domingo, 12 de janeiro de 2025

Pasquim entrevista Fernando Coni Campos

 



Jaguar: Pra mim, a profissão ideal é ser cineasta. Cineasta leva tudo la boa vida, sem trabalhar quase nunca, e inclusive passando por intelectual. Faz um filme por ano, fatura paca, recebe elogios da crítica, e passa o resto do ano curtindo pelos bares sem fazer pô nenhuma. Esta é a minha visão do cineasta brasileiro.

Fernando Campos: Eu acho a mesma coisa em relação ao ator. E me parece que você tem uma grande vocação para ator. Um dos meus grandes sonhos é realizar um filme onde você seja ator.

Jaguar: até que enfim alguém reconheceu!

Fernando: Mas cineasta é rua da amargura mesmo...

Jaguar: Como é que um cara vira cineasta no Brasil?

Fernando: Hoje eu não sei. Há uns dez anos atrás era mais barato fazer um filme. Primeiro, ainda não havia a mística do colorido. Segundo, naquela epoca havia o Dico.

Marizalva Aleixo: Dico, do Banco Nacional de Minas Gerais.

Jaguar: A fada protetora dos cineastas.

Fernando: Os filmes geralmente eram feitos através da CAIC e dos papagaios do Banco Nacional de Minas Gerais.

Jaguar: Você nasceu onde?

Fernando: Na Bahia.

Demo: mais um baiano!

Fernando: A família de minha mãe é italiana. Uma família de fazendeiros exportadores. Meu pai era médico.

Jaguar: Você teve uma infância de alta classe média, né?

Fernando: É... Fiquei na Bahia até os dezesseis anos. Nessa época eu tinha um amigo de infância, o Araújo, e nós escrevemos juntos um roteiro. Chamava-se "Festa". Ai fui obrigado a sair da Bahia porque já não havia mais colégio pra mim. Fui expulso de todos (sussurros).

Jaguar: Você era o que se chama hoje de "garoto com carência afetiva"?

Fernando: Não, o meu problema era o oposto. Eu tenho seis irmãs e um irmão. Eu vivia num mundo feminino.

Jaguar: E não virou boneca!

Demo: Até agora não.

Ferdy Carneiro: Ainda há uma esperança.

Jaguar: Tinha tudo pra ser, só não foi de bobo. Aposto que quando adolescente você se sentia deslocado e uma figura eleita pelo destino.

Fernando: Deslocado sim.

Jaguar: Como todo adolescente.

Fernando: Mas isso foi uma coisa que me marcou profundamente. Sempre achei que eu não fazia parte do conjunto.

Jaguar: Você lia Baudelaire e Rimbaud e Nietzsche.

Fernando: Lia. A essa época surgia na Bahia a "Escola Baiana". Era Mário Cravo, Carybé, Jenner Augusto, Carlos Bastos, que faziam uma arte deslumbrada, uma arte folclórica. Um dia eu ia passando na rua e entrei numa exposição. Era a exposição de um pintor chamado Rubem Valentim. Não tinha nad que ver com a "Escola Baiana". Fui procurar Valentim. Era um maldito na Bahia. Houve um momento em que foi expulso de lá. Caíram na bobagemd e dar uma coluna para ele e ele desancou com os ídolos da Bahia. Uma semana depois, estava em seu atelier e chegou uma comissão composta de Mário Cravo, Carybé, Jenner Augusto, que deu a Valentim uma passagem de ida. Foi expulso da Bahia!

Jaguar: Daí foi pra São Paulo em estado de revolta contra a situação cultural na Bahia!

Fernando: Eu tinha um certo nojo por aquela coisa fácil, aquele folclorismo.

Jaguar: Quem era a tua turma lá?

Fernando: Eu freqüentava um bar onde freqüentavam Luis Lopes Coelho, Sérgio Millieu, Francisco de Almeida Salles, Delmiro Goncalves, Rebolo Gonçalves, Aldemir Martins, Antônio Bandeira, e principalmente a clã dos Abramo.

Ferdy: Fernando, voce é um dos primeiros caras que quis filmar Oswald de Andrade. "Tupy or not Tupy". (gritos) O que seria isso, e por que você não consegue realizar. Escuta, Jaguar, você disse que vida de cineasta é boa.

Jaguar: É porque esta entrevista é didática, dirigida às novas gerações.

Fernando: Baixou o espírito do Mário (de Andrade) nas coisas que as pessoas fazem sobre Oswald de Andrade. O Mário e o Oswald brigaram pela vida. Uma vez perguntaram ao Oswald por que ele tinha brigado com o Mário e ele respondeu: "Questão de morais de andrade". O nome do Mário era Mário Morais de Andrade. Tudo que se faz sobre Oswald, baixa o espírito do Mário e embanana tudo. E as pessoas são muito sérias. Tudo que é feito sobre Oswald de Andrade é incrivelmente sério. Não há nenhuma molequeira. é aquele (*). "Tupy or not tupy" era um filme realmente oswaldiano. Começava com um navio. Oswald em frente a um navio. Com uma francesa ao lado. O navio naufragava e Oswald se desdobrava em dois personagens. Um era o bispo Sardinha, devorado...

Demo: Esse era um bom papel pro Jaguar.

Jaguar: Eu não gosto de peixe, pô!

