quarta-feira, 10 de maio de 2017

Morre Nelson Xavier, o magistral "Mágico" de Fernando Coni

Um mágico, Don Velásquez (Nelson Xavier) e sua partner Paloma (Tania Alves) chegam a uma pequena cidade do interior do Bahia para apresentar um espetáculo de variedades, com números de mágicas e de canto e dança. A estréia da dupla é frustrada pela prepotência do delegado local. O dia seguinte é o dia de feira da cidadezinha. 
Comovida pela pobreza da feira, Paloma sugere ao mágico uma grande mágica que traga a fartura onde existe a miséria, o que é feito. No entanto, a mágica dura pouco e logo a cidade volta à sua pobreza habitual. Há uma grande revolta e o delegado prende o mágico. Na cadeia, ele é colocado numa cela comum onde já estão quatro outros presos. A presença do mágico quebra a rotina da vida carcerária e uma série de coisas esparitosas e maravilhosas começam a acontecer. Na tentativa de restabelecer o ordem, o delegado retira o mágico da cela comum e o coloca numa solitária. Tal recurso não adianta, segundo depoimento do carcereiro, que vê o mágico promover banquetes chega aos outros presos que exigem comida igual a que dizem que o mágico come, e então entram em greve de fome. Uma galinha ao molho pardo é preparada para acabar com a greve de fome. Pouco depois, o mágico, algo maravilhoso acontece justificando a afirmativa do Padre Antonio Vieira: ‘cada um sonha como vive’.
Inspirado numa anedota contada pelo gaúcho Josué Guimarães no terceiro capítulo de “Depois do Último Trem”, “O Mágico e o Delegado” foi roteirizado por Coni Campos e Mário Carneiro com muita emoção. Diz o próprio Coni que a idéia foi buscar em sua infância, numa pequena cidade da Bahia, “os seus loucos, seus bêbados, as suas tristes mulheres”, os personagens capazes de dar vida e emoção nesta estória de elementos fantásticos. Entretanto, não deixa de ser um filme extremamente simples e comunicativo, pois uma das preocupações de Coni foi esta. Explica: Sempre busquei um cinema popular, isto é, um cinema que nasce do povo ou nele se inspira e a ele retorna, fechando um círculo (talvez a palavra circo seja mais adequada) e não um cinema de massa que reflete o gosto da classe dominante e tenta impor essa estética ao povo massificado.E porque é através da poesia que o povo, formalmente se expressa, a linguagem poética foi escolhida para narrar uma espécie de parábola que em vez de implodir numa lição de moral, explode num amplo leque de leituras, ao sabor dos sonhos, fantasias e vivências do espectador.

Coni Campos, foi feliz na linguagem que empregou: procurou a mesma informalidade, a brincadeira, a invenção, os truques e os malabarismos usados pelos artistas de feira, de circos e mambembes em toda América Latina “que é a maneira que o povo tem encontrado para sobreviver”.

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