terça-feira, 8 de novembro de 2022

200 ANOS DA BATALHA DE PIRAJÁ



O traço inconfundível do artista plástico Carybé, o mais baiano dos argentinos, apresenta uma luta em tom épico: soldados uniformizados misturados a homens do povo, vaqueiros de gibão e chapéu de couro, cavalos tombados ao chão.

A batalha, que completa 200 anos hoje (8), durou cerca de oito horas, reuniu cerca de 4.000 soldados e foi uma tentativa dos militares fiéis a Lisboa de furar o cerco terrestre que as tropas brasileiras aliadas a dom Pedro 1º impunham a Salvador para consolidar a Independência.

A luta contra o domínio português na Bahia, em diversos episódios, tem forte influência de protagonismo feminino, a exemplo da bravura da freira Joana Angélica, que morreu por resistir à entrada de portugueses no Convento da Lapa, Maria Felipa, por suas estratégias usadas contra os portugueses na Ilha de Itaparica, e Maria Quitéria, que guerreou como parte das tropas independentistas contra as tropas coloniais.

Uma versão da batalha de Pirajá, que ganhou o imaginário popular, veio de um poema de Ladislau dos Santos Titara, responsável pelas correspondências do general Labatut, que alçou à condição de herói o cabo-corneta Luís Lopes.  Diante das dificuldades da batalha, o comandante Barros Falcão teria ordenado que o corneteiro fizesse o toque de retirada, fazendo com que as tropas brasileiras recuassem. Mas ele teria feito o contrário, entoando o toque de "avançar a cavalaria e degolar".  O toque de ataque teria assustado os portugueses que se imaginaram em menor número de soldados e bateram em retirada de forma desordenada.

Embora o 2 de Julho seja a data oficial da Independência do Brasil na Bahia, neste dia, em 1823, não houve uma batalha. A saída dos portugueses da cidade foi o capítulo final de uma história de luta contra os portugueses, mesmo depois do 7 de setembro de 1822, dia oficial da independência do Brasil.

domingo, 6 de novembro de 2022

Incompetência e descaso na Logística Baiana


Osvaldo Campos Magalhaes*
Construída durante o governo Luís Viana Filho, 1967 e 1971,  como estrada de ligação entre a Bahia e Brasília, a BR 242 vai se tornando a “rodovia da morte”. 
Com o desenvolvimento de novas variedades de soja e milho pela Embrapa e a vinda de milhares de produtores de grãos da região sul do Brasil para o Oeste baiano, a produção de grãos e algodão cresceu muito nos últimos 20 anos e já ultrapassa as 7 milhões de toneladas , que são exportadas através de terminal portuário em Salvador. 
Mais de 170 mil carretas bi-trem trafegam anualmente pela BR 242, rodovia que não foi construída para receber tal volume de tráfego nem equipamentos tão pesados. Além de não ter qualquer controle de pesagem dias carretas, a rodovia não possui terceira faixa nas subidas, o que a transformou em armadilha perigosa para as centenas de milhares de carros de passeio e ônibus de turismo expondo as pessoas a riscos graves. 
Refletindo sobre a questão técnicos da Booz Allen durante a elaboração do planejamento estratégico ara a logística baiana no governo Cezar Borges propuseram a concessão da BR 242 , trecho de 89 km da Br 116 e a BR 324 ligando Feira de Santana a Salvador e Terminal de Cotegipe.

Lembrar que o PROGRAMA ESTADUAL DE LOGÍSTICA DE TRANSPORTES - PELTBAHIA, por mim coordenado, foi finalizado no governo Governo Paulo Souto e previa a reconstrução do trecho ferroviário entre o Porto de Aratu e Brumado e a construção da Ferrovia Leste Oeste entre Luiz Eduardo Magalhães e Brumado. O governo Wagner alterou o projeto levando a ferrovia até Ilhéus e prevendo a construção de um porto numa área de proteção ambiental, próximo à Lagoa Encantada. O Porto já mudou de local duas vezes e ainda não foi viabilizado.

A Ferrovia de Integração Leste Oeste, inconclusa, foi alvo da Operação Lava Jato, com envolvimento da OAS, ODEBRECHT, Andrade Guitierez, Queiroz Galvão e outras. As obras do Porto Sul, promessa do governo Rui Costa, não saíram do papel. Triste Bahia Enquanto isso,  o grupo cearense Dias Branco, associado ao grupo baiano TPC, construiu um moderníssimo Terminal de Grãos em Salvador, na baía de Aratu. Que opera com extraordinária eficiência. A soja que antes era movimentada no Porto de Ilhéus em um dia, passou a ser embarcada em menos de 2 Horas no Terminal de Cotegipe.  Esperamos que o governador eleito não cometa os mesmos erros de seus antecessores no que diz respeito à área da Logística de Transportes. Projetos como o Porto Sul e a ponte Salvador Itaparica devem ser reavaliados e discutido com especialistas da Sociedade Civil. São projetos inviáveis sob o ponto de vista ambiental e econômico financeiro. Devemos fortalecer a vocação logística e portuária da Baía  de Todos os Santos e a vocação turística e de preservação ambiental da Costa do Cacau.

