quarta-feira, 28 de setembro de 2022

Conheço as portas do céu

Oliveiros Guanais* Vou começar este relato com algumas considerações preliminares. Há umas centenas de anos atrás, um cara chamado Isaac Newton, preguiçosamente deitado debaixo de uma macieira, recebeu uma maçã na cabeça e só não gritou eureka, como o Arquimedes, porque certamente não o conhecia. Mas, naquele momento, Newton, que foi um dos maiores gênios da ciência de todos os tempos, encontrou inspiração para formular a teoria da gravidade ( a matéria atrai a matéria...). Pois é. A partir de então, ficou-se sabendo que existe uma coisa chamada lei da gravidade, que, entre nós, deste compenetrado planeta, tem a terra como núcleo de atração mais forte. E se pisamos a terra, é porque ela está abaixo de nós. Logo, esse centro de força atrai para baixo todos os corpos, sólidos, líquidos e até gasosos. O homem flutua apenas nas naves espaciais . Aqui, ele está preso a terra, à sua mãe Gaia, à qual retornará como pó que é ( pulvis est ), inevitavelmente. E o próprio corpo humano é estruturado de forma a sentir no seu interior os efeitos da gravidade. Vamos considerar um importante sistema do nosso organismo: o circulatório, que tem, entre os seus componentes, um volume grande de líquido, o sangue. O sangue passeia, indo e voltando por um conjunto tubular ( artéria e veias), impulsionados pela bomba do coração. Além da bomba cardíaca, há um trabalhinho também das artérias, que se dilatam quando recebem um jato de sangue mandado pela bomba cardíaca ( sístole) e se contraem depois, ajudando a empurrar o sangue para a frente, funcionando como uma bomba periférica. Feita a sua viagem de ida pelas artérias, o sangue volta pelas veias em direção ao coração, e não vão para as partes baixas, atraídos pela gravidade, quando a pessoa está em pé, porque as veias têm válvulas que impedem esse retorno. É mais ou menos assim que as coisas funcionam. Há, lembrei-me agora: tem ainda um mecanismo nervoso, chamado neurovegetativo, formado por dois componentes que atuam de modo antagônico, chamado simpático e parassimpático (vagal ). Através do simpático o coração bate acelerado (taquicardia) e com mais força, os vasos se contraem, mecanismos que ocorrem quando há necessidade de mais sangue em certos órgãos. ( O vago atua, como foi dito, em sentido contrário. O seu predomínio faz as coisas andarem de modo inverso: o coração bate devagar ( bradicardia), etc. Existem situações em que o equilíbrio se rompe, e o sistema se desregula, levando a uma predominância do vago, numa reação que é chamada vasovagal. Os vasos se dilatam e os mecanismos compensatórios não dão conta do equilíbrio necessário. Estando o indivíduo em pé, o espectro de Newton aparece, a gravidade marca presença e o sangue vai para as partes baixas, resultando em redução da quantidade destinada ao cérebro, que acusa de imediato a sua falta. Faltando sangue, falta oxigênio, e faltando oxigênio, o cérebro, que só tem metabolismo aeróbico ( feito com oxigênio ) resolve protestar, fazendo greve. Deixa de trabalhar, e o apagão se instala: o sujeito perde os sentidos. É a chamada lipotímia ou síncope, que pode ser provocada também por falta de glicose no cérebro, porque a dieta dos neurônios, células nobres, cheias de realeza, tem que incluir no cardápio glicose regada com o vinho de oxigênio. Exigente, não é? Os desmaios matinais que ocorrem nas igrejas durante o santo ofício da missa, principalmente com pessoas idosas em jejum, tem explicação dessa maneira: baixa de glicose e mecanismos reguladores do sistema circulatório comprometidos pela idade. Será que alguém leu até aqui? Se não leu, está desculpado, porque este lenga-lenga está mesmo muito longo e chato. Mas vamos em frente, para um outro capítulo, que tem eu como personagem. No dia 12 deste mês de março, fui ao lançamento de um livro do filósofo Marcos Bulcão, um jovem talentoso que eu ajudei a nascer, porque anestesiei a mãe no parto e dei assistência neonatal ao recém-nascido, que veio à luz meio perrengue, dando-me susto e trabalhos. Mas recuperou-se logo, tornando-se um brilhante intelectual . Lá estava eu, tive meu autógrafo, fui fotografado em companhia do autor, e comecei a circular cumprimentando amigos de velhas amizades. Mas, ao invés de fazer como muitos fazem e as