A alternativa visa criar uma opção de acesso à Ilha de Itaparica, desenvolvendo o Recôncavo e evitando impactos sobre Salvador
PAULO ORMINDO DE AZEVEDO*
Disse em meu último artigo que existiam alternativas mais interessantes e baratas que a Ponte Salvador-Itaparica. Ao contrário do que se diz, aquela ponte não revitalizará o Recôncavo. Concebida como uma saída direta para o sul e oeste, ela o marginalizará. A alternativa aqui apresentada visa criar uma opção de acesso à ilha, desenvolvendo o Recôncavo e evitando impactos sobre Salvador.
Ela seria uma via envolvente da Baía de Todos os Santos que, partindo do COPEC, iria até o CIA e o complexo portuário/naval de Aratu, dali seguindo pela orla da baía ligando este complexo à RELAN, à Usina de Biodiesel, ao Temadre e cruzando o Paraguaçu ao Estaleiro de São Roque. Da ponte a via seguiria para Salinas da Margarida, das mariculturas, e dali até a Ponta do Dendê, aonde, através da Ponte do Canal, chegaria à contracosta de Itaparica. Outro ramo seguiria até o Funil. Uma ponte em São Roque com outras ligações e função já foi cogitada por outrem.
Além da integração de complexos industriais-portuários, esta envolvente seria também uma via de lazer, dando vida a pontos turísticos, como a Baía de Aratu, Museu Freguesia, São Francisco do Conde, e praias de Itapema, Saubara, Cabuçu, Bom Jesus, Monte Cristo, Barra do Paraguaçu, Salinas da Margarida, Encarnação, Mutá e Cações.
A partir dessa estrada se pode chegar, de barco, às ilhas de Maré, dos Frades, Cajaíba, Bom Jesus, Bimbarra, das Fontes, Monte Cristo e aos piscosos espelhos d’água do Iguape e Canal de Itaparica. Por meio de estradas vicinais se pode visitar cidades como Madre de Deus, Santo Amaro, Maragogipe, São Félix e Cachoeira, as vilas de Nagé e Coqueiros, as ruínas de São Francisco do Paraguaçu e Santiago do Iguape. Este é um enorme potencial turístico e cultural inexplorado, que será mais uma vez esquecido e abandonado com a via expressa Salvador/BR-101.
Através da armação de barcos, da pesca, do artesanato, da horti-fruticultura e da culinária, revitalizados pelo turismo, estaríamos desenvolvendo o Recôncavo. Em contraposição, a ponte Salvador–Itaparica e os 66 km de via expressa anunciados não têm em sua margem nenhuma atividade produtiva, de serviços ou cultural.
A estrada proposta está em grande parte feita, dependendo apenas de conexões e benfeitorias. As obras d’arte são poucas. Uma ponte sobre o Subaé (650 m), outra na foz do Paraguaçu (1.800 m) e a Ponte do Canal (3.900 m) entre a Ponta do Dendê e a contracosta de Itaparica. Esta ponte, que tem menos de um terço do comprimento da Salvador-Itaparica, não mergulhará 42 m, não terá vãos de 560 e 285 m e altura de 90 m. Será como a atual do Funil, mas menor que sua sucessora duplicada (5.300 m).
Hoje para se chegar à Fonte da Bica de carro rodamos 290 km e gastamos 3 horas e15 minutos. Com o novo traçado ficará reduzida para 110 km e 1 hora e 15 minutos, a mesma distância e tempo para ir a Sauípe, em uma estrada muito mais interessante. Se considerarmos que os ferryboats saem a cada 50 minutos e levam 40 minutos na travessia, o tempo é 17% menor, fora a espera na fila.
Esta nova via não se destina a expandir a Região Metropolitana de Salvador, onde estão as indústrias e muita terra firme por ocupar, nem escoar a soja do oeste, ou desativar o ferryboat. Destina-se a integrar indústrias e portos metropolitanos, desenvolver o Recôncavo e o turismo, evitar uma avalanche de carros em Salvador e viabilizar o sistema de ferryboats e lanchas regulando a flutuação da demanda responsável por uma frota sucateada, que não atende ao pique do verão e opera deficitária e ociosamente o restante do ano. O ferry poderá ser o fecho de um belo circuito em volta da baía.
A Ponte Rio-Niterói não tirou as barcas da Praça XV, pois seus usuários descobriram que era mais prático chegar ao centro do Rio ou de Niterói de barca do que pagar pedágio, enfrentar um engarrafamento de pelo menos uma hora e meia e não ter onde estacionar. Alternativas existem. Cabe ao governo, ouvida a sociedade, escolher aquela que melhor atenda aos interesses, não só dos usuários do mal gerido ferryboat, como das populações de Salvador e do Recôncavo, que serão beneficiadas ou afetadas com essas obras.
*Paulo Ormindo de Azevedo – Arquiteto, professor titular da Universidade Federal da Bahia, diretor do CREA e do Instituto dos Arquitetos do Brasil/Depto. Bahia (IAB-BA)
PAULO ORMINDO DE AZEVEDO*
Disse em meu último artigo que existiam alternativas mais interessantes e baratas que a Ponte Salvador-Itaparica. Ao contrário do que se diz, aquela ponte não revitalizará o Recôncavo. Concebida como uma saída direta para o sul e oeste, ela o marginalizará. A alternativa aqui apresentada visa criar uma opção de acesso à ilha, desenvolvendo o Recôncavo e evitando impactos sobre Salvador.
