quinta-feira, 27 de outubro de 2016

124 anos de Graciliano Ramos

Silvano Santiago*
MESTRE GRAÇA NÃO É PIEDADE
O pensamento político em Graciliano Ramos é tão tosco, influente e múltiplo quanto as palavras, ferramenta de que se vale o escritor para dialogar consigo e com o leitor. Maneja a linguagem literária com vistas à expressão dos diferentes seres humanos, enigmáticos e complexos, que deseja dramatizar em texto impresso, cuja composição se enquadra num dos quatro gêneros em que se tornou mestre. Refiro-me ao romance, ao conto e às memórias, e também ao ensaio. Como andaime, suas frases lúcidas sustentam e mantêm de pé o trabalho criativo e divulgam o espírito batalhador e crítico.
A política não é decorrente de essência que entusiasma o estar no mundo do escritor cidadão e o supervisiona pelo lado de fora da vida. Não direciona e controla seus passos e sua mente aquém e além da língua portuguesa. A política é produto intrínseco à reflexão da imaginação criadora que deseja a perfeição e busca dar estilo ao produto artístico que fabrica em linguagem mínima e concreta, simples e direta, esclarecedora e convincente.
No encontro da escrita de Graciliano com a fala do brasileiro comum é que melhor se compreende suas opções estilísticas, de que é exemplo a que nos foi relatada pelo genro James Amado. Lembra ele certa ojeriza de Graciliano pelo cacoete modernista (ou oswaldiano) que se traduz pelo uso coloquial de “me dê”. Graciliano não encontrava base na realidade oral brasileira para tal forma e lhe opunha “dê cá”, que lhe parecia real e fluente. Não escreva “algo”, o mestre aconselha ao filho Ricardo Ramos, “é crime confesso de imprecisão”. Reticências? É melhor dizer que deixar em suspense. Exclamações? Ninguém é idiota para viver se espantando à toa.
Em Graciliano, a política é senhora de poucas palavras e mãe de muitos equívocos linguísticos que, lançados na folha de papel, devem ser imediatamente borrados e corrigidos pelo escritor atento e reflexivo. A política não pertence à família dos GPS, que querem direcionar a vida e a obra do cidadão. Ela é infatigável exercício das mãos e da caneta, unidas às evidências da criação literária, em que os defeitos/qualidades da vida cidadã e social, da vida histórica e econômica da nação, são postos à prova na folha de papel em branco.
Em “Memórias do cárcere”, lê-se este trecho revelador do fazer literário: “Queria endurecer o coração, eliminar o passado, fazer com ele o que faço quando emendo um período — riscar, engrossar os riscos e transformá-los em borrões, suprimir todas as letras, não deixar vestígio de ideias obliteradas”. Endurecido o coração, apaga-se o que deve ser apagado do passado como se borram os equívocos da expressão linguística. De tal forma e com tal intensidade são obliterados, que passado e expressões infelizes não ficam para falsificar na atualidade a marcha da História.
A utopia e os tempos verbais
O equívoco das pessoas de bom coração é o de acreditar que a preocupação com o som e o peso semântico das palavras no papel falsifica a sinceridade do escritor ou a verdade sobre os fatos. A prosa de Graciliano contradita o lugar-comum. Falsificadoras são as pessoas de bom coração. Repousam seu pensamento crítico numa verdade do passado, que se confunde com o que foi apreendido erroneamente e tantas vezes repetido. Um fato se torna verdadeiro no momento em que encontra um novo, justo e belo discurso ficcional ou poético, inventado a duras penas pelo artista.
“Máquina de comover”, disse Le Corbusier. João Cabral de Melo Neto repetiu a expressão à porta do seu livro “O engenheiro”. Lá a colhemos, juntamente com estes versos: “O lápis, o esquadro, o papel, / o desenho, o projeto, o número. / O engenheiro pensa o mundo justo, / mundo que nenhum véu encobre”.