Fernando: O outro era Caramuru. "Caramuru, filho do fogo, sobrinho do trovão, atirou num urubu, errou a direção, acertou num gavião." Quando dava o tiro, os índios caíam de joelhos e gritavam: "Pajé! Paje!" Aí entrava uma música: "Bota o pajé na roda! Tira o pajé da roda!". É a história do Brasil contada numa base bem moleque, e todos os governadores do Brasil vão entrando e saindo da roda. Até que chegava na fase de "guerreiros com guerreiros fazem zigui zigui zá".

Ferdy: É um tratamento à maneira de Oswald de Andrade,

Jaguar: Você veio pro Rio. E bateu aqui em que ambiente?

Fernando - Com Aloisio Magalhães

Jaguar: Artes gráficas suíças.

Fernando: Não, naquela época Aloisio tava começando. Era, também, um grande boêmio.

Jaguar: Freqüentava todos os nossos bailes.

Fernando - Fechava o escritório e ia todo mundo pro Albino.

Glauco: Você acompanhou desde o movimento concretista até o cinema novo. Onde começa o cinema novo? É decorrente ou não do movimento conccretista?

Fernando - Não houve nenhuma relação. O cinema novo começa com os trabalhos de Nelson Pereira dos Santos.

Glauco: O cinema novo não é uma retomada da Semana de 22?

Fernando: Não. A maioria das pessoas era hostil à Semana de 22. Naquela época estavam impregnados de realismo socialista.

Ferdy: Na sua opinião, qual é o marco do cinema novo?

Fernando: Barravento. Eu gostava de todas as pessoas que faziam parte do cinema novo. Mas como time, eu não me entrosava. Virava grupo, clã. Era o time de futebol do cinema novo. Joaquim Pedro era ponta-esquerda. (gritos e sussurros)

Ferdy: E a Novacap?

Fernando: Em 58, 59 fui trahalhar na equipe de urbanismo de Lúcio Costa.

Jaguar: Urbanismo?

Fernando - Cortes, curvas de níveis, essas coisas. Era o início do desenvolvimento do Plano Piloto. Havia aquele negocio de A-U: Arquitetura, Oscar Niemever, Urbanismo, Lúcio Costa. Era um ambiente muito eclético: discutia-se desde técnica de futebol a prolegômenos de uma possível metafísica da esperança. O Instituto Nacional de Cinema Educativo queria fazer um filme sobre Brasília. Já tinham filmado alguma coisa , e pra salvar o filme. oueriam uma narracão do Lúcio Costa. Foram procurar o Dr. Leicio...

Jaguar: Por que você, que é um cara iconoclasta, chama ele de Dr. Lúcio?

Fernando: Ele só pode ser chamado de duas maneiras: ou Dr. Lúcio ou Velho Vadio. O que ele é. Tá sempre disponível, e o seu pensamento não é impregnado. Dr. Lúcio disse: "Eu não vou escrever um texto pra você. Vou te dar uma pessoa pra você fazer um filme sobre Brasilia". E eu fiz esse meu primeiro filme: Brasilia, Planejamento Urbano. Sempre que se falava em Brasilia, falava-se em arquitetura. Brasília parecia muito mais uma coisa do Oscar do que do Dr. Lúcio. Esse documentário foi meu primeiro filme.

Jaguar: Qual foi o resultado desse filme?

Fernando: Desatroso, como tudo que eu faço (sussurros).

Jaguar: Seu primeiro filme de longa-metragem foi Luba

Fernando: Eu morava na Rua Saint Roman e o o que eu conhecia era o Mau-Cheiro, Liliane, era isso que eu sabia falar.

Jaguar: Caio Mourão, Ferdy Carneiro, Nelson Camargo. 

Fernando: Eram esses os meus personagens. Eu nunca podia usar como personagens a gente do morro, cangaceiros. 

Ferdy: Esse filme seria uma crônica de Ipanema.

Fernando: O nascimento de lpanema. Foi um filme quase todo filmado em bar.

Jaguar: Eu vi uma cena desse filme sendo filmada na casa de Marcos Vasconcellos, na Rua Peri. Enquanto o pessoaI filmava lá fora, você bebia comigo, e nem tomava conhecimento do filme. Fiquei impressionado: o filme tava comendo lá e voce bebendo comigo.

Fernando: Ai é que entra aquela mística de seriedade. As pessoas são profundamente sérias, e acreditam nuns empulhos como enquadramento, distanciamento.

Jaguar: Quem estava praticando o distanciamento era voce. Com um copo na mão.

Fernando: Ao contrário, eu estava no total envolvimento, porque aquilo que estava sendo filmado tinha que ver comigo, com você, com a gente bebendo. E qualquer coisa que eu faça, se não tiver um componente lúdico, não interessa. Todo mundo que estava filmando ali estava cansado de saber o que estava fazendo. Eu sei exatamente o que eu vou filmar. E raramente eu repito. Acredito que a primeira filmagem é a melhor. E tenho tanta certeza das coisas, que não preciso ficar lá aporrinhando uma atriz, aporrinhando um fotógrafo.

Jaguar: Você é um criador de filmes. Você bola a historia, faz um roteiro e depois você dirige. É sempre assim?

Fernando: Em todos os filmes.

Ferdy: Você já foi acusado muitas vezes de querer ser o diretor e o roteirista e tal.

Fernando: Pelo contrário. Eu tava deixando eles trabalharem e fui tomar meu uísque com o Jaguar.

Jaguar: Foi daí que eu tive a idéia de que vida de cineasta era uma moleza.