Ela seria uma via envolvente da Baía de Todos os Santos que, partindo do COPEC, iria até o CIA e o complexo portuário/naval de Aratu, dali seguindo pela orla da baía ligando este complexo à RELAN, à Usina de Biodiesel, ao Temadre e cruzando o Paraguaçu ao Estaleiro de São Roque. Da ponte a via seguiria para Salinas da Margarida, das mariculturas, e dali até a Ponta do Dendê, aonde, através da Ponte do Canal, chegaria à contracosta de Itaparica. Outro ramo seguiria até o Funil. Uma ponte em São Roque com outras ligações e função já foi cogitada por outrem.
Além da integração de complexos industriais-portuários, esta envolvente seria também uma via de lazer, dando vida a pontos turísticos, como a Baía de Aratu, Museu Freguesia, São Francisco do Conde, e praias de Itapema, Saubara, Cabuçu, Bom Jesus, Monte Cristo, Barra do Paraguaçu, Salinas da Margarida, Encarnação, Mutá e Cações.
A partir dessa estrada se pode chegar, de barco, às ilhas de Maré, dos Frades, Cajaíba, Bom Jesus, Bimbarra, das Fontes, Monte Cristo e aos piscosos espelhos d’água do Iguape e Canal de Itaparica. Por meio de estradas vicinais se pode visitar cidades como Madre de Deus, Santo Amaro, Maragogipe, São Félix e Cachoeira, as vilas de Nagé e Coqueiros, as ruínas de São Francisco do Paraguaçu e Santiago do Iguape. Este é um enorme potencial turístico e cultural inexplorado, que será mais uma vez esquecido e abandonado com a via expressa Salvador/BR-101.
Através da armação de barcos, da pesca, do artesanato, da horti-fruticultura e da culinária, revitalizados pelo turismo, estaríamos desenvolvendo o Recôncavo. Em contraposição, a ponte Salvador–Itaparica e os 66 km de via expressa anunciados não têm em sua margem nenhuma atividade produtiva, de serviços ou cultural.
A estrada proposta está em grande parte feita, dependendo apenas de conexões e benfeitorias. As obras d’arte são poucas. Uma ponte sobre o Subaé (650 m), outra na foz do Paraguaçu (1.800 m) e a Ponte do Canal (3.900 m) entre a Ponta do Dendê e a contracosta de Itaparica. Esta ponte, que tem menos de um terço do comprimento da Salvador-Itaparica, não mergulhará 42 m, não terá vãos de 560 e 285 m e altura de 90 m. Será como a atual do Funil, mas menor que sua sucessora duplicada (5.300 m).
Hoje para se chegar à Fonte da Bica de carro rodamos 290 km e gastamos 3 horas e15 minutos. Com o novo traçado ficará reduzida para 110 km e 1 hora e 15 minutos, a mesma distância e tempo para ir a Sauípe, em uma estrada muito mais interessante. Se considerarmos que os ferryboats saem a cada 50 minutos e levam 40 minutos na travessia, o tempo é 17% menor, fora a espera na fila.
Esta nova via não se destina a expandir a Região Metropolitana de Salvador, onde estão as indústrias e muita terra firme por ocupar, nem escoar a soja do oeste, ou desativar o ferryboat. Destina-se a integrar indústrias e portos metropolitanos, desenvolver o Recôncavo e o turismo, evitar uma avalanche de carros em Salvador e viabilizar o sistema de ferryboats e lanchas regulando a flutuação da demanda responsável por uma frota sucateada, que não atende ao pique do verão e opera deficitária e ociosamente o restante do ano. O ferry poderá ser o fecho de um belo circuito em volta da baía.
A Ponte Rio-Niterói não tirou as barcas da Praça XV, pois seus usuários descobriram que era mais prático chegar ao centro do Rio ou de Niterói de barca do que pagar pedágio, enfrentar um engarrafamento de pelo menos uma hora e meia e não ter onde estacionar. Alternativas existem. Cabe ao governo, ouvida a sociedade, escolher aquela que melhor atenda aos interesses, não só dos usuários do mal gerido ferryboat, como das populações de Salvador e do Recôncavo, que serão beneficiadas ou afetadas com essas obras.
*Paulo Ormindo de Azevedo – Arquiteto, professor titular da Universidade Federal da Bahia, diretor do CREA e do Instituto dos Arquitetos do Brasil/Depto. Bahia (IAB-BA)
Meu Pai, já falecido sempre pensou assim.
ResponderExcluirAcredito que existe o interesse de favorecer construtoras, fabricantes de cimento e outros grandes interessados. Uma via alternativa nesse sentido, favorece o comércio, a indústria, a construção civil, o fortalecimento da economia no entorno da Bahia e a valorização do potencial turístico da região. Outras pontes serão construídas gerando um outro benefício.
ResponderExcluirPor outro lado, a estrada proposta sendo atendi a sua construção que apresenta viabilidades técnicas e econômicas, também demonstrará interesse em beneficiar a sua população do entrono da BTS.
Amigos, precisamos difundir mais intensamente essa proposta. A sociedade precisa refletir melhor sobre o absurdo que representará uma ponte entre Salvador e a ilha.
ResponderExcluirO momento é esse, as coisas estão avançando pelo outro lado e pode ser irreversível.
Paulo, meu tio Diógenes Rebouças sempre torcia por esta solução. Meu irmão Ronan Rebouças Caires de Brito é autor muito sério que mostra o quanto a ponte afetara o bioma e as comunidades do Recôncavo
ResponderExcluirMarusia Rebouças de Brito