domingo, 29 de março de 2009

Cidade pede um novo urbanismo



Milton Santos

A cidade de hoje paga um pesado tributo à forma em que cresceu, em busca da modernização. Cega pela ambição de progresso material, devotou as energias disponíveis ao seu crescimento, deixando, porém, quase tudo o mais à espontaneidade. Daí a agudização dos seus contrastes seculares, opondo uma Salvador imponente e limpa, vista e admirada pelos que passam, domesticada em nome da modernidade, habitada pelas atividades e camadas favorecidas e pelas novas classes médias, e outra Salvador, dita irregular, carente de serviços, onde se acotovela a maioria, isto é, os mais pobres. A cidade não apenas acolhe os pobres de sua região, mas, produzindo e agravando a separação, ela também, pelo seu próprio funcionamento, cria pobres.A realidade é pungente, mas será essa uma problemática insolúvel? Não mais estamos à época da celebração do quarto centenário da fundação de Salvador, em 1949, quando, diante das promessas de riqueza e da permanência do atraso, as elites mostravam sua perplexidade, falando de um “enigma baiano”. Já não é mais difícil localizar os problemas, enumerar suas causas e diagnosticar os remédios. Já sabemos como se formaram, evoluindo juntas, ainda que se dando as costas, essas cidades todas justapostas, contidas em Salvador. Urge, agora, quando festejamos seus 450 anos (nota do editor: época da publicação original desse artigo, em 1999), encontrar as forças para pensar, de modo unitário, um novo planejamento, talvez menos urbanístico e mais urbano; e certamente mais social e mais humano.
. Foi o único intelectual fora do mundo anglo-saxão a receber, em 1994, o prêmio Vautrin Lud, o "Nobel" da geografia. Milton Santos, este grande brasileiro, morreu em São Paulo-SP, no dia 24 de Junho de 2001, aos 75 anos, vítima de câncer

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