circunstâncias aconselhavam, ou seja, dar a missão por cumprida e voltar para casa ( à francesa ), fiquei andando pelo ambiente, sentindo um calor imenso e suando muito. Com a sudorese, pensei com meus botões: será que estou infartando? Dúvida posta, comprimido de Isordil posto debaixo da língua. Estava meio afastado do grupo, olhando livros de direito, e logo chegou Carlos Valadares ( um colega estimado, companheiro dos meus tempos de CREMEB ) e ficamos olhando livros. Não se passaram nem dois minutos da administração do Isordil e eu comecei a ficar tonto. Nada falei com meu amigo mas me apoiei na bancada dos livros, e logo não vi mais nada, nem sei de mais nada. Acordei deitado no piso do mezanino da livraria ( Civilização Brasileira ) cercado de parentes, conhecidos e médicos, todos alvoroçados, o que foi, o que foi, você está bem, respire fundo, está se sentindo bem, fique deitado, não levante não, como é seu nome, está sentindo dor de cabeça e etc.. Eu sei lidar com isso muito bem, porque conheço a fisiologia do fenômeno, anestesista que sou. Já presenciei alguns ou muitos casos de lipotimia em pacientes operandos, quando permanecem certo tempo sentados, principalmente à tarde ( por causa do jejum ) e são jovens e do sexo masculino ( que são mais frouxos, louvor às mulheres ). Mas o que acontece? Simplesmente interrompemos o que queríamos fazer e colocamos rapidamente o paciente na posição horizontal, o que facilita a chegada de sangue ao cérebro e poucos minutos depois restaura-se a consciência. ( Aliás, a primeira conseqüência de uma lipotímia- queda – funciona também como corretivo do problema, se, claro, a pessoa não tiver traumatismo de crânio- o que é grave- ou quebra de algum osso periférico. A minha experiência com essa situação levou-me a entender, tardiamente, que nem eu nem ninguém deve tomar Isordil longe de uma cama. Se for necessário o uso dessa droga, que é um potente vasodilatador, deve-se usá-la deitado. Ainda tenho o que contar sob o episódio. Vejamos. Ante o espanto das pessoas mais próximas e o grande susto do meu filho mais novo, carinhoso e preocupado comigo, fui levado ao hospital Português, à minha revelia- mas entendendo a razão dos meus amigos, porque, por trás da síncope, pode haver coisa mais grave. Na assistência entre a livraria e o Português muitos colegas foram solidários, mas Chicão ( Dr. Francisco Sampaio, que muito se preocupa comigo) e Guiga ( Dr. Guilherme Moysés) tiveram papel de comando e no hospital, pouco depois de minha chegada, lá compareceu o Dr. Altamirando Santana, velho amigo (uma ajuda à procura de um necessidade), e as coisas foram se encaminhando. Parei na emergência, e, depois dos exames apropriados, a doutora de plantão falou: seus exames deram normais, tudo indica que o senhor teve uma lipotimia por reação vasovagal. Mas...levando em conta o seu histórico, acho melhor o senhor permanecer na Unidade Coronariana para melhor observação, e certamente amanhã vai para casa. E assim aconteceu. Um de meus filhos, que mora fora, inteirando-se dos fatos, disse: “é, meu pai, com o seu passado, se você se encostar numa emergência não tem escapatória, será internado logo, porque médico nenhum vai liberá-lo, conhecendo o seu histórico ( meu histórico é gloriosamente rico em batalhas e lutas em que muita gente deixou de acreditar na minha vitória). Mas aqui estou, com cicatrizes e condecorações. Um comentário final. Se “o oceano é a única sepultura digna de um almirante batavo”, como disse aquele almirante holandês, uma livraria seria o lugar mais apropriado para eu morrer. Seria uma glória, capaz de causar inveja a Jorge Luis Borges, que via na biblioteca a representação do paraíso. Eu não sou Borges, está-se vendo. E divirjo dele porque troco a biblioteca ( de que não gosto muito) por livrarias e sebos, imagens do meu paraíso. Se eu morresse ali, seria uma despedida apoteótica da vida, porque dulce et decorum est circa libros mori ( é paráfrase de um verso latino: é doce e glorioso morrer cercado de livros). *Oliveiros Guanais de Aguiar foi um médico anestesiologista brasileiro, professor da Faculdade de Medicina da UFBA, ex-presidente da União Nacional dos Estudantes e da seccional baiana da Sociedade Brasileira de Anestesiologia, onde ocupou ainda vários cargos. Faleceu em 21 de novembro de 2010.