Rose Rondelli: Todo mundo é muito sério. Eu acho você seríssimo. Daqui dessa sala, o mais sério é você.

Fernando: Eu faço questão de cultivar muito o "nervo lúdico". E esse nervo lúdico que me coloca fora da seriedade. Eu me exponho muito. A minha única defesa é não ter defesa. Não tenho medo do ridículo. Nunca posso ser ridículo, porque já se disse que há três coisas que não podem ser ridículas: uma crianca. um louco, e um poeta.

Rose: Você pode não ter defesas e ser uma pessoa séria.

Fernando: Séria, mas passando por cima. 

Rose: Seria séria entre aspas?

Fernando: "Séria". Um boy scout.

Ferdy: Além dos longas, você tem os curta-metragens. Seu filme com Newton Cavalcanti foi uma bela realização. Ainda assim, você se baseou nos dois pés: a gravura do Newton e Edgar AIIan Poe.

Fernando: É. Por acaso Newton tinha feito uma série de ilustrações para Grotesco Arabesco. Ele tem um sentido de despojamento total diante das coisas. Não tem nenhuma postura. Vê tudo como se estivesse vendo pela primeira vez. Não tem medo de esculhambar. Newton é um grande moleque.

Jaguar: Você, evidentemente, não deve ter muito senso prático. Hoje em dia, fazer um filme, é, principalmente, uma operação comercial e financeira. Aparentemente você trabalha sozinho. Ou tem algum gerente?

Fernando: Não, mas consigo arrumar pessoas mais loucas do que eu.

Jaguar: Quem é que financia as suas maluquices?

Fernando: Você viu o filme do Jorge Ben?

Jaguar: Claro. Aliás, adorei o filme.

Fernando: Esse filme foi financiado pelos dois caras mais loucos que existem no Brasil. Um é japonês voador chamado Massao Ohno (risos).

Jaguar: Massao Ohno certa vez publicou um livro meu. Imprimiu, ficou uma nota, e nunca pôs à venda. Eu não entendo esse cara.

Fernando: Maluco total. Outro é Aurora Duarte.

Jaguar: Hoje, quanto sai um filmezinho modesto?

Fernando: No mínimo, uns 600 milhões.

Jaguar: Esses 600 milhões não se encontra no Peg-Pag.

Rose: Assaitando o Peg-Pag?

Jaguar: E as pessoas continuam a fazer filmes. É isso que eu acho Impressionante. E quase impossível fazer um filme.

Fernando: A partir de 1968, houve uma mudança radical no cinema brasileiro. Tornou-se muito difícil fazer cinema. O cinema autoral entrou em crise... Pela exigência de produções mais caras – principalmente o uso da cor, que encarece muito o filme. E veio novamente a neo-chanchada.

Jaguar: Ainda Agarro Essa Vizinha.

Fernando: Agora, tudo indica que a política autoral voItou. A partir de São Bernardo, que é muito importante nesse sentido. Leon Hirszman retoma a tradição de cinema autoral. Aquela boa-vida que Jaguar disse que cineasta tem: pra fazer São Bernardo Leon penou. Poucas pessoas sofreram tanto pra fazer uma obra de arte. Leon esteve na rua da amargura, foi injustiçado, chamado de coisas incríveis pra fazer um filme digno: São Bernardo. Depois disso vieram SagaranaOs Condenados.

Jaguar -- Tá abrindo uma nova. Vocês estão vendo a luz no fim do túnel. Só espero que não seja um trem vindo na direção oposta.

Jaguar: Qual o seu relacionamento com os críticos?

Demo: Existe algum que te apóie?

Jaguar: Existe algum vislumbre de melhoria na crítica?

Fernando: Tem algumas pessoas que eu acho sérias, como o Fernando Ferreira, por exemplo.

Jaguar: Qual é o cara com quem você tem mais ligações de idéias?

Fernando: Julinho Bressane e Rogério Sganzerla.

Jaguar: Por falar nisso cadê o Sganzerla?

Fernando: Tá na Bahia. Vai voltar a trabalhar, tá com planos maravilhosos. Julinho chegou do México há uns quinze

dias atrás.

Jaguar: Essa pergunta é inconcebível numa entrevista de alto-nível como esta, mas você vai ter ter tempo para responder. Quais são os dez filmes que, digamos, levaria para uma ilha deserta? (risos).

Fernando: Perguntaram ao Chesterton quais eram os dez livros que ele levaria para uma ilha deserta. Ele disse: "Só levaria o "Manual dos Construtores de Barcos"."

Jaguar: Não sai por essa tangente não. Isso é importante pra localizar você.

Fernando: Filmes brasileiros?

Jaguar: Filmes de todos os tempos. Não são os melhores filmes, mas o mais importante pra você em determinada época. Pode ser Bambi, pode ser até um filme de Maciste. O primeiro filme de Maciste, com Steve Reeves, é maravilhoso. Esquece ilha deserta, se você não gostou da idéia.

Fernando: Eu teria que fazer uma pesquisa, para incluir o primeiro filme que eu vi. O primeiro filme que eu me lembro de ter visto foi Os Três Padrinhos. Hoje eu não sei qual é, porque esse filme tem três versões. Mas foi o primeiro filme que eu vi.

Rose: Por que, te impressionou?

Fernando: Me impressionou profundamente. (Sussurros) Outro filme que que impressionou bastante – como garoto, não como cineasta – foi Gunga Din.

Jaguar: Gunga Din! Eu também! Cary Grant chegando sozinho e dizendo pra 200 hindus: "Estão todos presos." Sarro!

