Andreia Santana*
A fundação exata de Salvador, com direito a inauguração oficial e discurso é uma incógnita da história. Ninguém sabe exatamente quando a cidade, construída para ser a sede do Governo Geral português no Brasil, ficou pronta. Acredita-se que foi no final de abril. Por convenção, os membros do Instituto Geográfico e Histórico definiram como aniversário da cidade o dia 29 de março, provável data, em 1549, do desembarque de Thomé de Souza na enseada atualmente conhecida como Porto da Barra.
A missão do primeiro governador geral era bem difícil: construir uma “fortaleza grande e forte”; percorrer todas as capitanias apaziguando a ambição dos donatários mais espertos, como Duarte Coelho, o dono das terras de Pernambuco; combater a pirataria na costa; escravizar os indios e usá-los para desenvolver a lavoura canavieira. O que não deu certo e provocou o início da exploração africana no Brasil.
A fundação exata de Salvador, com direito a inauguração oficial e discurso é uma incógnita da história. Ninguém sabe exatamente quando a cidade, construída para ser a sede do Governo Geral português no Brasil, ficou pronta. Acredita-se que foi no final de abril. Por convenção, os membros do Instituto Geográfico e Histórico definiram como aniversário da cidade o dia 29 de março, provável data, em 1549, do desembarque de Thomé de Souza na enseada atualmente conhecida como Porto da Barra.
A missão do primeiro governador geral era bem difícil: construir uma “fortaleza grande e forte”; percorrer todas as capitanias apaziguando a ambição dos donatários mais espertos, como Duarte Coelho, o dono das terras de Pernambuco; combater a pirataria na costa; escravizar os indios e usá-los para desenvolver a lavoura canavieira. O que não deu certo e provocou o início da exploração africana no Brasil.
Tudo isso em três anos, o tempo máximo que a coroa havia instituido para que o poder se mantivesse nas mãos de um único homem. Apesar da restrição, houve governadores que ficaram no cargo até 15 anos, como Mem de Sá. E, ao contrário do que muita gente pensa, não tivemos apenas três governadores-gerais. Essa forma de administração durou até 1808, com a chegada da família real portuguesa. Quarenta e nove homens exerceram a função, mas a partir de 1763, eles eram conhecidos como vice-reis.
D. João III, o rei colonizador
O rei D. João III havia entendido que o sistema de capitanias hereditárias só daria certo se houvesse um representante da coroa por perto para dar suporte e também fiscalizar os donatários. Além disso, quando as noticias dos ataques indigenas e de piratas chegaram à Portugal, juntamente com a informação das mortes de alguns donatários, o soberano percebeu que deixar a colonização unicamente nas mãos da iniciativa privada era ilusão. Se vivesse nos dias de hoje, D. João III seria o pai das PPPs (Parcerias Público Privadas).
D. João III, o rei colonizador
O rei D. João III havia entendido que o sistema de capitanias hereditárias só daria certo se houvesse um representante da coroa por perto para dar suporte e também fiscalizar os donatários. Além disso, quando as noticias dos ataques indigenas e de piratas chegaram à Portugal, juntamente com a informação das mortes de alguns donatários, o soberano percebeu que deixar a colonização unicamente nas mãos da iniciativa privada era ilusão. Se vivesse nos dias de hoje, D. João III seria o pai das PPPs (Parcerias Público Privadas).
Insatisfeito com a falta de rumo na administração do Brasil, ele instituiu o Governo Geral e autorizou a construção de uma cidade-fortaleza para servir de sede administrativa. Mandou planejar a cidade inteira, com base nas antigas construções fortificadas medievais e inspiração na obra do arquiteto romano Vitrúvio, de quem era fã. Também mandou que fosse redigido um regimento de 40 itens, com todos os direitos e deveres da função de governador, bem como as normas para a construção da cidade fortaleza, regras de conduta dos colonos, procedimentos para cobrança de impostos e aplicação da justiça. O regimento é considerado um esboço do que no futuro seria a Constituição, guardadas as devidas proporções. Com todos os planos traçados, faltava eleger um representante e essa escolha recaiu sobre…
Thomé de Souza, o soldado do rei
Thomé de Souza era um experiente militar de 48 anos, com serviços prestados na África e nas Índias, quando recebeu o convite para fundar Salvador (a fortaleza grande e forte de que falava o regimento) e implantar o Governo Geral, literalmente botando ordem no caos que imperava no Brasil. Homem duro, de poucas palavras, com fama de sensato e dotado de muita energia, era filho ilegítimo do prior (um tipo de padre) José de Souza e irmão do donatário da capitania de São Vicente, Martin Afonso de Souza. Veio para cá com um salário de 400 mil réis anuais e trazendo na bagagem o regimento, as plantas baixas para construção da cidade-fortaleza, padres jesuitas, degredados para servir de peão-de-obra, alguns soldados para guarnecer a cidade e a disposição de tratar os tupinambás a bala. Não houve meio-termo durante os anos de colonização, os índios que não se submeteram foram mortos ou morreram de fome ao ser expulsos de suas terras.