Errar é humano mas persistir no erro é desperdiçar o dinheiro público.

*Engenheiro Civil e Mestre em Administração , foi o coordenador do PELTBAHIA. Foi Especialista da FIESP e Membro do Conselho de Infraestrutura da FIEB

quarta-feira, 2 de novembro de 2022

Porque América e não Colômbia?

Américo Vespúcio (1451-1512) foi um mercador, navegador e cartógrafo italiano de grande importância para os descobrimentos, pois escrevia cartas a seus superiores descrevendo os lugares por onde passava. Em sua homenagem, as terras descobertas do Novo Mundo receberam o nome de América. 
Américo Vespúcio nasceu em Florença, na Itália, no dia 9 de março de 1451. Era o terceiro filho de Anastácio Vespúcio e Isabel Mimi. Foi educado por seu tio, o dominicano Jorge Antônio Vespúcio, recebendo educação humanística. Esteve na Itália e na França, onde estudou Geografia, Astronomia e Cosmografia. Em 1949, a serviço dos Médici, Américo Vespúcio foi para Sevilha, na Espanha, para trabalhar na gerência de importante casa comercial, onde passou a auxiliar o armador Juanoto Berardi. Nessa época travou contato com Colombo e outros navegadores. Em 1495, com a morte de Berardi, Vespúcio assumiu a gerência da filial, especializada no abastecimento de navios. Travou contato com as ideias dos conquistadores espanhóis. Primeira viagem de Américo Vespúcio No dia 18 de maio de 1499, Vespúcio partiu de Cádiz, na expedição de Alonso de Hojeda, com uma frota de quatro naus, destinadas a explorar as terras já descobertas por Colombo. Atravessaram o Atlântico e chegaram próximo à costa da atual Guiana Francesa. Após uma desavença, Hojeda e Vespúcio separam-se, ficando cada um no comando de duas naus. Hojeda seguiu para o norte e Vespúcio para o sul, costeando o Brasil. Descobriu o estuário do rio Amazonas e foi até o cabo de São Roque, onde inverteu a rota e chegou até a Venezuela. Os dois navegantes voltaram a se encontrar no Haiti e regressaram à Espanha em junho de 1500. Convencido até então de ter percorrido a península do extremo leste da Ásia, descrita por Ptolomeu, Américo Vespúcio conseguiu que o rei D. Manuel I de Portugal financiasse nova expedição em busca de uma passagem para os mares da China. 
Segunda viagem de Américo Vespúcio 
Em uma segunda viagem, Américo Vespúcio seguiu na expedição comandada por Gonçalo Coelho que partiu de Lisboa no dia 13 de maio de 1501, chegando ao cabo Santo Agostinho em Pernambuco, no final do ano. Velejando para o sul, esteve na foz do São Francisco, na Bahia de Todos os Santos e em outros pontos da costa que foram sendo denominados de acordo com o santo do dia do descobrimento. 
KIRIMURÊ
Era o dia 1 de novembro, Dia de Todos os Santos na tradição da religião católica. Por costume, nomeava-se todos os acidentes geográficos de acordo com os santos dos dias onde os mesmos eram identificados – cabendo à baía, portanto, este nome. A relevância estratégica da Baía de Todos os Santos, associado a existência de colinas e acidentes geográficos à leste (relevo que permitiria o costume medieval de fortificação das cidades), foram decisivos para que Tomé de Sousa mais tarde escolhesse a região para fundar, por ordens do rei de Portugal, a cidade que seria a sede da primeira capital da colônia portuguesa – Salvador. Berço da civilização colonial lusa nas Américas, a Baía de Todos os Santos abrigou no século XVI o maior porto exportador do Hemisfério Sul, de onde eram enviados às metrópoles européias a prata boliviana e o açúcar brasileiro, sendo o porto de Salvador o que mais recebeu escravos africanos do Novo Mundo. Os Tupinambas denominavam a gigantesca baía por Kirimurê, que na língua dos povos originais que habitavam a região significava “ grande mar interior”. No final do mesmo ano avistou a baía de Guanabara e ultrapassou o estuário do rio da Prata. Foi o primeiro navegador a alcançar e registrar a costa meridional da Patagônia.
Américo Vespúcio Gravura do livro Colombo e Vespúcio (1898) Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro Em 1502 regressou a Portugal, convencido que havia percorrido a costa de um novo continente, pois seria impossível que a suposta península asiática se prolongasse de tal forma para o sul.
 Em 1505 regressou para Sevilha
Foi nomeado piloto-mor da corte, ajudando na preparação de mapas oficias e rotas marítimas. Neste mesmo ano recebeu a cidadania espanhola. Cartas de Américo Vespúcio Vespúcio adquiriu fama graças a uma série de documentos a respeito de suas viagens. A primeira consiste em uma carta em italiano, datada de setembro de 1504, procedente de Lisboa, aparentemente endereçada ao magistrado supremo da República Florentina, Pier Soderini. A segunda são duas versões latinas desta carta, publicadas sob os títulos de “Quatuor Americi Navigationes” e “Mundus Novus”. Existem também três cartas particulares dirigidas ao Medicis. Foi essa série de cartas, verdadeiras “crônicas de viagem”, embora cheias de fantasias, que deu maior notoriedade a Vespúcio, que doou seu nome ao Novo Mundo: “América”. Em 1507, o alemão Martin Waldseemüller publicou na França o relato “Quatuor Americi Vesputii Navigationes”, numa “Introdução à Cosmografia” na qual surgiu pela primeira vez o nome de “Terra de América”. Em 1509 o nome aparece no mapa-múndi impresso em Estrasburgo. Américo Vespúcio faleceu em Sevilha, Espanha, no dia 22 de fevereiro de 1512.

