sexta-feira, 17 de junho de 2011

Minha alma canta

Nizan Guanaes*
Brasília tirou o Rio de sua zona de conforto. E a cidade maravilhosa, numa longa crise, virou uma bela e mal adormecida.
Com a virada que o Brasil deu nessas duas últimas décadas, eu aposto já há alguns anos na virada do Rio, cidade e Estado.
O termo virada é inadequado, já que o Rio está virando o Rio de sempre. A cidade global que sempre foi.
Rosto mundial do Brasil. Restaurado, o Rio manda flechas de cupido para seduzir a todos.
Minha mulher e eu alugamos um apartamento no Arpoador. Estou abrindo uma agência na cidade.
Quando Donata e eu pisamos pela primeira vez na nossa casa carioca, fomos até a varanda. Donata me diz: "Bem-vindo ao Rio de Janeiro, amor", e começa a chorar emocionada.
O Rio é isso, o reencontro da gente com a gente mesmo. O orgulho de um Brasil orgulhoso. Revisitado. A descoberta das enormes reservas exportáveis de petróleo na camada do pré-sal e a realização dos dois eventos mais globalizados do planeta -a Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016- garantem um fluxo de investimentos, interesses e exposição à cidade que já a transformou.
O Rio está em sua fase pós-maravilhosa, com o metro quadrado nas nuvens e uma longa lista de projetos subindo do chão.
Ergue-se em cima dessa sólida base de eventos econômicos e esportivos uma rede de serviços que só uma cidade com o capital humano e o encantamento que é natural ao Rio de Janeiro pode desenvolver.
É só olhar a zona portuária do Rio e os projetos que ela inspira para começar a sentir o potencial de crescimento da cidade. A revitalização dos centros históricos das cidades brasileiras está apenas começando, e o Rio, por ancestralidade e centralidade, deve guiar o país nessa área.
É com esse espírito que estou abrindo uma empresa no Rio de Janeiro neste mês. E não vai ser filial de São Paulo, claro que não!, porque a vocação do Rio de Janeiro será sempre a de matriz.
Não larguei a Bahia por São Paulo. Larguei pelo Rio de Janeiro, para onde fui trabalhar nos anos 1980, na Artplan de Roberto Medina, o inventor do Rock in Rio. Saí da cidade trazido para São Paulo por outro mestre, Washington Olivetto. Minhas agências em São Paulo estão cheias de expatriados cariocas que, forçados pelo mercado, exportaram o talento que sua cidade inspirou.
Volto agora para o Rio pelo melhor dos motivos: obrigado pelas novas circunstâncias econômicas. E humanas.
Gosto do fato de o homem mais rico do Brasil ser carioca e devolver e promover sua cidade de maneira veemente.
Gosto do governador e do prefeito trabalharem como se fossem dois CEOs com espírito público e entusiasmo e eficácia de iniciativa privada. E gosto mais ainda que ninguém fale hoje do milagre brasileiro e muito menos do milagre carioca. Porque não tem milagre. O milagre é trabalhar. É fazer o dever de casa.
Como o Rio de Janeiro, governo e povo, estão fazendo. É o Roberto Medina, é o Alexandre Accioly, é o Ricardo Amaral, é o Armínio Fraga, é a Firjan.
O Rio tem hoje governantes com espírito empresarial e empresários com espírito público.
E isso é bom para todos os Estados brasileiros. Porque eleva o sarrafo. Da administração pública e do engajamento cidadão. Do empresariado com suas cidades e seus Estados. E é por tudo isso que Donata chora na varanda. E, dentro de mim, minha alma canta. Há um sonho no ar, e um Rio lindo lá fora.
Com suas pedras grandes convidando o Brasil inteiro a pensar grande como suas montanhas e como nos comanda os braços estendidos do Redentor.
*Nizan Guanaes, nasceu em Salvador. Publicitário, é presidente do Grupo ABC

**Artigo publicado originalmente na Folha de São Paulo

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