sábado, 6 de março de 2010

A BARRA QUE NÓS QUEREMOS

Almir Santos*
Decorridos 460 anos da chegada de Thomé de Souza para fundar a Cidade do Salvador. o Porto da Barra continua ganhando notoriedade, a ponto de o jornal inglês The Guardian considerá-la a terceira melhor praia do mundo, freqüentada por turistas de todo mundo que desfrutam de suas águas calmas, mornas, seu sol dourado, seu mar azul e de uma paisagem exuberante da Baía de Todos os Santos.
É Barra que nos queremos e devemos preservar. Um porto natural, uma praia pequena, apenas 300m zoneada, cujo espaço é democraticamente dividido: farofeiros, pagodeiros, turistas, GLSs, moradores antigos, malucos, profissionais liberais, empresários...
Grandes são os seus freqüentadores. Uma praia de todos os povos de todas as raças. Que lindo!
Dos vendedores de bebidas com seus isopores disputam com simpatia a clientela oferecendo cadeiras e sobreiros.
Entre eles estão Val, Mara, Celina, Xuxa (é homem), Gelado, Vermelho, Sady, Mazinho, Grande, Gerusa, Adriana e tantos outros. Ao todo são 60. Das vendedoras que oferecem o tradicional acarajé além de iguarias diversas. Há o Grupo da Peteca, fundado há aproximadamente há 40 anos onde muitos fundadores ainda estão em atividade. São assíduos freqüentadores entre eles a família Albiani. Adilson, Américo, Osiel, Moacir, Jéferson, Saldanha, Gutenberg, Geraldo, Algodão, Palhares, Matos (ex- jogador do Vitória) e Paulo Peixoto. Este o que mais reclama. Não aceita perder de forma nenhuma. De Deuzival, o Val, uma figura carismática. Com seus filhos Valzinho e Danilo, seus auxiliares, se desdobram para atender bem seus fieis clientes. De João, o português, Dantas, Mauricio, o namorador, Hélio, que vem correndo diariamente de Santo Antônio Além do Carmo até a Barra, Marcelo David, Paulo, Paulo Oliver, Luiz, o Bolachinha, Neidinha, Augusta, Raquel, Jana, Tia Rita, Paulinha e tantos outros. Dos cativos sazonais, isto é, que retornam dos mais diversos pontos do Brasil e do mundo todas as férias ou feriadões.
E os ambulantes? Creusa vende Salgados, Eva, uma professora primária, concluiu a faculdade vendendo sanduíche natural na praia. Admirável. Antônio Carlos vende a melhor empada. Entre os artesões a mineira Kênia pinta seus azulejos com motivos baianos em frente aos clientes e Ronaldo que vende artesanatos em coco. Paulista, filho de baiano, neto de espanhol. O seu forte é a simpatia, a educação, ser bom artista, ser bom comerciante, principalmente sua inteligência. Fala um português corretíssimo, diferenciado dos demais colegas. O segredo? Devora aproximadamente dois livros por semana. É cadastrado na Biblioteca Fernandes da Cunha, localizada no Campo Grande onde seleciona sua boa leitura.
Dos vendedores de sorvetes, queijo coalho, amendoim, castanha...
Das vendedoras de biquínis, saídas de praia, chapéus, confecções, artesanato em geral e, como não podia deixar de ter, de berimbaus. João do Camarão é diferenciado. Vende sorrindo, exibindo seus dentes impecavelmente brancos, cantando suas composições. Que gogó! Tem até um CD gravado:
“Eu sou João, João do Camarão
O bicho de perna, sem orelha e sem cabeça
Você quer comer camarão?
Camarão é do João.”
Um por do sol sem igual, quando os presentes gritam, assoviam, aplaudem batem palmas. Uma praia colorida. Uma festa permanente. Tudo é lindo.
Porto da Barra. Uma dádiva da natureza.
Mas para curtir tudo isso é preciso ações urgentes das autoridades.
Da Barra da barralimpa:
Com uma lixeira em cada poste entre o Largo do Porto da Barra até o Barravento;
Idem para as Ruas Cezar Zama e Barão de Sergy;·
Da coleta de lixo diária respeitando a lei do silêncio;·
De sanitários púbicos no Largo do Porto da Barra, em frente o forte de Santa Maria, no Largo onde existe a elevatória da Embasa, no Farol da Barra próximo ao Barravento, na esquina das Ruas Barão de Sergy e Cezar Zama;
De uma lixeira adequada por comerciante das Praias do Porto e do Farol;
De garis das 8:00 às 19:00h diariamente para monitorar o lixo nas praias do Porto e do Farol.
Sem moradores de rua (são centenas) com a colaboração de assistentes sociais para direcioná-los para um local adequado.
É deprimente ver pessoas, dormindo nas calçadas, bancos de jardins, bancos de pontos de ônibus debaixo de marquises, até em varanda de estabelecimentos comerciais.
Não satisfeitos em ali permanecerem durante a noite, mas sem cerimônia, ao longo do dia de mala e cuia.
Uma promiscuidade. Deprimente. Que cidade turística é essa?
Sem traficantes e usuários de drogas;
Sem os espertalhões aproveitando-se turistas;
Sem a insegurança e as saidinhas de banco.
Sem mesas e cadeiras nas ruas colocadas por comerciantes de bares e restaurantes dividindo o espaço nas vias públicas com os ônibus.
Sem a prostituição. Que loucura!
Assim Barra poderá ser um paraíso e o Porto honrar o título de terceira praia mais bonita do mundo conferido pelo jornal inglês The Guardian.
* Almir Santos, 75, Engenheiro Civil e Consultor, é frequentador assíduo do Porto da Barra ha mais de 50 anos.

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