JOLIVALDO FREITAS*
O bairro da Boa Viagem foi palco de lutas sangrentas entre os índios tupinambás e os portugueses. Entre os tupinambás e os tupiniquins. E entre portugueses e baianos. Até hoje o boaviagiano estufa o peito de orgulho por nunca ter sido dominado por ninguém e ter colocado para correr até franceses (estes nem de tanta importância assim, guerreiros acavaleirados que são, do tipo de fazer uma reverência antes de enfiar a espada e com isso levar bodurna no cocurutu) e holandeses (estes sim, guerreadores raciados com Thor que matavam sem pena nem dó e sem remorso). Claro que os maledicentes e invejosos da Massaranduba, Uruguai e Ribeira dizem que tudo não passa de ficção, mesmo que o Mont Serrat seja nome francês e o forte que empresta o seu nome – embora os mais íntimos o chamem de Castelo de Tapagipe – tenha sido onde os holandeses foram postos para correr. São provas das lutas incessantes de que o povo da Cidade Baixa participou, ganhando sempre. É justamente esta mania de ganhar que às vezes cria problemas para os boaviagianos.
Agora mesmo estão batendo de frente com o prefeito João Henrique. O homem fez um projeto de reurbanização da área – que convenhamos está degradada – mas como não explicou direito vem recebendo bordoadas de todos os lados, pois o pessoal da área, acostumado a lutar, não se conforma em ficar passivo quando se trata de uma boa luta e ainda mais se for por uma boa causa. Como eu disse, o orgulho do povo da área vem também de outras questões que não somente as vitórias acachapantes sobre invasores, piratas, bucaneiros ou homens do Império Português. Tem também o fato de ser o bairro onde aconteceu a primeira experiência socialista no Brasil, que foi a fábrica de tecidos e a Vila Operária implantadas pelo industrial Luiz Tarquínio. O homem botou na cabeça que o empregado tinha de levar uma vida modesta mas respeitosa, e montou o primeiro núcleo habitacional baiano com casas de dois andares, creche, clube, urgência médica, delegacia, jardins, água encanada, luz elétrica de gerador próprio, mercadinho e até uma escola de primeira linha. Mas o boaviagiano tem orgulho extremo mesmo é dos seus filhos que ficaram famosos. São muitos, dentre os quais Laurinha, Vicente Salles, os jogadores campeões brasileiros pelo glorioso Bahia, como Leguelé e Xaxa, a cantora Margareth Menezes e muitos desembargadores, escritores e artistas plásticos. A Boa Viagem sempre misturou porrada com arte e esportes.
*Jolivaldo Freitas – Jornalista, escritor, editor do blog Joli: http://www.jolivaldo.blogspot.com/. Artigo originalmente publicado no blog Jeito Baiano
Eu realmente não sabia da história da Boa Viagem. Pensava que se tratava apenas de uma extensão dos bairros nobres de Salvador. Valeu!
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