terça-feira, 30 de julho de 2024

Mercados Gastronômicos na Europa

 Se é verdade que uma viagem perfeita também inclui comida, também é verdade que o melhor local para a saborear é em um mercado gastronômico! Com centenas de estandes e produtos frescos, hoje os mercados de toda a Europa estão cada vez mais populares, tornando-se uma atração imperdível. É aqui que nascem as novas tendências, enquanto se preservam os sabores mais autênticos da região.

Cidades europeias vêm transformando seus mercados tradicionais em verdadeiros points gastronômicos; conheça alguns imperdíveis 

1. Borough Market – Londres, Inglaterra

Quem lidera o ranking, com mais de 500 mil menções, é o Borough Market, em Londres. Localizado em Southwark, a dois passos de locais como a London Bridge e a London Tower, esse mercado Vitoriano é o mais antigo da cidade.


2. La Boquería – Barcelona, Espanha

A Espanha ocupa o segundo lugar no pódio graças ao mercado La Boquería. Localizado na Rambla de Barcelona, o icônico mercado catalão com estrutura de ferro é um dos lugares mais emblemáticos da cidadee aparece em mas de 170 mil publicações turísticas.


3. Markthal – Rotterdam, Países Baixos

Marcado mais de 116 mil vezes, o Markthal de Rotterdam, nos Países Baixos, possui cerca de 100 estandes. Aqui você pode comprar e saborear iguarias de diversas  partes do mundo. Além disso, Markthal é uma verdadeira joia arquitetônica – não deixe de reparar na obra ‘The Horn of Plenty’, que cobre grande parte do teto. 

5. Naschmarkt – Viena, Áustria

Graças à sua ampla oferta gastronômica internacional e aos inúmeros locais da moda, o Naschmarkt de Viena, na Áustria, tornou-se um ponto de encontro para os locais. Além disso, muitos viajantes vêm até aqui para desfrutar do emblemático mercado de pulgas aos sábados. O local aparece em mais de 78 mil menções 

6. Torvehallerne – Copenhague, Dinamarca

As belas salas envidraçadas de Torvehallerne, na capital dinamarquesa, são uma explosão de cores que aparece em quase 60 mil posts. Copenhague tornou-se um dos principais destinos gastronômicos nos últimos anos, e um dos pratos estrela do mercado é o Smorrebrod, um sanduíche aberto cuja versão mais típica é com arenque ou salmão.

7. Mercado São Miguel – Madrid, Espanha

Considerado o mercado gastronômico mais emblemático de Madrid, o Mercado São Miguel foi inaugurado em 1916  e já foi publicado mais de 59 mil vezes. Uma das experiências gastronômicas imperdíveis por aqui são os sorvetes artesanais de Joan Roca, o famoso chef com três estrelas pelo Guia Michelen.  

8. Leadenhall Market – Londres, Inglaterra

Com pouco mais de 59 mil menções, o Leadenhall Market está localizado no coração de Londres. A sua arquitetura espetacular supostamente serviu de inspiração para o próprio Beco Diagonal nos filmes de Harry Potter. O local era apenas um mercado de carnes quando foi construído no século 14, mas hoje há inúmeros bares, lojas e restaurantes em seu interior 

9. Mercado Mathallen - Oslo
Oslo inclui dezenas de lojas especializadas, cafés e restaurantes que oferecem comidas e bebidas de alta qualidade.
Mathallen está repleta de produtos interessantes de pequenos produtores noruegueses e internacionais, e tanto chefs profissionais quanto pessoas comuns vêm aqui para comprar ingredientes fabulosos.
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 10. Mercado Central Budapeste 

Situado em um belo edifício de 1896, o Mercado Central (Vásárcsarnok) é um excelente local para experimentar alguns pratos da culinária local e comprar ingredientes e lembranças do país.Entre as especialidades destaca-se o kolbász (salame picante), e o queijo de ovelhaHá também restaurantes onde se podem experimentar pratos locais como Lángos, que é a massa de pão à base de levedura frita em óleo e coberta com diversos ingredientes como creme de leite, queijo e alho.

