quinta-feira, 11 de abril de 2019

RIO/BAHIA

Antonio Risério*
O Rio de Janeiro e Salvador são cidades férteis em mitos - e que cultivam mitos fáceis. Um deles, central, é o de que ambas são cidades ensolaradas. Cariocas e baianos vendem essa imagem para o país - e o pior é que acreditam no que dizem. Mas esse papo de que o Rio é cidade do sol (há alguns meses, na tv, vi um surfista dizendo que no Rio faz sol 365 dias por ano!) e de que Salvador é cidade do sol é um papo furadíssimo, que não resiste ao menor exame dos fatos. A fantasia da cidade solar, tanto num caso como no outro, foi tecida por escritores, artistas em geral, empresários, governantes, políticos em geral. E as massas embarcaram na conversa. Basta recuar um pouco no tempo para ver que o discurso já foi outro. O Rio de Machado de Assis, por exemplo, é mais chuvoso que solar. Mas, com o avançar do século 20 e o assentamento de bairros atlânticos, tudo mudou. Salvador e o Rio, no entanto, são cidades de altos índices pluviométricos. Recebem chuvas quase o ano inteiro - o sol é um visitante intenso, mas breve, de pouquíssimos meses. No mais, é chuva atrás de chuva; Mas, como baianos e cariocas acreditam no mito que criaram, é o que vemos: duas cidades que se enfeitam para as frescuras do verão, mas nunca se preparam para os desastres dos demais meses, que tomam a maior parte do ano. É isso.
* Escritor e antropólogo

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