domingo, 11 de novembro de 2012

Esquecendo eleições

 Antônio Risério*
Despachei e-mail para meu querido amigo Caetano Veloso: pela primeira vez , depois de anos, fechamos numa eleição com os mesmos candidatos: Marcelo Freixo no Rio de Janeiro, Fernando Haddad em São Paulo, Neto em Salvador. Afora isso, vibrei com a virada de Fruet em Curitiba (tinha inclusive feito uns trabalhos de pré-campanha para ele, com Giovanni Soares, no ano passado).
Na verdade, torci total pela vitória de Freixo, chama inovadora na velha paisagem político-eleitoral do Rio. Fui para São Paulo mergulhar de corpo e alma na campanha de Haddad, figura que, como a nossa hoje presidente Dilma, conheci em 2006 na campanha da reeleição de Lula. E defendi a que a vitória de Neto seria melhor para a nossa cidade do que a de Pelegrino, sujeito mentalmente limitado, incapaz até de voos rasteiros. Há tempos não concordávamos assim. Eleitoralmente, eu e o poeta-pensador. Conversávamos sobre eleições, mas geralmente em posições diversas.
Mas não quero fazer análises, me concentrar em papos enviesados (depois do resultado das urnas, é fácil fazer interpretações, mas deixo isso para jornalistas e professores universitários), nem nadar em ressacas eleitoras. Mas algumas coisas merecem ressalte. Por exemplo: em São Paulo, apresentamos e defendemos abertamente um candidato. Mostramos seus feitos, suas virtudes, suas propostas – contra um José Serra em avançado estágio de autodeterioração política e ideológica, usando sucessivas máscaras reacionárias, mentindo para si e para toda a população. Em suma: ostentamos Haddad, vistosamente.
Na Bahia, ao contrário, até tentavam me esconder Pelegrino. Com o seguinte papo o voto não é no candidato – é no “projeto”. Em que projeto, pelo amor de Deus? Até o projeto nacional de Lula foi construído, em grande medida, contra a falta de senso, de realidade, contra a falta de projeto do próprio PT. E o PT precisa aprender isso. Não pode falar de “projeto” porque não o tem,globalmente, como partido. Haddad vai governar, inclusive, contra a intolerância e o sectarismo petistas, tendo de enfrentar a “nefasta” tradição do corporativismo, em áreas fundamentais como as da educação e da saúde pública. Ou seja: em vez de esconder o candidato atrás de um “projeto” trata-se , na verdade, de exibir o candidato para ocultar as graves e grandes deficiências do “projeto”, ok?
Outra coisa: não me venham com a conversa fiada de retorno do carlismo. Não existe carlismo sem Antonio Carlos (carlismo só existe na fantasia de das viúvas políticas de ACM, sejam elas de direita ou de esquerda, ambas ressentidas e revanchistas, sem saber pensar se lhes tirarem o velho do caminho e da cabeça). E, se existisse sem Antonio Carlos, o carlismo já teria voltado há tempos. Graças ao PT local, claro. Com Otto Alencar no papel de guru e vice-governador, com Cézar Borges na função de aliado preferencial, com carlistas ocupando cargos de comando no governo estadual, com Sérgio Carneiro (sim: carlista desde criancinha – e acusado de coisas corruptas no governo do pai João Durval) se destacando entre os quadros petistas.
 Mais, como bem viu Paulo Fábio: com Wagner aplicando a “gramática do carlismo” para assegurar sua hegemonia baiana. E não existe carlismo, ainda, porque –como bem sabem antropólogos, travestis, internautas e vendedores de cafezinho – neto não é avô.
Bem. O que espero de Neto é que ele não olhe menos em Luiz Eduardo (homo politicus) do que em Antonio Carlos , que pare de posar de “protagonista da CPI do mensalão”, não pise na bola das trocas de favores e se abra de fato para o diálogo crítico sobre a cidade. Espero, principalmente, que ele cumpra o que está prometendo a si mesmo, como já disse em entrevistas: pensar o futuro da cidade de forma plural, sem boçalidade, numa conversa séria. E é o seguinte. Salvador está caindo aos pedaços. Tem de reconfigurar a sua expansão urbana, reativar a sua memória, diminuir distâncias sociais, recuperar a sua criatividade e reconquistar o seu lugar na vida brasileira. Quem não vir isso, não será prefeito.
*Antropólogo e escritor

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