Fonte: Eating Europe Guide




terça-feira, 23 de julho de 2024

Salvador, Bahia: o tesouro africano do outro lado do Atlântico

Música, religião e danças refletem uma tradição de folia e rebeldia na Bahia, o estado mais africano do Brasil.

POR PEDRO H. DE ABREU
FOTOS DE STEPHANIE FODEN



É POSSÍVEL OUVIR o som furioso dos tambores a quilômetros de distância e ver as pedras do calçamento se moverem discretamente sob os seus pés. Os percussionistas estão chegando. Torçamos para que as construções centenárias de Salvador consigam sobreviver a mais um desfile.

Enquanto São Paulo é conhecida como o motor financeiro do país e o Rio ganha como a cidade mais bela do mundo, o estado da Bahia é mais conhecido por sua cultura negra vibrante. Uma expressão local reflete com precisão a vitalidade artística dos baianos: baiano não nasce, estreia.

Em nenhum outro lugar a celebração da cultura é mais evidente do que em Salvador, a capital do estado da Bahia. Algo nessa cidade evoca a criatividade. Pode ser que tenha relação com o fato de que, em uma cidade onde 3 a cada 10 pessoas estão desempregadas, a inventividade não seja um hobby ou uma escolha, mas uma forma de sobreviver a mais um dia.


No Brasil, a expressão cultural é uma forma de protesto. Festas como o Carnaval e o São João, na Bahia, conhecida por celebrações elaboradas, normalmente expõem divisões complexas entre pessoas de diferentes classes. A nova atmosfera de extrema-direita no país dividiu ainda mais os cidadãos brasileiros.

Mais de um terço dos escravos capturados na África durante a escravidão foram trazidos ao Brasil para trabalharem na indústria do açúcar. Em alguns momentos, Salvador pode parecer bastante portuguesa, mas as raízes da cidade remontam ao Oeste da África. Da culinária superapimentada à musicalidade única e às fascinantes cerimônias religiosas marcadas pela dança, essa cidade é um grande turbilhão de sentidos.

Em 1888, o Brasil tornou-se o último país do Ocidente a abolir a escravidão, um vergonhoso recorde mundial que poucos estão prontos para colocar em pauta. Talvez em Salvador, que já foi o maior porto de comercialização de escravos das Américas, seja o local onde as pessoas mais desejam falar a respeito, utilizando o improvável pretexto das bandas de percussão. Faz sentido quando se pensa a respeito: tente tocar um enorme tambor com bastante força e conseguirá chamar a atenção das pessoas. Os garotos percussionistas atraem centenas de milhares que se atentam ao seu pedido por igualdade racial.


O ritmo predominante do Carnaval de Salvador, que atrai anualmente quase um milhão de pessoas, é chamado de samba-reggae, um gênero musical às vezes reproduzido por grupos com até 100 percussionistas. No samba-reggae, os principais ritmos do Brasil e da Jamaica, que tradicionalmente incluem protestos cantados e acompanhados por uma batida animada, ganharam um furor bruto, simples e alegre.

O Carnaval da Bahia não é feito somente de um deboche despreocupado. Os foliões ganham um presente inesperado. O Carnaval envolve política, ao estilo brasileiro. Todos os anos, blocos-afro, expressões culturais que lutam para promover a cultura negra por meio da música, dança e moda, tradicionalmente abordam complexas questões políticas durante os desfiles realizados em celebração a seus ancestrais africanos.

Durante a escravidão, estima-se que 1,7 milhão de pessoas, a maioria trazida de onde hoje é Benim, foram vítimas de tráfico para trabalharem forçosamente na Bahia. E os blocos afro não querem que as pessoas esqueçam disso. Luma Nascimento, ativista e vice-presidente de um desses blocos, conhece bem a ligação entre festa e política. "É possível ver uma divisão étnica mais clara durante o Carnaval", afirma ela. "Aqueles que podem pagar para terem acesso a um camarote são normalmente brancos, ao passo que as pessoas que os servem são, predominantemente, pessoas negras".

Para dar voz à insatisfação deles em relação à desigualdade racial ativistas como Nascimento e outros foliões que pensam da mesma forma entoam gritos de protesto contra as visões políticas que não aceitam.

