terça-feira, 25 de julho de 2023

Kirimure, histórias da baía de todos os Santos.

 


Kirimure tem o nome cristão de todos os santos, mas esconde demônios verde-azulados e personagens insólitos nos lugares que margeiam seu Mar, com maiúscula, sempre... Descubra esses mistérios, neles se inspire para se entreter, aprender ou refletir, sonhar ou se indignar e, quem sabe, encontrar soluções para muitas doenças da alma da cidade da Bahia, mãe ou filha desse grande Mar Interior. Você já esteve diante de um tubarão-martelo? É amigo de um grande navegador? Já deu uma rasteira num paulista? Já leu Amado, Rosa ou Ubaldo? Já quase morreu onze vezes? Ou pensou que poderia morar numa cidade ideal, criada em função de você? Há um jeito... Já ouviu falar sobre ele e ela? Você precisa entender agora os moradores desta Terra e deste Mar…”


Lourenço Mueller lança no dia 1 de agosto, a partir das 16h, no Museu do Mar Aleixo Belov (Santo Antônio Além do Carmo), o seu terceiro livro,  
"Viva Kirimure: Histórias da Baía de Todos os Santos
.Lourenço Mueller atuou como escritor (teve três romances publicados), artista plástico (exposições em que mistura telas de temas urbanos com poesias, frases e espelhos) é mergulhador, capoeirista e nadador. Realizou mestrado em ciências sociais, doutorado em arquitetura e urbanismo pela UFBA e especializações na França e na Colômbia. Trabalhou no governo do estado da Bahia (IPAC, CIA, SIC, CONDER) e foi consultor em planejamento urbano, municipal e metropolitano. Fez conferências em encontros técnicos em Salvador e outras capitais. Ensinou na UFBA e na FACS, teve projetos arquitetônicos e urbanísticos construídos na capital e no interior e premiações nas áreas de arquitetura, jornalismo e marketing empresarial. O autor tem artigos técnicos publicados em anais de congressos, revistas e jornais e é articulista permanente do jornal A Tarde, onde escreve sobre diversos temas e promoveu ciclismo e ativismo na cidade e região. Após a criação da Fundação Aleixo Belov, foi convidado para presidi-la (2019). Em 2017, criou o 'Cibergrupo Kirimure', uma networking para discutir e apresentar propostas de economia criativa e desenvolvimento sustentável para a Baía de Todos os Santos.n

sexta-feira, 14 de julho de 2023

Salvador uma Cidade feita de Música


Nelson Motta*

Hoje a história é de amor, de cores vivas, de luz sensual e mar infinito, um caso de amor e alegria com uma terra e uma gente. Já amava a Bahia antes de conhecê-la, cheguei a ganhar um festival da canção com Dori Caymmi com a música “Saveiros” quando tinha 22 anos e nunca havia visto um saveiro na vida rsrs. Minha Bahia imaginária era dos livros de Jorge Amado e das músicas de Dorival Caymmi, e depois, das conversas com Caetano e Gil. Só a conheci, digo carnalmente, três anos depois, no carnaval de 1969, e era ainda melhor do que eu imaginava, os cheiros, os sabores, os sons, a alegria das ruas e das praias e a delícia do mar de águas frescas, isto não estava nos livros.

Em 1972, houve meu batismo na baianidade, guiado por Gil e sua mulher Drão, numa experiência fundamental de minha vida, com Mãe Menininha no terreiro do Gantois, que se tornou meu lar espiritual da vida até hoje. Muito forte. E profundo.

A Bahia sempre foi minha maior fonte de inspiração. Desde a série de 15 canções feitas com Dori Caymmi no nosso início profissional, em que tentava harmonizar a baianidade poética com a musical. Depois a Bahia imaginária se tornou real, mergulhei nela várias vezes, fora os carnavais, pesquisando para a biografia do jovem Glauber Rocha, que virou o livro “A primavera do dragão”. Depois, produzindo o show e o disco “Eletrodoméstico”, de Daniela Mercury, gravado ao vivo na Concha Acústica. A parte mais gostosa foram os ensaios, um mês em Salvador, entre a praia e o estúdio, mergulhando na música baiana e sua modernidade. E fiz um mestrado no mundo do carnaval e dos trios elétricos nas conversas com Daniela, que inspiraram o romance policial “O canto da sereia — Um noir baiano”, em que uma jovem estrela do axé é assassinada em pleno carnaval, que em 2013 virou minissérie na TV Globo, com Isis Valverde.


Agora Salvador me inspira e emociona de novo, pela sua Cidade da Música, em um velho-novo casarão de azulejos azuis, que conta a história da Bahia através da riqueza incomparável de sua música, desde os primeiros batuques até a explosão de diversidade afro-brasileira em uma fabulosa usina de ritmos e músicas e letras.

