domingo, 3 de dezembro de 2017

O tamanho da nossa desatenção

Paulo Ormindo de Azevedo*
Uma velha anedota dizia que o arcanjo Miguel reclamou do Criador, durante a Gênese, por ele ter dado ao Brasil todas aquelas maravilhas que canta o nosso hino nacional e muito pouco aos demais países. O Criador disse: “em compensação vou colocar agora os brasileiros”. É um determinismo, e não temos como sair dele. Mas a corrupção e a insegurança no Brasil serão causas ou efeitos?

O retrato de nossas desigualdades são os morros e periferias urbanas, onde faltam empregos, escolas, postos médicos, habitação e transporte. E isto porque estas não são prioridades para os nossos governantes e porque não há professores, médicos e juízes suficientes. Este abandono levou ao aparecimento de um estado paralelo, que não só trafica drogas, como coopta seus moradores financiando creches, times de futebol, salões de festas e enterros. Esse estado domina hoje metade do território de nossas cidades, impondo o toque de recolher e incendiando ônibus, explodindo caixas eletrônicas e matando policiais, no território dos “brancos”, quando um de seus membros é transferido de presídio.

Em vésperas de eleições, a plataforma comum dos nossos 35 partidos de aluguel é a diminuição do estado, que dá a dimensão do setor público no país. Tudo mais já foi ou está sendo privatizado. Pois bem, segundo o IBGE em 2012 os funcionários civis eram 10,7% dos trabalhadores de carteira assinada. Taxa menor que a média dos países latino-americanos. Se considerarmos os informais das periferias essa taxa baixa para 5%. Relacionado com a população total do país eles não passam de 1,6%. A maioria dos países desenvolvidos tem o dobro de funcionários, 21%, segundo a OCDE.

Nos EUA, um dos países mais privatistas, os funcionários civis são 15% dos ocupados. O estado oferece educação primaria e secundaria universal de qualidade, banca 120,000 bibliotecas, tem os maiores parques naturais do mundo num total de 211. 000 km² e possui 800 bases militares espalhadas pelo mundo. Suas forças armadas têm 1,26 milhões de militares na ativa. E eles não pensam em diminuir o estado. Depois do 11 de setembro eles aumentaram aquele efetivo em 20%.  Na Dinamarca, o país de menor corrupção do mundo, está taxa sobe para 39,2 %, quatro vezes a taxa formal do Brasil. É isto que permite a esses países terem educação, saúde e segurança de qualidade. A PEC que congelou por 20 anos os gastos com educação e saúde num país já carente e que está crescendo, só irá aumentar as desigualdades e a insegurança no país. Não é com medidas burras como essa que se constrói uma nação. Os conservadores se enganam pensando que segurança se consegue com mais repressão. Não queremos um leviatã, senão um estado democrático, que cumpra com eficiência sua função de executar o bem comum e não que aumente os desníveis sociais.
*Arquiteto e Professor Catedrático
SSA, A Tarde, 3.12.17

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