“A cidade, ou fortaleza de povoação grande e forte, deverá ser o braço do Estado nas terras a colonizar; o espaço fisico onde se implantaria, de forma direta, a vigilância real sobre colonos, a repressão oficial sobre gentios (índios), a força armada para evitar o avanço dos estrangeiros. “
Na sua chegada à enseada da Barra, encontrou os moradores da antiga Vila Velha do Pereira. Aldeia fundada pelo donatário da capitania da Baía de Todos os Santos, Francisco Pereira Coutinho, morto pelos tupinambás no ano anterior. A vila era também a morada do casal Catarina Paraguaçu, filha de um chefe tupinambá, e Diogo Alvarez Correa, conhecido como Caramuru, um branco que vivia entre os índios, falava sua língua e que seria de grande ajuda ao processo civilizatório de Thomé de Souza.
A posição vulnerável da vila velha, levou Thomé de Souza a organizar uma expedição para encontrar o local ideal onde a cidade-fortaleza deveria ser construída. Após a inspeção, o governador escolheu o topo de uma montanha que, além de segura, oferecia visão privilegiada da baía.
Salvador construída em dois níveis
Considerada uma espécie de Lisboa dos trópicos, Salvador foi construída em dois níveis desde a sua origem. Na região onde hoje está o bairro do Comércio, ficavam o porto, os armazéns, a igreja de Nossa Senhora da Conceição (construída em madeira na sua origem).
Diogo Alvarez Correa, o Caramuru.
Thomé de Souza, o soldado do rei
Thomé de Souza era um experiente militar de 48 anos, com serviços prestados na África e nas Índias, quando recebeu o convite para fundar Salvador (a fortaleza grande e forte de que falava o regimento) e implantar o Governo Geral, literalmente botando ordem no caos que imperava no Brasil. Homem duro, de poucas palavras, com fama de sensato e dotado de muita energia, era filho ilegítimo do prior (um tipo de padre) José de Souza e irmão do donatário da capitania de São Vicente, Martin Afonso de Souza. Veio para cá com um salário de 400 mil réis anuais e trazendo na bagagem o regimento, as plantas baixas para construção da cidade-fortaleza, padres jesuitas, degredados para servir de peão-de-obra, alguns soldados para guarnecer a cidade e a disposição de tratar os tupinambás a bala. Não houve meio-termo durante os anos de colonização, os índios que não se submeteram foram mortos ou morreram de fome ao ser expulsos de suas terras.
“A cidade, ou fortaleza de povoação grande e forte, deverá ser o braço do Estado nas terras a colonizar; o espaço fisico onde se implantaria, de forma direta, a vigilância real sobre colonos, a repressão oficial sobre gentios (índios), a força armada para evitar o avanço dos estrangeiros. “
Na sua chegada à enseada da Barra, encontrou os moradores da antiga Vila Velha do Pereira. Aldeia fundada pelo donatário da capitania da Baía de Todos os Santos, Francisco Pereira Coutinho, morto pelos tupinambás no ano anterior. A vila era também a morada do casal Catarina Paraguaçu, filha de um chefe tupinambá, e Diogo Alvarez Correa, conhecido como Caramuru, um branco que vivia entre os índios, falava sua língua e que seria de grande ajuda ao processo civilizatório de Thomé de Souza.
A posição vulnerável da vila velha, levou Thomé de Souza a organizar uma expedição para encontrar o local ideal onde a cidade-fortaleza deveria ser construída. Após a inspeção, o governador escolheu o topo de uma montanha que, além de segura, oferecia visão privilegiada da baía.
Salvador construída em dois níveis
Considerada uma espécie de Lisboa dos trópicos, Salvador foi construída em dois níveis desde a sua origem. Na região onde hoje está o bairro do Comércio, ficavam o porto, os armazéns, a igreja de Nossa Senhora da Conceição (construída em madeira na sua origem).
Diogo Alvarez Correa, o Caramuru.
Há quem defenda que ele foi pirata, os que dizem que era um náufrago resgatado pelos índios e ainda os que juram que ele foi "plantado" como espião português, para facilitar a colonização e o processo de pacificação dos tupinambás.