Solares e óbvias, as ideias políticas que pensam o mundo justo se confundem com a correção da composição literária. Com a correção em todo e qualquer trabalho humano. Bem nomear pela linguagem é, pois, o primeiro passo político dado pelo princípio-esperança em direção à utopia.
Na sua época, Graciliano não poderia ter escrito o que estava na moda e o leitor desejava ler. Ele escreveu o que, em tempos de Jorge Amado, não desejávamos escrever e, em tempos de hip-hop e de blogs, não desejamos escrever. Ele não é brasileiro da gema, se me entendem. Não há possibilidade de ele escrever “tá” em lugar de “está”, “cê” em lugar de “você”. Erros de regência, concordância, nunca. Isso é o pior do atraso civilizacional. A escrita do romance “Vidas secas” — para ser literatura, no sentido em que a entendia Graciliano — teria de evitar todo e qualquer solecismo, todo fatal compromisso com a fala dos brasileiros desprivilegiados tal como representada pela mera reprodução fonética. Mestre Graça não é piedade. Mestre Graça é estilo. Estilo é política.
Dou-lhes um único e notável exemplo, tirado do romance “Angústia”. Luís da Silva lê pichado no muro o slogan “Proletários, uni-vos”, escrito sem a vírgula e sem o traço de união (aclaremos), e comenta: “Não dispenso as vírgulas e os traços. Quereriam fazer uma revolução sem vírgulas e sem traços? Numa revolução de tal ordem não haveria lugar para mim”. Outro autor brasileiro não usaria o futuro do pretérito (quereriam, haveria) para encontrar lugar na revolução; usaria o imperfeito (queriam, havia).
Sem o recurso ao futuro do pretérito não existe a noção esperançosa e concreta de utopia em “Vidas secas”. A utopia é menos um tema filosófico. Ela é tão rara quanto um tempo verbal marginalizado no presente, o futuro do pretérito, indispensável àqueles que querem pensar as asperezas e as alegrias da sua plena realização pelo homem na terra.
Nas profundezas da tragédia de “Vidas secas”, em contraste com a miséria do passado e com a emigração no presente, a utopia se escreve pelo futuro do pretérito: “A caatinga ressuscitaria, a semente do gado voltaria ao curral, ele, Fabiano, seria o vaqueiro daquela fazenda morta. Os meninos gordos, vermelhos, brincariam no chiqueiro das cabras, sinhá Vitória vestiria saias de ramagens vistosas. As vacas povoariam o curral. E a caatinga ficaria toda verde”.
Para que os deserdados possam pisar o mundo justo e sem véu do futuro é que se faz política em literatura.
É um equívoco apresentar a figura pública de Graciliano como um todo inalterável. Daí que o filho Ricardo Ramos, em “Retrato fragmentado”, tenha de se entregar a um primeiro trabalho de garimpagem na vastíssima e por vezes admirável bibliografia sobre o autor de “São Bernardo”. Reorganiza-a pela ênfase ou pelos excessos concedidos pela crítica a determinados detalhes problemáticos ou relativamente obscuros da personalidade do pai.
Graciliano — escreveu Ricardo — não é “personagem inteiriça, compacta, quase olímpica, sem a menor sombra de conflito ou dúvida”. Não é “criatura rude, sertanejo primitivo e pitoresco, o autodidata que certo dia simplesmente resolveu escrever”. Não é “um partidário, cego seguidor da regra política”. Não é tampouco o “intelectual cooptado”, que teve de se adaptar às regras ditatoriais do Estado Novo. Aceitar uma das quatro visões excessivas e excludentes como a principal determinante da personalidade de Graciliano “será aceitar o homem precisamente como negação da obra”, conclui o filho e biógrafo. Ao falar de política, não perpetuemos a negação da obra.