sexta-feira, 16 de setembro de 2022

Baía tem biodiversidade ameaçada

A rica biodiversidade marinha da Baía de Todos os Santos está sendo ameaçada. Uma espécie de coral proveniente das águas do Oceano Pacífico, conhecido por sua capacidade de matar outros corais para disputar espaço, foi encontrado pela Organização Socioambientalista PRÓ-MAR na Baía, em uma Área de Proteção Ambiental (APA) localizada na Ilha de Itaparica. Ao ameaçar corais nativos e endêmicos da Baía de Todos os Santos, ecossistemas de grande biodiversidade, a espécie Coral-Sol (Tubastrea tagusensis e Tubastrea coccinea) põe em risco a sobrevivência de 65% dos peixes da Baía, que dependem dos recifes de corais das águas baianas para viver. De acordo com a Organização Internacional Marítima, uma espécie é considerada invasora quando provoca danos ecológicos, econômicos ou para a saúde humana, sendo considerada uma das quatro maiores ameaças a biodiversidade marinha. O Coral-Sol (Tubastrea tagusensis e Tubastrea coccinea) foi encontrado em uma das expedições da PRÓ-MAR, organização que monitora os recifes de coral da Ilha de Itaparica desde 2006, segundo o biólogo da PRÓ-MAR, Ricardo Miranda. “O vimos instalado em um relevante recife da região, onde já é possível ver grande cobertura deste organismo em algumas ‘pedras’, dividindo espaço com importantes corais construtores dos recifes brasileiros, incluindo espécies endêmicas da Bahia”, explicou, em referência às ações do Projeto Maré Global, da ONG, patrocinado pelo Instituto Otaviano Almeida Oliveira (IOAO). É a primeira vez no Brasil que o Coral-Sol é encontrado instalada em recife de coral. O organismo chegou ao país na década de 80, no Rio de Janeiro, incrustado em cascos de navios e plataformas de petróleo, e também já foi encontrado anteriormente em costões rochosos.
“Grande desastre ecológico” A espécie representa uma ameaça por encontrar nas águas da Baía de Todos os Santos um ambiente ideal e sem competidores e por crescer três vezes mais que os corais nativos. Segundo o doutorando em ecologia pela Universidade Federal da Bahia, José Amorim, “estamos diante de um grande desastre ecológico”. O doutorando explica o Coral-Sol é oriundo de uma região na qual competia espaço com mais de 200 espécies para sobreviver. “Aqui, por não haver competitividade, eles superam todos os outros, que até então estavam em harmonia. Além disso, esses organismos apresentam uma taxa de crescimento bem maior em relação as espécies nativas, produzem guerra química com os outros corais e isso, com certeza, leva à devastação dos nossos corais nativos, que juntamente com processos de inibição química, podem causar sérios danos as espécies nativas”, explica Amorim, que preside o Conselho Científico da PRÓ-MAR. ok um O que fazer quando encontrar o Coral-Sol? As colônias do coral invasor não devem ser coletadas nem quebradas ao serem encontradas por mergulhadores, alerta Claudio Sampaio, pioneiro na descoberta deste organismo invasor na Baía de Todos os Santos, doutor em zoologia e professor adjunto do curso de Engenharia de Pesca da Universidade Federal de Alagoas (UFAL). “Pois“Pois, ao manipulá-lo incorretamente, pode-se estimular a desova deste organismo, contribuindo com a amplificação do problema. O correto é comunicar o mais rápido possível a PRÓ-MAR ou algum especialista da área”, explica Sampaio. * Materia publicada no Correio da Bahia

Bahia Terra da Felicidade?