No topo da montanha, a cidade propriamente dita não passava de um punhado de ruas estreitas e organizadas em forma de labirinto, na área entre as atuais praça da Sé e praça Municipal. No centro da praça ficava o palácio de Thomé de Souza, feito em madeira e palha, porque não havia pedras disponíveis. Para quem ainda não se situou geograficamente, a sede do poder instituito no Brasil era o atual endereço do Elevador Lacerda. Mais especificamente, a moradia e local de trabalho de Thomé de Souza ficava onde hoje existe o palácio Rio Branco. Nessa região, também havia a Vereança, atual Câmara dos Vereadores.
O que conhecemos por Centro Histórico, que inclui Pelourinho, Terreiro de Jesus, Santo Antonio Além do Carmo e São Bento, são as expansões extra-muros da cidade. Ou seja, nos primeiros anos de fundação, Salvador, que era cercada por muros de taipa e tinha portões que se fechavam à noite, desenvolveu-se tanto que precisou ser ampliada para acomodar a população cada vez mais numerosa.
A cidade de Thomé de Souza, um arruado medieval minúsculo, um posto militar com função administrativa, por ser a sede da coroa nas Américas, teve um impulso de crescimento espantoso.
No topo da montanha, a cidade propriamente dita não passava de um punhado de ruas estreitas e organizadas em forma de labirinto, na área entre as atuais praça da Sé e praça Municipal. No centro da praça ficava o palácio de Thomé de Souza, feito em madeira e palha, porque não havia pedras disponíveis. Para quem ainda não se situou geograficamente, a sede do poder instituito no Brasil era o atual endereço do Elevador Lacerda. Mais especificamente, a moradia e local de trabalho de Thomé de Souza ficava onde hoje existe o palácio Rio Branco. Nessa região, também havia a Vereança, atual Câmara dos Vereadores.
O que conhecemos por Centro Histórico, que inclui Pelourinho, Terreiro de Jesus, Santo Antonio Além do Carmo e São Bento, são as expansões extra-muros da cidade. Ou seja, nos primeiros anos de fundação, Salvador, que era cercada por muros de taipa e tinha portões que se fechavam à noite, desenvolveu-se tanto que precisou ser ampliada para acomodar a população cada vez mais numerosa.
A cidade de Thomé de Souza, um arruado medieval minúsculo, um posto militar com função administrativa, por ser a sede da coroa nas Américas, teve um impulso de crescimento espantoso.
No final do século XVI, era a mais importante cidade colonial portuguesa. Antes da construção de Salvador, não havia cidades no Brasil. Existiam vilas como a de São Vicente, que era próspera, mas não uma cidade, com status de sede governamental.
A índia Paraguaçu foi convertida ao catolicismo e adotou o nome Catarina. Diz a lenda que ela sonhou com Nossa Senhora das Graças e por causa desse sonho, mandou construir uma igreja para a santa.
Durante mais de 200 anos, a cidade foi capital do Brasil, até 1763, quando o governo geral ganhou o nome de vice-reinado e a sede administrativa passou a ser o Rio de Janeiro, que se manteve como capital até a fundação de Brasilia, em 1961.
Mesmo não sendo mais a capital a partir do século XVIII, a antiga Cidade da Bahia, como Salvador era conhecida, manteve o status de importante extreposto comercial até meados do século XIX, graças especialmente aos mil quilômetros quadrados da baía de Todos os Santos.
A índia Paraguaçu foi convertida ao catolicismo e adotou o nome Catarina. Diz a lenda que ela sonhou com Nossa Senhora das Graças e por causa desse sonho, mandou construir uma igreja para a santa.
Durante mais de 200 anos, a cidade foi capital do Brasil, até 1763, quando o governo geral ganhou o nome de vice-reinado e a sede administrativa passou a ser o Rio de Janeiro, que se manteve como capital até a fundação de Brasilia, em 1961.
Mesmo não sendo mais a capital a partir do século XVIII, a antiga Cidade da Bahia, como Salvador era conhecida, manteve o status de importante extreposto comercial até meados do século XIX, graças especialmente aos mil quilômetros quadrados da baía de Todos os Santos.
*Andreia Santana nasceu em Salvador, tem 36 anos e é jornalista. Uma frase de Fernando Pessoa a define: "Se depois de eu morrer, quiserem escrever a minha biografia, não há nada mais simples. Tem só duas datas - a de minha nascença e a de minha morte. Entre uma e outra, todos os dias são meus".
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