Silviano Santiago é escritor e crítico literário, autor do romance “Em liberdade” e de “Uma literatura nos trópicos”: ensaios sobre dependência cultural, entre outros livros. Recebeu esta semana o prêmio Machado de Assis pelo conjunto da obra, concedido pela Academia Brasileira de Letras

domingo, 23 de outubro de 2016

Nobel sem paz, nem literatura


Paulo Ormindo Azevedo*
Tem razão Caetano quando diz que “alguma coisa está fora da ordem mundial”. O anuncio do prêmio Nobel de 2016 não passou de um monumental chabu. Há 50 anos se luta e se negocia a paz na Colômbia. São dezenas de milhares de homens e mulheres que não sabem fazer outra coisa senão guerrear e o governo não tem como dar ocupação ou aposentadoria a eles. As negociações realizadas em Havana, com o beneplácito de Obama, foi mais uma dessas tentativas. Quando a sociedade já tinha dito “não”, o comitê do Nobel disse “sim”. Não fará muita diferença, porque os dois prêmios dados a judeus e árabes, no passado, não conseguiram contribuir para a paz dos povos. Este, inclusive, é assimétrico, pois só contemplou uma das partes da negociação, contrariando a tradição do prêmio: Kissinger-Le Duc (1973), Al Sadan – Menhagen Beguin (1978), Mandela-De Klerk (1993), Arafat-Perez (1994). 
Não sou contra reconhecer a poesia embarcada em canções de protesto ou de amor. Mas com todo respeito a Bob Dylan, sua poesia não chega aos pés dos Beatles com Yesterday e Help ou a de um só de seus membros, Lenon, com sua memorável Imagine. E por que não o relacionar com os brasileiros? Não vou falar de Orestes Barbosa, Cartola e Vinicius, que não fizeram protesto.
Num congresso realizado no Texas, há alguns anos, um rapaz sabendo que eu era baiano me procurou para falar com entusiasmo da festa que era a Bahia nos anos 60 de Edgar Santos. Ele e colegas tinham participado de um intercâmbio estudantil em Salvador acompanhados do professor português Machado da Rosa e acabaram se envolvendo com protestos contra o golpe de 64 e tiveram que voltar para casa antes da hora. Ele considerava a música de protesto brasileira muito mais forte que a americana. Nenhum cantor americano foi censurado ou teve de se exilar por protestar cantando. E dizia que Vandré era muito superior a Bob Dylan.
Não se pode comparar a produção musical, teatral e literária de Chico Buarque de Holanda com as baladas country do norte americano. Chico teve que adotar pseudônimo, Julinho de Adelaide, para lançar no país sua produção no exilio. Escreveu e musicou as peças teatrais Roda viva, Gota d’água, Calabar e Opera do malandro. Compôs a trilha musical de Vida e morte Severina, de João Cabral, e de Os saltimbancos, dos irmãos Grimm. Mas ao par das músicas e peças teatrais de protesto, ele produziu canções de enorme lirismo, especialmente aquelas em que retrata a alma feminina, como: Com açúcar e com afeto, Olhos nos olhos, Teresinha, Atrás da porta e Folhetim. Chico é autor de cinco romances traduzidos para vários idiomas, dois dos quais receberam o maior prêmio literário brasileiro, o Jabuti. 
A indicação ao prêmio Nobel é precedida de uma verdadeira batalha diplomática. A América Hispânica, com população equivalente à do Brasil, tem 17 Prêmios Nobel e nós nenhum, porque o Itamaraty nunca se empenhou pelas candidaturas de cientistas e literatos brasileiros lançadas por intelectuais nacionais. A Argentina tem cinco prêmios Nobel, o México três e a Guatemala dois. Acabo de voltar desse pequeno país onde participei de seminário como membro da Comitê Cientifico da Rede Patrimônio Histórico Ibero-Americano e pude constatar quanto a Cooperação Espanhola investe nesse e em outros países da região para em seguida introduzir seus bancos, empresas de construção, distribuição de energia e agua, recolhimento de lixo e supermercados. No Brasil, a cooperação com países mais pobres é mal vista. 
No artigo “A força discreta do povão brasileiro”, publicado nesta coluna em 28/08 deste ano, eu dizia que quem faz o soft power do Brasil, e sem nenhum apoio oficial, é seu povão com a música popular, com a alegria do carnaval, com o futebol e com a capoeira. Nossos embaixadores parecem apenas interessado em recepções black-tie e opíparos banquetes.

*Professor Catedrático da Ufba
 A Tarde, 23/10/2016

sexta-feira, 21 de outubro de 2016

Brasil virtual, sonhado por sonhadores


José Carlos Capinan*
Voltamos a querer entender o Brasil, justamente quando menos entendido ele parece poder ser. Eu sei que amo um Brasil que quase ninguém vê, por não existir talvez. Apenas o realizo quando sou surpreendido por acordes de Villa Lobos, imagens glauberianas, literatura seca de Graciliano. Então, amo um Brasil virtual, pensado pelos seus mais sonhadores artistas, existente apenas nas artes. Artes de ontem. As de hoje não são mais tensionadas pela utopia, Estão boiando nas ondas do mundo, tão dispersas quanto os parlamentos. E tão também incapazes de ser uma sociedade realmente nova, capitalista e popular, ninho de resultantes desmemoriadas, desarraigadas, nação quase reificada na alma e no coração. Estúpidas guerras, cultura desossada... universalizou-se o infanticídio e o vatapá de fubá transgênico. Como maltratam o povo e como o povo entra pra valer nas roubadas, porque não há tempo para conversa fiada, trelêlê de deputado, a maioria inepta para o cargo e esperta para o roubo.
Quanto tempo durará essa Merda? Não faço ideia. A degeneração é profunda e se propaga com uma força irresistível, corrompendo até o que já nasce corrompido. Profunda ausência de sonhadores, estão recolhidos no campo da estética. Quando se bota o pé fora desse território, pisa-se em lama. Em sangue. Em feridas. Em trapos. Em seringas contaminadas atiradas no lixo. E no sorriso dos banqueiros. Eu sou um lírico, que não usa colírio. Ser um lírico nesse açougue é correr o risco de atirar-se ao alvo do açougueiro, a capa salva vida vulnerável às balas de borracha e os gases servidos nas esquinas e praças onde jovens protestam pela falta de regras limpas nas relações políticas e econômicas.