Fernando: Outro filme em que eu me diverti muito, que me pareceu de um nonsense total, foi Escola de Sereias.

Rose: Passou outro dia na televisão, com Esther Williams.

Jaguar: Carlos Ramírez cantando: ao lado da piscina "Bonequinha Linda..."

Fernando: Todo um tropicalismo já tá naquele filme. Houve outro filme nesse esquema chamado Paixões Tormentosas, com Maria Antonieta Pons.

Todos: Aah! (gritos e sussurros)

Fernando : Esses filmes passavam no Cine Jandaia, na Bahia. Quando ela começava a dançar, jogavam camisas pra cima, tiravam o sapato, a chamada esculhambação total. Depois eu vi esse filme noutro cinema, o Popular. Esse cinema, atrás da tela, tinha uma espécie de arquibancada.

Rose: Atrás?

Fernando: O pessoal pagava meia, assistia o filme atrás da tela pelo avesso. Agora vamos dar um pulo: O Cão AndaluzJoana D’Arc do Dreyer, e tudo que é feito pelo Bresson.

Jaguar: Um Condenado à Morte Escapou. E um filme muito chato, mas é um filme perfeito.

Rose: Eu ouvi um negócio de "maldito" aí. Por que ele é maldito? E ele também se acha. Falou no começo da entrevista que tudo que fazia não dava certo.

Jaguar: É que todo mundo odeia ele.

Rose: Por que todo mundo odeia ele, Jaguar?

Jaguar: (enfurecido) Porque ele é odioso! Abominável!

Fernando: Cada vez mais eu acho que o grande problema do artista moderno é não se comunicar. "Eu procuro uma dificuldade."

Jaguar: Ô garotão, cumé quié? Explica isso aí.

Fernando: Eu acho que em arte – aquele negocio do Chacrinha – quem não se comunica se trumbica. Uma abelha se comunica, uma formiga se comunica, uma máquina se comunica. Comunicação é uma coisa mecânica. E o problema do artista é criar dificuldades. E dar informações novas. Fugir à redundância. Se expor à entropia, dispor à

entropia. Um artista, na medida em que comunica, renega a coisa mais importante que tem dentro dele, que é o dado novo que pode dar. Comunicação é pra formigas e abelhas, mas não pra homens. Os homens têm que interpretar.

Jaguar: Esta entrevista esta sendo feita no dia 26 de setembro de 1974. O que está pintando pro cinema brasileiro?

Ferdy: Fernando falou que a partir de São Bernardohouve um momento no cinema nacional. Depois disso houve outros. Vai Trabalhar VagabundoJoanna FrancesaA Rainha DiabaSagarana. Tá acontecendo uma maturidade no cinema nacional.

Fernando: Acho que sim. Parece que quase todos os diretores que naquela época estavam muito preocupados com uma visão pessoal das coisas estão querendo abrir um pouco.

Glauco: Em que você está pautando o seu cinema?

Fernando: Todo mundo está querendo incorporar dois tipos de experiência. A experiência que foi dada pelo cinema, autoral – e com o cinema novo houve um cinema como o de poucos países, do diretor ser dono de seu filme, fazer o que quiser com ele. Isso deu uma liberdade, deu em que a maior parte dos diretores brasileiros sabem dominar e articular a sua linguagem – junto com uma coisa mais ampla, vai conseguir um cinema de sucesso de público, Jabor (Arnaldo) fez o filme mais maldito que foi Pindorama e depois fez um grande sucesso de público, Toda Nudez Será Castigada.

Glauco: Nós estamos num impasse. Nós vamos caminhar com o cinema urbano ou com a estrutura do cinema novo?

Fernando: Acho que.a tendência de todo mundo é conjugar as duas coisas.

Jaguar: Seus filhos, têm quantos anos? 

Fernando: 15, 14, 6 e 7 meses.

Jaguar: Você concorda com a frase lapidar de Millôr Fernandes: "Filho é um nervo exposto?" (gritos e sussurros)

Fernando: Acho maravilhoso ter filhos.

Jaguar: Você é um artista maldito que acha que filho é uma dádiva divina. Que maldito de araque! (risos) (acusadores). Você nem ao menos toma absinto, como Baudelaire!

Fernando: E continuo frustrado por não ter feito um filme com você.

(Entrevista publicada em O Pasquim, em 12 de novembro de 1974)


segunda-feira, 30 de dezembro de 2024

Infraestrutura de Transportes Negligenciada na Bahia

 


Osvaldo Campos Magalhães*

 A Bahia vem tendo sua infra-estrutura de transportes terrestre negligenciada por conta de editais de concessão extremamente prejudiciais ao nosso estado.

Em três de setembro de 2009 foi realizado o leilão de concessão dos 680 kilómetros entre Salvador e Candido Sales, em Minas Gerais. A ISOLUX associada à brasileira ENGEVIX venceu o leilão envolvendo trechos da BR 324/ BR 116, na época, a maior concessão rodoviária do país, ofertando um deságio expressivo, numa modelagem que privilegiou a proposta com o menor valor do pedágio, desestimulando os investimentos e a qualidade dos serviços. Nenhuma grande empresa brasileira participou do leilão por discordarem do critério adotado que não estimulava grandes investimentos nas rodovias concessionadas.

Lembrar que a ISOLUX, empresa espanhola, não tinha nenhuma experiência no setor rodoviário no Brasil.