terça-feira, 1 de novembro de 2022

Os Europeus chegam a Kirimurê

Após a "descoberta" do Brasil feita por Pedro Álvares Cabral em 1500, o rei de Portugal, D. Manuel I decide averiguar quais as riquezas existentes naquele imenso território tão bem relatado por Pero Vaz de Caminha, participante da expedição cabralina. A primeira expedição exploratória da costa brasileira foi comandada por Gonçalo Coelho que partiu de Lisboa em 10 de maio de 1501. Com isto, a Coroa portuguesa pode ter notícias pioneiras sobre o contato de Cabral e também sobre seus direitos sobre terras brasileiras. Desta expedição participou como cartógrafo o italiano Américo Vespúcio. Nascido em 09 de março de 1454, Américo Vespúcio sempre viveu em meio a um alto estilo de vida, filho de família abastada achegados aos poderosos Médici, que construíram Veneza, política e financeiramente. Após este feito, em 1491 Vespúcio dirige-se à Espanha para trabalhar com Juanoto Berardi, sócio dos Médici. Juanoto era um dos principais financiadores da empresa marítima espanhola, comandada pelos "Reis Católicos". Alguns afirmam ter sido ele o colaborador para a expedição de Cristóvão Colombo quando este descobriu a América em 1492. D. Manuel I, contrata Vespúcio, a admiração da parte do rei de Portugal em relação a este homem culto iniciara com a leitura que o rei realizou de uma carta escrita em 18 de julho de 1500 de Vespúcio destinada a seu patrão Lourenzo de Médici. Em 15 de junho Vespúcio segue rumo ao Brasil, sob comando de Gonçalo Coelho, a esquadra era formada por três caravelas. De acordo com Ricardo Fontana, um dedicado estudioso do assunto, a partir deste momento, o desejo de novas aventuras começara efetivamente para Américo Vespúcio, pilotando uma das embarcações da esquadra..
 O primeiro contato com o Brasil 
 Em agosto de 1501 as 03 caravelas da esquadra ancoram na Praia de Marcos, litoral do atual Rio Grande do Norte. O primeiro contato dos marujos com os nativos do Brasil aconteceu somente após o primeiro dia já em terra firme. Contato este que, na verdade, foi desprezado por parte dos nativos que ignoraram todas as quinquilharias, oferecidas pelos homens de Gonçalo Coelho. 
 A antropofagia dos nativos brasileiros
Gonçalo Coelho concordou em deixar dois cristãos de sua esquadra ir averiguar os nativos por um prazo de 05 dias, visto que não houve uma recepção muito amistosa por parte dos nativos, passados estes dias, exatamente ao 6º dia os cristãos haviam desaparecidos, a esquadra estava prestes a deixar o litoral, Coelho e Vespúcio junto de alguns marujos decidem procurar saber o que houve, foi quando apareceram várias mulheres nativas, sendo que uma delas golpeou um dos homens da esquadra na cabeça, enquanto outras atacaram o restante com flechas. Dois disparos foram dados pelos homens de Gonçalo, com intuito de eliminar o ataque, os nativos correram para um monte alto, levando arrastado um dos marujos, os viajantes seguiram-nos e depararam com um cenário de impacto, o marujo capturado estava em pedaços, parte de seu corpo estava sendo cozinhado em um tipo de caldeirão grande, e outras partes do corpo já sendo mastigadas pelos nativos. O destino dos outros dois cristãos desaparecidos, com certeza fora o mesmo. Diante de tais acontecimentos, Vespúcio narra em sua carta denominada Lettera, o primeiro caso de antropofagia dos nativos da América, incluindo os europeus como vítimas. Tal registro ganhou estrondoso sucesso de publicação, pois esta carta fora enviada a seu amigo Piero Soderini, um dos principais mandatários de Florença. Os comandantes ficaram indignados com os acontecimentos, mas Gonçalo Coelho achou melhor zarpar imediatamente do local, contornando o litoral do Brasil. 
 Vespúcio atribui nomes ao litoral brasileiro por onde passou
Munidos de um calendário Litúrgico, começaram a batizar os lugares onde atracavam, com nome de santos do respectivo dia em cada lugar diferente, como por exemplo, em 28 de agosto com a vista do Cabo de Santo Agostinho, em 01 de novembro de 1501 à baía, denominada Baia de Todos os Santos. A região era chamada pelos tupinambás que habitavam no entorno da baía, chamada por eles de KIRIMURÊ, que significa “grande mar interior”.