terça-feira, 18 de outubro de 2016

Aniversário, impasse e tensão na delação calibre 100 da Lava jato

O Estado de São Paulo
Hoje, dia 18, Marcelo Odebrecht completa 48 anos de idade e um ano e 104 dias preso. Três pontos travam o acerto para uma colaboração premiada com a Lava-Jato. O primeiro é o tempo de prisão. Marcelo Odebrecht diz já ter permanecido tempo demais preso. Por isso, em troca do acordo, pediu para ficar dois anos e meio preso, descontado o um ano e quatro meses já cumprido . A proposta foi rejeitada pela força-tarefa da Lava-Jato. Para eles, o empresário precisa ficar pelo menos mais dois anos e meio em regime fechado.
Primogênito de Emílio Odebrecht, que assumiu a condução das negociações da delação, o empreiteiro mais rico e poderoso preso por ordem do juiz federal Sérgio Moro está detido, em Curitiba, desde 19 de junho de 2015. Acusado de ser um dos líderes do esquema de cartel e corrupção na Petrobrás, Marcelo vislumbrava em seus planos que suas propostas fossem integralmente aceitas pela força-tarefa.
Marcelo disse a terceiros, segundo apurou o Estado, que deixaria a mesa de negociações se a força-tarefa não aceitasse a redução do prazo de prisão em regime fechado – dos quais já cumpriu 1 ano e 4 meses – e negasse uma saída temporária para passar as festas de natal e ano-novo em casa. O benefício foi concedido ao ex-diretor da Petrobrás Nestor Cerveró, em 2015.
Condenado em um primeiro processo julgado por Moro – com alvos sem foro privilegiado – a 19 anos de cadeia, Odebrecht ainda é investigado em outros processos do escândalo Petrobrás, que fará sua pena ultrapassar os 50 anos de condenação, se somadas. A proposta que montou com o pai e advogados de defesa, nos últimos três meses, reduziria em 89% sua pena de prisão inicial.
Mando. O segundo ponto delicado na negociação diz respeito à responsabilidade do empreiteiro nos crimes praticados pelo Setor de Operações Estruturadas – chamado por investigadores de “departamento do propina”. 
Na mesa de negociação, a força-tarefa diz ter provas da participação direta de Marcelo na profissionalização da área, bem como de sua responsabilidade sobre pagamentos de corrupção e caixa 2 efetuados e pela lavagem de dinheiro realizada. Por sua vez, a defesa do empresário alega que o departamento funcionava mesmo sem a intervenção do presidente do grupo.
Para os investigadores, Odebrecht tenta diminuir sua responsabilidade ao inflar o número de executivos da empresa dispostos a fazer delação e creditar a eles a decisão sobre ordens de pagamentos. O Estado apurou que a força-tarefa não aceita essa tese.
“Sofisticaram tanto o esquema que acreditaram que seriam intocáveis, que a força-tarefa não conseguiria provar no mérito as acusações de crimes”, observou, em reservado, um dos investigadores da Lava Jato envolvido nas tratativas de acordo de delação. 
“Eles acreditavam que teriam poder para derrubar as investigações. Porque na cabeça deles, se eles caem, cai a República, cai o governo, caem mil políticos. Pensavam: ‘poxa, a gente não vai cair, porque se a gente vai cair, cai todo mundo. Os caras dão um jeito, eles vão lá no tribunal e conseguem uma liminar para a gente, vão pressionar. Afinal foram eles que botaram os ministros’. A cabeça deles funcionavam assim, porque eles eram muito poderosos. O poder econômico controla o poder político, é a captura do Estado pelas empresas.”
O terceiro entrave trata das possíveis ações de contrainteligência adotadas pela empreiteira desde o início da Lava Jato, em 2014. A força-tarefa quer ouvir de Marcelo detalhes das ações de obstrução e embaraço às investigações e as ofensivas extrajurídicas de ataques à investigadores como a suposta compra informações de conversas de delegados da Lava Jato em redes sociais e dossiês – que tiveram ainda o juiz Sérgio Moro como alvo. O empreiteiro nega sua participação. Mesa de negociação. As tratativas de delação, iniciadas em maio, estão em fase de discussão do contrato do acordo. Nessa etapa, a força-tarefa apresenta suas propostas de pena reduzida, valores de multa e itens a serem tratados nos termos – que começarão a ser ouvidos formalmente dos delatores, se for assinado o acordo. 
A quantidade de advogados envolvidos no processo de delação da Odebrecht é outro ponto que tem dificultado as tratativas com o Ministério Público. Há nomes vindos de Brasília, São Paulo, Curitiba, Rio de Janeiro e Minas Gerais. Apesar do grupo reforçado em número, parte é considerada como pouco experiente em negociações de acordo de colaboração.
O relato é ouvido inclusive internamente, em tom de reclamação, com menções a dificuldades maiores de avançar nas propostas quando há presença de um ou outro integrantes da equipe. Do grupo de advogados que orbita ao redor da negociação, o criminalista Luciano Feldens, ex-procurador da República, é tido por pessoas ligadas ao caso como um dos mais habilidosos na forma de conduzir as transações.
Negócios bilionários. Comparada a uma metralhadora calibre .100 (munição de guerra usada para derrubar aviões) pelo ex-presidente José Sarney (PMDB) – em conversa gravada pelo delator Sérgio Machado, ex-presidente da Transpetro ligado ao PMDB -, a delação da Odebrecht é proporcional ao tamanho dos negócios que o grupo tem com o governo.
As empresas do Grupo Odebrecht têm só com a Petrobrás R$ 35,59 bilhões (R$35.590.880.834,72) – valores atualizados – em contratos sob investigação da Lava Jato. É a maior em valores alvo das apurações, que abrange negócios de 2004 a 2014 na estatal. “16,6% do montante dos contratos objeto de investigação (são da Odebrecht)”, informa laudo pericial 2315/2015 da Polícia Federal. A estimativa pericial da Polícia Federal é de que só na Petrobrás ela tenha gerado propinas que somam R$ 1 bilhão e um prejuízo somado de R$ 7 bilhões, em dez anos. Cifras que não incluem os negócios bilionários da petroquímica Braskem – sociedade entre Odebrecht e Petrobrás – que virou líder de mercado na América Latina sob a gestão Marcelo Odebrecht.