O maior investimento previsto seria a duplicação do trecho Feira de Santana – entroncamento com a BR 242, com prazo fixado em cinco anos, e que somente foi concluído 10 anos depois.

O Consórcio Via Bahia descumpriu inúmeras vezes as cláusulas contratuais, e, nos primeiros cinco anos, o maior investimento realizado foram as praças de pedágio.

A ANTT além de não rescindir o contrato de concessão permitiu a venda da concessão para um Fundo de Investimentos Canadense.

O corredor rodoviário Salvador - Feira de Santana é o mais importante acesso terrestre da capital, por onde transitam mais de 120 mil carretas/ano para a exportação da soja produzida no oeste baiano além de ser o mais importante acesso terrestre ao Porto de Salvador e todo complexo portuário da Baía de Todos os Santos.


A baixa tarifa de pedágio cobrada ao usuário, quase um terço do pedágio da linha verde, é conseqüência de uma medida demagógica, estimulada pela então ministra da Casa Civil Dilma Roussef, que vem trazendo graves conseqüências para a economia baiana.

Lembrar que a Bahia também foi prejudicada na privatização da malha ferroviária, pois o edital não estabeleceu metas de investimentos nem melhorias operacionais nos 1.530 quilômetros de ferrovias em nosso estado. 

A tenebrosa passagem ferroviária sobre a ponte Dom Pedro II é o fiel retrato da negligência dos governos federal e estadual com a infraestrutura de transportes terrestres na Bahia.

Agora, na renovação do contrato de concessão da malha ferroviária, a Bahia corre o risco de não receber novos investimentos e até mesmo ter sua infra-estrutura ferroviária excluída da concessão.

Ficou o estado da Bahia, ao longo dos últimos anos com sua infra-estrutura de transportes terrestres seriamente prejudicada, com impactos significativos na competitividade da economia.

Por fim, o Tribunal de Contas da União, condiciona a rescisão do contrato de concessão da Via Bahia ao pagamento de uma indenização bilionária ao fundo Canadense.

Inacreditável!

*Engenheiro Civil e Mestre em Administração. Foi diretor financeiro da CODEBA, Superintendente de Transportes do Governo da Bahia e Assessor Especial da FIESP.

Por 12 anos membro do Conselho de Infra-estrutura da FIESP .

quarta-feira, 18 de dezembro de 2024

Há 122 anos a primeira rua do Brasil, preserva a memória e revitaliza o centro de Salvador


Alan Alves*
Há exatos 115 anos, a primeira rua a ser fundada no Brasil, na cidade de Salvador, era batizada de "Rua Chile". Porta de entrada para o Centro Histórico da capital baiana, a via de cerca de 400 metros ficou marcada na história como palco do comércio elitista até meados da década de 70 do século passado. Hoje, após o processo de descentralização da área comercial da cidade e a decadência da região, a iniciativa privada e o poder público tentam resgatar o espaço como atrativo turístico e até mesmo reacender o glamour dos tempos áureos.

Um dos símbolos da rua, o Palace Hotel, inspirado no Flatiron Building de Nova York, foi reaberto há três meses após ser totalmente reformulado. Foi um dos cenários do romance "Dona Flor e Seus Dois Maridos", obra do escritor Jorge Amado. Era no luxuoso hotel que Vadinho, o primeiro marido de Dona Flor, costumava passar as noites jogando no cassino que funciou no local até 1946 - o espaço foi fechado após a proibição dos jogos de azar no Brasil.

Era no Palace, empreendimento que ocupa um quarteirão inteiro e que divide a Rua Chile com as ruas do Tesouro e a da Ajuda, que "as senhoras da Graça e da Barra exibiam os últimos modelos e algumas delas, as mais evoluídas, num requinte de desenvoltura, arriscavam fichas na roleta", como escreveu Jorge Amado. A ficção retrata o que foi a realidade.