Osvaldo Campos Magalhaes* Segundo dados divulgados no 11º Anuário Brasileiro de Segurança Pública, o Estado da Bahia registrou 7,1 mil mortes violentas e liderou o ranking nacional em números absolutos, superando os estados do Rio de Janeiro e São Paulo. A violência na Bahia atingiu principalmente os jovens negros do sexo masculino, com idade entre 15 e 21 anos. O Anuário também aponta que cresceu a diferença na expectativa de vida entre homens e mulheres, sendo que a Bahia apresenta uma das maiores amplitudes, com as mulheres vivendo mais de nove anos que os homens, com uma expectativa de vida chegando há 79 anos. A diferença nas expectativas de vida entre homens e mulheres reflete os altos níveis de mortalidade, principalmente de jovens, por causas violentas, que incidem diretamente na esperança de vida ao nascer da população masculina. Para se ter uma real dimensão da violência no Brasil, vale destacar que os 61,5 mil assassinatos cometidos em 2016 equivalem, em números, às mortes provocadas pela explosão da bomba nuclear que dizimou a cidade de Nagasaki, no Japão, em 1945, durante a Segunda Guerra Mundial. No que diz respeito às Unidades da Federação, é possível notar uma grande disparidade: enquanto em São Paulo houve uma redução de 49,4%, nos últimos 10 anos, na Bahia o aumento da taxa de homicídios de jovens superou os 200% no mesmo período. Já a letalidade das polícias nos estados brasileiros aumentou 25,8% em relação a 2015: 4.224 pessoas foram mortas em decorrência de intervenções de policiais civis e militares. Quase a totalidade das vítimas é homem (99,3%), jovem (81,8%), tem entre 12 e 29 anos e é negra (76,2%). O número de policiais mortos também aumentou 17,5% em relação a 2015: 437 policiais civis e militares foram vítimas de homicídio em 2016. O acentuado crescimento da violência e dos assassinatos de jovens baianos assim como a liderança da Bahia, desmente a enganosa propaganda do Governo do Estado e comprovam a falência do nosso sistema educacional público e a deficiência dos programas de inclusão social e de geração de empregos. O governo baiano nos últimos quinze anos equivocadamente priorizou investimentos em mega projetos que não conseguiram se materializar, como o Porto Sul, FIOL, Estaleiro Enseda e a ponte Salvador - Itaparica, que, tendo recebido recursos públicos superiores a R$6.5 bilhões, beneficiariam principalmente as grandes empreiteiras. O governo do Estado da Bahia também relegou a segundo plano a população do semiárido baiano, que não foi beneficiado pela transposição das águas do São Francisco nem pela construção de novos açudes. A migração dos jovens das áreas rurais para as regiões metropolitanas agravaram a questão do desemprego, das drogas e da violência e explicam a liderança da Bahia@. *Engenheiro e Mestre em Administraçáo - UFBA

domingo, 4 de setembro de 2022

7 de Setembro, a independência de Portugal do Brasil

Paulo Ormindo fe Azevedo*>
"Quem foi que inventou o Brasil?/ Foi seu Cabral!/ Foi seu Cabral!/ No dia 21 de abril/ Dois meses depois do carnaval” cantava Lamartine Babo. O 7 de Setembro, como a descoberta do Brasil, foi uma lorota. Quando Dom João VI fugiu para o Rio de Janeiro, em 1808, Portugal virou colônia do Brasil. Manter a burocracia e o exercito de um país de extensão continental como o Brasil era um enorme ônus para Portugal, que havia perdido o quinto, o monopólio do comercio exterior brasileiro com a abertura dos portos e o lucrativo tráfico de escravos promovidos pelos ingleses para beneficiar suas exportações de manufaturados. Portugal entrou em profunda crise. Libertar-se do Brasil era essencial para a sobrevivência de Portugal. Quem primeiro me chamou a atenção para este fato foi meu amigo Helder Carita, historiador de arte português. Dom João VI, que não era tonto, antes de voltar para Portugal, em 1821, onde seu trono desabara com a Revolução Liberal do Porto, instruiu seu filho, Pedro, a fazer a separação dos dois países e salvar a monarquia e a família real no Brasil. Um ano depois, Dão Pedro I promoveu histrionicamente o Grito da Independência ou Morte, sem dar um só tiro de zarabatana. Onde se viu um colonizador promover a independência de sua colônia? Só no país do carnaval. Mas os pseudo-liberais, para pirraçar os antigos monarcas, mandaram reforços para o Gal. Madeira na Bahia para tentar manter a antiga colônia. A independência formal do Brasil só se daria em 2 de julho de 1823 com uma sangrenta luta popular inspirada em ideais democráticos da Constituição Americana (1787), da Revolução Francesa (1792) e dos regimes republicanos nos países vizinhos, recém libertados. A Independência oficial do Brasil foi uma decepção, pois não trouxe nenhum ganho para o povo, escravos e índios, que lutaram bravamente na esperança de democratização, soltura e inclusão. O Império representou um atraso de 66 anos no desenvolvimento do Brasil, sem nenhum avanço nas relações de trabalho e educação. Fomos o último país a libertar os escravos e a criar um mercado interno. Só fomos ter universidade em 1920, com a criação da atual UFRJ, enquanto que no México e Peru elas foram criadas em 1549. A Proclamação da República, em 1889, foi um golpe militar apoiado pelos senhores de engenho em represália à libertação dos escravos sem indenizações. Carregamos ainda hoje o carma da escravatura e do analfabetismo funcional e voltamos a uma economia baseada na exportação de minérios e produção agrícola, como na colônia. Trocamos a exportação de ouro e diamantes pela de minério de ferro como uma commodity barata e do açúcar e do fumo, valorizadíssimo na época, pela soja e o milho sem valor agregado. Não basta ser “independente e republicano” é preciso parecer, como a mulher do César. *Professor Titular da Ufba, Arquiteto e Urbanista Publicado em A Tarde- 04/09/2022