Com curadoria rigorosa e emocionada de Gringo Cardia e Antonio Risério, tudo está registrado em vídeos superbem editados e excelentes textos sobre as 33 regiões de Salvador e a música que originaram, que vai do candomblé e dos blocos afro ao reggae jamaicano, que foi logo incorporado à polifonia da cidade, ao rock and roll apimentado de Raul Seixas, Camisa de Vênus e Pitty, cada bairro teve sua contribuição documentada em vídeos, textos e depoimentos de alta qualidade.

Mas o ponto alto é o filme de 40 minutos, em tela grande, contando como Carlinhos Brown e a música transformaram radicalmente o Candeal, de um bairro carente de tudo, em uma pequena cidade da música, do trabalho, da alegria de viver, que mudou a vida de milhares de pessoas e deu uma decisiva e afirmativa contribuição à cultura da Bahia. Vale acompanhar o trabalho deles no Instagram (instagram.com/cidadedamusicadabahia) ou http://cidadedamusicadabahia.com.br “

*Nelson Cândido Motta Filho ORB é um jornalista, compositor, escritor, roteirista, produtor musical, teatrólogo e letrista brasileiro. É autor de mais de trezentas músicas, com diversos parceiros



terça-feira, 4 de julho de 2023

BR 324, um gargalo econômico para a Bahia

Armando Avena*

A rodovia Salvador/Feira, conhecida como BR 324, está impedindo a Bahia de crescer e, no momento, se constitui em um dos maiores gargalos da nossa economia. Salvador e sua região metropolitana sediam o principal polo econômico e de infraestrutura do estado, gerando cerca de 50% do PIB estadual, e é pela BR 324, única ligação rodoviária da capital com o Sudeste do país, que passa toda a riqueza produzida e consumida na principal área econômica da região Nordeste. Apesar disso, a rodovia permanece sem investimentos de porte desde 2009, quando o setor privado assumiu a concessão. Os investimentos realizados até aqui não coadunam com a importância da rodovia, nem com o crescimento da frota de carros na Bahia, que mais que duplicou nestes quase 15 anos. O estado da rodovia é destaque na imprensa no São João, quando milhares de pessoas se dirigem ao interior, mas ele é destaque todos os dias na vida dos usuários e responsável pelo aumento do custo-Bahia, pois, se a principal rota de escoamento dos produtos estaduais é precária, o custo de produção e distribuição é maior tornando a economia menos competitiva.

A Via Bahia é a concessionária responsável pelo sistema de rodovias envolvendo trechos das rodovias federais BR-116 e BR-324 e outros trechos de rodovias estaduais. O consórcio espanhol Isolux/Corsan obteve a concessão em 2009 e durante anos administrou as rodovias de maneira precária com um desempenho abaixo da média. A partir de 2016,  o fundo canadense PSP Investments assumiu a rodovia, mas nada mudou. O nível de investimento da empresa é baixo, especialmente se for considerado o faturamento anual da ordem de R$ 500 milhões. Na verdade, a Via Bahia registra um histórico de sucessivos atrasos nos investimentos obrigatórios previstos em contrato e em 2013, a ANTT chegou a firmar um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) com a companhia espanhola para tentar colocar as obras em dia, mas de nada adiantou. Tampouco a troca do controlador pela atual empresa canadense resolveu o problema e a situação agravou-se a ponto do governo Bolsonaro   tentar declarar a caducidade no contrato de concessão, num processo que terminou na Justiça

A favor da Via Bahia está o fato das modelagens de concessões rodoviárias no Brasil incluírem outorgas altas e tarifas baixas e a pandemia que aumentou os custos, sendo necessário, portanto, o reequilíbrio econômico-financeiro do contrato e uma renegociação com o BNDES, mas é preciso lembrar que a PSP Investments, que controla a Via Bahia, é uma das maiores gestoras de investimentos de fundos de pensão no Canadá com cerca de 150 bilhões de dólares em ativos líquidos e pode muito bem colocar algum recurso próprio na Bahia.

De todo modo, parece razoável  a decisão do governo Lula de repactuar o contrato e manter a atual concessionária, evitando peleias jurídicas, mas essa  repactuação precisa vir com a garantia de investimentos no curto prazo. Deve estar previsto, por exemplo, a construção imediata de uma terceira pista nos trechos em que an amplitude do canteiro central, permite sua imediata construção a custo baixo e sem desapropriações. De tudo isso ressalta duas constatações: a primeira é a de que a concessão de serviços públicos ao setor privado não é uma panaceia que tudo resolve e precisa ser fiscalizada de perto pelo poder público; a segunda é que a Bahia não pode mais esperar e qualquer que seja a repactuação deve prever o início imediato de investimentos de porte na BR 324.

*Armando Avena é economista, ex-secretário de planejamento da Bahia.