Rua Chile, em Salvador — Foto: Alan Tiago Alves/G1
Rua Chile, em Salvador — Foto: Alan Tiago Alves/G1 
Antes de ser batizada de Chile, a rua onde fica o Palace já teve outros oito nomes. Virou, recentemente, protagonista do quinto livro escrito pela jornalista Gabriela Rossi. Na obra, intitulada "Rua Chile: honra e glória do comércio baiano", lançada no dia 28 de junho como parte das comemorações pelos 70 anos da Federação do Comércio da Bahia (Fecomércio-BA), a escritora conta a história do local, desde a sua origem em 1549, mesma data de fundação da capital da Bahia, até a tentativa hoje de revitalização do local. Do início do levantamento de informações até a publicação do livro, foram oito meses. A escritora se baseou em informações que colheu em jornais antigos, teses de mestrado e doutorado. Diz que o que mais a chamou a sua atenção durante o trabalho foi a prosperidade que a Bahia viveu no auge da Rua Chile. "A Bahia de outrora tinha um charme e um comércio próspero. Os costumes da época, o passeio de bonde, a cultura do estar na rua ao ar livre, diferente de hoje, que vivemos a cultura do shopping center. A rua, debruçada para a Baía de Todos-os-Santos, era símbolo da efervescência política e cultural", destacou.
Dos tempos áureos ao 'esvaziamento
'A professora de história da Universidade Estadual da Bahia (Uneb), Neivalda Freitas de Oliveira, que pesquisou a história da Rua Chile para o seu doutorado, diz que o traçado da rua que depois seria chamada pelo nome de Chile já estava desenhado na planta de fundação da cidade. A planta já estava pronta antes mesmo de os portugueses desembarcarem no Brasil. Segundo Neivalda, os portugueses já tinham plantas de como eles queriam que as cidades fossem e, ao chegarem em novas terras, eles aplicavam essas plantas. "Aportaram no Porto da Barra, mas acreditavam que ali era muito vulnerável ao ataque de inimigos. Escolheram, então, a parte alta da cidade, onde tinham uma visão panorâmica. Ali fundaram a cidade e foi ali onde nasceu a primeira rua, primeiro núcleo urbano", destaca. O primeiro nome da via foi Rua Direita de Santa Luzia. Essa e as demais nomenclaturas que a rua teve sempre se basearam em acontecimentos políticos ou econômicos da época, como lembra Gabriela Rossi. "O primeiro nome foi dado porque a cidade era murada e tinha duas portas, sendo uma delas a porta de Santa Luzia. Como ficava próximo, a rua ganhou esse nome. Conforme a cidade foi crescendo, ali virou o centro do governo, centro político do Brasil colonial. E o comércio foi se desenvolvendo no local, com a instalação de hotéis, lanchonetes, sorveteria, farmácia e lojas com muitos produtos importados. Com isso, a rua ganhou seu segundo nome: Rua Direita dos Mercadores, pela vocação comercial. Depois, na época do Império, também ganhou o nome de Rua Direita do Palácio, porque ali ficava a sede do governo", destaca a escritora.
Rua Chile, em Salvador, foi a primeira rua do Brasil — Foto: Reprodução/TV Bahia
Rua Chile, em Salvador, foi a primeira rua do Brasil — Foto: Reprodução/TV Bahia 
O nome de Rua Chile, conforme a historiadora Neivalda Freitas, veio somente em julho de 1902, uma homenagem do governo baiano a membros da esquadra chilena que estavam de passagem pelo Brasil por conta da morte de embaixadores do país após uma epidemia de peste bubônica. "O Rio de Janeiro era conhecido na época como o "cemitério dos estrangeiros", por conta das muitas epidemias. A embaixada chilena foi dizimada, e a esquadra do país, que estava participando da coroação do rei, passa no Brasil para buscar os caixões dos conterrâneos", conta. 

A escritora Gabriela Rossi diz que foi em função desse acontecimento trágico que a Câmara sancionou uma lei de reparação perante o Chile. A historiadora Neivalda Freitas, por sua vez, afirma que foi também uma forma encontrada pela Bahia para "se aparecer". "A Bahia, na época, não tinha tanta importância política e econômica e a recepção aos chilenos com festa foi também uma forma de se colocar como um lugar de destaque, de aparecer politicamente diante de um país que tinha a melhor esquadra, que foi o primeiro da América Latina a se urbanizar, que fazia os melhores negócios e que era o mais organizado politicamente. Foi mais de uma semana de festa", diz.

Em 1912, na época do governo de José Joaquim Seabra, 10 anos depois de ganhar o nome de Chile, a rua passou por uma reforma. Foi feito alargamento da rua e ela foi estendida até a Praça Castro Alves. Para isso, houve derrubada de prédios e até de uma igreja.


Rua Chile, em Salvador, foi fundada em 1549 — Foto: Reprodução/TV Bahia 

"Sempre foi uma rua de experimentos urbanos. Foi lá que teve a primeira linha de bonde, a primeira escada rolante, os primeiros postes de iluminação a gás, o primeiro hotel, que foi o Hotel Chile. Por isso, sempre atraiu a atividade comercial. Era um lugar do comércio de produtos mais finos, e não de produtos populares. Quem queria algo mais popular tinha que ir para a Baixa dos Sapateiros", destaca Neivalda.


No auge do comércio, a rua ditava moda, como lembra também a escritora Gabriela Rossi. A partir do final dos anos 70, no entanto, a rua foi perdendo força, sobretudo com a expansão urbana e migração do comércio mais para a região norte da cidade. "O comércio começou a ganhar força na região do Iguatemi, após a construção do shopping, e para a Avenida Tancredo Neves, que virou um novo corredor de lojas. Além disso, o governo foi transferido para o CAB [Centro Administrativo da Bahia]. Houve, assim, um esvaziamento e declínio da Rua Chile, já que a vida comercial da cidade caminhou para o outro lado", diz a escritora.

* Jornalista

quinta-feira, 31 de outubro de 2024

Viena ou Budapest?

Viena e Budapeste oferecem experiências únicas e atraentes, mas qual você deve escolher para visitar pela primeira vez? Reconhecemos a dificuldade em tomar esta decisão. Embora haja informações abundantes disponíveis sobre ambos os destinos, muitas vezes é difícil encontrar orientações claras sobre qual cidade se alinha melhor com suas preferências de viagem. Este artigo tem como objetivo fornecer uma comparação imparcial entre Budapeste e Viena e, esperamos, ajudá-lo a escolher a melhor cidade para visitar.

Visitas de três dias são suficientes para conhecer os principais pontos turísticos imperdíveis de Budapeste. Esta é uma capital compacta com boas ligações de metro e bondes. Você pode atravessar a cidade facilmente - ir do Castelo de Buda, de um lado da cidade, até os Banhos Termais Széchenyi, do outro, leva menos de uma hora em transporte público.