segunda-feira, 17 de outubro de 2016

Esquerda e Direita

Antonio Risério

Considero óbvio o texto que publiquei hoje cedo. Assim como é óbvio que democracia não é um simples conceito, mas uma entidade que existe numa sociedade real.
Daí, a implicação também óbvia, mas para a qual nem sempre se atenta: é necessário deixar que a própria estrutura social se encarregue de esclarecer a realidade democrática que pretendemos construir, em determinada circunstância histórica.
A construção democrática é não somente uma práxis incessante, como deve se ajustar a situações nacionais específicas e objetivas.
No caso brasileiro, construir democracia, hoje, é o mesmo que construir cidadania. É ir além da afirmação prática dos direitos individuais, para chegar à realidade mais viva dos direitos sociais. E, assim, à configuração mais plena de uma democracia de massas.
 Cidadania implica voto, claro. Mas as coisas não param no rito eleitoral. Desigualdade social é sinônimo de desigualdade política. Logo, uma negação da vida democrática plena.
Construir democracia é construir cidadania. E construir cidadania é avançar no caminho da inclusão, em todas as suas dimensões. Inclusão social, educacional, cultural, digital, etc.
O que equivale a dizer que, para prosseguir no processo de construção de uma verdadeira democracia brasileira, devemos providenciar meios para aumentar a participação de todos na riqueza nacional. É tão simples assim.
Escrevo essas coisas apenas porque perdi a paciência para ver políticos, artistas e intelectuais dizendo que não existe mais “essa coisa de direita e esquerda”. Existe, sim.
E, como disse, um bom teste para saber quem é quem, em noite de gatos supostamente pardos, é checar o que a pessoa entende por democracia.
No caso de políticos e governantes, em especial, não apenas em plano retórico, que essa gente é craque em malabarismos discursivos, mentindo sem pudor. Mas, sobretudo, no campo do fazer.
Ou, como diria o padre Antonio Vieira, no campo da matrícula das ações de cada um. Aqui, sim, não há lugar para conversa fiada. E ninguém, como costuma dizer um amigo meu, vai confundir chacais com passarinhos.

domingo, 16 de outubro de 2016

Cidade da Baía

Aninha Franco
"A cidade da Baía, moça fina, delicada, repleta de dotes e patrimônios, todos riquíssimos, precisa recuperar sua capacidade de pensar, submergida por uma militância oca que, nesses anos todos, só produziu desemprego e invisibilidade. Precisa, também, recuperar sua elegância incisiva. O que falta a esta cidade? Perguntou Gregório de Mattos, baiano, patrono da Poesia e do Pensamento brasileiro. Verdade! Sempre falta verdade! Mas, atualmente, falta Pensamento, matéria prima de qualquer Sociedade significativa."