sexta-feira, 2 de setembro de 2022

Portos são Estratégicos para o Estado da Bahia

Roberto Zilteman de Oliva* O recôncavo baiano goza de um privilégio natural difícil de se igualar no mundo. Uma baía imensa, a maior do Atlântico Sul, com águas profundas, abrigadas e cristalinas, rica em flora, em fauna e em paisagens, todas encantadoras. Banhando diversos municípios e mais de cinquenta ilhas, abriga em seu entorno a maior densidade demográfica do Estado, onde moram cerca de 3.7 milhões de pessoas que fazem parte de 520 anos de história. Os portos, a indústria e e o agronegócio são os grandes eixos de desenvolvimento da economia do Estado e neste âmbito o Complexo Portuário da Baía de Todos os Santos vive um momento de retomada de seu crescimento e reafirma sua condição econômica estratégica. Recentemente, os portos e terminais componentes deste complexo receberam investimentos expressivos dos setores públicos e privados. A atividade portuária é em essência o elo das atividades econômicas e o pilar do desenvolvimento destas, não podemos, pois, estancá-la ou relegá-la ao segundo planou. Ao longo dos anos, sucessivas ações equivocadas afrontam este entendimento e hoje raros são os cidadãos baianos que sabem atribuir a verdadeira importância aos portos e terminais da Baia de Todos os Santos. A última vez que a atividade foi pensada e planejada dentro de uma visão de integração e enriquecimento da nossa sociedade foi nos idos anos 60 com o planejamento do Centro Industrial de Aratu integrado ao porto de Aratu. De lá para cá se perdeu o foco e o cuidado com este elemento vital da economia. Por outra via, podemos citar bons exemplos recentes como o Porto de Salvador, comm novos equipamentos de última geração, a ampliação do terminal de contêineres e o aprofundamento dos berços de atracação – estes investimentos recolocarão a Bahia no eixo das principais rotas marítimas dando competitividade ao comércio exterior". A privatizacao dos terminais de graneis solidos no porto de Aratu esta propiciando expressivos investimentos na modernizacao e aumento da eficiencia. A implantação de uma moderna estação de passageiros em Salvador vem oferecendo aos turistas condições de conforto para melhor apreciação de nossas riquezas culturais e artísticas, gerando emprego e renda. A Via Expressa Baía de Todos os Santos, oferece aos usuarios do porto de Salvador o melhor acesso terrestre do Brasil, melhorarando a mobilidade urbana da cidade. O estaleiro de São Roque do Paraguaçu e o Estaleiro Enseada do Paraguaçu, atualmente operando como terminal portuario privado, vem gerando inúmeros empregos e oportunidades para uma população carente e ávida por melhor inserção social. Ampla também em contrastes, a Kirimurê, como dizem que era chamada pelos tupinambás, está longe de ser uma área totalmente degradada como alardeiam alguns. A Baía é ainda depositária de recursos e riquezas fundamentais para toda a economia do Estado. Dada a sua imensidão, o sábio nome de Baia de Todos os Santos sustenta a convivência, sem exclusões, da fauna, da flora, da pesca, do turismo, da náutica, da indústria e, fundamentalmente dos portos. Desde que se cumpra a ocupação ordenada visando o bem comum e a preservação ambiental responsável, sem prejuízo da vital necessidade de retomada do desenvolvimento regional.
*Engenheiro Civil, Presidente do Conselho de Administracao da Intermaritima e do Conselho Gestor do Instituto Brasil Logística