O debate sobre o porto de Salvador tem sido prejudicado por duas teses equivocadas. A primeira atrela a reabilitação socioeconômica do Comércio e, por extensão, de toda a Cidade Baixa, ao fim das operações portuárias de carga em nossa capital. A segunda ignora o dinamismo emergente da economia baiana para sugerir que a desativação do Porto de Salvador pode ser contrabalançada pela expansão do complexo portuário de Aratu. Em termos sócio-econômicos, o bairro do Comércio pode ser dividido em três faixas paralelas aos armazéns do porto. A primeira, situada entre as avenidas da França e Miguel Calmon, abriga, além da atividade portuária, agências bancárias, escritórios de advocacia e outros serviços. Esta área mantém dinamismo evidente. A segunda, o miolo formado por ruas como Portugal e Santos Dumont, conhece o abandono, apesar de alguns investimentos privados recentes, inclusive em faculdades. As muitas lojas fechadas testemunham o declínio ainda não revertido deste espaço que já foi um centro varejista importante. Mas é sobretudo na terceira faixa, a da encosta que vai da Montanha ao Taboão e, daí ao Pilar, em direção à Calçada, onde se encontra a verdadeira ruína. Uma pergunta não quer calar: porque os novos planejadores da cidade insistem em associar a reabilitação do Comércio à destruição da principal atividade que nele prospera? O Porto de Salvador vai bem. Cresceu em movimentação de carga 21,2% em 2008. É um negócio rentável e pode ter um desempenho ainda melhor com novos atracadouros, o aumento do calado e a construção da Via Expressa para o tráfego de caminhões pesados. Nada disso, lembremos impediria o uso de parte de sua área como terminal turístico de passageiros associado a algum equipamento de lazer. Por que nossos neourbanistas não enfrentam a tarefa prioritária de recuperar os trechos arruinados das encostas do Centro Histórico ao invés de sugerir a transformação do porto num grande shopping em distrito boêmio? Por que não se mobilizam para usar os recursos do novo programa de habitação do governo federal para construir moradias no Centro Antigo? Por que não seguem o exemplo de empreendedores como Carlinhos Brown (Museu do Ritmo) ou Bernard Attal (Trapiche Barnabé)? O segundo equívoco é acreditar que a Bahia do século XXI demandará apenas um porto – Salvador ou Aratu. A lógica binária parece exigir uma aposta na estagnação. O governo Wagner trabalha por uma economia dinâmica, mais diversificada e melhor distribuída espacialmente. Eis porque não apenas analisa a expansão portuária em Aratu e apóia os novos investimentos em Salvador, como também inicia a construção de um terminal para a nova Ferrovia Leste-oeste, o Porto Sul, em Ilhéus.
Artigo publicado no Jornal A Tarde, 30/09/2009.p.3 - Opinião.
Walter Pinheiro, Secretário de Planejamento do Governo da Bahia. Natural de Salvador, tem 49 anos. Foi eleito deputado federal em 2006 com o maior número de votos do PT no Brasil - 200.894 votos em 414 do total de 417 municípios baianos. Foi presidente da Comissão de Ciências e Tecnologia da Câmara , líder da bancada do PT e coordenador da bancada de oposição durante o Governo Fernando Henrique.
Nenhum comentário:
Postar um comentário