Dito isto, Budapeste tem muitos segredos escondidos na manga. Você poderia facilmente passar uma semana inteira aproveitando happy hours baratos nos bares em ruínas, tomando banho nos spas Art Déco e visitando ilhas no Danúbio. Se vier no verão, você também pode estender a estadia para incluir as galerias de arte e ruas de paralelepípedos de Szentendre, as águas ricas em minerais do Lago Balaton e a rústica região vinícola de Tokaj, a leste. Viena é grande e repleta de paisagens. Os aficionados por história e amantes da cultura vão querer pelo menos três ou quatro dias para conferir as atrações da lista de desejos. Isso porque os principais palácios e os museus mais envolventes merecem, cada um, pelo menos meio dia para si. Você também precisará de algum tempo para passear pela área da Cidade Velha e conhecer os famosos cafés vienenses.
Se você está ansioso para explorar todas as facetas de Viena, certamente precisará de muito mais tempo do que apenas uma pausa média na cidade. Semanas inteiras podem ser passadas aproveitando as praças movimentadas e os parques repletos de estátuas. Além do mais, há muitos passeios de um dia na região, que vão desde as florestas de pinheiros de Wienerwald até o sopé ascendente dos Alpes de Salzburgo.
Viena no verão é atraente. Quando o sol brilha, os parques e bares da cidade ganham vida. O melhor clima geralmente é entre junho e agosto, mas cuidado, pois as coisas podem ficar quentes e úmidas, com temperaturas acima de 30 graus Celsius. A boa notícia é que existem algumas praias e locais para nadar ao longo do Danúbio para se refrescar. Se você preferir coisas um pouco mais amenas, maio e setembro também costumam ser secos e quentes.
Por outro lado, Viena no inverno é um verdadeiro país das maravilhas. A capital austríaca acolhe alguns dos mercados de Natal mais encantadores da Europa. Você encontrará aqueles que preparam chocolates quentes e vinho quente na Rathausplatz e nos terrenos do Schloss Schönbrunn. Eles entram em pleno andamento em dezembro, quando é comum receber poeira de neve e temperaturas abaixo de zero – serão necessárias botas e casacos de lã.
O final da primavera e o início do outono são quando os moradores costumam dizer que Budapeste está no seu melhor. As temperaturas médias ficam em torno de 23-25 ​​graus em maio e setembro. Também não há sobrecarga de chuva. E é perfeito para evitar as multidões de turistas no meio do verão que acontecem durante os feriados europeus. Também há algo a ser dito sobre visitar Budapeste no meio do inverno. Mercúrio despenca entre novembro e março, e não é incomum ver o Danúbio congelar com enormes pedaços de gelo. Além do mais, os cortiços e ruas laterais do Bairro Judeu e as áreas históricas do centro da cidade exalam atmosfera em dias frios e com neve. Apenas certifique-se de levar as térmicas!
Budapeste, com a sua rica cultura histórica, perfeitamente interligada com uma vida noturna energética, estabeleceu-a como um destino de eleição para uma gama diversificada de viajantes. 

Os mochileiros gravitam em torno dos exclusivos bares em ruínas do Bairro Judeu, onde podem deliciar-se com cervejas húngaras excepcionalmente acessíveis em meio a pátios ecléticos.
Enquanto isso, aqueles com foco cultural podem optar por mergulhar na história do império húngaro no Castelo de Buda ou prestar homenagem no comovente museu Casa do Terror, que investiga a era opressiva da Stasi. No entanto, se a sua preferência for por praias ensolaradas, Budapeste pode não parecer a opção perfeita. Situados numa região sem litoral, tanto a cidade como o país são desprovidos de litoral. Além disso, embora existam parques, eles estão predominantemente localizados na periferia da cidade, tornando Budapeste uma experiência predominantemente urbana.
Repleta de belos palácios, cervejarias austríacas, florestas alpinas, cafés descolados, galerias repletas de arte e uma vida noturna agitada, Viena satisfaz todos os tipos de viajantes. Você pode facilmente preencher viagens inteiras apenas nos museus. 

Os dias podem ser passados ​​​​passando entre cafeterias. As noites podem ser passadas em espetáculos de ópera ou bebendo cervejas espumosas em bares modernos. Não pense que Viena é o grande ar livre austríaco. Este pode ser o país dos Alpes, mas as montanhas ainda ficam a pelo menos uma hora de viagem de trem a oeste. Além do mais, não há praia à vista. O melhor que a Europa Central, sem litoral, pode oferecer em termos de areia e água são algumas áreas artificiais para natação ao longo do rio Danúbio.
Viena foi eleita por “The Economist” a cidade com melhor qualidade de vida ​​do mundo, à frente de Zurich e Copenhagen. Está também entre as mais seguras e com maior diversidade de atrações culturais. Claro, você precisará ser esperto como se estivesse viajando para qualquer lugar. Furtos de carteira, guias turísticos falsos e golpes de táxi ocorrem, embora não sejam comuns como em outras capitais europeias.
Locomover-se deve ser fácil na capital austríaca. O U-Bahn é ridiculamente eficiente. Ele se conecta com linhas ferroviárias e bondes acima do solo em uma rede de bilhete único para tornar a viagem de A a B um prazer, não uma tarefa árdua.
As tarifas de viagem única custam € 2,40, enquanto um cartão de viagem de 48 horas custa € 14,10. Não fique tentado a andar de metrô sem comprar as passagens. Isso é possível porque as plataformas não são fechadas, mas há verificações regulares e multas pesadas correspondentes.
Em termos de preço, Budapeste está certamente entre as capitais europeias mais baratas. Uma cerveja grande pode custar apenas 500 HUF (1,50 euros). A comida em um restaurante de médio porte custará entre 2.000 HUF e 3.000 HUF (6-9 euros). As noites em hotéis também são visivelmente menores do que na vizinha Viena. 

