Waldeck Ornelas*
Já é possível à população de Salvador ter uma ideia clara de como ficará o futuro metrô ao longo da Avenida Luís Viana. Primeiro apareceram as megaestruturas em que se transformaram as estações, ocupando todo o largo canteiro central, algumas até avançando no espaço aéreo por sobre as pistas; mais recentemente, por entre os tapumes, pode-se visualizar a infraestrutura do metrô, acompanhada por uma contínua grade lateral. O que era uma via expressa, mas que não impedia a permeabilidade urbana, passa a ser agora um obstáculo físico intransponível, delimitando e demarcando espaços desprovidos de fluidez e inibindo a inter-relação entre áreas de uma mesma cidade, como se vivêssemos em ambientes segregados.
Concebida no final dos anos 1960, simultaneamente à implantação do sistema de avenidas de vale do Epucs, a “Paralela” – assim chamada por seu traçado em relação à Avenida Octávio Mangabeira, então congestionado acesso ao aeroporto – teve a sua primeira pista implantada por ACM, quando prefeito, e a segunda por seu sucessor, Clériston Andrade. Por muito tempo, a Paralela reinou como uma das mais belas vias urbanas de todo o país, marcada por um paisagismo de alta qualidade, tão bem cuidado, ao longo de tantos anos, pelo Cel. Cabral, que dirigia a Sucab, a Superintendência do Centro Administrativo da Bahia. Um orgulho para os baianos, uma agradável surpresa para os visitantes. Agora, com o metrô, é o fim da avenida mais bonita do Brasil! Tínhamos um parque linear e passaremos a ter um “muro da vergonha”, como tantos outros que marcam áreas conflagradas ao redor do mundo – o que não somos. Um grave retrocesso.
Alguma inteligência privilegiada entendeu que as cidades-sede da Copa do Mundo de Futebol de 2014 deveriam ter sistemas de transporte de alta capacidade interligando os aeroportos aos estádios, porque dezenas de milhares de torcedores fanáticos por suas seleções cruzariam os céus de nosso país e, chegando aos aeroportos, se dirigiriam imediatamente aos estádios, retornando em seguida, após os jogos. Para as cidades-sede, esse seria o legado da Copa. Foi esse raciocínio que determinou a prioridade para a Linha 2 do metrô de Salvador... que, aliás, não se encontra com o terminal de passageiros do aeroporto.
Todos sabem que o Trecho 2 do metrô é inviável economicamente, devendo por muito tempo receber subsídios extraordinários do governo do estado, onerando os combalidos cofres públicos estaduais e sugando recursos que deveriam atender a outras prioridades e urgências.
Se na escala da cidade o metrô da Paralela é uma agressão urbana, verdadeiro estupro, do ponto de vista do projeto de transporte ainda não está claro como se dará a integração com as linhas de BRT que precisarão ser implantadas ao longo dos eixos transversais – as avenidas Gal Costa e 29 de Março – seja a integração das estações, seja pela própria infraestrutura implantada, que segue um agressivo modelo rodoviarista. Assim, o que se vê é a invasão da cidade por projetos de uma engenharia viária que não têm mais cabimento nos ambientes urbanos. Tudo isto culminando com hostilidade e indiferença em relação ao pedestre – e passageiro – cujo acesso às estações deixa muito a desejar, como se não fosse esse a própria razão de ser do transporte de massa. Falta preocupação com a microacessibilidade e a integração com as áreas lindeiras. Dessa forma, o carregamento do metrô, à falta do passageiro próprio, fica na dependência da chamada integração.Pela forma como foi implantado e a partir do próprio traçado, agravado pela má qualidade do projeto, a cidade está condenada a conviver por anos a fio com um longo e sistemático trabalho de absorver o metrô, para integrá-lo ao seu cotidiano e à sua funcionalidade. O que deveria ser uma alavanca do desenvolvimento urbano incorpora-se à vida soteropolitana como um estorvo a ser corrigido.
Todos sabem que o Trecho 2 do metrô é inviável economicamente, devendo por muito tempo receber subsídios extraordinários do governo do estado, onerando os combalidos cofres públicos estaduais e sugando recursos que deveriam atender a outras prioridades e urgências.
Se na escala da cidade o metrô da Paralela é uma agressão urbana, verdadeiro estupro, do ponto de vista do projeto de transporte ainda não está claro como se dará a integração com as linhas de BRT que precisarão ser implantadas ao longo dos eixos transversais – as avenidas Gal Costa e 29 de Março – seja a integração das estações, seja pela própria infraestrutura implantada, que segue um agressivo modelo rodoviarista. Assim, o que se vê é a invasão da cidade por projetos de uma engenharia viária que não têm mais cabimento nos ambientes urbanos. Tudo isto culminando com hostilidade e indiferença em relação ao pedestre – e passageiro – cujo acesso às estações deixa muito a desejar, como se não fosse esse a própria razão de ser do transporte de massa. Falta preocupação com a microacessibilidade e a integração com as áreas lindeiras. Dessa forma, o carregamento do metrô, à falta do passageiro próprio, fica na dependência da chamada integração.Pela forma como foi implantado e a partir do próprio traçado, agravado pela má qualidade do projeto, a cidade está condenada a conviver por anos a fio com um longo e sistemático trabalho de absorver o metrô, para integrá-lo ao seu cotidiano e à sua funcionalidade. O que deveria ser uma alavanca do desenvolvimento urbano incorpora-se à vida soteropolitana como um estorvo a ser corrigido.
Faltaram criatividade e zelo pelo espaço urbano nessa concepção de uso/destruição da Paralela. Destaco a não manifestação de alguma entidade profissional, usualmente ativas contra tais agressões.
ResponderExcluirIsso aí Raymundo... na verdade eu particularmente não vi manifestação alguma.
ResponderExcluirMuito lúcidas e coerentes as ponderações levantadas no artigo de Waldeck. Acrescento ainda que, como foi concebido, nosso metrô pouco contribuirá para a redução do transporte individual, pois, não integra diretamente, áreas densamente povoadas e/ou diversas sócio-economicamente. Não creio que replantem na proporção de 10 para cada árvore suprimida ao longo de todo o trajeto, conforme consta no contrato original.
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