Em outras partes da região, as pessoas lutam para preservar a cultura e as tradições nas quais nasceram. Quanto mais você se distancia de Salvador e se aproxima das pequenas cidades e vilarejos do estado da Bahia, mais difícil fica de acreditar que se trata do mesmo estado onde acontece a maior celebração de rua do planeta. Cada vez mais desertas, as estradas perdem o asfalto aos poucos.



Em Santiago do Iguape, mais de 96 quilômetros a oeste da capital, a vida tem um ritmo menos acelerado.  "Só queremos pular no rio no fim do dia, ver as catadoras de mariscos trabalhando, cuidar de nossos idosos e ouvir nossos homens e mulheres cantarem e conversarem", diz Adinil de Souza, líder da comunidade local. Ocupado por descendentes de quilombolas, esse pequeno vilarejo não tem nenhuma dificuldade em manter as coisas como elas sempre foram.

Desde o início, as celebrações carnavalescas aqui são impiedosamente marcadas por grupos de crianças locais que se cobrem com lençóis e máscaras sinistras e percorrem o vilarejo assustando e afugentando os espíritos do mal.

Quando indagados sobre o fato de os espíritos do mal serem a manifestação de senhores de engenho do passado, os moradores preferem não entrar em detalhes. "Eu não saberia dizer", afirma de Souza.

Ao fim do dia, todos em Santiago do Iguape estão em suas casas — o imponente Rio Paraguaçu garante abundância aos pescadores que desbravam suas águas nas primeiras horas da manhã.

*Artigo publicado na revista National Geographic.


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sábado, 13 de julho de 2024

Uma História muito curta da vida na Terra

Henry Gee*

Por volta de 700 mil anos atrás, os episódios glaciais foram muito mais longos que os intervalos quentes que os separaram. A Terra estava agora em um estado mais ou menos permanente de glaciação. As pausas eram quentes, inebriantes e breves.

A vida não só sobreviveu, ela prosperou. Regiões da Eurásia não oprimidas pelo gelo estavam cobertas de estepe verde, que suportava uma tonelagem quase incalculável de caça. Na primavera e no verão, bisões migravam pela terra em rebanhos tão grandes que levaria dias para vê-los passar aos milhões. Eram acompanhados por cavalos e veados gigantes com chifres incrivelmente extensos; vez ou outra a eles se juntavam espécies de elefantes, como mamutes e mastodontes; o resfolegar e a pisada dos rinocerontes lanosos também iam junto. Os invernos eram só um pouco menos cheios. Muitos animais migravam para o sul, mas as renas permaneciam na neve. Toda essa carne em movimento era um ímã para carnívoros como leões, ursos, felinos-dente-de-sabre, hienas, lobos — e os duros e resistentes herdeiros do Homo erectus.

Os hominíneos responderam à intensificação da era do gelo com cérebros e reservas de gordura maiores.

Isso foi, por si só, notável. Como observamos, cérebros são órgãos que custam caro para funcionar. A economia da natureza geralmente exige que um animal inteligente tenha apenas um mínimo de gordura, porque, se a comida acabar, ele será astuto para encontrar mais em outro lugar antes de morrer de fome. São apenas os menos iluminados entre os mamíferos que precisam acumular gordura. Os humanos, porém, são exceção. Os humanos mais magros armazenam uma quantidade superior de gordura que a dos macacos mais gordos. Animais com cérebros grandes que têm uma boa camada de isolamento têm tudo de que precisam para lidar com o frio interminável da era do gelo.

A gordura tinha outro propósito também. A diferença entre os sexos é em grande parte uma questão de acúmulo dela. O corpo de um homem adulto contém, em média, cerca de 16% do peso em gordura; o de uma mulher, 23%. Essa diferença é significativa, uma vez que energia embutida é um pré-requisito essencial para a fertilidade e a gravidez, principalmente em tempos de escassez. Como tal, os mecanismos de seleção favoreceram as fêmeas roliças com curvas arredondadas, por terem as melhores perspectivas de reprodução.

