoridade sanitária advertiu na TV às manicures e cabeleireiras que estavam atendendo clientes a domicílio. Frequentadores de festinhas clandestinas foram multados sem apelação, assim como um adolescente que insistia em visitar sua namorada em bairro distante. Irregularidades sanitárias também têm sido punidas: doentes confirmados que não respeitaram o confinamento residencial, moradores de áreas mais contaminadas mudando-se sorrateiramente para outra região, pior ainda, trambiqueiros oferecendo na internet medicamentos não autorizados ou falsificados.
No jornal das 7 da manhã, tem missa diária do Papa. Semana Santa on line... Amém. Aleluia. *Antropólogo e professor da Ufba
Completam-se 40 dias que permaneço no olho do furacão da pandemia. Ao chegar em Roma eram 29 mortes. Hoje, passam de 18 mil. Felizmente a curva de casos do corona virus começa a baixar. Bravo!
Meu velho corpo, que completa 74 anos agora em maio, continua resistindo bravamente, sem febre nem problemas respiratórios. Torço que eu e voce, meu leitor\a continuemos longe dessa “miséra”!
Minha volta à Bahia continua sine die. O voo da Iberia marcado para o dia da mentira, foi efetivamente um engodo da empresa de viagens Edestinos, pois cobraram velozmente o valor da passagem e ainda me empurraram um seguro, mas não fizeram nada até agora para encontrar solução alternativa. Tenho outra reserva pela Air Europa para fim de maio, também essa companhia, outra enrolação: seu telefone 0800 irresponsavelmente deixou de atender.
Enquanto isso, vou fazendo das tripas coração e vivendo essa tristeza de estar na cidade mais interessante do mundo, com dias deslumbrantes de sol primaveril, sem poder usufruir de suas maravilhas arqueológicas e inigualável arte sacra. E o pior é que aumentou o valor das multas (até 3 mil euros, 15 mil reais!) contra quem é pego batendo perna sem justificativa ou muito distante de sua moradia. Autoridades sanitárias da Lombardia e Vêneto, regiões mais afetadas, determinaram o uso obrigatório de “mascherina” na rua. Apesar de milhões de máscaras continuar sendo importadas da China, não se encontram disponíveis à venda: percorri uma dezena de farmácias sem encontrar álcool líquido. Circula um vídeo mostrando diversos prefeitos italianos dando baixa e escorraçando pessoas rebeldes dos parques e jardins. É perm itido le var cachorro prá passear, só pertinho da residência e fazer-se acompanhar de apenas um filho no supermercado. Pegaram essa semana uma velinha que tinha saído onze vezes no mesmo dia pra fazer compras! A maioria das multas é contra motoristas viajando sem justificativa, gente andando de bicicleta ou fazendo cooper, mas sobretudo, pequenos estabelecimentos comerciais funcionando clandestinamente.
Uma autoridade sanitária advertiu na TV às manicures e cabeleireiras que estavam atendendo clientes a domicílio. Frequentadores de festinhas clandestinas foram multados sem apelação, assim como um adolescente que insistia em visitar sua namorada em bairro distante. Irregularidades sanitárias também têm sido punidas: doentes confirmados que não respeitaram o confinamento residencial, moradores de áreas mais contaminadas mudando-se sorrateiramente para outra região, pior ainda, trambiqueiros oferecendo na internet medicamentos não autorizados ou falsificados.
No jornal das 7 da manhã, tem missa diária do Papa. Semana Santa on line... Amém. Aleluia. *Antropólogo e professor da Ufba
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