Ponto negativo para Budapest são as estações ferroviárias. Sujas, mal sinalizadas e sem estrutura de apoio aos turistas. Já em Viena, são majestosas, limpas e organizadas. Inaugurada em 2015, Viena Hauptbahnhof foi eleita pelos e usuários europeus
 como a segunda melhor estação ferroviária do continente.

sexta-feira, 13 de setembro de 2024

Cemitério e o “Carrossel Baiano”.


Manuel Ribeiro*

Confesso que ontem o desempenho do Bahia irritou-me. Nos anos 70 do século passado o técnico da Holanda Rinus Michels inventou o "carrossel holandês". Carrossel porque os jogadores se movimentavam dentro de campo sem qualquer posição fixa. Ou seja, os jogadores se movimentavam, giravam no campo, mas a bola com rapidez era finalizada para o gol adversário. O treinador Rogério Ceni, talvez inspirado na Holanda, inventou o "carrossel baiano". Nele quem gira a bola e não o jogador. O objetivo da bola é de ir, de pé em pé, do goleiro ao centroavante e do centroavante ao goleiro passando pelo maior número possível de jogadores até ser, como é óbvio, tomada pelo adversário. O objetivo, creio, não é o gol adversário é o passe para o companheiro de time e levar o maior tempo possível com a posse da bola. Talvez o técnico Ceni (ou o Citi) esteja querendo que o Bahia entre para o Guinness com o recorde de posse de bola em partida e nos campeonatos. Só assim consigo entender porque o goleiro do Bahia foi um dos jogadores que mais recebeu passe e distribuiu passe. Um autêntico volante ou líbero. A bola com o Bahia na área do Flamengo acabava indo parar nas mãos, desculpem-me, nos pés do excelente goleiro do Bahia para reiniciar o movimento do "carrossel baiano". Ceni foi goleiro recordista em fazer gols no adversário, agora pretende ser o técnico recordista em posse de bola. Sem gols, claro.

Minhas escusas ao Ceni e ao Citi, sou velho e do tempo em que futebol era bola da rede...

*Advogado

quinta-feira, 12 de setembro de 2024

Infraestrutura e Educação prejudicando a Economia da Bahia

 

Osvaldo Campos Magalhães *

Enquanto alguns Estados do Nordeste seguem investindo na melhoria do ensino público e na infraestrutura de transportes, a Bahia depois de 17 anos seguidos do mesmo grupo político, vai ficando para trás.

A Bahia tem sérias deficiências estruturais, destacando-se a Educação a infraestrutura de transportes e a Segurança Publica. A deficiência nesses setores acaba prejudicando toda economia, afastando investimentos industriais,  investimentos no setor de turismo e setores de alta tecnologia. 

Uma das maiores empresas do Estado da Bahia , a Brasken, acaba de inaugurar um grande centro tecnológico e de pesquisas no Estado de  Massachusetts onde se concentram algumas das melhores universidades do mundo. 

Enquanto os estados do Ceará e Pernambuco vem priorizando a Educação e a Infraestrutura,  a Bahia vem investindo em projetos equivocados como o Porto Sul e Ponte Salvador - Itaparica. Perdemos nossa malha ferroviária de 1.530 kms, por omissão de nossa classe política e empresarial. A hidrovia do Rio São Francisco, outrora conhecida como “Rio da Integração Nacional” encontra-se abandonada. Nosso mais importante corredor rodoviário, ligando Salvador a Feira de Santana e dali a Cândido Sales foi desastrosamente concessionado à iniciativa privada, sob a coordenação da Ministra Chefe da Casa Civil, Dilma Roussef, pelo critério da Tarifa Mínima de Pedágio e baixos investimentos, que afugentaram todas as grandes empreiteiras e entregou esse corredor vital para nossa economia à inexperiente ISOLUX, sem nenhuma tradição no setor rodoviário. Toda a BR 101 foi duplicada nos estados do Nordeste e não avançou na Bahia. Os governos dos estados de Pernambuco e Ceará construíram modernos terminais portuários, operados pela iniciativa privada, capazes de receberem os maiores navios do mundo. Com força política conseguiram viabilizar a transposição das águas do rio São Francisco, obra que não beneficiou o semiárido da Bahia.

O ensino público na Bahia figura entre os 3 piores do Brasil e a taxa de analfabetismo está entre as maiores. Enquanto isso, o Ceará avança quando o assunto é a oferta de uma educação de qualidade. O Estado apresenta o melhor resultado do Brasil, ao lado de São Paulo, no Índice de Oportunidades da Educação Brasileira (Ipen), 2023, com nota 5,5. Já Pernambuco possui a maior rede de ensino integral do país no Ensino Médio. Atualmente, são 438 escolas que ofertam esta modalidade, totalizando 62% das matriculas de estudantes que acessaram o Ensino Médio. O índice supera a meta do Plano Nacional de Educação, prevista para o ano de 2024.

 Não podemos continuar com ufanismo. A nossa situação é grave. Por incompetência e falta de planejamento estratégico.

*Engenheiro Civil e Mestre em Administração. Especialista em Planejamento da Infraestrutura de Logística e de Transportes.