Cérebros grandes, no entanto, também podem apresentar problemas, uma vez que levam a cabeças grandes. Bebês humanos, com suas cabeçorras, têm dificuldade para nascer. Os bebês só nascem graças a uma torção de noventa graus da cabeça durante a passagem pela pélvis da mãe e a emersão pela vagina. Até muito recentemente, o custo disso era suportado pela mãe, que corria um alto risco de morrer no processo. Os bebês humanos vêm ao mundo em um estado relativamente desamparado. Se esperassem até estar mais desenvolvidos e talvez mais capazes de lidar com o mundo, poderiam ser grandes demais para passar pelo canal do parto, e sequer nasceriam. Assim os nove meses de gravidez representam um período de trégua desconfortável entre o bebê, que precisa ser capaz de lidar sozinho com o mundo exterior o mais rápido possível, e a mãe, que, se esperasse mais, teria de jogar dados cada vez mais viciados com a morte.

É um meio-termo que não agrada a ninguém. Uma espécie em que os bebês nascem totalmente indefesos e, mesmo se nascerem com sucesso — de mães que correm alto risco de morte —, levam muitos anos para atingir a maturidade, provavelmente vai se extinguir muito depressa. A solução para isso, portanto, foi uma mudança dramática, mas no outro extremo da vida: a menopausa.

A menopausa é outra inovação evolutiva exclusiva dos humanos. Em geral, qualquer criatura, mamífero ou não, que seja velha demais para se reproduzir envelhece e morre na sequência. Em humanos, porém, as fêmeas que deixaram de se reproduzir na meia-idade podem desfrutar de muitas décadas de vida útil — e, portanto, criar mais filhos. 

O aumento do cérebro e o consequente desamparo dos bebês foi acompanhado pelo surgimento das avós: mulheres na pós-menopausa que estariam ali para ajudar as filhas a criar os netos. A lógica da seleção natural não diz nada sobre quem realmente cria os filhos até a maturidade — contanto que sejam criados por alguém. Ocorre que uma mulher que deixa de se reproduzir para ajudar as filhas a criar os netos gerará, em média, um número maior de descendentes do que se ela mesma permanecesse reprodutiva, competindo por recursos com suas filhas.

*Henry Ernest Gee é um paleontólogo britânico, biólogo evolutivo e editor sênior da revista científica Nature

quinta-feira, 11 de julho de 2024

Defendendo Djokovic


John McEnroe*

"Ele tem lutado contra isso durante toda a sua carreira. Sim, ele se alimenta de energia negativa. E sim, eu me alimentei disso às vezes. Mas eu odiei isso de certa forma. Você quer que as pessoas gritem contra você esperando que você perca? Só porque você é tão bom, eles começam a puxar o outro cara sem nenhuma razão além de você ser tão bom. Essa é a razão pela qual as pessoas vão contra ele, na minha opinião. Ele é como o Darth Vader comparado a… olha, há dois dos maiores artistas de classe que já vimos jogar tênis. Rafael Nadal e Roger Federer. Quem pode se comparar a eles em termos do que trouxeram para a mesa e da forma como as pessoas os amam ? Ninguém. E então esse cara, Djokovic, teve a coragem de entrar e invadir a festa", disse McEnroe que fez a previsão que o sérvio pode sofrer maior hostilidade após sua atitude do último jogo.

"Então é como 'Que tal me respeitar depois de tudo isso?' Pense nisso... aqui está um cara que fez uma cirurgia há um mês. As chances eram de 10 ou 20% de que ele jogaria este torneio. Ele está pensando 'Estou ajudando este torneio'. O que ele é. 'Por que não recebo um pouco de amor quando estou enfrentando um cara que é 15 no mundo?' Quem não fez nada comparado a ele. Sim, talvez houvesse alguns dinamarqueses fazendo 'Ruuuune' e eu entendo que as pessoas querem ver uma boa combinação. Todos nós queremos ver um bom jogo. Mas você tem que respeitar a grandeza que você vê. É fácil ser o motorista do banco de trás e deixar para lá. Mas é com isso que ele tem lidado há 10, 15, 20 anos, que as pessoas têm feito isso. Admiro a coragem que ele teve em dizer isso ali. Isso exige alguma coisa. De certa forma, isso colocará mais pessoas contra ele. Ele não merece isso nesta fase. Precisamos dele e ele tem sido ótimo demais para o nosso jogo.

*Foi o melhor jogador de tênis em 1979. Venceu 8 torneios Grand Slan.